domingo, 27 de abril de 2014

FanFic: Perigosa Obsessão [+18]




Autora: Nai Jackson

SINOPSE

Therese Brown é uma misteriosa advogada de 27 anos que guarda obscuros segredos do passado. Ao ser designada para solucionar um caso para uma importante empresa publicitária, ela conhece o também advogado Michael Jackson, um homem competente, rígido e perspicaz, pelo qual ela prontamente se sente atraída.
Enquanto trabalham lado a lado na tentativa de fechar um acordo entre os seus clientes, conquistar Michael torna-se para Therese uma prioridade; e ela não mede esforços para alcançar o objetivo de tê-lo ao seu lado. Sem conhecer a mente doentia escondida por trás dos delicados traços daquela bela e sedutora mulher, Michael é envolvido em um arriscado e excitante jogo amoroso, onde o perigo é iminente e o prazer é ilimitado.



Capítulo 1

         Acomodei-me no banco traseiro do primeiro táxi que vi cruzar uma das principais avenidas de Los Angeles e reabri a pasta preta que eu trazia nas mãos para conferir – pela enésima vez – uma dúzia de papéis em branco que em breve estariam devidamente assinados. Dei as coordenadas para o motorista já grisalho e voltei a fechar a pasta, abrindo a bolsa para tirar de dentro dela os itens necessários para retocar a minha maquiagem. Meus cabelos estavam presos em um alto coque e meus lábios estavam cuidadosamente tingidos de um tom avermelhado, contrastando com o blazer preto feito de um corte reto e a saia de mesma cor que descia até pouco acima do joelho. Eu já ouvira falar que o advogado com o qual eu me encontraria era um homem refinado e de bom gosto, portanto, usar um pouco do meu charme feminino seria o primeiro passo para conseguir com ele o acordo financeiro que os meus importantes clientes tanto desejavam.
         Assim que o táxi chegou ao local indicado, estiquei para o motorista uma nota de cinquenta dólares e, sem ter tempo para esperar o troco, saí apressadamente do carro e caminhei sob o vento frio até a entrada do grande e moderno prédio onde Michael Jackson deveria estar esperando por mim. Subi até o terceiro andar e, após ser anunciada pela sua jovem secretária ruiva com cara de prostituta, dei três leves batidas na porta e esperei que ele me autorizasse entrar.
         - Entre – ouvi ele dizer do lado de dentro.
         Apertei a pasta nas mãos e entrei na sala luxuosamente decorada, ouvindo o meu salto fino bater contra o assoalho até que eu finalmente parasse diante da enorme mesa de madeira nobre onde o homem com os olhos mais negros que eu já vira observava-me com atenção. Ele vestia um terno preto bem cortado e uma camisa branca com uma impecável gravata vermelha logo abaixo dele, em contraste com a pele clara e os lábios bem definidos também avermelhados. Puta que pariu. Que delícia de homem!”, foi a primeira coisa que pensei comigo mesma ao analisá-lo com cautela. “Eu não fazia a mínima ideia de que ele era assim.”
         - Doutora... – ele começou a dizer e olhou apressadamente para um papel ao lado do telefone, voltando novamente os olhos pra mim. – Brown. Devo dizer que você está três minutos atrasada?
         Sentei-me na poltrona à sua frente e arqueei as sobrancelhas na tentativa de amenizar um pouco os efeitos imediatos que aquele homem causara em mim. Não haviam me dito que ele era tão bonito. E eu não sabia que teria uma recepção tão fria e metódica da sua parte. “Aposto que ele é ótimo de cama”, pensei comigo mesma, enquanto abria a pasta e retirava os papéis de dentro dela. “Maldição... Será que ele é casado?”
         - Doutor Jackson, eu conheço muito bem os meus horários – respondi com a mesma frieza na voz, esforçando-me para manter a concentração. – Mas ainda não tenho o poder de controlar o trânsito infernal dessa cidade.
         Ele abriu um meio sorriso e reclinou-se um pouco mais na cadeira, sem nem sequer esticar uma das mãos para um formal cumprimento de apresentação.
         - Por favor, diga-me... – olhou para a minha mão esquerda e pareceu satisfeito por um momento. - O que a senhorita pensa que veio fazer aqui?
         Eu havia mencionado aquilo repetidas vezes por telefone, portanto, a pergunta me pareceu um pouco irônica e arrogante ao vir da boca dele.
- Fazer um acordo, oras! – respondi com uma pontada de irritação.
Ele me analisou demoradamente e voltei a me arrepiar ao sentir o seu olhar pesar sobre mim. Seus traços eram impecáveis e ele tinha um ar autoritário que muito me agradava. Era exatamente o tipo de homem pelo qual eu costumava me interessar. “Será que ele se deixaria ser dominado por mim?” perguntei mentalmente enquanto o esperava falar alguma coisa.
– Eu não disse ao telefone que estava disposto a discutir um acordo - ele disse recobrando a minha atenção.
- Mas eu ainda nem fiz a proposta!
- Levaremos o caso para o tribunal – disse ele obstinadamente. - A empresa que você representa usou fotos do meu cliente em uma campanha publicitária sem a autorização dele e pode ser processada por uma infinidade de artigos do nosso Código Penal.
 – O seu cliente tinha um contrato devidamente assinado e reconhecido – rebati esticando alguns papéis para ele. – Está tudo dentro da lei, confira se quiser.
- O contrato não foi devidamente cumprido – disse, ignorando os papéis à sua frente. – Uma cláusula deixa claro que o meu cliente tinha o direito de ver cada foto tirada e escolher quais delas seriam editadas antes de ir para a campanha, o que, segundo ele, não aconteceu.
- O seu cliente só pode ser um veado cheio de frescuras! – explodi, indignada por ele querer abrir um processo por algo tão sem importância. – Ele está querendo colocar as mãos em uma alta grana fácil, mas tenha absoluta certeza de que não permitirei que isso aconteça!
- Controle os ânimos e tome cuidado com o que fala – exigiu quase sorrindo. Ele estava se divertido com a minha irritação, e eu o estava odiando por isso. – Você também pode acabar sendo processada por calúnia e difamação.
- Vamos Jackson, use a cabeça – argumentei novamente, e a extrema calma dele começou a me dar ainda mais nos nervos.  - Vocês irão perder feio se não fizerem um acordo justo agora.
Michael me encarou e, a julgar pela sua expressão, me achou petulante por minha insistência.
         - Eu nunca perco, senhorita Brown – murmurou ele pacientemente. – Receio que um acordo, nesse momento, é algo fora de cogitação. – Apontou para a porta e abriu um sorriso cínico. – Isso é tudo o que tenho para dizer em nome do meu cliente. A reunião está encerrada.
         Cruzei as pernas e tentei manter a calma, enquanto os meus olhos fixos naquele homem fumegavam de raiva. Quem ele pensava que era para falar comigo daquela forma? E por que diabos algo nele atraía tanto a minha atenção?
         - Eu acho que deveríamos conversar com calma para encontrar uma solução que seja proveitosa para ambos os lados – propus estrategicamente. – Mal nos conhecemos e, definitivamente, acredito que começamos com o pé esquerdo.
         Ele ficou em silêncio por alguns minutos e assentiu devagar.
         - Tudo bem. – Sorriu. - Talvez possamos marcar mais uma reunião.
         Levantei-me da poltrona e consegui abrir um pequeno sorriso.
         - Eu já conheci o irritante Jackson – murmurei levantando as sobrancelhas. – Que tal me apresentar apenas o Michael? - indaguei na tentativa de atravessar a barreira formal que ele construíra em torno de si. – Talvez ele seja um pouco mais amigável e aceite fazer esse maldito acordo de uma vez.
         Ele sorriu e mordeu o lábio inferior; um simples gesto que, vindo dele, me deixou subitamente excitada.
         - Parece interessante – ele disse olhando para mim. Abaixou o olhar despudoradamente até os meus seios e me abençoei imediatamente por ter escolhido um belo e pouco discreto decote. – Apesar de tê-la achado uma histérica impontual, eu não poderia negar um convite de uma mulher tão bonita quanto você, senhorita Brown.
         Suas palavras foram tão firmes que quase me fizeram perder a linha de raciocínio. Estava na cara que já não estávamos mais falando sobre trabalho. Ele havia gostado de algo do que viu em mim: e aquele interesse era mútuo, sem sombra nenhuma de dúvida. 
- Já que iremos nos conhecer melhor... Pode me chamar de Therese ou Tess – murmurei olhando para os seus lábios vermelhos, esticando uma das mãos para ele. – É assim que me chamam os íntimos.
         Ele pegou minha mão e deu um quente beijo no seu dorso.
         - Quer dizer que seremos íntimos? – perguntou, e não pude deixar de notar a malícia presente na sua voz.
         - Ligarei para marcar o local do nosso encontro – avisei, sem responder a sua pergunta, satisfeita ao notar que ele não usava aliança em nenhuma das duas mãos. - Ainda não foi um prazer conhecê-lo... Mas você terá a chance de mudar isso, espero que saiba aproveitá-la bem. Tenha uma ótima tarde.
         Ele riu e soltou vagarosamente a minha mão.
         - Faço das suas as minhas palavras, Therese – murmurou apontando a porta de saída, com um irresistível toque de malícia e bom humor na voz.
                                                                                    
Capítulo 2

         Certo, Michael Jackson havia se mostrado muito mais firme do que pensei que se portaria. Um acordo era a melhor saída; economizaria tempo, trabalho e grana, por isso eu não conseguia entender por qual motivo ele insistia em abrir um processo que poderia se arrastar lentamente ao longo dos anos.
         Mas a questão central após conhecê-lo passou a ser: Dane-se essa merda de acordo! Ele era o homem mais bonito e excitante que eu já vira na vida...  Poderíamos fazer muita, muita coisa juntos. Ele tinha um sorriso sínico que estampado no seu rosto tomara um ar extremamente sexy e atraente. Era um tipo de cara raro de se encontrar e, definitivamente, eu não o deixaria escapar de mim tão fácil.
         O nosso segundo encontro foi marcado para dois dias após a nossa primeira reunião. Eu mesma havia escolhido o local; um refinado bar com músicas de bom gosto, onde poderíamos conversar com absoluta privacidade. Quando cheguei ao bar, ele já estava sentado na mesa mais afastada esperando por mim, girando vagarosamente entre os dedos um copo preenchido com uma boa dose de whisky sem gelo.
         - Dessa vez foram cinco minutos de atraso – ele disse com um pequeno sorriso quando me viu parar diante da mesa. – Você nunca consegue ser pontual?
         Puxei a cadeira para me sentar e o observei com atenção. Diferentemente da primeira vez que nos vimos, ele estava vestido com uma grossa camisa vermelha de botões, uma calça preta vincada, mocassins e chapéu fedora da mesma cor. Bem mais informal e à vontade, mas tão lindo e irresistível quanto antes.
          - Gosto da forma como você se veste – murmurei descendo os olhos pelo seu pescoço, sentando-me em frente a ele. – E cinco minutos não são nada. Ganharemos muito tempo depois... Garanto a você.
         Ele sorriu e fez um sinal para o garçom.
         - O que você bebe, Therese?
         - Um Dry Martini, por favor – respondi repousando a bolsa na mesa.
         Michael fez o meu pedido para o garçom e também pediu mais uma dose de whisky para si. Virou a última dose do seu copo e me fitou com firmeza.
         - Conversei com o meu cliente sobre um possível acordo... – ele começou a dizer para mim.
- E o que ele disse?
Michael juntou as mãos.
- Ele disse que poderá pensar nessa possibilidade... se a empresa em questão oferecer para ele uma boa quantia em dinheiro para ressarci-lo por todo o  desgaste emocional que ele sofreu durante as últimas semanas.
- O seu cliente é um oportunista cara de pau – afirmei para ele sem me exaltar dessa vez. – Você é um advogado sério... Por que está defendendo aquele filho da mãe?
         - Ele tem dinheiro suficiente para pagar os meus caros honorários, portanto, estou comprometido a fazer o que seja melhor para ele.
         - Já que ele está disposto a negociar, veremos uma quantia justa para encerrar esse caso de uma vez – respondi com determinação. – Dessa forma todos irão ficar felizes e satisfeitos com o nosso trabalho.
         Michael inclinou-se um pouco sobre a mesa e arqueou as sobrancelhas.
- Tem certeza de que quer mesmo falar sobre essa droga de acordo?
         Balancei a cabeça negativamente.
         - Não.
         Ele sorriu.
         - Assim como imaginei. – Desceu os olhos até a provocativa fenda lateral do meu vestido azul-escuro. – Seja sincera... Esse não é um encontro profissional, certo?
         Cruzei as pernas e sorri satisfeita. Ele era tão rápido e esperto quanto eu imaginara.
         - Por que não seria? – perguntei fazendo-me de desentendida.
Michael colocou uma das enormes mãos em um dos meus joelhos e seus longos dedos começaram a acariciar a minha pele, riscando delicados círculos com a ponta das unhas.
- Você parece ser o tipo de mulher que sabe bem o que quer, Therese. – Aproximou-se mais um pouco. – E sei que você quer a mim. Estou enganado?
Meus lábios se retraíram em um sorriso.
- Você está sendo muito convencido... – eu disse e levantei as sobrancelhas. - Admiro essa qualidade.
- Tenho muitas outras que você ainda não conhece... – murmurou levantando os dedos até passá-los por cima da minha coxa. – Mas não se preocupe, farei questão de apresentá-la todas elas.
Sua firmeza e determinação fizeram o meu corpo inteiro se arrepiar.
- Você é um homem muito interessante... – eu disse, passando levemente a ponta das minhas unhas pelo seu dedo anelar da mão esquerda repousada em cima da mesa. – Pelo que estou vendo aqui, você ainda não se uniu em matrimônio, o que muito me agrada. – O garçom trouxe nossas bebidas e tomei o primeiro gole do Dry Martini. - Já sei que você não é casado, então, por que não me fala mais um pouco sobre a sua vida e me deixa descobrir mais um pouco?
         Ele tomou um gole da sua bebida e continuou a me observar, parecendo refletir sobre algo.
         - Vamos... – incentivei. - Permita que eu o conheça melhor.
         Michael tirou a mão devagar da minha perna e ajeitou o chapéu.
         - O que posso dizer? Eu advogo a pouco mais de doze anos... Sou o único dono do meu escritório... Moro sozinho em um confortável apartamento do outro lado da cidade... – Tomou mais um gole de whisky. - E tenho uma grande queda por loiras – concluiu com um sorriso pervertido nos lábios, observando a cor dos meus cabelos. – E você, Therese, o que tem a me dizer?
          - Hm... Comecei a trabalhar há pouco mais de três anos... Gosto muito da minha profissão... Odeio falar sobre a minha vida... E adoraria conhecer o seu apartamento – murmurei tranquilamente, passando minhas pernas por entre as suas debaixo da mesa. – Vai me levar até ele... Ou prefere continuar a perder tempo?
         - Gosto de mulheres diretas como você – ele respondeu quase me devorando com os olhos. – Termine logo a sua bebida e me acompanhe até carro – instruiu levantando-se, com os lábios retraídos em um sorriso satisfeito.

Capítulo 3      

         Eu e Michael permanecemos em silêncio a maior parte do caminho até o seu apartamento. Quando chegamos lá, ele guiou-me para dentro e acendeu as luzes da sala decorada com requinte e elegância.
         - É um belo lugar para se morar – eu disse, observando o local com atenção. Coloquei a bolsa em cima do sofá e olhei para Michael.  – Irá me oferecer uma bebida?
         Ele sorriu e aproximou-se de mim, passando os longos dedos pelo meu queixo sem o mínimo de cautela.
         - Não, Therese – murmurou, apertando os meus seios por cima do vestido em suas mãos. – Sei que nenhum de nós dois está a fim de perder tempo com enrolações desnecessárias.
         Um sorriso formou-se no canto dos meus lábios e eu aproximei nossos rostos, entrelaçando as duas mãos em torno do seu pescoço. Seus lábios famintos chocaram-se contra os meus e sua língua abriu passagem para explorar milimetricamente cada canto da minha boca enquanto suas mãos começavam a se mover pela minha bunda.
Maldição, como ele beijava bem! Senti a minha calcinha se umedecer no mesmo instante e o empurrei para o sofá, pondo-me de joelhos em frente à suas pernas abertas.
         - Vamos ver o que temos aqui, Jackson... – eu disse com expectativa, passando as mãos por sua ereção por cima da calça enquanto ele se livrava da própria camisa.
 Michael observou-me com atenção, fitando-me com o olhar mais safado que eu já havia visto na vida. Abri o zíper devagar e abaixei a cueca boxer preta, libertando o seu membro e permitindo que ele se estendesse vagarosamente diante dos meus olhos.
         - Aprova, senhorita Brown? – Michael perguntou encarando-me com um sorriso pervertido.
         Mordi os lábios e levantei as sobrancelhas, boquiaberta e satisfeita ao mesmo tempo. Engoli em seco e senti minha intimidade se contorcer instintivamente contra o tecido da calcinha. Eu nunca tinha visto um pênis tão grande e tão convidativo na vida. Além de ser enorme, ele estava com a glande completamente molhada pelo líquido incolor que escapava em abundância por ali, escorrendo pela sua extensão e molhando as veias alteradas que pulsavam pelas bordas. Levei uma das mãos até ele para suprir a necessidade de explorá-lo, expondo a glande por completo, e Michael puxou o ar com dificuldade entre os dentes, jogando a cabeça levemente para trás em sinal de aprovação.
         - Minha nossa, você foi muito abençoado pela natureza – comentei sem disfarçar a minha satisfação, descendo a calça por completo e começando a masturbá-lo. Olhei no fundo dos seus olhos e dei uma demorada lambida na glande. – Hmm... Parece ser uma delícia.
O seu membro pulsou entre os meus dedos e Michael colocou as mãos nos meus cabelos, guiando-me para baixo.
- Então prove-o, baby – sussurrou, e deu um longo gemido quando eu obedeci, colocando a metade do seu membro na minha boca.
Passei a língua por toda a extensão do seu pênis e suguei apenas a ponta dele, esfregando-o na parte interna da minha bochecha. Michael apertou os olhos e eu o senti estremecer, entrando e saindo por entre meus lábios tão duro quanto o fragmento de uma rocha. Pela expressão de prazer nos seus olhos e pelos gemidos cada vez mais altos que saiam da sua boca pude perceber que ele estava adorando. Forcei o membro para dentro o máximo que pude e Michael começou a empurrar o quadril rapidamente para frente, fazendo-o deslizar pela língua até próximo à entrada da garganta.
  – Oh merda... Foder a sua boca é uma delícia – ele gemeu, mordendo o lábio inferior com força e empurrando-me apressadamente para o seu lugar. - Eu adoraria gozar dentro dela, mas prefiro que isso aconteça quando eu estiver metendo tudo isso dentro de você.
- Estou ansiosa para isso... – sussurrei, enquanto ele se livrava do meu vestido e dos nossos sapatos, acomodando-se por cima de mim. – Veja como você me deixou – eu disse para ele, afastando as pernas e passando os dedos pelo tecido encharcado da pequena calcinha.
Seus olhos faiscaram de desejo e ele passou a língua por cima do tecido vermelho, olhando-me firme nos olhos, fazendo a minha excitação triplicar no mesmo instante. Subiu mais um pouco e passou a boca pela minha barriga, contornando o umbigo com a língua, desenhando um caminho horizontal até chegar aos meus seios, onde distribuiu uma sequência de leves mordidas e beijos molhados. Corri as unhas pelas costas e ele começou a chupar e a sugar os mamilos com força, fazendo alguns gemidos escaparem pelos meus lábios.
O meu corpo tensionado sentia que eu poderia alcançar o orgasmo a qualquer instante, antes mesmo da penetração. As mãos de Michael encontraram a minha calcinha e ele a retirou, levando dois dedos até a minha intimidade e esfregando-os em pequenos círculos por cima dos clitóris. Quando percebeu que eu já estava completamente pronta para recebê-lo, prendeu os meus lábios entre os dentes e esfregou a cabeça rosada do membro pela minha entrada, forçando-a até que ela começasse a escorregar para dentro de mim.
- Maldição... Isso é muito gostoso – gemi quando ele me invadiu, sugando forte o seu lábio inferior.
- Você é tão apertada, Tess... – ele rosnou, enfiando o rosto no meu pescoço. – Deixe-me fodê-la até o fundo... – gemeu e começou a empurrar o quadril para frente, alcançando-me tão longe quanto poderia.
 Tê-lo me preenchendo por completo era uma das melhores coisas que eu já havia sentido na vida e eu estava quase gozando com as suas investidas cada vez mais ritmadas. O orgasmo tão próximo era uma necessidade, uma súplica, um desespero tão grande que chegava a doer. Soltei um alto grito e me agarrei a Michael com as unhas, descendo-as com força pela sua pele clara até ver uma gota de sangue escorrer pelas suas costas. Meu corpo inteiro tremeu e minha intimidade apertou Michael dentro de mim, molhando-se completamente com os jatos quentes que escapavam deliciosamente pelo seu membro pulsante.
Aproximei a boca de Michael da minha e ele me beijou intensamente, retirando-se devagar de dentro de mim. Tentei regular a minha respiração e apoiei a cabeça em uma das almofadas do sofá, observando o suor que escorria da testa de Michael.
- Eu não imaginei que você tinha algo tão grande e tão gostoso no meio das pernas – eu disse para ele com um pequeno sorriso. Observei as suas costas e limpei com o polegar o filete de sangue que escorria pela enorme marca vermelha feita pelas minhas unhas que descia do pescoço até perto do quadril. – Que droga... Eu te machuquei.
Ele me beijou e balançou a cabeça negativamente.
- Não foi nada. Vamos para o quarto, devemos continuar de onde paramos.
Eu sorri para ele e assenti satisfeita.
- É um convite muito interessante.
Ele levantou-se e me puxou para os seus braços, com o membro tão ereto quanto antes mesmo após o orgasmo.
- Isso não é um convite, Therese – murmurou com as sobrancelhas arqueadas, enquanto me apertava forte em seus braços. Sorriu e fez um pequeno gesto com a cabeça enquanto completava: - É uma ordem.

