Autora: Nai Jackson
Zaliki
estava acomodada
em seu suntuoso trono de ouro. O calor escaldante penetrava pelas
paredes do palácio e servos aos seus pés a abanavam com plumagens,
tentando, a todo custo, amenizar um pouco os efeitos que o clima
quente e árido do deserto trazia consigo. Uma das escravas limpou um
filete de suor da testa da rainha e outra continuou a lhe servir
tâmaras na boca, vendo Zaliki mastigar com calma e paciência, com
uma expressão de enfado estampada no belo rosto de traços bem
marcados. O faraó Amenhotep estava ao seu lado no trono,
observando-a, também sendo abanado e servido por meia dúzia de
escravos.
-
Estou entediada – ela disse em um suspiro pesado e virou-se para
Amenhotep. – O que poderia o rei fazer para entreter sua rainha?
O
faraó correu os olhos pelo rosto da esposa e abriu um pequeno
sorriso. Era a mulher mais bela que já vira e nunca media esforços
para agradá-la. Levantou os braços e bateu palmas, atraindo a
atenção dos servos e dos soldados que guardavam a entrada do
luxuoso salão real.
- Não ouviram vossa rainha? – o faraó bradou a plenos pulmões. –
Vamos, movam-se! Tragam-lhe algo para que ela possa se ocupar! Agora!
O
som de passadas apressadas e frenéticas ecoou pelo salão e apenas
alguns minutos depois um homem calvo e encurvado foi anunciado diante
do faraó e sua esposa. Ouviu-se o rufar de alguns tambores e ele
postou-se sorrindo diante de sua majestade, tendo em mãos pequenas
varetas de madeira marcadas com minúsculos hieróglifos.
A
rainha levantou as sobrancelhas e observou o homem com atenção
enquanto ele fazia uma sessão acrobática com as varetas que
trouxera em mãos. Zaliki recostou-se no trono e revirou os olhos,
dizendo para si mesma que a cabeça daquele homem pensaria bem melhor
se estivesse separada do pescoço. Era muita audácia de sua parte
apresentar um número tão bobo em frente do faraó e sua esposa.
Fixou os olhos nele e, em apenas um sinal, mostrou aos guardas o que
deveria ser feito com ele.
Dois
guardas reais apressaram-se para agarrar os finos braços do homem e
logo o levaram o para fora do salão. Zaliki arqueou novamente uma
das sobrancelhas e observou o novo homem que se postara diante do
trono, trazendo consigo duas estacas de madeira grossas e
flamejantes.
-
Apresento-lhes agora um dos maiores talentos do Nilo! – um dos
servos anunciou com entusiasmo. - O incrível homem chama!
A
rainha observou o homem levar as duas estacas à boca e, logo em
seguida, cuspir uma labareda de fogo. Um belo truque, certamente, mas
não o suficiente para deixá-la impressionada.
-
Chega! Levem-no – ela murmurou e logo sua ordem foi obedecida. –
Ísis esteja conosco! Isso é tudo o que vocês tem para me oferecer?
O
som de passos ecou pelo salão real e um vulto coberto com uma longa
capa negra caminhou até o trono e postou-se diante dele. A rainha
inclinou-se para frente e Amenhotep encarou o recém chegado com um
brilho de curiosidade no olhar.
-
Mostre-nos o que sabe fazer – ordenou o faraó.
Todos
voltaram os olhos atentos para a figura que surgira e o observaram
enquanto o homem misterioso tirava um pó escuro de um bolso da capa
e espalhava-o calmamente pelo chão.
Mas
o que... – Amenhotep começou a dizer, com uma expressão
interrogativa na face. Definitivamente, aquilo não era nem um pouco
comum.
-
Calado – censurou a rainha, redobrando a atenção e arqueando em
conjunto as duas sobrancelhas.
O
homem encaminhou os pés até o pó que derramara sobre o piso e, no
absoluto silêncio, a túnica negra amoleceu e caiu sobre o chão,
como se seu corpo houvesse se desintegrado e evaporado de dentro
dela.
Suspiros surpresos foram ouvidos em uníssono e o pó começou
a se agitar, como se tivesse vida própria, fazendo o homem surgir
novamente diante dos olhos surpresos que o fitavam, sem a túnica
negra para cobri-lo desta vez.
Por
Rá... – um dos servos sussurrou baixinho, de olhos arregalados,
jogando-se no chão. – Que os deuses nos protejam. Os inimigos nos
lançaram uma praga!