Capítulo 4
                                  
O espaçoso quarto de Michael era quase todo decorado em preto, cinza e branco. Ele me beijou quando atravessamos a porta e levou-me em direção à enorme cama, empurrando-me demoradamente para trás até que as minhas costas repousassem sobre o colchão. Seus olhos tão negros e tão expressivos estavam fixos em mim, analisando o meu rosto com atenção, parecendo revirar a minha alma a procura de algo.
- Há algo de errado comigo? – questionei para ele, apoiando a cabeça em um dos travesseiros.
Michael fez um sinal negativo com a cabeça e levou as mãos aos meus seios, desenhando círculos pacientemente em volta dos mamilos rosados.
- Vendo você assim, Therese, nua em cima da minha cama, você parece tão delicada... Tão indefesa – ele disse calmamente. – Se eu já não a conhecesse o suficientemente bem, iria achar que você é uma daquelas mulheres frágeis que adoram filmes de romance e colecionam papel de carta.
Eu gargalhei.
- Delicada, eu? – perguntei sem conseguir deixar de rir pela sua interpretação. - O que te faz pensar assim?
Ele passou as mãos pela minha barriga, acariciando devagar a pele macia.
- Você tem uma aparência bastante vulnerável.
 – Para ser franca, Michael, eu jamais enxerguei o lado lírico e romântico da vida. Essas bobagens tediosas não fazem o meu estilo.
Ele parecia cada vez mais interessado no rumo da conversa.
- Tenho que lhe perguntar algo. Mas não ache que é uma curiosidade sem sentido, apesar de esse assunto fugir completamente do nosso contexto.
- Okay. Pergunte.
- Você já se apaixonou por alguém?
- O que isso tem a ver? – perguntei entrelaçando as nossas pernas.
- Não sei ao certo. Você demonstra ser tão centrada e metódica. Não deve se apaixonar com facilidade.
Refleti por alguns instantes.
- Essa noção poética de amor e paixão é uma das coisas mais idiotas que já inventaram – respondi simplesmente. – Só os fracos se apaixonam.
Michael absorveu minhas palavras e um vinco se formou em sua testa.
- Você pensa diferente da maioria das mulheres. Esse seu frio ponto de vista quer dizer que você tem um coração de pedra?
Inclinei-me para frente e o beijei.
- Não. Ele quer dizer que talvez eu nem tenha um coração. – Afastei as pernas e passei os dedos pela parte interna das minhas coxas: - Mas para quê se preocupar com o meu coração enquanto eu tenho algo muito mais interessante bem aqui esperando por você?
Ele mordeu o lábio e inclinou-se na direção do meu corpo.
- Diga-me como você quer que seja.
Coloquei os meus cabelos em suas mãos e olhei nos seus olhos.
- Segure-me por aqui e puxe o mais firme que puder – pedi, passando os lábios pelo seu pescoço. – Eu quero sentir você me fodendo tão forte quanto acabou de fazer naquele sofá. Isso, sim, faz o meu estilo.
O seu membro latejou e ele cheirou os meus cabelos.
- Eu também desejo isso – murmurou ao meu ouvido. – Vou fodê-la tão duro que certamente você ficará sem voz por alguns minutos. – Empurrou-me novamente contra o travesseiro. - Mas não vamos apressar as coisas. Quero conhecê-la de todas as maneiras possíveis. Talvez isso me ajude a desvendá-la.
- Eu sou um enigma para você, Michael?
Ele balançou a cabeça positivamente.
- É. Mas não se preocupe, baby. Eu logo saberei o que você esconde de mim.
- Gostaria de ler os meus pensamentos? – perguntei.
- Eu adoraria.
Passei os dedos pelo seu queixo.
- Posso dizer em voz alta para você o que a minha mente erótica está pensando nesse exato momento.
Ele sorriu.
- Sinta-se à vontade.
- Estou pensando no quanto os seus lábios são apetitosos, bonitos e bem desenhados.
- Eles também são bastante habilidosos – ele disse e desceu a boca pela minha barriga, fazendo todo o meu corpo se arrepiar. Acomodou-se lentamente no o meio das minhas pernas e esfregou os lábios pelo meu clitóris. Eu estremeci abaixo do seu corpo e ele sorriu. – Está vendo? Eu mal comecei e você já está de contorcendo.
- God... Isso é muito bom... – eu disse apertando os olhos, mordendo o canto dos lábios. – Vamos, Jackson, continue.
Michael separou os grandes lábios com os dedos e passou a língua sobre eles, sugando o clitóris e massageando a minha entrada com a ponta das unhas. Penetrou-me com três dedos e começou a movê-los pela parede interna da vagina, riscando círculos completos bem lá no fundo.
Agarrei a cabeceira, sem conseguir conter os gemidos cada vez mais altos e enfiei as unhas nos cabelos de Michael quando comecei a atingir o orgasmo. Relaxei um pouco mais as pernas e enfiei as unhas nos cabelos de Michael, gemendo quase sem voz o seu nome. Finquei os dentes nos lábio inferior para conseguir sufocar um grito e meu corpo inteiro começou a vibrar por dentro. Minha intimidade retesou na boca de Michael e eu levantei a cabeça a procura de ar, com os cabelos loiros bem mais bagunçados do que o habitual.
- Você sempre tem que ver sangue quando chega ao orgasmo? – Michael perguntou com um sorriso divertido nos lábios, saindo do meio das minhas pernas e inclinando-se sobre mim.
- Claro que não – respondi mais rápido do que o necessário. – Qual o motivo da pergunta?
Ele apontou para a minha boca, colocando-se de joelhos na cama. Passei dois dedos por cima dos lábios e senti uma leve ardência no local onde eu havia prendido os dentes.
- Merda – praguejei, passando o pulso pela boca. – Saiba que a culpa foi toda sua.
- Minha? – ele perguntou com um sorriso baixo, virando-me de bruços e puxando-me para trás até que eu me posicionasse de quatro.
- Toda sua – repeti, enquanto ele passava o membro duro pelas minhas nádegas. – Você está me fazendo gozar tão gostoso! Maldição, você é muito bom no que faz.
Michael abriu um sorriso pervertido e levou os dedos até as minhas pernas, abrindo-as um pouco mais. Passou as mãos pelos meus ombros e agarrou os meus cabelos com firmeza, puxando-os para trás até que um alto gemido escapasse da minha garganta.
- Gostaria de apanhar um pouco, Therese? – perguntou com a boca no meu ouvido, passando uma das enormes mãos pela minha bunda.
Apertei o travesseiro com os dedos e senti o meu clitóris tremer. Definitivamente, eu odiava ficar tão submissa ao ponto de deixar um homem comandar tanto a situação. Mas com Michael, estava sendo completamente diferente. Eu estava adorando tê-lo no controle, por mais que detestasse admitir isso para mim mesma.
- Só de você – eu disse quase sem voz, sentindo que ficaria maluca se não sentisse de uma vez por todas o peso das suas mãos. – Bate, Michael.
Ele colocou a cabeça do seu membro na minha entrada e me deu uma mordida nas costas, deixando a marca arredondada dos seus dentes na minha pele. Segurou os meus cabelos com força e levantou uma das mãos, soltando-a com firmeza enquanto começava a se empurrar para dentro de mim. Um alto barulho estralado ecoou pelas paredes do quarto e apertei os olhos, implorando que ele batesse mais vezes e fosse mais rápido.
O atrito da mão de Michael contra a minha pele ardia, doía tanto que o meu sangue parecia vibrar dentro das veias em torno das minhas nádegas. Mas quanto mais ele batia, mais tesão eu sentia e, consequentemente, mais prazer ele me proporcionava.
Michael jogou a cabeça para trás e puxou o ar pelos dentes, empurrando o quadril para frente enquanto os nossos corpos se chocavam um contra o outro. Gemíamos tanto e tão alto que provavelmente os vizinhos dos andares de cima e de baixo iriam conseguir ouvir a nossa voz, a menos que o apartamento tivesse um ótimo revestimento especial para fazer o bloqueio sonoro. Quando o orgasmo nos atingiu, intensificamos ainda mais os movimentos e os gemidos tornaram-se ainda mais altos, enquanto nossos corpos suados e ofegantes desfrutavam daquele delicioso momento em completa sintonia.
Após terminarmos, tomei um banho enquanto Michael bebia uma taça de vinho na sala e, por conta do horário tão avançado, ele não me deixou ir embora. Dormimos juntos na sua cama, com mãos e pernas imprudentemente entrelaçadas, na primeira vez que eu me permiti passar uma noite inteira ao lado de um homem.

Capítulo 5

Quando acordei na manhã seguinte Michael ainda estava dormindo tranquilamente ao meu lado. Olhei a hora no relógio, saltei da cama com cuidado para não acordá-lo e segui para o banheiro. Arrumei os cabelos em um desajeitado rabo de cavalo, lavei o rosto, e na falta da minha escova de dentes acabei usando a de Michael. Voltei para o quarto e comecei a procurar as minhas roupas, mas logo lembrei que elas estavam jogadas por algum lugar no chão da sala. Abri o armário de Michael, retirei de dentro dela uma fina camisa branca de botões e a vesti sem usar calcinha por baixo. Segui para a cozinha e abri a geladeira à procura de algo para o café da manhã, afinal de contas, após uma noite tão cheia de sexo eu estava morrendo de fome.
- Bom dia, Therese – ouvi a voz de Michael dizer na porta da cozinha alguns minutos depois. Ele estava muito sexy... Enrolado em um roupão preto, com os cabelos molhados ondulados na altura dos ombros. – Eu não sabia que você ainda estava aqui.
- Estava fazendo omelete – eu disse para ele, apontando para a frigideira recém saída do fogão. – E eu não iria embora sem antes me despedir de você.
Ele aproximou-se da mesa e puxou uma cadeira para se sentar.
- O aroma está muito bom – murmurou quando estiquei um prato para ele. Analisou-me com atenção e pegou um garfo. – Pelo que vejo, você andou mexendo nas minhas roupas.
Desci os olhos até a camisa branca e também me sentei.
- Eu ainda preciso procurar o meu vestido e não queria ficar circulando nua pela casa – expliquei. – Espero que você não se importe.
Michael balançou a cabeça negativamente e deu uma garfada na omelete, levando-a até a boca.
- Não há problema. A minha camisa ficou ótima em você.
Abandonei a omelete no meu prato sem nem tocá-la direito e levantei-me novamente, dando a volta na mesa e sentando-me com as pernas abertas no colo de Michael, virada para ele.
- O melhor de tudo, baby, é que não estou usando nada por baixo dela.
- Essa é uma ótima forma de começar o dia – ele disse passando as mãos nos meus seios por baixo da camisa.
Michael me beijou e abri o seu roupão.
Mordi o seu lábio e peguei o seu membro já ereto entre as mãos. Posicionei-o na minha entrada e desci pela sua extensão, levando-o para dentro de mim. Michael sufocou os meus gemidos com a boca e segurou a minha cintura, guiando-me para baixo em movimentos de vai e vem. Seus dedos começaram a se mover pelo meu clitóris e eu relaxei nos seus braços minutos depois, chegando ao orgasmo e trazendo-o comigo.
- Tão gostosa – ele disse ao meu ouvido quando regulou a respiração. – É uma pena que eu tenha que ir para o escritório.
         Dei um demorado beijo nos seus lábios e levantei-me do seu colo.
         - Eu também tenho que ir trabalhar. Mas antes preciso passar em casa para trocar de roupa e pegar as chaves.
         - Eu levo você – ofereceu.
Eu sorri e assenti.
- Tudo bem. Vou procurar a minha roupa e os meus sapatos – eu disse dando uma piscadela para ele.
Ele beijou meus lábios mais uma vez e ajeitou o roupão em torno do corpo.
- Eu também vou me trocar, volto em um minuto – disse para mim antes de ir em direção ao quarto.
            
* * * * *

Apenas alguns minutos depois eu e Michael já estávamos devidamente vestidos, saindo juntos do seu apartamento. Demos alguns passos até o elevador e esperamos que a porta de metal se abrisse.
- Eu acho que já estou atrasado – Michael disse olhando para o relógio. – Tenho uma reunião importante, espero que o trânsito colabore.
Quando a porta do elevador se abriu, uma mulher morena saiu de dentro dele, segurando algumas sacolas de supermercado. Era alta, bonita e cheia de curvas, aparentando ter pouco menos de 30 anos. Pensei que Michael iria se apressar em descer, mas, por algum motivo que não consegui captar de primeira, ele ficou parado exatamente onde estava.
- Bom dia, Michael – a mulher disse quando o viu.
Ele deu um sorriso – um sorriso largo e extremamente amistoso - e fez um aceno com a cabeça.
- Bom dia, Melodie – respondeu. – Como está você?
- Eu estou bem! – murmurou ela com um sorriso nos lábios.
- Como está indo o trabalho? – Michael perguntou com interesse.
- Cada dia melhor... – ela disse. – Agradeço muito pela sua ajuda. Se não fosse por você, talvez o diretor não tivesse me dado uma chance.
- O mérito é todo seu – Michael murmurou. – Só dei um telefonema... Era o mínimo que eu poderia fazer.
 Pigarreei de leve, sentindo-me perdida no diálogo, e a mulher olhou para mim, parecendo um pouco desconfortável de repente.
- Therese, essa é Melodie Simpson – Michael apresentou quando o silêncio se fez, como se o nome dela me causasse algum interesse.
- Senhora ou senhorita Simpson? – perguntei esticando uma das mãos para ela.
- Senhorita – ela respondeu, e ao apertar a minha mão vi que ali não havia nenhuma aliança.
“Mais uma das vacas que o Michael leva para a cama” uma voz cantarolou na minha cabeça.
- É um prazer conhecê-la – eu disse mesmo de mau gosto.
- O prazer é todo meu – a mulher respondeu. – Bom, eu tenho que ir. Daqui a pouco tenho que estar no hospital.
- É médica? – perguntei.
- Não, sou enfermeira.
- Hum, interessante – eu disse sem conseguir disfarçar o tédio da voz. Olhei para o relógio. – Você também não está atrasado? – relembrei para Michael.
- Sim, eu estou – murmurou ele com relutância. – Até mais, Melodie.
A mulher abriu um sorriso e deu um tchauzinho para nós dois.
- Até mais.
Desfiz o sorriso mentiroso dos lábios e revirei os olhos quando ela se virou e começou a caminhar no corredor em direção a um dos apartamentos. Eu e Michael entramos no elevador e a porta à nossa frente deslizou até se fechar.
- Eu não sabia que você tinha um lado tão simpático e cavalheiro.
- Eu já havia dito que tenho muitas qualidades que você ainda não conhece – ele respondeu com um sorriso, apertando no painel eletrônico o botão que nos conduziria até a garagem no subsolo.
- Não me diga que você também anda comendo a sua vizinha?! – questionei com as sobrancelhas levantadas. – Sem brincadeira, isso parece um clichê daqueles filmes pornôs de quinta categoria.
Ele gargalhou.
- Não é nada disso – corrigiu. – A Melodie é nova na cidade e está em fase de adaptação. Só estou tentando ser prestativo com a garota.
- De onde ela é? – perguntei e a porta do elevador se abriu.
- Detroit.
- Nunca transou com ela? – perguntei sem conseguir acreditar, enquanto caminhávamos até o carro.
- Eu e ela estamos saindo há algumas semanas, mas não passamos da conversa e de algumas taças de vinho – murmurou e parecia estar sendo sincero.
Entramos no BMW preto de vidros escuros e travamos o cinto de segurança.
- Eu pensei que mulher nenhuma resistisse ao seu incrível charme – rebati. – Pelo visto essa Melodie está te fazendo de idiota.
Ele deu a partida e saiu de ré, reposicionando o carro em frente ao portão que levantou automaticamente para permiti-lo sair.
- Acredite, com ela é diferente.
- Diferente... como?
- Ela me entende perfeitamente bem... Temos uma grande sintonia. Nos tornamos bons amigos e eu não quero estragar tudo.
Peguei a bolsa e retirei um espelho de dentro dela.
- Desde quando sexo estraga alguma coisa?
- Desde quando há sentimentos envolvidos – ele respondeu.
Arqueei as sobrancelhas.
- Você gosta dela pra valer?
- Não faça perguntas difíceis, Therese – Michael desconversou. – Ahm, eu preciso do seu endereço.
 Olhei-me no espelho e disse para mim mesma que eu era muito mais bonita e atraente do que a tal de Melodie.
- Tess, preciso do endereço – ele repetiu, recobrando a minha atenção, mas eu estava perdida nos meus próprios pensamentos.
- Você me acha sexy? – perguntei para Michael.
- Eu estaria cego ou louco se dissesse que não. Você é extremamente sexy e sabe bem disso – ele respondeu. – Agora posso saber para onde devo levá-la?
- West Century Boulevard 7467 - eu disse guardando o pequeno espelho de maquiagem na bolsa outra vez.
- Segure-se, baby, porque agora eu vou pisar fundo – ele avisou com um risinho assim que pegamos uma longa avenida.
“Maldição” pensei comigo mesma. “Os peitos dela são maiores do que os meus e ela tem uma pele tão bronzeada...” analisei com uma súbita irritação observando a minha pele pálida. “Melodie. Que nome ridículo!”
- Michael, eu quero um orgasmo... – eu disse para ele, sentindo uma súbita excitação tão grande que fazia a minha intimidade doer. Ele me encarou incrédulo e eu completei: - Agora.
- Aqui? – perguntou sem parar de acelerar, entrando na contra mão para chegar mais rápido. – Tess, estamos cruzando a avenida mais importante da cidade.
 - Eu preciso – murmurei quase em uma súplica, colocando uma das pernas no painel do carro. – Você tem que me fazer gozar.
Michael riu e tirou uma das mãos do volante, ainda em alta velocidade. Enfiou a mão por baixo do meu vestido e colocou a minha calcinha para o lado, começando a massagear o meu clitóris.
Joguei a cabeça para trás e fechei os olhos ao sentir os seus dedos se moverem em mim. Comecei a gemer alto, pedindo que ele fosse mais rápido. Michael não havia decidido se ficava com os olhos na estrada ou com os olhos em mim. Pela expressão pervertida no seu rosto dava pra perceber que ele adorava dar prazer dessa forma pra uma mulher.
Um ônibus escolar surgiu à frente do carro e buzinou alto, fazendo Michael manobrar rapidamente e voltar ao seu lugar na pista. Eu me contorci sobre o banco e agarrei o seu pulso com uma das mãos, enfiando as unhas sem piedade na pele dele. A minha intimidade estremeceu e senti uma onda quente se espalhar rapidamente por todo o meu corpo.
- Isso... Goza bem gostoso nos meus dedos, baby – Michael incitou com a voz rouca, sem parar de me masturbar.
Apertei as pálpebras, sem conter os gemidos, e depois de gozar afrouxei as unhas no seu pulso. Michael moveu os dedos devagar por mais duas vezes e os retirou do meio das minhas pernas, enquanto eu voltava a me sentar da forma correta.
- É um milagre ainda estarmos vivos – Michael comentou rindo. – Por Deus, você só pode ser louca!
- Gosta de mulheres loucas? – perguntei para ele.
- São as minhas preferidas – ele disse para mim e nós dois rimos.
- Já disseram que os dedos são perfeitos? – comentei. – Você tem uma mão linda e muito sexy.
Ele fixou as mãos no volante.
- Hoje à noite elas estarão apertando você por todos os lugares – ele murmurou. – A não ser que você não queira, claro.
- Claro que eu quero! – eu disse.
Michael sorriu.
- Eu realmente adorei a noite que passamos juntos. Quero muito tê-la outra vez – disse, parando o carro em frente ao enorme prédio branco que se destacava por entre as outras construções da rua.
- Estarei esperando por você – eu disse para ele. - Apartamento 347, décimo terceiro andar.
Ele assentiu me deu um demorado e delicioso beijo na boca.
- Perfeito. Estarei aqui por volta das nove – avisou, assim que nossos lábios se separaram.