A
rainha abaixou os olhos para o homem, com um suspiro contido, sabendo
que aquele rosto que se materializara diante dela era mais belo que
já tivera o prazer de ver em sua vida. Como ele fizera aquele
truque?! Sem dúvida era um homem com talentos desconhecidos. Ele
fixou os olhos escuros nela e abriu um sorriso, caminhando lentamente
em sua direção. Não sentia medo, apenas curiosidade mesclada com
algum outro sentimento que não conseguia identificar. Zaliki
inclinou-se mais em seu trono, absolutamente surpresa e admirada, e o
homem misterioso apontou um dos dedos em sua direção. Não era
apreensão o que sentia, logo percebeu. O que sentia era desejo. Um
desejo súbito de saber qualquer coisa a respeito daquele belo homem
trajando preto e dourado que a encarava com firmeza de volta.
-
Lembra-se de como isso tudo começou? – ele perguntou-lhe, dando
mais alguns passos para frente, recolhendo sua mão e dando um beijo
no dorso dela.
As
palavras do homem a fizeram levantar uma das sobrancelhas e morder
levemente o lábio. Nunca o tinha visto antes, mas, de certa forma,
ele lhe parecia familiar. Teve a nítida impressão de que já vira
seu rosto... lembrava-se de seus traços esculpidos em algum lugar,
ornamentados com ouro, mas não conseguia se lembrar onde nem quando.
Revirou o cérebro a procura de alguma lembrança, mas nada mais foi
capaz de encontrar. Sentiu o calor dos lábios do estranho ainda em
sua pele e teve certeza de que, em algum outro momento, passara
exatamente pela mesma experiência.
O
faraó levantou-se do trono em um salto e apontou com pressa para o
homem. Havia ficado subitamente paralisado quando o homem emergira do
chão, observara-o tão surpreso que não conseguia mover sequer um
único músculo. Precisou de certo esforço para ordenar que o
capturassem.
-
Peguem-no! – ele bradou para os guardas quando conseguiu formular a
frase. – Ele é um feiticeiro, um enviado de Set! Detenham-no!
Antes
que a rainha pudesse dizer algo, os guardas reais avançaram na
direção do homem com lanças em punho, tentando a todo custo
capturá-lo. Zaliki sabia que o faraó ordenaria que ceifassem a vida
do jovem antes mesmo que ele pudesse se explicar. Ela levantou-se
sobressaltada, disposta a se entrepor entre o homem e os guardas, e
suspirou aliviada quando percebeu que, tão misteriosamente quando
havia surgido, o homem sem nome havia desaparecido. Poderia mesmo ele
ser um enviado de Seth, afinal de contas, a magia com certeza se
fizera presente ali, mas, de certo modo, ele não lhe parecera nenhum
pouco ameaçador. Os guardas precipitaram-se em direção à saída,
procurando algum sinal do feiticeiro e o faraó analisou a rainha dos
pés à cabeça, sem deixar de notar o quanto ela ficara perturbada
com o episódio.
-
Não se preocupe, minha lua-de-marfim – Amenhotep murmurou. –
Irão encontrá-lo e em breve seu sangue estará matando a sede dos
nossos leões.
Zaliki
apertou os olhos diante da visão.
-
Se o encontrarem, meu raio-de-Hórus, peço para que ele seja
poupado. Tenho certeza de que há uma explicação para tudo o que
acaba de acontecer aqui.
O
faraó observou-a com cautela.
-
O que me pede? – ele diz em tom de censura. – Que eu poupe a vida
de um feiticeiro? Lamento, mas isto não lhe cabe decidir. Sei o
coração bondoso que tens minha lua e, se assim preferir, posso
ordenar que o matem sem dor.
-
Não quero que o matem – ela repetiu.
-
Não lhe cabe decidir – o faraó repetiu, com mais firmeza desta
vez.
A
rainha o fitou com fúria e, insatisfeita, afastou-se do trono e
caminhou em passadas largas até os aposentos reais. Algumas escravas
apressaram-se em acompanhá-la mas ela as censurou rapidamente.
Queria ficar sozinha. Jogou-se na cama, contendo as lágrimas, e
pediu aos deuses que o jovem sem nome conseguisse escapar. O que não
daria para conhecê-lo melhor? Poderia oferecer muito ouro para que
lhe trouxessem informações, mas de nada isso iria adiantar se
Amenhotep colocasse as mãos nele.
-
Pobre homem sem nome – ela murmurou com um nó na garganta. – Que
os deuses protejam você.
Ouviu-se
um farfalhar em um dos cantos do quarto e a rainha virou-se em
sobressalto ao perceber que alguém a espreitava por entre uma
cortina de contas. Saltou rapidamente da cama e arregalou os olhos
quando deu de cara com o feiticeiro parado diante dela.