Capítulo 6

Troquei de roupa ao chegar em casa e duas horas depois eu estava levando uma bronca do meu chefe por ter chegado atrasada no escritório. Peguei meia dúzia de pastas para reavaliar o andamento de um processo e fui para minha sala, mas Michael simplesmente não saía da minha cabeça, impedindo-me de trabalhar direito. Tirei o espelho da bolsa e olhei o meu reflexo nele, ajeitando os cabelos loiros e retocando o batom vermelho. “Estou contando as horas para o nosso próximo encontro, baby” falei comigo mesma, rindo e recostando-me na cadeira.

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Residência dos Brown, Seattle, 20 anos antes.


A garotinha de olhos claros estava sentada na grama do jardim, de vestido rodado e passadeira nos cabelos, sorrindo para o homem bem apessoado que estava sentado ao seu lado. O homem passou as mãos pela sua perna e começou a distribuir cócegas pelo seu corpo, fazendo-a cair suavemente de costas na grama, quase engasgando de tanto rir.
- Eu te amo, papai – ela disse para ele quando parou de sorrir. Jogou-se nos seus braços e pôs a cabeça no seu colo.
- Eu também te amo, querida – ele respondeu acariciando os seus cabelos.

A alguns passos dali, uma mulher alta de traços fortes observava o marido e a filha com absoluta atenção. Arqueou as sobrancelhas e respirou fundo, saindo dali poucos minutos depois sem fazer barulho.

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Eu estava enrolada em uma toalha branca quando ouvi a campanhia do apartamento tocar por duas vezes seguidas. Conferi o relógio na parede e praguejei comigo mesma por ter perdido a noção do tempo, irritada por não ter conseguido me arrumar a tempo de esperar pelo meu visitante. Caminhei até a porta apressadamente e a abri, dando de cara com Michael do lado de fora. Ele me olhou de cima a baixo e não disfarçou a satisfação em me ver sem roupa. 
- Boa noite, Jackson – eu disse com um sorriso, segurando a toalha para mantê-la fixa ao corpo. – Você está um gato – murmurei ao descer os olhos pela sua roupa; composta por calça preta, camisa branca com gola em V, jaqueta escura e chapéu fedora.
Ele riu e me deu um beijo nos lábios.
- Você já começou a tirar a roupa sem mim? – perguntou com bom humor.
- Eu acabei de chegar do escritório – expliquei, abrindo espaço para que ele pudesse entrar. – Fiquei presa no trânsito e foi um inferno. Eu não queria que você me encontrasse nesse estado – lamentei.
- Qual a importância das roupas? – ele perguntou passando os dedos pela minha nuca. - Iremos tirá-las de qualquer jeito!
Abri um sorriso e estendeu para mim uma garrafa de whisky.
 - Eu pensei em trazer flores... Mas acho que uma boa bebida combina muito mais com você.
- Muito melhor assim – murmurei, rindo e pegando a garrafa. - Eu não preparei nada para nós, mas podemos pedir algo pelo telefone se você estiver com fome. Conheço um restaurante japonês onde a comida é estupenda. Tenho certeza de que você iria adorá-la.
- Não é necessário – recusou. – Eu não estou muito a fim de comer.
- Hm... Tem certeza? – perguntei dando uma leve mordida no lábio.
Gargalhamos quando ele captou a malícia presente na minha pergunta.
- O que você tem a me oferecer, Therese, é muito mais apetitoso do que comida japonesa, tenha absoluta certeza.
Eu ri para ele e dei outro beijo nos seus lábios.
- Vou para o banho, okay? – eu disse pegando um controle remoto ao lado do abajur e colocando em suas mãos. - Ligue a TV e se distraia, baby, volto em alguns minutos.
Ele assentiu e sentou-se no sofá, começando a surfar pelos canais a procura de algo interessante, enquanto eu seguia na direção do banheiro.
Depois do banho, fui para o quarto e vesti uma lingerie de renda preta com transparências que Michael certamente iria adorar. Enfiei-me em um vestido de tecido fino, soltei os cabelos, passei delineador nos olhos e batom escuro nos lábios antes de voltar para sala.
- Voltei – anunciei, aproximando-me do sofá com dois copos de whisky nas mãos. Dei um dos copos para Michael e bebi um gole do outro, sentando-me ao seu lado no sofá. Um filme em preto e branco que não consegui identificar passava em algum canal da TV à nossa frente.
- Vi a enorme coleção de filmes que você tem ali – ele disse apontando para a estante bem organizada. – Todos são clássicos do terror e do suspense. Impressionante!
- Tenho um encantamento especial pelos filmes de Stephen King e Alfred Hitchcock – confessei. – Sempre saio pela cidade a procura de raridades para aumentar a coleção.
- Por que você gosta tanto desse tipo de filme? – Michael perguntou com curiosidade.
- Porque me divirto muito com a expressão que os personagens fazem quando são assassinados – respondi com sinceridade. – É engraçado vê-los correndo e entrando em desespero, tentando escapar do inevitável. É como um labirinto. Quanto mais eles fogem, maiores são as chances de serem pegos.
- Você tem um gosto muito peculiar, Therese – Michael comentou bebendo o whisky. - Eu prefiro as comédias. Amo os filmes de Charlie Chaplin.
- God... Ele era retardado!
- Ele era um verdadeiro gênio! – Michael defendeu.
- Meu pai era um grande fã daquele demente – relembrei. – Até se encontrou com um dos filhos dele certa vez.
- Sério?! – ele perguntou com entusiasmo.
- Sério! Ele exibia a foto que tiraram juntos como um troféu. Gostaria de vê-la? Talvez você consiga me explicar o que torna aquela porcaria tão interessante.
Michael balançou a cabeça positivamente e me levantei, puxando-o pelas mãos e guiando-me até o meu quarto. Bati a porta quando entramos e agachei-me diante do criado-mudo, revirando um amontoado de papéis dentro de uma das gavetas até encontrar a fotografia em que dois homens altos sorriam para a câmera.
- Veja que coisa mais ridícula – eu disse rindo, esticando a foto para Michael.
Michael pegou a fotografia, a analisou calmamente, e levantou os olhos até fitar o meu rosto novamente.
- Espera aí... Eu o conheço – ele murmurou com surpresa.
- Acho que o nome dele é Christopher – murmurei sem dar muita importância. – Ele é um dos filhos mais novos de Charlie.
Michael balançou a cabeça negativamente.
- Falo do outro homem... - corrigiu-me. – Oh Deus, Therese! – murmurou como se estivesse feito a maior descoberta do século – Esse é cara aqui é Donald Brown, certo? Não me diga que você é filha do senhor Brown?!
Minhas sobrancelhas se arquearam automaticamente.
- Sou... – eu disse cautelosamente. – Vocês e o meu pai se conheciam?
- Trabalhei para o senhor Brown em Seattle há anos atrás, logo após sair da faculdade – disse olhando a foto novamente. - Eu era jovem, estava no início da carreira, e mesmo assim ele acreditou na minha competência e me deixou responsável por importantes contratos da empresa que ele dirigia – Michael relembrou. – Depois que vim para Los Angeles fiquei sabendo por terceiros que ele e a esposa haviam morrido em um incêndio no chalé onde passavam as férias, deixando uma filha adolescente. Foi uma perda lamentável.
- Eu era a filha em questão. Que coincidência! Quase dez anos já se passaram desde a tragédia – lembrei, ficando distante de repente.
- Eu sinto muito – consolou-me.
- Tudo bem – eu disse, pegando a foto das suas mãos e guardando-a novamente. – Não sou a primeira órfã do mundo e provavelmente não serei a última. – Sorri. – Podemos mudar de assunto?
Michael assentiu e aproximou-se um pouco mais, colocando as mãos em torno do meu quadril.
- Sobre o que você quer falar, baby? – perguntou, passando os lábios pelas minhas bochechas.
Segurei-o pela gola da camisa e chupei lentamente o seu pescoço.
- Não quero falar, Michael, eu quero fazer – respondi afastando as lembranças, empurrando-o para cima da minha cama.

Capítulo 7

         Michael abriu um sorriso satisfeito e repousou a cabeça no meu travesseiro, enquanto eu começava a desabotoar a sua camisa. Tirei os sapatos, as meias, a calça e o deixei apenas com a boxer vermelha que cobria o seu membro já excitado. Distribui uma sequência de beijos nos seu peitoral e sentei-me em cima dele, esfregando a minha intimidade no seu membro ainda por cima da roupa. Ele mordeu o lábio e soltou um longo suspiro enquanto tentava se livrar do meu vestido, apertando os meus seios e descendo as mãos pelas minhas costas.
         - Hoje o domínio é meu, Jackson – eu disse ao seu ouvido, inclinando-me sobre ele e enfiando uma das mãos na primeira gaveta da mesa de cabeceira próxima à cama para tirar duas algemas de metal de dentro dela.
         Dei um longo beijo nos lábios de Michael e, quando ele deu por si, eu já estava prendendo os seus pulsos na cabeceira da cama.
         - Quanta provocação, Therese – ele murmurou com um meio sorriso nos lábios, enquanto eu terminava de imobilizá-lo. O seu membro pulsava sob a cueca, implorando para ser libertado logo dali. Passei os dedos lentamente sobre o tecido da boxer e Michael se contorceu devagar. – Tire-o para fora, baby – pediu, apertando as unhas contra as próprias mãos. 
- E acabar com o melhor da festa? – perguntei com um sorriso divertido, esfregando a ponta dos dedos pela sua virilha. – Ainda é cedo demais para satisfazer as suas vontades. Sou eu quem manda aqui dessa vez.
Saltei da cama e o contemplei deitado diante de mim, quase completamente nu, entregue a qualquer coisa que eu resolvesse fazer naquele momento. Engatinhei até voltar para cima dele outra vez e chupei o seu lábio inferior, esticando uma das mãos para pegar outro objeto dentro da gaveta.
- Vamos brincar um pouquinho? – perguntei baixinho para ele, puxando da gaveta uma arma prata de metal e apontando-a para ele. Michael me observou e, mesmo tentando se manter impassível diante da minha ação, vi o susto e a surpresa atravessarem o seu rosto. - Qual o motivo do espanto? – perguntei sem conseguir segurar o riso. – Nunca viu uma arma na vida?
Michael desceu os olhos até o cano da arma e levantou uma das sobrancelhas.
- As consequências dessa brincadeira podem ser desastrosas – ele disse para mim. – Guarde essa porcaria novamente antes que um de nós acabe se machucando de verdade.
- Não seja tão rude com a minha amiga – defendi, passando o metal gelado pela pele do seu pescoço. – O nome dela é Pluma e ela não é uma porcaria.
- Espero que ela esteja devidamente registrada, ou você poderá ser presa por porte ilegal de arma de fogo – ele sibilou.
Eu gargalhei.
- Foda-se as leis! As regras são feitas para serem quebradas, não concorda?
- Eu me surpreendo ao ouvir uma advogada falando dessa forma.
Beijei os seus lábios e tentei acalmá-lo.
- Não leve tudo tão à sério. A Pluma só quer um pouco de diversão.
- Que tipo de pessoa coloca um nome em uma arma? – ele questionou.
- As criativas – devolvi. Deslizei o cano da arma pelo seu rosto e a repousei na sua cabeça, bem no meio da sua testa. O sorriso no meu rosto se desfez e fitei Michael com firmeza. – Não sente nem um pouco de medo?
Ele me olhou com indiferença.
- Não. Eu sei que você não atiraria em mim.
Apertei a arma um pouco mais forte contra a sua testa.
- Diga que você tem medo.
- Eu não tenho medo, Therese – reafirmou sem me levar à sério.
Respirei fundo e destravei a arma, voltando a empurrá-la contra a sua cabeça. Olhei no fundo dos seus olhos e levantei as sobrancelhas.
- Nunca me subestime, baby – murmurei com a voz firme, deslizando o dedo indicador pela arma até puxar o gatilho.



Capítulo 8

A arma fez um clique oco e eu gargalhei alto. Michael soltou um longo suspiro e eu voltei a beijá-lo, colocando a arma em cima da mesa de cabeceira.
- A Pluma está descarregada, okay? – eu disse para ele.
- Você é louca, Therese – ele murmurou para mim. Puxou as mãos algemadas e fez um sinal de cabeça para que eu o libertasse. – Solte-me.
Assenti devagar e peguei a chave que destravava as algemas.
- Tudo bem, mas eu ainda não terminei com você – eu disse, soltando-o e arranhando de leve o seu tórax.
Michael mordeu o próprio lábio e eu deslizei a boca pelo seu peitoral, fazendo todo o seu corpo se arrepiar. Ele ainda parecia estar assustado, mas o seu membro continuava rígido sob o tecido da cueca, pedindo em silêncio que eu o libertasse dali de dentro. Retirei a boxer, sem parar de beijá-lo e Michael desceu a minha calcinha, pondo as mãos no meu quadril e guiando-me na direção do seu pênis ereto. Joguei a cabeça para trás e permiti que ele deslizasse para dentro de mim, enquanto Michael começava a me puxar cada vez mais rápido contra o seu corpo.
O único som que poderia ser ouvido no quarto era o dos nossos altos gemidos e dos nossos corpos se fundindo em apenas um. Quando chegamos juntos ao orgasmo Michael apertou as mãos ainda mais forte no meu quadril e inclinou-se até encontrar os meus lábios, dando uma mordida tão forte no meu lábio inferior que por pouco foi ele quem arrancou sangue de mim daquela vez.
Quando o seu membro parou de pulsar dentro de mim eu sorri para ele e deitei-me ao seu lado, beijando os seus lábios com calma para que a nossa respiração pudesse voltar ao normal. Michael apoiou a cabeça no travesseiro e pareceu pensativo e distante por alguns minutos.
- Eu vou desligar a TV e apagar as luzes da sala – eu disse para ele, dando um suave beijo nos seus lábios e saltando da cama.
Ele permaneceu em silêncio, apenas me observando. Fui até a sala e procurei o controle da TV no sofá. Na tela, um casal apaixonado se beijava em um filme que não consegui identificar. Revirei os olhos e a desliguei, apertando o interruptor da luz em seguida e voltando para o quarto. Quando cruzei a porta, vi Michael sentado na cama com a minha arma nas mãos.
- Descarregada? – ele perguntou para mim, gesticulando para o tambor de metal que ele havia aberto. 
Havia uma bala encaixada entre cinco espaços vazios.
- Quase descarregada – eu me corrigi.
Os punhos dele se cerraram.
- Que merda você pensou que estava fazendo, Therese?! – bradou. - Poderia ter estourado a porra dos meus miolos nessa cama!
- Que drama desnecessário – retruquei. – Cabem 6 balas aí, mas só tinha umazinha! As chances de você receber um tiro eram mínimas.
Ele me encarou com incredulidade e começou a se vestir.
- Prefiro nem pensar no que poderia ter acontecido – ele murmurou com raiva. – Você é uma maluca, deveria se tratar!
Continuei tão calma quanto antes.
- Não quer dormir aqui? – perguntei.
Ele terminou de calçar os sapatos e abotoar a camisa.
- Nem sei se quero olhar para a sua cara outra vez – ele respondeu, saindo furioso pela porta do quarto.
            
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Residência dos Brown, Seattle, 14 anos antes.


Os gritos que vinham do quarto ao lado eram altos e perturbadores. A garota loira na cama apertava as mãos com força sobre as orelhas para tentar trazer o silêncio, mas mesmo assim conseguia ouvir a voz alterada da sua mãe:
- Eu não sou cega, Donald! Sei muito bem do que estou falando!
- Cale essa boca, Angeline! Você não sabe de nada!
Ouviu mais alguns gritos e depois o silêncio absoluto reinou no ambiente. Tentou dormir, mas o sono havia se dispersado por completo. Provavelmente a mãe havia se entupido de remédios e conseguido dormir após a discussão. Minutos depois ouviu a porta do seu quarto abrir lentamente e alguns passos se aproximaram da cama. Fingiu que dormia enquanto mãos masculinas começavam a abraçá-la.
- Ah querida... – o homem sussurrou enquanto passava as mãos pelos seus braços.
         Pouco depois a sua camisola deslizou até a cintura, deixando seus seios à mostra.

         Quando ele saiu do quarto, os olhos da garota estavam cheios de lágrimas. “Você ainda irá pagar muito caro por isso, papai” pensou consigo mesma, secando os olhos com força.

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Capítulo 9

Não entendi por qual motivo Michael saiu do meu apartamento tão irritado. Sério, não havia motivo para tanto drama. Havia mesmo chances de ele ter recebido um tiro, mas isso não aconteceu! Ele estava tão inteiro quanto antes, portanto, por que ficou tão transtornado com uma simples brincadeira?
Na manhã seguinte eu estava no escritório pensando em Michael quando o meu chefe entrou na minha sala com uma pasta preta repleta de papéis nas mãos. Respirei fundo e recobrei a atenção quando vi o senhor de cabelos levemente grisalhos atirar a pasta em cima da mesa.
- Trouxe mais um presentinho para você, Therese – ele disse. 
Peguei a pasta e comecei a folhear os papéis.
- Devo fazer uma reavaliação desse processo?
Ele assentiu.
- O caso estava arquivado, mas foi reaberto. Estude-o minuciosamente e encontre as falhas para que possamos montar uma boa defesa para um cliente importante.
Corri os olhos pela primeira folha e vi pesava contra um sujeito porto-riquenho uma acusação sobre importação ilegal de bebidas.
- Verei o que posso fazer.
- O cliente quer dois advogados cuidando disso – ele acrescentou. – Escolha alguém para auxiliá-la. A situação do cara está complicada e duas cabeças pensam melhor do que apenas uma.
- O senhor tem alguém em mente?
- Pensei no Manson – ele murmurou.
O cara em questão era Shad Manson, o maior idiota daquele escritório de advocacia.
- Se não se importar, eu gostaria de indicar outra pessoa.
- Faça o que julgar mais conveniente, Therese – ele respondeu. – Você tem colegas muito competentes aqui, faça a sua escolha.
Ele virou-se na direção da porta e antes que ele saísse, eu o chamei:
- Senhor Harold?
Ele virou-se novamente para mim, com a mão na maçaneta.
- Sim?
- O meu parceiro poderia ser um advogado que não trabalha nesse escritório?
Ele balançou a cabeça negativamente.
- Claro que não! Isso diminuiria os nossos lucros e não seria nem um pouco inteligente.
- Posso tirar do meu próprio bolso para pagar os honorários dele – propus. - O que o cliente pagar para o segundo advogado ficará para o escritório. O senhor irá ficar com a parte inteira da grana, e não apenas com uma porcentagem.
- Por qual razão você faria essa maluquice? – questionou com dúvida.
Cruzei as pernas e fechei a pasta.
- Porque eu quero Michael Jackson nesse caso.
Suas sobrancelhas se levantaram
- Sei quem ele é. É um filho da mãe muito esperto. E muito caro, por sinal. Já ouvi dizer que ele não abre mão de trabalhar sozinho. Por qual razão ele aceitaria cuidar desse caso com você?
- Porque eu o conheço bem e ele não me negaria isso – respondi. – Tenho muito a aprender com ele. Ele é muito experiente.
O meu chefe balançou a cabeça positivamente e deu de ombros.
- Faça como achar melhor, Therese. Eu só não quero sair perdendo - ponderou. - Por isso, é bom que você saiba de verdade o que está fazendo – aconselhou com a expressão fechada, antes de abrir a porta e sair da sala.

* * * * *

 No fim do dia saí mais cedo do trabalho e segui para o escritório de Michael. Agora eu tinha a desculpa perfeita para me encontrar com ele após o seu surto dramático da noite anterior.
Minutos após ter sido anunciada pela sua secretária eu fui autorizada a entrar na sala onde nos vimos pela primeira vez.
- O que faz aqui, Therese? – Michael perguntou quando parei diante da sua mesa.
- Ainda está irritado comigo? – foi a primeira coisa que perguntei.
- Você quase me matou – ele relembrou. - Como quer que eu esteja?
Sentei-me em uma poltrona diante dele e cruzei as pernas.
- Vamos esquecer aquele pequeno incidente, está bem? Eu estou aqui porque tenho uma proposta para lhe fazer.
Ele arqueou as sobrancelhas.
- Qual proposta? Enfiar uma bala na minha cabeça?
Revirei os olhos.
- Até quando você vai me encher o saco por conta disso? Eu já disse que foi apenas uma droga de uma brincadeira!
Ele inclinou-se sobre a mesa e juntou as mãos.
- Economize as explicações e diga logo o que veio fazer aqui – apressou-me, fitando-me com firmeza.
- Eu gostaria de ter a sua ajuda na reavaliação de um processo – comecei a dizer. - Você é mais experiente do que eu e preciso de um parceiro nesse caso. Logo pensei em você.
- Sinto muito, mas eu não trabalho em parcerias – ele respondeu.
- Eu seria uma parceira excepcional – sussurrei para ele.
- Não estou interessado. Prefiro ficar longe de você.
- Tem certeza? – perguntei, levantando-me e dando a volta na mesa até me sentar no seu colo. Passei as unhas pela sua nuca e senti seu corpo se arrepiar. – Esqueça o que aconteceu ontem. Não irá se repetir, eu prometo.
- Eu vou ser bem remunerado? – ele perguntou com um tom nitidamente malicioso.
- Vai – afirmei, descendo as mãos pela sua gravata. – Tanto financeiramente... – Mordi o seu lábio inferior e passei uma das mãos pelo seu membro por cima da calça: – Quanto sexualmente.
Ele fitou os meus lábios tão próximos aos seus e me deu um demorado beijo. Olhou para cima quando nossos lábios se separaram e voltou a me encarar, naquela expressão de quem odeia dar o braço a torcer.
- Está bem – ele disse por fim. – Vamos marcar uma reunião para que você possa me explicar sobre o andamento do caso.
Eu sorri e beijei de leve o seu pescoço.
- Prometo que vou explicar tudinho pra você... – eu disse, começando a desabotoar a sua camisa. – Mas vamos deixar isso para depois. Agora, temos assuntos muito mais urgentes tratar – murmurei enquanto fitava os seus olhos, desfazendo o nó da sua gravata.

Capítulo 10

         Michael apertou as mãos na minha cintura e levantou-se rapidamente, colocando-me sentada em cima da sua mesa. Alguns papéis e canetas caíram no chão e eu sorri para ele, puxando o seu rosto para perto do meu até que nossos lábios se encontrassem.
         - A sua secretária não vai entrar aqui? – perguntei para ele enquanto ele descia as alças da minha blusa e passava os lábios pelo meu ombro, mordiscando a pele até deixá-la levemente avermelhada.
         - A Emilly não entra aqui sem se anunciar – ele respondeu, enquanto os meus dedos apressados desciam o seu zíper e abriam o botão da sua calça.
         Mordi o lábio ao tirar o seu membro de dentro da boxer cinza e o olhei nos olhos antes de me inclinar para frente e passar a língua por todo ele, lubrificando-o com a saliva antes de tê-lo dentro de mim.
         Michael enfiou as mãos por baixo da minha saia e colocou a calcinha para o lado, segurando uma das minhas pernas enquanto começava a esfregar o seu pênis molhado em mim.
         Apoiei os cotovelos na mesa e prendi o canto da boca entre os dentes quando senti o seu membro deslizar para dentro de mim. Puxei a gravata bagunçada de Michael até que o seu tronco repousasse sobre mim e o beijei intensamente, enquanto ele não parava de mover o quadril para frente e para trás. Pouco tempo depois senti o orgasmo se aproximar e me deixei levar por ele, trazendo Michael junto comigo. Ele me deu uma sequência de beijos no pescoço e levantou-me novamente, colocando-me sentada e retirando-se de dentro de mim.
         - A propósito, eu não perguntei quem nós iremos nos defender – ele disse, enquanto eu o ajudava a refazer o nó da gravata.
         - Um porto-riquenho que anda encrencado com o comércio ilegal de bebidas – respondi, terminando de fazer o nó.
         - O seu chefe permitiu que você colocasse um advogado de outro escritório no caso? – perguntou, ajeitando a minha saia. - Por que ele foi tão burro?
         - Ele é bem liberal – respondi, sem dizer que eu iria pagar caro por aquilo. – Ele só quer que o caso seja logo solucionado e eu disse que você era a pessoa certa para cuidar disso comigo.
         - Eu quero que você leve todos os papéis para o meu apartamento hoje à noite. Vamos analisar linha por linha e descobrir algo que possa ser usado ao nosso favor.
         Saltei da mesa e o celular de Michael tocou.
         - Só um minuto, Therese – ele disse antes de atender o aparelho.
         - Fique à vontade – respondi.
         - Sim? Melodie... – disse abrindo um pequeno sorriso. Minhas sobrancelhas se arquearam e comecei a tamborilar os dedos pela mesa. Fez uma breve pausa. – Oh, claro. Essa noite? Será um prazer. Vejo você mais tarde. Outro beijo. Até mais.
         - Problemas? – perguntei com curiosidade.
         - Não. A Melodie pediu uma ajuda com a mobília do novo apartamento. Disse que precisa de uma opinião masculina antes de fechar o negócio.
         - Desde quando você é decorador? – perguntei secamente.
         - Eu já disse para você que eu e ela somos amigos. Ela acabou de receber o mostruário e não me custa nada ajudar.
         - Esta noite? Você se esqueceu de que temos outros planos para mais tarde?
         - A nossa reunião terá que ficar para amanhã – ele disse tranquilamente. – Teremos tempo, Therese. Não precisamos ter tanta pressa.
         - Precisamos de agilidade na merda do processo! – retruquei.
         - Teremos que discutir sobre isso. Você acabou de jogar essa responsabilidade em cima de mim e está se esquecendo de que eu tenho outras coisas a fazer, outros assuntos a tratar, outros clientes para atender. Eu não poderei ficar à sua disposição 24 horas por dia. Entenda isso ou essa parceria irá terminar antes mesmo de começar.
         Revirei os olhos, jogando mil pragas na maldita Melodie, e tentei me controlar.
         - Eu sei disso – murmurei com a voz mais calma.
         - Estarei esperando por você no meu apartamento amanhã à noite.
         Fui na direção da porta, visivelmente irritada, e o fitei com firmeza antes de me retirar.
         - Mantenha essa Melodie longe enquanto trabalhamos – murmurei para ele antes de cruzar a porta. – Eu odeio ser colocada em segundo plano, Michael. Odeio de verdade!
        
Capítulo 11

         Relevei a falta de consideração de Michael comigo e, na noite seguinte, agi como se não tivesse dado a mínima para a sua atitude. Ele havia trocado a minha companhia pela companhia de outra mulher! Eu estava acostumada a ser o centro das atenções e odiava ser jogada para escanteio.
         Mas, mesmo detestando isso, fui jogada para escanteio por mais uma dúzia de vezes durante os dias seguintes. Eu e Michael estávamos nos dando bem enquanto trabalhávamos juntos. Montamos uma boa estratégia de defesa para o nosso cliente, transamos mais do que trabalhamos no caso, ele sempre estava no meu apartamento ou eu estava no dele. Mesmo assim, com tudo indo tão bem, ele sempre estava falando na Melodie, pensando na Melodie e se encontrando com a Melodie. Qualquer um conseguia enxergar que aqueles dois estavam apaixonados e isso me deixava tão irritada que eu seria capaz de mandá-los ir de mãos dadas para o inferno.
         O que ela tinha a mais do que eu? Ela não era mais bonita, não era mais atraente, não era mais sexy, muito pelo contrário, era sem graça e boazinha demais! O que o Michael viu nela?! Por que não se apaixonou por mim? Por que continuava a me tratar como apenas mais uma das que iam pra sua cama?
         A Melodie era o maldito empecilho. Se ela não estivesse no meu caminho, Michael teria até mesmo me pedido em namoro naquelas cinco semanas.
         Mas em breve aquilo estaria resolvido. “Eu vou afastá-la dele” afirmei para mim mesma. “Vou afastá-la do meu homem. Custe o que custar.”

* * * * *

         Eu e Michael tínhamos uma festa para ir. Um grande evento havia sido marcado para comemorar as bodas de prata de um importante advogado da cidade, um colega de profissão que eu e Michael tínhamos em comum, e nós dois havíamos sido convidados.
         Qual seria a coisa mais óbvia, justa e sensata do mundo? Que nós dois fôssemos juntos para a droga da festa. Eu seria a sua acompanhante durante a noite e todos nós ficaríamos satisfeitos.
         Mas Michael disse que nós não poderíamos ir juntos. Convidou a idiota da Melodie para ser a sua acompanhante. Eu fingi que não me importava, enquanto por dentro eu me corroia de raiva pela sua atitude tão ridícula e tão egoísta.
         Shad Manson me convidou para ser a sua acompanhante na festa. Trabalhávamos juntos no escritório e ele havia passado os últimos dois anos tentando, sem sucesso, me levar para a cama. Ele não era o tipo de cara que me atraía. Era alto, tinha cabelos loiros e olhos azuis, e era dono de um ar folgado que me dava nos nervos. Não era como Michael – nem chegava aos pés dele. Eu detestava a sua companhia, mas como eu não queria acabar indo para a festa sozinha, coloquei o meu maior sorriso no rosto e aceitei acompanhá-lo.
         Na noite da festa eu estava deslumbrante. Meu vestido vermelho escuro era longo e tinha uma pequena fenda lateral, além de deixar as costas nuas. Coloquei um colar e um par de brincos de pérolas que herdei da minha mãe e caprichei no salto alto e na maquiagem. Guardei a Pluma na minha carteira de mão preta – apenas por precaução – e prendi os cabelos em uma bem feita trança embutida.
         Quando cheguei com Shad ao salão de festas da luxuosa residência, avistei Michael e Melodie conversando com um grupo de juízes e advogados. Respirei fundo e tentei manter o foco enquanto caminhávamos até eles.
         Michael estava lindo, definitivamente. Vestia um terno preto de corte reto e perfeito, camisa branca e gravata vermelha por baixo. Melodie também estava muito bonita vestindo um longo vestido azulado, com os cabelos negros presos em um alto coque. Ela e Michael faziam um belo casal, devo admitir. Mas não tão belo quanto eu e ele juntos.
         - Therese... – o meu chefe disse quando nos aproximamos do pequeno grupo do qual Michael e Melodie também faziam parte. – Você está maravilhosa!
         - Eu sei, senhor Harold – murmurei quando ele beijou o dorso da minha mão.
         - Bom trabalho, Manson – ele disse com um risinho dando um tapinha no ombro de Shad. – Parece que você finalmente conseguiu o que queria.
         Shad deu um risinho e também o cumprimentou.
         - Tudo bem, Michael? – eu perguntei despreocupadamente quando coloquei os olhos em cima dele.
         - Tudo ótimo, senhorita Brown – Michael respondeu com um sorrisinho, porque já havia notado que eu não gostava de ser chamada daquela forma. – Você e a Melodie já se conhecem, certo? – perguntou gesticulando para a sua acompanhante.
         Eu a encarei de mal gosto.
         - Claro que sim. Ela sempre está entre nós, não é mesmo?
         Shad pigarreou e entrelaçou as mãos dele nas minhas.
         - Você e a Tess ainda estão trabalhando juntos? – Shad perguntou para Michael.
         - Só quando a Melodie deixa – apressei-me em responder. – É impressionante como ela sempre está precisando do Michael. É o tipo de mulher que não sabe andar com as próprias pernas.
         Melodie levantou as sobrancelhas e seu semblante tornou-se sério.
         - O que disse?
         - Que o Michael é bem prestativo com você – murmurei. – O que seria da sua vida sem ele, querida? Ele sempre faz tudo para te ajudar.
         Todos me encararam e permaneceram em silêncio.
         - Senhorita Brown, todos aqui estão percebendo o quanto você está exaltada – Michael murmurou, tentando disfarçar o sorriso cínico. – Há algo de errado? Talvez você esteja precisando de uma boa dose de whisky para relaxar um pouco.
         - Eu estou ótima, Jackson – afirmei com um sorriso tranquilo. – Não preciso de absolutamente nada.
         - Therese é uma mulher de fases – comentou o meu chefe sorrindo. – Trabalha para mim há mais de dois anos e eu nunca consegui entendê-la.
         – Deve ser bipolar – Michael acrescentou.
         - Ou louca – ouvi Melodie sussurrar baixinho ao ouvido de Michael.
         - Vão começar a discutir sobre a minha vida como se não estivessem na minha presença?! – interrompi.
         - Mantenha a calma, baby. Você está estressada demais – Michael disse.
         - Por algum acaso o Manson não está dando conta do recado? – o senhor Harold perguntou diminuindo a voz.
         Revirei os olhos e Shad o fuzilou com o olhar, sem rir da sua piada sem graça.
         - Eu e a Tess continuamos a ser apenas amigos – ele respondeu. – Por enquanto.
         - Vamos dançar, Shad? – convidei, nervosa e irritada demais para continuar ali.
         Shad assentiu e enlaçou os braços na minha cintura.
         - Até mais, pessoal – ele disse, arrastando-me para a pista de dança enquanto eu o seguia sem tirar os olhos de Michael.
                