-
Sou eu o homem sem nome? – ele perguntou com um pequeno sorriso.
Ela ficou paralisada, sem nada dizer, mas em sua expressão havia uma
afirmativa. – Permita-me que eu me apresente, majestade –
murmurou e pegou outra vez sua mão; em uma intimidade que os súditos
não deveriam se permitir. – Meu nome é Michael.
-
Michael – ela repetiu, notando o quanto aquele nome era incomum. A
única vez que ouvira aquele nome foi quando alguém lhe comentara a
respeito de um faraó que governara centenas de anos antes de
Amenhotep. Não poderia ser este mesmo homem, claro que não poderia.
– O faraó deseja matá-lo. E certamente o fará se os guardas
conseguirem capturá-lo.
Michael
sorriu.
-
São um bando de tolos – ele murmurou. – Os guardas e o faraó.
Não irão me capturar. Tenho qualquer um deles na palma da mão.
A
rainha o observou e mordiscou o lábio. Como ele ousava se mostrar
tão confiante? Olhando-o de perto, percebeu ela, era ainda mais belo
do que havia se mostrado minutos atrás, no salão real. Como ele
entrara em seus aposentos? Ora, que pergunta tola! Certamente da
mesma forma que desaparecera de dentro da túnica e ressurgira do
chão.
-
Conte-me mais sobre esse truque de mágica – ela murmurou.
Michael
levantou uma das sobrancelhas.
-
Truque?
-
Sim, truque. O truque que você fez para chegar até aqui. Ensine-me.
Ele
correu os olhos pela face de Zaliki e pareceu se divertir.
-
Por que eu faria isso?
-
Porque sou sua rainha – ela murmurou com firmeza. – Você me deve
total obediência. Vamos. Ensine-me. Mostre-me como se faz.
Michael
assentiu, com um pequeno sorriso nos lábios, e esticou as duas mãos
com as palmas voltadas para cima.
-
Faça isso, majestade – ele instruiu e Zaliki o fez. – Feche os
punhos três vezes seguidas – murmurou e ambos fizeram o movimento.
– Agora dê quatro pulinhos para cima...
Zaliki
viu o tom de deboche em sua voz e logo percebeu que ele não estava
falando sério. Estava a fazendo de boba e divertindo-se com isso!
-
Por quem me toma?! – ela disse com uma ponta de irritação
insinuando-se na voz. – Está me fazendo de tola, não está?
Quanta audácia! Eu poderia ordenar que o atirassem aos leões ou que
lhe lançassem no Nilo com uma pedra atada ao pescoço!
-
Perdoe-me – Michael disse, ainda sorrindo. – Não me atrai a
ideia de perder nosso tempo com truques. Tenho coisas mais
interessantes para mostrá-la.
A
rainha engoliu em seco, captando algo oculto por trás daquelas
palavras. Sentia-se protegida ao lado daquele homem, por mais
insensato que isso pudesse ser. E sentia-se atraída por ele de uma
maneira para a qual não havia explicação.
-
Contanto que você não me faça de tola outra vez... – ela
murmurou, vendo-o se aproximar até parar a poucos centímetros de
distância.
-
Não farei – ele sussurrou ao seu ouvido e, lentamente, abaixou os
lábios até seu pescoço. Zaliki arfou baixo e Michael acariciou sua
pele com os lábios. Mordeu de leve o seu queixo e, em apenas alguns
segundos, estava com a boca bem diante da dela.
-
Beije-me – ela pediu com a voz fraca e Michael a enlaçou,
aproximando por completo seus lábios. A boca dela se entreabriu e
ele passou a explorá-la com a língua, mostrando para ela que aquele
simples ato era muito melhor que qualquer truque de mágica. Ela
sentia a cabeça zumbir, o calor tomar conta do seu corpo. Queria ter
tudo que aquele homem pudesse lhe oferecer. – Eu quero ser sua –
ela anunciou para ele, tomada pelo impulso irrefreado, com um fio
descompassado de voz.
-
Você já é, minha flor-de-lótus – Michael sussurrou ao seu
ouvido e deu um leve beijo em sua nuca.