Capítulo 12

         Eu e Shad dançamos por algum tempo, mas eu não parava de observar cada passo de Michael. Em um certo momento Melodie disse algo ao seu ouvido e levantou-se, começando a caminhar na direção contrária à porta de entrada. Eu a segui com o olhar e balancei o braço de Shad.
         - Vá pegar algo para que nós possamos beber – eu disse, mas a minha voz estava sendo abafada pela música.
         - Hã? – Shad gritou.
         - Be-bi-da – eu disse para ele.
         - Qual?
         - Whisky! – falei. - Sem gelo!
         Ele assentiu e pediu que eu o esperasse no mesmo lugar, sumindo no meio das pessoas que dançavam ao nosso lado.
         Comecei a abrir caminho pela pista de dança até seguir na mesma direção que Melodie havia ido. Ela atravessou a porta do toalete e olhei para todos os lados antes de também me colocar para dentro.
         Tive a enorme sorte de encontrá-la sozinha retocando a maquiagem no enorme espelho que tomava quase toda a parede. Fechei a porta a aproximei-me dela, parando a alguns centímetros de distância das suas costas. Quando ela terminou de guardar o rimel na carteira de mão e voltou a se olhar no espelho, viu o meu reflexo observando-a atentamente.
         Ela estremeceu e deixou o batom escorregar para dentro da pia. Virou-se na minha direção rapidamente, mas se esforçou para parecer calma, por mais que eu soubesse muito bem que ela estava morrendo de medo de mim.
         - Eu te assustei? – perguntei com um sorriso no canto dos lábios.
         - Eu não gosto de você – ela murmurou.
         A afirmação patética dela me fez gargalhar.
         - Você acha que eu me importo com isso?!
         - Não consigo entender porque o Michael ainda não mandou você sumir de vez da vida dele – ela disse com firmeza. – Você sabe que é só mais uma das tantas e tantas que ele leva pra cama, não sabe? Você não faz diferença pra ele. Ele não se importa nem um pouco com você.
         Enfiei as unhas nas minhas próprias mãos e a fitei com olhos furiosos.
         - Você é uma vadia idiota que está atrapalhando os meus planos, Melodie.
         - Você já deve ter percebido que o Michael está tão apaixonado por mim quanto eu estou por ele – ela teve a coragem de dizer. – Não há nada que você possa fazer. Desista dele, Therese. Com você é apenas sexo, por enquanto. Daqui a algum tempo, nem isso ele vai mais querer de você.
         Dei um passo para frente e coloquei uma das minhas mãos no seu pescoço, apertando as minhas unhas contra a sua pele. Ela tentou se soltar, mas eu a havia pego desprevenida, o que me deixou no completo controle. Puxei a Pluma de dentro da minha carteira de mão e os olhos de Melodie se arregalaram quando encostei o cano de metal na sua coxa, subindo pelo meio das suas pernas até repousá-lo no meio dos seus seios.
         - Repita o que disse – incitei, apertando forte o cano da arma contra ela.
         Ela tentou nivelar a respiração e eu a empurrei ainda mais firme contra a pia.
         - Tira essa droga de cima de mim ou começarei a gritar – ela murmurou.
         - Grita – aconselhei. – Posso te dar um tiro tão certeiro que você não terá tempo nem de fechar os olhos antes de morrer, sua cadela maldita.
         - E você acha que isso faria o Michael gostar de você?
         - Ele já gosta de mim! – explodi com raiva. – Cala essa boca, você só fala besteira!
         - Por que ele não quis você como acompanhante esta noite? – ela perguntou.
         - Porque você não o deixa em paz! – bradei.
         - Porque ele gosta de ficar comigo – Melodie retrucou. – Quer você queira ou não, ele adora a minha companhia.
         Enfiei as unhas ainda mais forte no seu pescoço e a empurrei para trás.
         - Você irá ficar bem longe do Michael, está me ouvindo?
         Melodie puxou o ar com força, completamente sem voz, e eu a pressionei ainda mais.
         - Você não sabe nada sobre mim – acrescentei. – Não sabe do que sou capaz. Irá se arrepender se continuar a me afrontar. Talvez eu seja boazinha e meta uma bala na sua cabeça. Talvez eu seja má e resolva fazer algo muito pior com você. – Inclinei-me sobre ela e passei o cano da arma pelo seu rosto. - Seria péssimo se a polícia precisasse reconhecer o seu corpo pela arcada dentária, concorda?
         Afrouxei a mão do seu pescoço lentamente e afastei-me dela, pegando a carteira de mão e guardando a Pluma novamente. Encarei Melodie por uma última vez e me retirei do banheiro a passos firmes, deixando-a tossindo e se contorcendo a procura de um pouco de ar.
         Voltei para a festa com a expressão mais natural do mundo e pouco depois Shad aproximou-se novamente de mim.
         - Caramba, onde você se meteu?! – ele perguntou. – Eu fiquei feito um idiota na pista de dança esperando por você!
         - Você ficou feito um idiota porque é um idiota – respondi para ele, sem parar de caminhar.
         - Para onde você está indo? – quis saber.
         - Para casa – eu disse. – Essa maldita festa já deu!
         - Ainda é muito cedo – argumentou. – E eu pensei que você iria para o meu apartamento depois que saíssemos daqui...
         - Vá procurar uma demente que queira, por algum sério desequilíbrio mental, dar pra você – murmurei. – Se enxerga, Shad! E saia da minha frente, droga! – bradei, apressando o passo até deixá-lo para trás.

Capítulo 13

No fim da tarde seguinte eu estava me sentindo muito leve quando entrei cantarolando no carro e joguei uma pasta de papéis no banco do carona, preparando-me para ir até o apartamento de Michael.
Enquanto dirigia pela cidade, eu sentia que algo estava prestes a mudar entre Michael e eu. Podia até mesmo sua voz perguntando: “Therese, você quer namorar comigo?” Eu nunca dei a mínima para relacionamentos... Mas com ele eu desejava até mesmo constituir uma família. Seria uma gracinha ter um par de filhinhos que parecessem com ele ou comigo. Contanto que eu não precisasse amamentar nem ficar com aquela ridícula cara de idiota que a maioria das mulheres ficam depois que se tornam mães. 
Quando entrei no prédio de Michael, pedi mil vezes mentalmente para não encontrar Melodie nos corredores quando eu chegasse ao andar do seu apartamento. Eu iria odiar vê-la novamente. O meu consolo era saber que depois da prensa da noite anterior ela já era uma carta fora do baralho. “Posso apostar que ela ainda está morrendo de medo da Pluma” pensei comigo mesma, sem deixar de gargalhar ao lembrar dos seus olhos assustados pedindo socorro em silêncio. “Agora ela sabe bem com quem está lidando.”
- Olá, Michael! – eu disse com empolgação assim que ele atendeu a porta.
- Olá, Therese – ele respondeu abrindo espaço para que eu pudesse entrar. – Melhorou o mau humor de ontem?
- Eu estava de ótimo humor – menti para ele. – O Shad arrancou sorrisos de mim a noite inteira! Não só sorrisos, como também gemidos e suspiros dos mais altos.
- Não queira que eu acredite que você e aquele seu acompanhante passaram a noite inteira juntos – Michael retrucou fechando a porta, e notei um tom de ciúmes no seu tom de voz. - Ele não faz o seu tipo.
- E qual é o meu tipo, Jackson? – perguntei com as sobrancelhas arqueadas.
Michael enlaçou uma das mãos na minha cintura e me puxou forte contra o seu corpo, pressionando-me contra ele. Soltei um longo suspiro e olhei no fundo dos seus olhos, tentando reordenar os pensamentos embaralhados.
- Homens que te pegam forte e te deixam assim, sem saber o que dizer – ele murmurou, soltando-me novamente. Sorriu. – Eu sou perfeito para você, Tess, e aquele tal de Shad Manson está em um nível muito abaixo do meu.
- Convencido! – murmurei mordendo o lábio, sem deixar de concordar com o que ele dissera. Joguei a pasta de papéis para ele e sentei-me no sofá. – Ainda temos mais trabalho a fazer.
Michael analisou algumas folhas e sentou-me diante de mim.
- Antes de começarmos, eu preciso conversar com você. É um assunto sério.
- Vai perguntar qual é a cor da minha calcinha? – perguntei sorrindo, sabendo que o seu assunto “sério” antes do trabalho era sempre tirar a minha roupa e me jogar na sua cama.
- Não tem nada a ver com isso – apressou-se em dizer. – Mas agora você acabou me deixando curioso, baby – completou, fitando-me com uma expressão travessa. – Mostre-me.
Afastei os joelhos lentamente e vi seus olhos fixarem-se no meio das minhas pernas abertas por entre a saia vincada que eu vestia.
 - Hm... Roxa – ele constatou voltando a olhar nos meus olhos. – Acho que essa calcinha ficaria muito melhor jogada aqui no tapete, Tess.
Sorri para ele e desci a calcinha pelas pernas, repousando-a no chão. Vi o volume que se formara abaixo da calça de Michael e tirei as sandálias, esticando os pés até alcançá-lo na poltrona diante de mim e começando a massagear as suas coxas com os dedos.
- Vem aqui, vem... – chamei em um sussurro e ele levantou-se, empurrando-me deitada contra as almofadas do sofá. Desabotoei rapidamente a sua calça e tirei o seu membro de dentro de uma boxer avermelhada, beijando Michael enquanto ele já se preparava para entrar em mim.
Os movimentos tornaram-se gradativamente mais intensos e eu logo cheguei ao orgasmo, contorcendo-me abaixo dele e suspirando o seu nome. Michael investiu contra mim mais algumas vezes e também se rendeu ao clímax, apertando forte a minha cintura e beijando os meus lábios com ainda mais voracidade.
 Fiz uma pequena marca no seu pescoço e sorri para ele quando a nossa respiração começou a voltar ao normal. Ele saiu de cima de mim e eu peguei a calcinha do chão, voltando a vesti-la tranquilamente.
- Qual era o assunto de antes? – perguntei para ele, recostando a cabeça no sofá.
Ele terminou de fechar o zíper e olhou para mim.
- Tem a ver com a Melodie.
Revirei os olhos e soltei um suspiro de tédio.
- Oh droga. Sempre tem a ver com a Melodie – reclamei.
- Tess... O que você fez com ela ontem à noite? – ele perguntou, olhando nos meus olhos.
- Como disse? – perguntei levantando a cabeça.
- O que você fez com ela? – repetiu.
- O que eu poderia ter feito? – perguntei com a voz calma. - Eu nem vi a garota direito.
Ele juntou as mãos e levantou as sobrancelhas.
- Ela estava muito perturbada quando me chamou para ir embora – começou a dizer. - Quando perguntei o que havia acontecido, ela soltou o seu nome na rápida explicação e depois não quis mais falar sobre o assunto. Sei que ela está me escondendo algo e tenho certeza de que você está metida nessa história.
- Não faço a mínima ideia do que você está falando – murmurei, esforçando-me a manter a neutralidade. - Eu ajudaria se pudesse. Juro! Não sei o que pode haver com aquela retardada.
Michael suspirou e não mediu muito as palavras para dizer para mim:
- Tess, estou apaixonado pela Melodie.
Mantive as mãos juntas para disfarçar o leve tremor que senti ao ouvir sua frase e balancei a cabeça negativamente.
- Isso não me interessa nem um pouco – devolvi com firmeza.
– Eu vou pedi-la em namoro – ele revelou. - E quando isso acontecer, terei que cortar todo o tipo envolvimento sexual que eu e você temos um com o outro.
Engoli a minha raiva crescente e cerrei os punhos enquanto as minhas veias pareciam endurecer por baixo da pele.
- Espera aí, Michael. Você está me dando a porra de um fora? – foi a única coisa que consegui perguntar.
- Não exatamente – ele defendeu-se. – Não somos namorados, Therese, e eu nem lhe devo satisfações da minha vida. Estamos tendo essa conversa porque gosto de você e não me sentiria bem se você me visse por aí sem mais nem menos aos beijos com outra mulher.
- Como eu fico nessa maldita história? – perguntei sem conseguir manter a voz nivelada. – Você vai mesmo ter a coragem de me trocar por aquela enfermeirinha idiota e sem graça?
- Não fale assim – ele defendeu.
- Diga-me, o que você viu nela?! – questionei, tremendo de ódio. - Eu aposto que ela nem sabe como satisfazer um homem na cama! Ela não é mulher pra você, Michael!
- Pare com essas observações ridículas, Therese – Michael me censurou.
Levantei-me e, mesmo tentando manter o controle, a minha respiração estava bem mais alta do que o habitual. Eu sabia que ela não ia aceitar o pedido. Eu acabaria com ela se ela resolvesse aceitar ser a namorada dele. O que me irritava muito era saber que Michael estava mesmo tão disposto a ficar com ela.
- Você tem mais alguma coisa para me dizer? – perguntei para ele.
- Por hora, não – murmurou com firmeza. - Eu já lhe disse o que desejava.
- Permite que eu lhe dê um sensato conselho?
Ele cruzou os braços.
- Fique à vontade.
- Pedir a Melodie em namoro será um grande erro – eu disse devagar, pegando a minha bolsa. - Espero que você pense duas vezes antes de tomar uma decisão tão patética e tão fadada ao fracasso – completei em tom de ameaça, saindo dali e deixando-o sozinho no meio da sala.

* * * * *

“Merda!” praguejei comigo mesma entrando no carro e retirando-o na garagem do prédio. Minhas mãos seguravam o volante com tanta força que ele teria sido arrancado dali se não fosse preso tão fixamente. “Merda, merda!” repeti enfiando o pé no acelerador e saindo cantando os pneus no asfalto. Merda! Eu não significava nada para Michael? Por que maldição ele não disse que queria a mim como sua namorada? Eu não era boa o suficiente para ele? O que ele tinha enxergado naquela morena retardada e sem atrativos?
Eu estava com tanta raiva que seria capaz de esganar Melodie até fazê-la morrer asfixiada. Lembrei das minhas unhas apertando o seu pescoço na noite anterior e me amaldiçoei por não ter enfiado o cano da Pluma na boca dela e apertado o gatilho sem dó nem piedade.
Ela merecia. Merecia coisa pior. Ela era a grande responsável por Michael não querer comigo nada além de sexo.
O sol já havia se posto e a noite estava horrível. Nuvens nubladas pairavam pelo céu e logo pingos de chuva começaram a bater contra o carro. Ativei o pára-brisas e o vi desembaçar o vidro frontal, jogando a água para lá e para cá no seu movimento sistemático, permitindo que eu tivesse uma melhor visibilidade da estrada.
O percurso até a minha casa estava se mostrando relativamente calmo e tranquilo. A maioria das pessoas estava fazendo o possível para fugir da chuva e quase não havia pedestres no caminho, exceto por alguns que apareciam em baixo dos seus guarda-chuvas sinalizando à procura de um taxi. Mesmo com pressa de chegar em casa, reduzi a velocidade por precaução e entrei em uma rua cercada por frondosas árvores dos dois lados. Em dias de chuva, um pequeno deslize ali poderia ser fatal e eu não estava nem um pouco a fim de causar um acidente.
...Hum... Ou estava?
Levantei as sobrancelhas e uma ideia repentina passou pela minha cabeça. Um pequeno sorriso surgiu nos meus lábios e eu comecei a dirigir o carro ainda mais devagar enquanto refletia comigo mesma.
Bem, estava na hora de colocar as cartas na mesa e analisar alguns pontos importantes.
Por que diabos Michael estava sempre perto da Melodie?
Porque ela sempre estava precisando da sua ajuda, por mais banal que a assistência dele pudesse ser.
Se eu precisasse da sua ajuda, era de mim que ele iria cuidar. E se, por ventura, em um inesperado infortúnio, eu ficasse impossibilitada fisicamente, ele iria dedicar sua absoluta atenção para mim.
Era isso! Eu precisava ter um bom motivo para que ele ficasse por perto. Além do mais, se algo acontecesse comigo, naquele momento, ele iria se culpar porque havia me deixado sair do seu apartamento bem mais alterada que o habitual. Ele cuidaria de mim, ficaria preocupado... Faria de mim uma prioridade e colocaria a Melodie em segundo plano.
Parei o carro no meio da rua e abaixei o vidro da janela ao meu lado. A chuva estava ainda mais forte do a que minutos atrás e todas as casas da rua estavam de portas e janelas fechadas.
Abri a porta e desci do carro, sentindo a chuva fria bater contra mim e começar a molhar os meus cabelos e a minha roupa. Olhei para a esquina, fiz alguns cálculos mentalmente e voltei para dentro. Evitei colocar o cinto de segurança e alinhei as costas com o banco. Respirei fundo e rodei a chave na ignição, dando a ré e criando uma longa distância até a primeira árvore da fileira.
 Apertei o volante entre as mãos, certa do que deveria fazer, e olhei fixamente para frente. Eu não deveria ir muito rápido ou acabaria causando um sério acidente e me machucando pra valer. Mas se, por outro lado, eu fosse muito devagar não conseguiria nada além de alguns arranhões na lataria do carro.
“Você vale esse risco, baby” murmurei pensando em Michael, antes de trocar a marcha e pisar fundo no acelerador. Eu não estava com medo e não estava dando a mínima para a possibilidade de sair machucada. Eu só conseguia pensar em Michael correndo desesperado para o hospital, pedindo notícias aos médicos, implorando para me ver.
Os pneus deslizaram rápido pelo asfalto, fazendo um enorme barulho, e acelerei, girando o volante com tudo e jogando o carro para o acostamento. Ouvi o barulho ensurdecedor do carro batendo contra o tronco da árvore e um galho dela desprendeu-se com o choque, caindo em cima do teto bruscamente, fazendo a parte superior afundar e os vidros se estraçalharem.
Meu corpo foi jogado para frente com o impulso e minha cabeça bateu com força contra o volante. Senti o sangue quente escorrer pela minha testa e meu braço ficou tão dolorido que eu quase não conseguia movê-lo. “Bom trabalho, garota” parabenizei a mim mesma, grogue e com um intenso incômodo na cabeça.
Eu sabia que não iria demorar até que os vizinhos percebessem o ocorrido e chamassem o socorro. Tateei o chão à procura da bolsa que havia caído e, com muita dificuldade, puxei o celular de dentro dela.
Apertei um único botão com as mãos trêmulas e encaminhei uma ligação para Michael. Estava na hora de colocar em prática a parte mais importante do plano, a atitude que seria a cereja do bolo.
O celular chamou duas longas vezes e caiu na caixa postal. Ouvi o barulho de uma sirene se aproximando e fiz a terceira tentativa, amaldiçoando Michael por ainda não ter me atendido.
 - Michael... – eu disse em um suspiro quando ele atendeu.
- Therese – ele murmurou do outro lado da linha. Fiquei em silêncio e esperei que ele percebesse pela minha voz afetada que algo havia acontecido.
- Michael, eu preciso de ajuda – murmurei com um fio de voz, enquanto abria um sorriso satisfeito e deixava o celular manchado de sangue escorregar pelas minhas mãos até cair no chão do carro.

Capítulo 14

Permaneci imóvel dentro do carro arrebentado até que o barulho da sirene tornou-se mais intenso e um burburinho formou-se do lado de fora. Minha testa pulsava, sem parar de escorrer sangue, e logo percebi que a pancada na cabeça havia me deixado, tonta, grogue e desnorteada.
Alguém abriu a porta cautelosamente e conferiu os meus sinais vitais. Vi em um borrão algumas pessoas aglomeradas ao meu redor, mãos imobilizando o meu pescoço, braços me repousando em cima de uma maca debaixo da chuva, e depois de ter sido empurrada para o fundo de um carro com duas mulheres de branco, fechei os olhos e apaguei de vez.

* * * * *

Quando voltei a abrir os olhos, pude identificar o barulho irritante e contínuo de um aparelho que vinha do lado da cama onde eu estava deitada. As paredes eram pintadas de azul claro, o ar exalava um cheiro insuportável de remédio e uma agulha enfiada no meu braço levava uma substância incolor para dentro da minha corrente sanguínea. Nem precisei raciocinar para saber que aquele ambiente monótono era um quarto de hospital.
Ouvi alguns passos se aproximando rapidamente e a figura de Michael surgiu ao meu lado na cama, abrindo um sorriso de nítido alívio.
- Você acordou! – suspirou, tocando minha bochecha com delicadeza.
- Quanto tempo eu dormi? – perguntei confusa, sem conseguir me situar.
- Umas 15 horas – ele respondeu; e pelas olheiras profundas, pude notar que ele ficara todo aquele tempo comigo. – Está sentindo alguma dor?
- A minha testa não para de pulsar e minhas costelas parecem ter vida própria – eu disse com a voz embolada, sem conseguir formular bem as respostas. – Merda, a minha voz está horrenda – reclamei sem firmeza.
- Isso não é nada comparado ao que poderia ter acontecido – Michael retrucou. – Você se lembra do acidente?
- Não muito bem.
- Você perdeu a direção do carro por conta da chuva e bateu em uma árvore – explicou. – Lembra-se de ter ligado para mim?
- Disso eu me recordo. – Ele repousou uma das mãos em cima da minha e entrelacei nossos dedos com dificuldade. – Eu pensei que iria morrer, Michael. Escutar a sua voz era tudo o que eu queria naquele momento. Pensei que seria o último da minha vida.
- Você me deixa comovido, Tess – ele disse com a voz suave. – Os médicos disseram que logo você ficará boa outra vez.
Ouvi o barulho de uma porta sendo aberta e um homem baixinho de jaleco branco sorriu para nós.



Capítulo 15

Meus dois dias no hospital foram bem melhores do que eu imaginava. Michael ficou ao meu lado a maior parte do tempo e era muito bom vê-lo preocupado comigo, cuidando de mim, querendo que eu recebesse logo alta e fosse pra sua casa. Eu estava me sentindo novamente o centro das atenções e isso me fazia muito bem.
Mesmo com a minha paciência esgotada, Michael acabou falando sobre Melodie durante o tempo que fiquei internada. Comentou que ela trabalhava naquele hospital e que, por algum motivo desconhecido, ela estava o evitando pelos corredores. Perguntou-me novamente sobre o que havia acontecido na noite da festa, mas eu voltei a dizer que não sabia de nada. Eu sabia que aquela covarde ficara com medo das minhas ameaças e que não oferecia mais nenhum risco a Michael ou a mim. Aquela concorrente já havia sido abatida. Ou pelo menos foi isso o que pensei naquele momento.
Os dias na casa de Michael, para minha surpresa e irritação, acabaram se mostrando mais tediosos do que o planejado. Ele me via como uma doente que precisava de cuidados. Apenas isso. Ele não queria mais nem transar comigo.
A rotina resumia-se a Michael me dar remédios, me ajudar com o curativo da testa, ficar na cama comigo jogando conversa fora... Tudo, menos sexo. Ele dizia que eu estava fraca e que o médico recomendara repouso absoluto. Eu já estava me sentindo ótima fisicamente, mas ele não parava de me evitar.
Diante da sua repetida recusa ao longo dos dias, passei a questionar com cada vez mais frustração: de que adiantara eu jogar o carro contra a porra da árvore? Acabei adquirindo de Michael uma atenção que era o oposto daquela que eu desejava. Ele estava me fazendo sentir como uma irmã mais nova dele.
E, com o passar dos dias, aquela situação infernal já estava começando de verdade a me dar nos nervos.
                  
* * * * *

Michael chegou do escritório e apareceu na porta do quarto de hóspedes para me ver. Uma semana já havia se passado desde a minha alta do hospital e eu estava deitada ouvindo música, contando as horas para que ele voltasse logo para casa. Arranquei os fones do ouvido assim que o vi e me recostei na cabeceira, chamando-o para se sentar ao meu lado. Eu odiava ficar longe dele. Aquele apartamento era um tédio completo quando ele não estava por perto.
- Como foi no trabalho? – perguntei juntando as mãos.
- Bem – respondeu. – Tomou o seu remédio?
Franzi os lábios.
- Esqueci.
Ele me lançou um olhar de reprovação e levantou-se para pegar os comprimidos, mas eu o segurei pela perna, fazendo-o se sentar novamente.
- Eu não quero me dopar de novo – murmurei. – Sério, eu não preciso dessa merda de remédio. Eu não estou mais dolorida.
- O médico mandou, Tess – ele argumentou. – Não seja tão teimosa.
- Eu conheço um remédio muito mais eficaz – eu disse com malícia, passando os dedos pela suas coxas. – Você sabia que o corpo produz endorfina durante o orgasmo? Eu posso ficar ótima, baby. Só depende de você.
Ele se esquivou do meu toque.
- Não, Therese – censurou-me.
- Por que não?! – reclamei.
- Serei sincero. – Suspirou. - Eu não consigo tirar a Melodie da cabeça. Não quero transar com você pensando em outra mulher.
Cerrei os punhos e o fuzilei com o olhar.
- Não me quer por conta dela? É por isso que está se esquivando de mim?!
Ele suspirou e passou os dedos pelo meu queixo.
- Eu gosto de você, Tess. Podemos ser amigos. Não dificulte tanto as coisas, okay?
Ajoelhei-me na cama e coloquei as mãos na sua nuca. Aproximei nossos lábios lentamente, na tentativa desesperada de que ele permitisse que os instintos masculinos falassem mais alto.
- Não sente mais tesão quando faço assim? – sussurrei, passando as unhas pelas suas costas por baixo da camisa.
- Therese...
– Vamos Michael, a quem você acha que está enganando com esse papo de bom moço? Eu sei muito bem que você me deseja.
Ele apertou as mãos na minha cintura e eu abri um pequeno sorriso ao sentir seu toque. Por um breve momento eu pensei que havia conseguido o que queria. Mas quando eu já estava me preparando para ser empurrada contra o colchão, ele me afastou e olhou no fundo dos meus olhos.
- Não.
Uma onda de raiva percorreu o meu corpo e eu dei um soco no travesseiro.
- Você é um filho da mãe idiota! – bradei. – Eu odeio ser ignorada! Odeio ser tratada dessa forma!
Michael pareceu surpreso com minha explosão de fúria repentina.
- É tão difícil entender que eu não te quero mais, Therese? – ele teve a ousadia de perguntar.
Fitei os seus olhos e o agarrei pelo colarinho da camisa de botões.
- É melhor você me beijar! – murmurei com firmeza. – É melhor você me jogar nessa cama e me foder de uma vez, Michael, ou eu vou acabar com você da mesma forma que acabei com o idiota do meu pai!
Vi o choque atravessar o rosto de Michael e ele levantou as sobrancelhas. Ficou em silêncio por alguns minutos, parecendo tentar captar o verdadeiro sentido das minhas palavras, e depois perguntou:
- Therese... Por Deus. Sobre o que você está falando?
Engoli em seco e me arrependi por ter me exaltado tanto.
- Esquece. Não tem mais importância.
Ele me fitou nos olhos e pareceu de muito esforço para conseguir pronunciar a frase:
- Você tem alguma coisa a ver com a morte dos seus pais?
Virei o rosto para a janela e apertei os olhos.
- Eu não quero falar sobre isso.
- Conte-me – ele insistiu, abraçando-me por trás. Era um pouco tarde para ele demonstrar afeto, mas gostei de sentir o seu toque. – Eu sei que algo a perturba. Conte-me a verdade e talvez eu possa ajudá-la.
- Você não entenderia, Michael. Ninguém entenderia.
- Desde a primeira vez que a vi, eu tive a certeza de que você precisava se libertar de algo – ele sussurrou. - Não vou julgá-la, muito menos condená-la, Therese. Conte-me o que aconteceu.
Pensei por alguns segundos e voltei a fitá-lo nos olhos.
- Você promete que irá continuar a gostar de mim mesmo depois que souber? Promete que irá tentar me amar da forma que eu mereço?
- Prometo... – ele disse, com menos firmeza do que eu gostaria.
Puxei o ar devagar e me preparei para contar a ele tudo o que havia acontecido. Coisas da infância e da adolescência que me perturbavam tanto. E que, de alguma forma, haviam sido responsáveis por eu ter me tornado a mulher que eu me tornei.
        
Capítulo 16

- Você sabe que meus pais morreram em um incêndio – eu disse para ele.
Ele assentiu e continuou a me ouvir com o máximo de atenção.
- Eu poderia tê-los salvo, Michael – revelei com a voz baixa. – Eu poderia ter tirado o meu pai e a minha mãe daquela casa em chamas.
Ele segurou as minhas mãos e passou os dedos pelo meu queixo, obrigando-me a olhá-lo nos olhos.
- Explique-me isso, Therese – pediu. – Está me dizendo que poderia ter impedido a morte deles?
Balancei a cabeça positivamente e suspirei, disposta a dividir com ele o segredo que guardei comigo por tanto tempo.
- Eu tinha acabado de completar 17 anos e estávamos passando as férias em um chalé nas montanhas – comecei a contar. – Um dia antes de voltarmos pra Seattle, fui para uma festa na vila com algumas amigas e quando voltei, tarde da noite, percebi logo da estrada que algo errado estava acontecendo.
“Eu me lembro perfeitamente bem do susto que tomei quando vi a fumaça e as chamas que vinham da casa. Parei o carro, corri até o jardim e de lá vi os meus pais tentando arrebentar a janela do quarto, encurralados pelas chamas que começaram no andar de baixo e já haviam chegado ao andar de cima, onde eles estavam dormindo.
Assim que eles me viram, começaram a fazer sinais para que eu pegasse uma escada no estábulo e os ajudasse a sair dali. Minha mãe tinha problemas respiratórios e aparentemente já havia inalado bastante fumaça. Meu pai tentava socorrê-la, mas eles não tinham para onde ir. Provavelmente o corredor já estava tomado pelo fogo e eles não conseguiam abrir a única janela.
Eu poderia ter tentado colocar uma escada e arrebentado o vidro. Poderia ter ligado pros bombeiros, chamado a polícia ou a guarda florestal.
Mas não fiz nada.
Eu fiquei lá, parada, assistindo o desespero deles, esperando que o fogo tomasse todo o quarto de uma vez. Senti prazer em vê-los agonizando com a morte tão próxima. Queria ver aqueles dois malditos ardendo no fogo da mesma forma que devem estar ardendo no inferno nesse exato momento.”
Michael olhou para mim quando parei de falar, aparentemente horrorizado comigo, e uma interrogação construiu-se na sua expressão perplexa.
- Por que tanto ódio? – ele perguntou sem entender. – Diga-me. Por que você não os ajudou?

Residência dos Brown, Seattle, 14 anos antes.

Os gritos que vinham do quarto ao lado eram altos e perturbadores. A garota loira na cama apertava as mãos com força sobre as orelhas para tentar trazer o silêncio, mas mesmo assim conseguia ouvir a voz alterada da sua mãe:
- Eu não sou cega, Donald! Sei muito bem do que estou falando!
- Cale essa boca, Angeline! Você não sabe de nada!
- Não estou ficando louca – gritou. – Aquela menina não é normal. Por Deus! Reparo a forma que ela te olha desde que era criança. Sempre esteve causando brigas e intrigas entre nós, você nunca percebeu? 
- Ela é nossa filha! – bradou. – Que espécie de mãe atribui algo tão absurdo à própria filha?
- Deus sabe o quanto eu rezei para estar enganada. Como você acha que eu me sinto com tudo isso, Donald? Isso só pode ser obra do demônio. Precisamos internar essa garota o quanto antes!
- Não vamos internar ninguém – ele retrucou. – Se alguém aqui precisa de internação, essa pessoa é você. Esse assunto está encerrado, ouviu? Não quero ouvir mais nem uma palavra sobre essa loucura.
A garota em seu quarto levantou as sobrancelhas e o silêncio absoluto reinou no ambiente. Tentou dormir, mas o sono havia se dispersado por completo. Provavelmente a mãe havia se entupido de remédios e conseguido dormir após a discussão. Minutos depois ouviu a porta do seu quarto abrir lentamente e alguns passos se aproximaram da cama. Fingiu que dormia enquanto mãos masculinas começavam a abraçá-la.
- Papai? – ela perguntou abrindo os olhos.
- Ah querida... – o homem sussurrou enquanto passava as mãos pelos seus braços. – Eu te amo tanto!
- Eu sei – ela murmurou. Olhou para ele. – O senhor estava chorando?
- A sua mãe, querida. Ela só pode estar ficando louca.
- O que a mamãe fez? – Abaixou os olhos. - Eu sei que ela não gosta de mim.
- Gosta, claro que gosta – apressou-se em responder. – Nós te amamos!
- Posso saber o que ela disse?
Ele hesitou e ficou em silêncio.
- Eu não sei o que o senhor ainda está fazendo casado com ela – Therese criou coragem para dizer. – Ela está sempre brigando com o senhor, pai. Ela não te ama. Não te ama como eu te amo.
- Não fale assim – censurou. – A Angeline só está confusa agora. Eu e ela nos amamos.        
- Eu sou muito mais bonita do que ela – a garota sussurrou. – O senhor não acha?
- Você é linda, Tess – Donald confirmou inocentemente.
A garota sorriu e sentou-se na cama, aproximando o rosto ao rosto do pai até que seus lábios se tocassem devagar. Donald levantou-se da cama em um salto e encarou a filha, perplexo.
- Therese!
- O senhor sempre me ignora – ela reclamou. – Os garotos no colégio brigam para ter a minha simples companhia, mas o senhor só tem olhos para a mamãe. O senhor a beija na boca enquanto só me beija no rosto. Como pensa que me sinto?
- Você tem ideia dos absurdos que está dizendo?! – questionou, o rosto retorcido em uma máscara de completa incredulidade.
- Por que o senhor não deseja a mim? – ela perguntou com raiva. – Por que me trata como uma criança? Eu não sou mais criança. Estou me tornando uma mulher agora – disse e desceu a alça da camisola, permitindo que o tecido deslizasse até a cintura, deixando seus seios à mostra.
- Vista-se! – exigiu ainda perplexo pelo choque. – Eu e sua mãe teremos uma séria conversa, Therese! É bom que comece a arrumar as suas malas, pois iremos levá-la para um internato amanhã mesmo!
Quando ele saiu do quarto a passos firmes, os olhos da garota estavam cheios de lágrimas. “Você ainda irá pagar muito caro por isso, papai” pensou consigo mesma, secando os olhos com força.

- Eu era apaixonada pelo Donald – murmurei. – Eu o amava tanto, Michael! E ele nunca teve olhos para mim.
- Apaixonada... pelo seu próprio pai? – ele perguntou sem conseguir acreditar.
- Eu era linda... Sempre fui! Eu chamava a atenção de todos os caras desde a adolescência. Mas meu pai... Meu pai nunca me notou da forma que eu gostaria. Só o que eu queria era ser amada e desejada por ele da mesma forma que eu o amava e desejava. – Fechei os olhos e suspirei. – Por conta disso, ele e minha mãe me deixaram em um maldito internato dos 13 aos 16 anos. Acharam que eu sofria de sérios distúrbios psiquiátricos.
- E depois disso? – Michael questionou.
- Depois eles acharam que já estava na minha hora de voltar para casa - expliquei. - Nas férias seguintes... Fomos para o chalé e por conta de um curto circuito no térreo o incêndio aconteceu. – Fitei Michael e minhas sobrancelhas se arquearam. - Diga-me: se eu não era boa o suficiente para atrair meu pai, por que diabos eu seria boa o suficiente para salvá-lo da morte?
 Michael soltou a minha mão e afastou-se de mim. Percebi que seus olhos estavam marejados.
- O senhor Brown e a esposa não mereciam isso, Therese – ele murmurou. – Ele foi como um segundo pai para mim quando saí da faculdade. Ele era um sujeito tão bom... Tão honesto!
- Chega de drama, Michael! Ele não merece a piedade de ninguém – retruquei com a voz firme. – E já estou ficando farta de dizer para você não me ignorar. Você não gostaria de terminar como ele, gostaria?
Michael secou os olhos.
- Therese... Você tem noção da gravidade de tudo que acaba de me dizer?
Revirei os olhos e me recostei na cabeceira da cama.
- O que sei é que meus pais estão mortos há mais de dez anos e você não deveria se sentir tão mal pelo que aconteceu.  Cada um tem o final que merece, Michael. Agora podemos esquecer esse maldito assunto?
Ele ficou em silêncio por alguns minutos e depois se reaproximou de mim novamente.
- Tudo bem – murmurou. – Agora você vai tomar o seu remédio.
- Eu não quero – recusei. – Essa porcaria me faz dormir.
Sem se importar com a minha recusa, ele pegou o comprimido de uma cartela intacta na gaveta, saiu do quarto e voltou segundos depois com um copo de água em mãos.
- Você precisa ficar boa de uma vez – murmurou com a voz desconcertada. – Eu me preocupo com você, está ouvindo? Eu me preocupo com você.
- Eu já estou boa – eu disse.
- Não seja tão teimosa – reclamou, colocando o comprimido na minha boca com súbita delicadeza. – Tome o remédio, é para o seu bem.
Soltei um suspiro e peguei o copo de água das suas mãos, revirando os olhos e odiando estar sendo tão contrariada.