Zaliki
pendeu a cabeça para trás e permitiu que as carícias continuassem,
os lábios ávidos descendo por seu pescoço desta vez. Michael
empurrou-a para a cama e retirou o adorno de ouro da sua cabeça,
permitindo que os cabelos da rainha se desprendessem. Logo suas mãos
encontraram as sedas que a cobriam e abriram lentamente sua roupa,
revelando aos poucos o corpo quente para ele. Ela arqueou-se para
trás e a boca dele encontrou seus mamilos, chupando-os e sugando-os
enquanto os dedos massageavam com cuidado suas coxas. A boca dele
continuou a descer indo cada vez mais ao sul, explorando seu corpo
excitado com os lábios e a língua. A rainha gemia sob sua boca,
pedindo que ele continuasse, contorcendo-se em um prazer que o faraó
nunca lhe oferecera.
Todo
o corpo de Zaliki pareceu vibrar e explodir com as carícias ousadas
da boca de Michael. Ela gemeu seu nome repetidas vezes, tomada por um
prazer intenso que jamais pensara existir. Ela via o desejo queimando
nos olhos dele e sentia o quanto ele estava duro por sua causa. Entre
beijos ela também o despiu, peça por peça, revelando com
expectativa o corpo nu dele para si.
Tocou
seu membro rijo e úmido, tomada por uma grande excitação, e ouvi-o
gemer baixo em seu ouvido. Moveu suas mãos por ele, explorando-o com
os dedos, enquanto ele não parava de beijá-la. Logo as mãos dele
afastaram suas pernas e, com os olhos bem fixos em seu rosto, ele
levou-se para dentro da rainha, movendo-se lentamente para que ela
sentisse cada centímetro da sua espessura. Os gemidos ecoaram por
todo o quarto e ambos se movimentaram com luxúria, extraindo o
máximo daquele momento em que partilhavam o mais completo e puro
prazer.
Agarrada
nele, Zaliki foi levada ao ápice do prazer por incontáveis vezes e,
quando o trouxe consigo, ele estremeceu violentamente contra seu
corpo. Era uma loucura, uma completa loucura, mas ela nunca se
sentira tão satisfeita em toda sua vida. O corpo dela parecia já
conhecer o de Michael, sua mente parecia reconhecer cada reação.
Quando terminaram se fazer amor, ele lhe disse que o destino de ambos
já haviam se cruzado em outros tempos e, por mais que ela não se
lembrasse, já haviam experimentado tudo aquilo antes. As explicações
não vieram e, instigada com o tom de mistério, ela desistiu de
perguntar. Que Rá a protegesse dali para frente. Estava condenada a
amar e desejar aquele homem até seu último suspiro.
-
Prometa-me que irá voltar – ela pediu enquanto ambos se vestiam. –
Prometa-me que virá me ver outra vez.
Michael
beijou seus lábios e assentiu.
-
Prometo – disse e pôs-se de pé.
A
rainha o observou e notou que ele estava com o olhar fixo na cortina
de contas douradas que se erguia na entrada dos aposentos.
-
O que há de errado? – ela perguntou.
– O
faraó está vindo para cá – Michael respondeu. – E ele não
está sozinho.
Zaliki
não ouvira o barulho de passos mas, se Michael estava dizendo
aquilo, era porque Amenhotep realmente estava a caminho. Ela
levantou-se em um sobressalto, com o coração subitamente acelerado.
Como ele iria sair dali?! O que aconteceria a Michael se o faraó
conseguisse capturá-lo?
-
Esconda-se! – ela disse com nítida preocupação. - Esconda-se,
meu pecado-do-Nilo! – ela insistiu enquanto Michael depositava um
último beijo em seus lábios e ficava ali, parado tranquilamente no
meio do quarto. – Amenhotep servirá seu sangue e sua carne aos
leões se você se deixar ser encontrado aqui!
-
Não se preocupe, minha amada, os deuses estão comigo – ele disse
lhe sorrindo. Levantou as sobrancelhas antes de acrescentar: - E
nenhum homem pode morrer duas vezes.
Zaliki
perguntou-se se ouvira as palavras direito e, ao perceber que sim,
tentou entender o que Michael queria lhe dizer com aquilo. Ouviu o
som de passos ecoarem pelo aposento e arregalou os olhos quando
Amenhotep e uma dúzia de guardas reais com lanças em punho se
depararam com o feiticeiro.
Quando os guardas deixaram seu amante sem
saída, cercando-o por todos os lados, ela preparou-se para jogar-se
em sua frente e morrer por ele, se isso se fizesse necessário. Mas a
rainha conteve-se, carregada de alívio e espanto, ao ver Michael
abrir um sorriso satisfeito, o mais belo que ela já vira, e girar
nos calcanhares, transformando-se em areia e sendo levado para fora
com um simples balanço do vento.
_ NN
Perfeita! Como a musica
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado, Lu ^^
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