Capítulo 17

Tirei o comprimido da boca discretamente e o coloquei em baixo do travesseiro, deitando-me na cama e puxando o braço de Michael até que ele me abraçasse e se acomodasse ao meu lado. O silêncio tomou conta do ambiente e pouco tempo depois minhas pálpebras começaram a bater devagar até que meus olhos se fechassem. Quando Michael achou que eu havia dormido, retirou os braços da minha cintura e levantou-se cuidadosamente, tirando o celular do bolso e discando um número no aparelho enquanto seguia em direção à sala.
- Melodie... – eu o ouvi dizer pouco depois.
Minhas sobrancelhas se arquearam em alerta e saltei da cama rapidamente, caminhando de pés descalços até a porta para tentar captar o que ele dizia ao celular.
- Eu preciso falar com você. Sim, é urgente. – Fez uma longa pausa. – Você poderia vir até aqui? – perguntou em um suspiro. – Estou esperando, baby. – E desligou.
Semicerrei os olhos e quase dei um soco na parede por conta da sua atitude.  Será que ele não digerira bem a minha revelação e pretendia tramar com Melodie uma forma de me tirar da sua casa? “O filho da mãe prometeu que não me julgaria” relembrei com raiva, de certa forma arrependida por ter contado para ele o que realmente acontecera com meus pais.
Enquanto eu ainda o observava da porta, vi Michael preencher lentamente um copo com uma boa dose de whisky. Ouvi a campanhia tocar e ele tomou um gole generoso da bebida, caminhando até a porta.
- Obrigado por ter vindo – ele disse com a voz um pouco mais aliviada quando atendeu.
Vi Melodie dar um desconcertado beijo no seu rosto e entrar no apartamento.
- Você parecia bastante preocupado. Aconteceu alguma coisa?
Michael apontou o sofá para que ela se sentasse e colocou mais whisky no copo.
- Me acompanha? – perguntou com a garrafa nas mãos.
- Não, obrigada – ela recusou.
Ele se sentou ao lado dela e a fitou nos olhos.
- Eu preciso da sua ajuda, Mel – ele murmurou.
- O que posso fazer por você?
Ele suspirou.
– Pode me contar de uma vez por todas o que a Therese fez com você na noite daquela festa.
Melodie desviou os olhos dele e pareceu desconfortável com o pedido. “Não ouse abrir a boca, cadela” pensei observando-a com fúria.
- Por favor – Michael insistiu. – Eu preciso saber. Tenho uma louca sob o teto da minha própria casa e ao que parece, fui o último a perceber isso.
“Traidor filho da mãe!”
Melodie levantou as sobrancelhas e sussurrou:
- Ela está aí?
- Não se preocupe, ela tomou um remédio que provavelmente a fará dormir até amanhã de manhã – tranquilizou-a. – Agora diga-me o que aquela doente fez.
Ela pensou por alguns segundos e depois suspirou.
- A sua amiga doutora me encurralou no banheiro e apontou uma arma para mim – ela finalmente contou. – Fez uma dúzia de ameaças e deixou bem claro que é capaz de qualquer coisa para conseguir o que deseja.
Michael apertou os olhos e cerrou os punhos.
-God, eu jamais me perdoaria se ela te machucasse!
- Você precisa se livrar dela o quanto antes – Melodie aconselhou. – Essa mulher ainda pode colocá-lo em sérios apuros, Michael.
- Eu sei. Agora, eu sei. Ela deveria estar em um sanatório, acredite.
- Ela não tem família? Não tem ninguém que possa providenciar uma internação ou algo do tipo?
- A Therese não tem ninguém – ele murmurou. – E não seria tão simples interná-la. Ela aparentemente é normal. Age friamente, não tem surtos repentinos quando está cercada por outras pessoas. Para a lei ela é uma mulher como outra qualquer até que possa se provar o contrário.
- Aquela maluca realmente me dá arrepios.
Michael pegou as mãos de Melodie e acariciou o seu rosto lentamente.
– Eu fui um idiota – ele disse. - Fui um idiota todo esse tempo. Eu não deveria ter me envolvido com ela. Você é a única mulher que me importa, Melodie, percebi isso desde a primeira palavra que trocamos. É você quem eu quero que esteja ao meu lado.
“Mas que cena patética!” refleti comigo mesma enquanto Melodie passava os dedos no queixo dele e o fitava nos olhos. “Ele não sabe o que diz. Está completamente equivocado.”
- Você sabe quanto tempo eu esperei para ouvir isso? – ela perguntou com um sorriso nos lábios. – Sabe quantas vezes senti vontade de te beijar enquanto conversávamos?
“Sabe quanto tempo espero pra acabar com você, vadia atrevida?”
Michael sorriu e aproximou-se mais dela, deixando seus rostos a poucos centímetros de distância.
- Deveria ter beijado, baby – ele provocou, esticando a mão para colocar o copo de bebida ao lado do abajur.
- Que tal agora? – ela perguntou em um súbito rompante de coragem, fitando os olhos dele e puxando-o lentamente pelo colarinho, até que seus lábios se aproximassem.
Michael a envolveu com os braços e desceu as mãos pelas suas costas, puxando-a para ainda mais perto de si. Partilharam um beijo longo e intenso, que parecia não ter mais fim, enquanto eu sentia vontade de matar os dois com uma única bala.
- Tão gostoso quanto eu imaginava – ela sussurrou com malícia assim que seus lábios se afastaram, com os dedos movendo-se lentamente pela sua nuca.
Michael abriu um sorriso satisfeito, com os lábios vermelhos e molhados pelo beijo, e puxou-a para si novamente, beijando-a outra vez.
- Eu quero que você seja minha namorada, baby – ele murmurou quando, minutos depois, pararam de se beijar. – O que você me diz disto?
Os olhos dela brilharam e ela sorriu.
- Digo sim, claro! – Fitou seus olhos. – Mas antes, tire a Therese dessa casa. Diga que não a quer mais aqui, que não quer mais vê-la. Mantenha-a longe.
- Você acha mesmo que ela vai aceitar numa boa sair daqui? – ele questionou, voltando a pegar o copo de whisky. - Sinceramente, tenho minhas dúvidas quanto a isso.
- O que sei é que ela não pode ficar – Melodie respondeu. – Você não pode se submeter às vontades daquela desequilibrada. O apartamento é seu, a lei estará ao seu lado se for necessário.
Michael assentiu.
- Falarei com ela amanhã mesmo.
- Seja firme. E, por favor, tome cuidado.
- Fique calma – ele disse beijando-a outra vez. – Ela não pode fazer nada contra mim. Sei lidar com ela – completou, acariciando os seus cabelos com delicadeza.
- Por que você a trouxe para cá? – Melodie perguntou. – O que fez você se interessar tanto por ela?
Michael pensou por alguns instantes.
- Eu a trouxe para cá porque não queria deixá-la sozinha. E, bem, começamos a sair porque eu sabia que havia algo diferente nela, algo que me atraiu mais do que posso explicar. – Tomou mais um gole, recostou a cabeça no sofá e deu um sorriso distante. - Acho que gosto de perigo.
Ela analisou sua expressão e enlaçou os braços atrás do seu pescoço.
- E o que você faria se eu também o colocasse em uma situação de risco? – ela perguntou com a voz travessa, inclinando o corpo no sofá e sentando-se no colo de Michael sem aviso prévio. Levou os dedos ao colarinho da camisa dele e deu um leve puxão, fazendo o peitoral dele encostar-se aos seios dela. – Acho que agora você está sem saída, concorda? – murmurou olhando-o nos olhos, começando a desabotoar os botões para revelar o seu tronco.
Michael, antes surpreso por aquela atitude, agora já não conseguia disfarçar a sua excitação. Um enorme volume formou-se na sua calça e Melodie beijou seu pescoço, movendo o quadril para se esfregar nele por cima do tecido.
 - Ah, garota, não me provoque assim – ele suspirou, mordendo o canto da boca. – Você não sabe do que eu sou capaz.
Melodie contornou o queixo dele com os dedos e correu a boca pelo seu pescoço, mordendo o lóbulo da orelha, fazendo Michael se arrepiar.
- Estou louca para descobrir – ela disse mais baixo. – Quero que me mostre – incitou enquanto descia as mãos até sua ereção. - Agora.
Michael soltou um gemido por entre os lábios e firmou as mãos no seu quadril, pondo-a deitada no sofá e acomodando-se sobre ela. Enquanto ele começava a despi-la, caminhei lentamente de volta para a cama e me deitei sem fazer barulho.
Ele pensava mesmo que me passar para trás seria tão fácil assim? Enfiei as unhas no lençol e a medida que os gemidos na sala se tornavam mais altos e intensos, comecei a pensar no que diabos eu poderia fazer para acabar com os planos românticos daqueles dois traidores que estavam pensando em me mandar pra longe.

Capítulo 18

         Acabei pegando no sono algum tempo depois e no dia seguinte, ao acordar, constatei que Michael resolvera não ir para o escritório. Ele estava sentado no sofá, de olhos fechados e cabeça jogada para trás, com um copo de whisky quase vazio nas mãos mesmo ainda estando tão cedo para beber, parecendo refletir seriamente sobre algo. Eu sabia que ele estava escolhendo as palavras certas para me mandar embora, portanto, resolvi me antecipar e colocar em prática a primeira parte da estratégia que havia arquitetado na madrugada anterior. Voltei para o quarto com passos silenciosos e abri o armário, começando a tirar minhas poucas roupas de dentro dele e jogá-las em cima da cama. 
         - Você já está acordada – uma voz disse minutos depois, fazendo-me olhar em direção à porta aberta, onde Michael estava parado me observando, apoiando uma das mãos na parede. – O que você está fazendo?
         - Não parece óbvio? – perguntei gesticulando para uma pequena mochila ao lado do travesseiro. – Estou arrumando minhas coisas para dar o fora daqui.
         Michael entrou no quarto, nitidamente confuso e surpreso, e postou-se ao meu lado. Estava lindo, mesmo tendo no rosto uma expressão de quem tinha dormido pouco. Os cabelos cacheados presos e meio desarrumados, uma camisa branca com dois botões abertos, a habitual calça preta, os lábios levemente avermelhados, e um cheiro de whisky que estava me deixando completamente tentada a beijá-lo.
         - Está me dizendo que irá voltar para casa?
         Comecei a enfiar as peças de roupa na mochila e assenti com a cabeça.
         - Não faz mais sentido eu ficar aqui – murmurei.
Ele pensou por alguns segundos.
– Tomou essa decisão por conta da conversa que tivemos ontem? – questionou. – Se arrependeu de ter me contado sobre seu passado, sobre a morte de seus pais?
- Claro que não – respondi. Por que ele achava que eu deveria me arrepender? Fiz a coisa certa e nunca fui rondada pelas sombras do arrependimento. – O que está feito, está feito – eu disse para ele.
- E por que você não quer mais ficar aqui?
Afastei-me da cama e soltei os cabelos, permitindo que eles descessem em cascata até a curva do pescoço.
– Olhe para mim, Michael – pedi e seus olhos negros fixaram-se em mim. - Acha que sou do tipo de mulher que precisa implorar por sexo? Preciso pedir para ser notada, amada, desejada?
Ele suspirou.
- Therese, você é linda e muito atraente, sabe disso. Eu já lhe disse o motivo pelo qual não quero mais transar com você.
- Você tem me ignorado desde quando vim para esta casa e não para de me entupir de remédios desnecessários. Chega, okay? Eu não preciso de você, Jackson – afirmei, tentando reconstruir minha total auto-suficiência. – Não preciso de ninguém. Continuar aqui será uma grande perda de tempo e eu sou uma mulher bonita, competente e bem resolvida, não tenho tempo a perder.
- É bom que pense dessa forma – Michael murmurou, de certa forma aliviado por minha atitude ter-lhe poupado maiores aborrecimentos. – Eu teria uma conversa com você a respeito disso. Você já está recuperada, pode se cuidar sozinha.
Arqueei as sobrancelhas, esforçando-me para manter a superioridade.
- Passarei a diante o caso em que estávamos trabalhando juntos – anunciei. – Há muitos advogados no escritório dispostos a trabalhar nele.
- Melhor assim – ele disse sem nenhum remorso.
Peguei a mochila e parei diante dele, ainda esperando, insensatamente, que ele me beijasse, me jogasse na cama, e me pedisse para não ir embora.
- Então... é realmente assim que terminaremos? – perguntei engolindo em seco.
Ele permaneceu impassível, com a expressão firme de quem não gosta de ceder.
- É uma boa maneira de terminar algo que nem deveria ter começado, Therese – murmurou. – Espero que você encontre algo ou alguém que possa lhe fazer feliz de verdade.
“É você quem me fará feliz de verdade, Michael. Pode acreditar.”
- É uma pena que eu não possa dizer o mesmo – eu disse de volta. – Uma grande pena. – E me afastei dele, indo em direção à porta.

* * * * * *
Os dias seguintes me fizeram enxergar com cada vez mais clareza o quanto eu havia mentido ao dizer que não precisava de Michael. Desde que eu o conhecera, a presença dele tornara-se uma necessidade tão fundamental quanto ar, comida, água. Tínhamos tudo para estar juntos, tínhamos tudo para dar certo. E teríamos dado. Se não fosse a Melodie, a insistente pedra no caminho.
Michael me desprezou, me humilhou em todas as vezes que tentou me manter distante, me reduziu a nada quando disse que não iria transar comigo porque estava apaixonado por outra mulher. Mas, com sinceridade, eu seria capaz de relevar tudo aquilo. Ele estava cego, não conseguia ver que era a mim que ele amava. Eu teria que mostrá-lo, de alguma forma, o quanto estava enganado.
Quanto a Melodie, esta não teria chance alguma para se redimir pelos seus erros. Por que ela não aceitara os conselhos que dei para ela na noite daquela festa? Tudo poderia ter ficado bem se ela tivesse se afastado do Michael como eu ordenei. Ela roubara momentos que seriam apenas meus, beijos que não deveriam pertencer a mais ninguém. Jurei a mim mesma que ela me pagaria pela afronta; por um preço justo, que ela mesma havia procurado.
Minha distração preferida tornou-se seguir Michael diariamente e observar seus passos, o que me deixava muito satisfeita, mesmo estando de longe. Fazia parte da sua rotina passar a maior parte do tempo no escritório, às vezes sair para alguma reunião em restaurantes, bares ou outros escritórios de advocacia. No início da noite ele costumava parar em frente ao hospital onde Melodie trabalhava e dar a ela uma carona até em casa.
Essa era a pior parte do dia.
Os dois trocavam beijos dentro do carro e, por diversas vezes, vi os dois abraçados na sacada do apartamento de Michael, observando juntos as luzes da cidade - provavelmente antes de uma longa sessão de sexo que duraria boa parte do resto da noite. Consegui o telefone de Melodie no hospital e liguei para o apartamento dela em várias madrugadas diferentes. Em todas as vezes, a ligação foi encaminhada para a caixa postal, o que significava que ela não estava dormindo em casa. Deveria estar aninhada nos braços de Michael, gemendo em seus braços, contorcendo-se em cima da cama onde eu e ele deveríamos estar deitados. As palavras que ela me dissera um dia ainda estavam bem frescas na minha mente.
“Você já deve ter percebido que o Michael está tão apaixonado por mim quanto eu estou por ele. Não há nada que você possa fazer. Com você é apenas sexo, por enquanto. Daqui a algum tempo, nem isso ele vai mais querer de você.”

 “É bom que ela aproveite enquanto pode”, eu praguejava comigo mesma. “É bom que ela o beije enquanto tem lábios, o abrace enquanto tem braços e pense que me venceu, enquanto ainda tem a massa encefálica dentro da cabeça”.
Ela estava rindo de mim pelas costas e eu tinha que acabar logo com aquilo. Decidi que sairia da casa de Michael antes que ele me mandasse embora porque minha profissão me ensinara a recuar quando estava encurralada e a atacar de uma só vez quando menos esperassem. Michael e Melodie estavam achando que eu tinha um temperamento bipolar e que havia resolvido sair da vida dele tão rápido quanto entrei. Não me conheciam bem o suficiente, essa é a verdade. Não sabiam que nunca desisto de nada, que movo céus e terras para conquistar o que deve ser meu.
* * * * *
Em uma manhã de sol, ao sair de casa para ir ao escritório, parei o carro enquanto esperava o sinal abrir e a fachada reluzente de uma loja de departamentos chamou minha atenção. Tirei os óculos escuros, abaixei o vidro e me inclinei sobre a janela.
Valentine’s Day
Já comprou algo especial para presentear o seu amor?
Ainda há tempo para uma linda surpresa!

 Era dia dos namorados e eu tinha me esquecido completamente disso. Nunca dei a mínima para essas datas, afinal de contas, nunca tive um namorado. Mas, naquela manhã, essa data especial me deixou interessada. Deveria ser um dia especial para Michael e eu, se a Melodie não tivesse estragado tudo.
Passei a manhã inteira debruçada em um processo, mas aquela frase se recusava a sair da minha cabeça. “Já comprou algo especial para presentear o seu amor? Ainda há tempo para uma linda surpresa!” “Ainda há tempo para uma linda surpresa”, repeti, mordiscando o bocal da caneta.
Sim, como dizia o anúncio, ainda estava tempo de fazer uma surpresa. Dia dos namorados: aquele seria o dia perfeito para finalmente acertar minhas contas pendentes e fazer Michael perceber que era por mim que sempre esteve apaixonado. 
Trabalhei o resto do dia e, quando voltei para casa, o sol no horizonte já começava a se por. Conferi se Michael e Melodie estavam trabalhando; primeiro consultando a secretária de Michael por telefone e depois ligando para o hospital, passando-me por uma antiga paciente que queria saber se Melodie Simpson - “a enfermeira mais querida que tive a chance de conhecer” – estava de serviço e poderia cuidar de um curativo mal colocado por outra enfermeira que cuidara de mim há poucos dias atrás.  
Quando tive a certeza de que nenhum dos dois estava em casa, dirigi até o prédio de Michael, levando comigo a chave que ele me entregara nos dias que passei como sua hóspede e que não devolvi quando fui embora. Estava nos meus planos entrar em sua casa e esperar os dois no quarto, para que pudesse participar de alguma forma bastante animada da comemoração de dia dos namorados que os dois pombinhos apaixonados com certeza iriam fazer à noite. Se eles não aparecessem, eu ficaria ali do mesmo jeito, esperando até que os dois chegassem. Eu não tinha pressa. Sabia que a espera antes da diversão seria tediosa. Mas estava levando a Pluma para me fazer companhia! Como eu poderia me sentir sozinha na presença da minha mais fiel companheira?
Já no tão conhecido prédio de Michael, passei pela recepção, tamborilando o salto alto no piso envernizado, entrei no elevador ocupado por mais duas pessoas e segui até o último andar. Caminhei tranquilamente até a porta do seu apartamento e segurei a chave com cuidado, tentando encaixá-la na fechadura.
Teoricamente, eu estava invadindo um apartamento, mas esse fato não me deixou sobressaltada, nem com medo de que seguranças surgissem e me impedissem de completar o ato. Eu havia sido uma presença constante naquele prédio há apenas algumas semanas antes, e todos sabiam do meu envolvimento com Michael, o que tornaria natural eu ter a chave da sua casa e estar entrando ali. Mas, quando a chave não girou e a porta continuou intacta apesar do meu esforço, comecei a perder a tão bem construída paciência. Inclinei-me para observar a fechadura e testei a chave mais duas vezes, sem obter sucesso em nenhuma das tentativas. A chave mal entrava e, o pior, não rodava direito. Fechei os punhos e dei um soco na parede ao perceber o que estava acontecendo ali. “Mas que droga”!, praguejei transbordando de raiva por não ter previsto aquilo. “Merda!”
“O desgraçado trocou a porcaria da fechadura!”
  

Capítulo 19             
 
Respirei fundo, me obrigando a permanecer calma, e dei meia volta, indo para o elevador novamente e descendo até o saguão, onde um jovem bem apessoado atrás de um enorme balcão de mármore e madeira falava ao telefone.
- Espere um minuto, por favor – ele disse com a voz educada, ao notar minha presença. – Posso ajudá-la em algo? – perguntou assim que pôs o telefone de volta ao gancho.
- Pode, sim. Qual o seu nome? – perguntei com um sorriso simpático, dando-me conta de que passei várias vezes por aquele mesmo lugar, mas nunca dei a mínima para aquele homem uniformizado atrás do balcão.
- Douglas Pierce – ele respondeu educadamente. Era moreno, devia ter no máximo 22 anos e parecia bastante prestativo. – Está a procura de alguém?
Balancei a cabeça negativamente.
- Doug... – comecei a falar, tentando criar uma proximidade com o rapaz. - Você já deve ter me visto por aqui antes. Estou certa?
- Já a vi aqui por várias vezes – ele confirmou. – A senhorita está na lista de pessoas que o senhor Jackson autorizou a subir para seu apartamento a qualquer hora, sem precisar sem anunciada.
Sorri, sem conseguir deixar de transparecer meu alívio. Então Michael não havia me cortado da lista depois que fui embora. Deveria estar ocupado demais para isso.
 - Isso mesmo – afirmei. – Estou com um pequeno probleminha. O Michael trocou a fechadura do apartamento recentemente e esqueci a nova chave. Acabei pegando a antiga e achando que era a certa – lamentei, abrindo a mão e mostrando para ele a chave que não servia mais.
- Não deveria ligar para ele? – o rapaz questionou.
- Deveria. – Encostei-me mais no balcão para completar com a voz mais baixa: - Mas isso estragaria completamente a surpresa. Você sabe que dia é hoje. Preciso estar dentro do apartamento e preparar umas coisinhas antes que o Michael volte do trabalho.
- Eu adoraria ajudar – ele disse. – Lamento, não há nada que eu possa fazer.
Mordi o lábio e mostrei-me decepcionada.
- Há, claro que há – retruquei. – Eu sei que o Michael deixa uma cópia da chave dele aqui, para que o apartamento seja aberto para entregas e reparos quando ele não está. Você poderia me emprestar a chave, só por um minuto. Não quero que este simples detalhe estrague a minha noite.
Ele me observou por alguns minutos e balançou a cabeça em negativa.
- Sinto muito, mas não tenho ordens para fazer isso.
Revirei os olhos.
- Tenho cara de ladra, Doug? – perguntei gesticulando uma das mãos em torno do meu corpo. – Acha que vou roubar algo do apartamento do meu namorado?
- Não foi isso o que eu quis dizer – ele explicou-se. – Namorado? – perguntou nitidamente confuso.
- Sim, namorado. Por que pergunta?
A face de Doug tingiu-se de rubor.
- Hum... Eu não me meto na vida de nenhum dos moradores e o senhor Jackson é um homem muito reservado e discreto. Mas pensei que ele e a senhorita Simpson...
- Ah, a Melodie – interrompi. – Ela não perde a oportunidade de dar em cima dele. E às vezes até acho que ele gosta disso. Nosso relacionamento é aberto e sem caretices, o que é mais um motivo para você me emprestar a chave. – Olhei para os lábios dele com lentidão e arqueei as sobrancelhas. – Eu sei reconhecer um gesto de ajuda... e você sempre me pareceu tão prestativo. Não irei esquecer isto.
Douglas pareceu inquieto e interessado com minhas palavras, mas voltou a balançar a cabeça negativamente.
- Sinto muito, muito mesmo.
- É só a droga de uma chave! – rebati com impaciência, fazendo-o se sobressaltar. Respirei fundo e passei as unhas lentamente pelo balcão, pronta para recomeçar. – Douglas, você já viu o Michael irritado? Já viu a cara dele quando está com raiva?
- Não, senhorita.
- Prepare-se para vê-lo furioso quando ele souber que a nossa noite foi um fracasso por culpa sua. 
- Senhorita... – ele tentou argumentar. – Eu já disse que adoraria ajudar, mas não posso fazer algo sem ser ordenado. Posso perder meu emprego por isso.
- Ninguém vai saber – murmurei. – Quando o Michael chegar e tudo estiver pronto, ele nem vai saber que peguei a chave aqui. Tenho a chave em casa, apenas a esqueci, mas ele não precisa saber desse detalhe.
O rapaz me fitou, balançado com o meu argumento.
- Por favor? – reforcei lançando um olhar suplicante, insinuando-me um pouco mais para ele. Ele desceu o olhar até os meus seios e voltou a subi-los rapidamente.
- Pode garantir que não ficarei encrencado? – ele perguntou.
Abri um sorriso iluminado.
- Claro que não se meterá em encrenca! Eu ficarei feliz, o Michael ficará feliz e você também pode ficar feliz, Doug, basta colocar a chave aqui na minha mão.
Ele virou-se, agachou-se diante de uma gaveta, remexeu o conteúdo dela e puxou uma chave de dentro, entregando-a para mim.
- Aqui está.
- Segredo nosso, okay? – murmurei, dando uma piscadela e inclinando-me para repousar um leve beijo nos seus lábios. O rapaz retribuiu o gesto e eu sorri para ele, dando de ombros e caminhando na direção do elevador.

* * * * *

Com a chave certa em mãos, voltei para o apartamento de Michael e consegui abrir a porta sem a mínima dificuldade. Entrei na sala, me servi de uma generosa dose de whisky sem gelo e comecei a percorrer os cômodos com a garrafa nas mãos, analisando o que mudara desde a última vez que estive ali. Tudo estava exatamente igual, exceto pelo sutiã preto de rendas que encontrei em cima do criado mudo assim que entrei no seu quarto. Ao que parecia, Melodie já estava começando a deixar suas marcas por ali.
Eu já estava no terceiro copo de whisky quando vi, pela janela do quarto, o carro de Michael atravessar a rua e entrar para a garagem no subsolo. Virei o último gole da bebida e voltei lentamente para o corredor, entrando no quarto de hóspedes e encostando devagar a porta. Todas as luzes estavam apagadas e, desde que eu permanecesse em silêncio, nada poderia denunciar a minha presença ali. Ouvi, poucos minutos depois, a porta da frente sendo aberta e passos andando pela casa. Vi a sombra de Michael atravessar o corredor em direção ao quarto, uma música soar no ambiente e, logo em seguida, o chuveiro do banheiro dele sendo aberto.
“Já comprou algo especial para presentear o seu amor?” perguntei ao me enxergar no espelho preso à parede do outro lado, ajeitando os cabelos. “Ainda há tempo para uma linda surpresa.”
Eu precisava encontrar os dois juntos, ou a noite não teria a mínima graça. Eles poderiam passar aquela noite em um motel, no apartamento de Melodie, ou em qualquer outro inferno, mas preferi acreditar que Michael a receberia em seu apartamento; o que era o mais provável ao levar em consideração que era ali que eles estavam passando a maior parte das últimas noites. Assustar os dois ao mesmo tempo era uma ideia que me deixava completamente leve e satisfeita. Eu pouparia Michael, claro, porque não podia pensar na possibilidade de perdê-lo. Quando Melodie estivesse ao seu lado, ferida e impotente, com uma bala lhe queimando a carne, ele com certeza perceberia o quanto ela era fraca, o quanto ela era errada para ele. Homens firmes como Michael precisam de uma mulher firme, como eu. Ele só não havia enxergado isso ainda, mas eu abriria os seus olhos e o faria ver.
“Já comprou algo especial para presentear o seu amor?” perguntei para a Pluma. Sorri. “Ainda há tempo para uma linda surpresa, sabia?”
Tirei meus sapatos para evitar fazer barulho e os coloquei atrás da porta do quarto, ao lado do copo e da garrafa de whisky quase vazia. Peguei a Pluma da bolsa e comecei a analisá-la calmamente, em todos os detalhes já tão conhecidos, enquanto os ruídos no quarto ao lado me faziam perceber que Michael estava se trocando e, pelo cheiro inebriante, se perfumando. Tempos depois a campanhia tocou e sua sombra fez o caminho de volta, indo atender a porta da frente. Dei alguns passos cuidadosos pelo corredor e pude vê-lo abraçado com Melodie, puxando-a para dentro, o que me deixou irritada e satisfeita ao mesmo tempo.
- Deveríamos ter ido jantar, Mel – eu o ouvi dizer minutos depois, servindo vinho branco para ambos.   
- E qual seria a graça de perder parte da noite em um restaurante, Mike? – ela perguntou sorrindo, enquanto ele enlaçava os braços na sua cintura e lhe dava uma sequência de beijos no pescoço. – Prefiro ficar aqui, sozinha com você... – murmurou, passando os dedos pelos cabelos dele. – Hum... Seu cheiro está uma delícia e você está um gato! Tudo isso é pra mim?
Ele mordeu o lábio e assentiu.
- Tudo para você, baby. – Observou-a com atenção. – Você também está linda. Adorei o vestido, mas vamos ter que retirá-lo.
Ela gargalhou.
- Tão depressa? – Beijou seus lábios. – Eu acho uma ótima ideia.
Michael pegou a mão dela e guiou até o seu membro.
- Está vendo o que você já fez comigo? – ele perguntou com um tom de malícia, enquanto os dois seguiam abraçados em direção ao corredor. Dei três passos para trás e voltei para o quarto de hóspedes, ouvindo os dois passarem ao meu lado, do outro lado da parede, e entrarem no quarto de Michael.
Segurei a Pluma com firmeza e repassei na mente mais uma vez o que deveria ser feito naquele momento. Como Michael poderia tratá-la daquela forma? Era para mim que ele deveria estar dizendo cada frase que dirigia a ela.
“Comprei algo especial para você, Michael. Ele está aqui, dentro da Pluma, e tirará a Melodie de vez do nosso caminho. Será apenas você e eu. Você mal pode esperar, não é? Eu também!”
Caminhei lentamente pelo corredor, ouvindo Melodie e Michael sorrirem e se provocarem, enquanto começavam a se despir. Quando surgi na porta do quarto, Michael estava sem camisa, em cima de Melodie, desabotoando pacientemente os botões do seu curto vestido vermelho. Os dois ainda continuaram por mais alguns minutos, sem notar a minha presença. Precisei destravar a Pluma e apontá-la na direção deles para que eles ouvissem que eu, a presença mais importante da noite, havia chegado.
- Comprei um presente para você, Michael – eu disse com a voz mais doce do que gostaria, fitando os dois com atenção.
Melodie arregalou os olhos em sobressalto e Michael saiu de cima dela, encarando-me com surpresa e incredulidade.
- Mas que porra você está fazendo aqui, Therese?! – ele perguntou com a voz elevada, tão assustado quanto a garota subitamente pálida que agarrava-se em seu braço

Capítulo 20
 
A voz alta de Michael me fez estremecer, mas logo tratei de me recompor e manter o máximo de firmeza que consegui.
- Que péssima recepção – reclamei, com os dedos ainda firmes ao redor da Pluma. – Eu vim salvar você dela e é assim que você me trata?
Michael e Melodie se entreolharam e voltaram a olhar para mim.
- Therese, abaixa essa droga e vamos conversar – Michael murmurou com a voz mais branda, inclinando-se um pouco para que Melodie se protegesse atrás dele. – Você não deveria estar aqui. Como diabos você veio parar aqui dentro?!
- Isso não importa, importa? – eu disse dando três passos lentos para frente. – O que importa é que estou aqui e você deveria estar contente em me ver.
Um vinco formou-se em sua têmpora e ele tentou se levantar vagarosamente, puxando Melodie com ele devagar, ainda protegendo-a com o próprio corpo. Estava assustado, respirando pesadamente, ainda se esforçando para acreditar que eu estava mesmo ali. Os olhos de Melodie também denunciavam surpresa, incredulidade, confusão e, o melhor de tudo, pânico! Era gratificante vê-la acuada e com o rabo entre as pernas como a cadela medrosa que ela nunca deixara de ser.
 - Voltem – ordenei com as sobrancelhas levantadas. – Eu não mandei ninguém aqui levantar. Mandei?
Os dois se sentaram novamente, impotentes diante da minha mira, ainda em estado de alerta. Michael assentiu devagar para Melodie, pedindo baixinho que ela mantivesse a calma, e apertou sua mão tão forte em sinal de proteção que os dedos dela quase ficaram brancos.
- Vamos conversar, okay? – Michael propôs para mim.
- Claro – concordei, puxando uma poltrona aos pés da cama e sentando-me nela, sem deixar de observá-los nem por um segundo. – Eu e a Pluma não temos pressa. Podemos conversar.
Michael respirou fundo, parecendo calcular bem as palavras.
- O que você pensa que está fazendo? – perguntou tomado de dúvida e confusão. – Por Deus! O que você pensa que está fazendo aqui?
Olhei para baixo, procurando a resposta. “Ainda há tempo para uma surpresa.”
- Eu estava com saudade – respondi, e era verdade. - E você, não sentiu saudade de mim? – perguntei em um tom mais calmo e afetuoso. Michael ficou em silêncio, estudando meus passos com atenção, e senti uma súbita onda de fúria ao focalizar Melodie apertando seus braços, sem ousar me dirigir a palavra. – Não sentiu saudade, ingrato?! – bradei com raiva, voltando a apontar a Pluma em sua direção.
- Porra, Therese! – Michael explodiu em sobressalto, com as veias alteradas vibrando nas têmporas. – Mantenha essa porcaria abaixada!
- Louca! – Melodie bradou, passando a palma das mãos pelo braço tensionado de Michael. – Ela não vai atirar, Mike – murmurou baixo para ele. – Todos ouviriam e ela seria presa antes mesmo de sair do prédio.
- Cala a boca, cadela, eu não suporto a sua voz – eu disse para Melodie, apontando a arma para ela. – Acha mesmo que a Pluma não sabe ficar quieta? Não nos subestime, outra vez. Ela é mais silenciosa do que você imagina.
- Diga logo o que você quer – Michael ordenou com a voz firme e autoritária. – Não vamos entrar no seu jogo ridículo e doentio. Diga de uma vez o que pretende fazer aqui.
Suspirei e sorri. Nada no mundo me excitava mais do que ouvir sua voz soar tão firme.
- Aí é que você se engana, baby. Vocês vão entrar no jogo que eu quiser, afinal de contas, eu não estou dando escolha para nenhum dos dois.
- Você precisa se tratar – Melodie murmurou. – Com urgência.
- Pare de falar como uma médica, pois você não passa de uma enfermeirinha incompetente – devolvi sem paciência. - Coloque-se no seu lugar, sim? Aliás, se você soubesse bem onde fica o seu lugar, não estaríamos aqui agora, pois você estaria bem longe do Michael.
- O que você quer, Therese? – Michael voltou a perguntar.
“Você. Não parece óbvio? Você é tudo o que posso querer”, pensei comigo mesma, mas não disse as palavras em voz alta. Cruzei as pernas e abaixei um pouco a Pluma.
– Tire o vestido dela, Jackson – ordenei. 
Ele me olhou, com um vinco de dúvida na testa, e permaneceu imóvel.
- O quê?!
- Está surdo? – perguntei voltando a apontar a arma. – Tire o vestido dela.
Hesitante, Michael terminou de abrir o vestido já meio aberto de Melodie e jogou a peça no chão. Mordi o lábio satisfeita e a analisei com atenção. Eu precisava descobrir o que ela tinha de melhor do que eu para fazer Michael se interessar tanto por ela.
- O sutiã agora.
Michael hesitou outra vez mas ela balançou a cabeça positivamente para ele, incitando-o a continuar. Os seios dela se revelaram e eu os observei, enumerando os mínimos detalhes. Eram bonitos, no tamanho ideal, mas eu me recusava a aceitar que ela era mais bonita do que eu em muitos aspectos.
- Foi por isto que você me trocou? – perguntei. – Francamente, Michael, espero que melhore. Vamos, tire a calcinha.
- Não vou fazer isso – ele recusou.
- Claro que vai. Não é isso que você tem feito nas últimas noites? – Apontei a Pluma para a cabeça de Melodie e descruzei as pernas. – Continue. Agora.
Melodie esticou as longas pernas morenas na cama e Michael segurou a calcinha, puxando-a para baixo. Quando ela estava completamente nua eu me levantei, analisei seu corpo com atenção e voltei a me sentar.
- Por que você me trocou por ela? – perguntei para Michael com indignação. – Ela é comum demais, sem graça demais, não serve pra você.
Michael me fitou.
- Eu sei que ela não se compara a você – ele disse enquanto Melodie voltava a se vestir. – Nenhuma mulher se compara a você, Therese. Por que você tem que ser dona de um temperamento tão difícil?
Gostei muito, muito mesmo, de ouvi-lo falar aquilo.
- Eu sou mais simples do que pareço – murmurei. – Funcionamos maravilhosamente bem juntos, você sabe disso. O que tivemos não pode ser jogado fora assim, como algo que não tem a mínima importância.
- Sei – ele confirmou, seus olhos subitamente doces. – Eu quero ajudá-la, Tess. Permita que eu lhe ajude.
- Você irá me ajudar se me amar – murmurei, deixando a tensão de lado por um momento e abrindo-me para ele. – Nunca senti uma necessidade tão grande de ser amada por alguém, Michael. Você é como uma âncora para mim, entende? Não consigo ficar bem quando você não está por perto.
Ele continuou a me fitar e Melodie abaixou os olhos. Provavelmente as palavras de Michael estavam fazendo-a perceber o quanto era inferior a mim.
- Vamos recomeçar – sugeri para ele. – Podemos apagar tudo e começar outra vez.
- Vamos, Tess – Michael disse com suavidade. – Me dê a arma, okay? Você não precisa dela. Você não precisa machucar ninguém.
- Não – neguei.
- Por favor, baby? – insistiu, colocando os pés para fora da cama e levantando-se devagar, em movimentos extremamente calculados, vindo em minha direção para recolher a Pluma.
- Não!
- Sim. Entregue-a para mim.
- Eu já disse que não! – gritei ao vê-lo a poucos passos de distância.
- Agora! – ouvi uma voz de mulher gritar e Michael abaixou-se bruscamente no tapete, enquanto um forte estrondo ecoava pelo quarto, penetrando lentamente pelos meus tímpanos e deixando-me sem nada entender por alguns instantes.
Tive uma fração de segundos para assimilar o que havia acontecido. A terceira gaveta da mesa de cabeceira estava aberta e Melodie, de quem eu dispersara a atenção por apenas alguns segundos, estava ajoelhada na cama, com uma arma nas mãos e os dedos trêmulos no gatilho. Eu não sabia que Michael tinha uma arma guardada, mas agradeci instantaneamente por ser Melodie a autora do inesperado disparo. A bala, que passou zumbindo ao meu lado, estraçalhou o enorme espelho atrás de mim e fez uma chuva de cacos de vidro se derramar pelo quarto.
Joguei-me no chão assim que ouvi o estrondo e coloquei os braços em frente ao rosto para me proteger dos cacos afiados que desmembraram-se do espelho. Senti um filete de sangue quente escorrer pela minha testa e, mais por instinto do que por qualquer outro sentimento, estiquei a mão na direção da cama e puxei o gatilho da Pluma, vendo o sangue jorrar de uma ferida aberta em Melodie e jogá-la para trás com o impacto. Entre tantas outras coisas, minha mira também era muito melhor do que a dela. Michael virou a cabeça para fitá-la caída na cama, horrorizado, e correu desesperado em sua direção.
- Melodie! – ele gritou.
Era com ela que ele estava preocupado, e não comigo. Ele havia me enganado; e, o pior de tudo, pela segunda vez! Tateei o chão com pressa e agarrei com força um dos enormes cacos de vidro, sentindo-o penetrar entre os dedos e a palma e cortar minha mão.
- Filho da mãe desgraçado! – bradei com fúria, indo para cima de Michael e puxando-o para trás. Enfiei o caco de vidro na sua perna com o máximo de força que consegui, na altura da coxa, e o torci dentro da carne, fazendo Michael gritar de dor e cair com tudo no chão, enquanto o sangue começava a jorrar pelas bordas do ferimento. – Traidor de merda!
 Ele puxou minha mão, tentando desvencilhar-se dela, e fez esforço para se levantar, mas coloquei-me em cima dele e o forcei para trás, da mesma forma que tínhamos transado tantas vezes antes. Seu rosto se contorcia e o caco de vidro ainda estava enfiado em sua perna, causando muito dor, por sinal. Firmei os dedos ensangüentados em torno da Pluma e pressionei o cano contra a testa de Michael, completamente decidida a terminar com aquilo de uma vez. 
- Não era pra ter sido assim! – bradei apertando o cano com mais força. - Foi você quem escolheu isso, Michael! A escolha foi sua!
- Você é uma doente! – ele gritou furioso. – Uma vagabunda completamente doente!
Deslizei o indicador para o gatilho e, por um instante, senti um aperto no peito.
- Eu sinto muito – murmurei. - Foi você quem escolheu assim.
E então senti uma pancada forte e firme na cabeça, vinda de trás; um golpe surpresa que me deixou sem chances para me defender. Só tive tempo de ver Melodie de relance, com um abajur nas mãos e uma expressão firme e determinada de raiva no rosto, forte e imponente, mesmo estando com o vestido completamente manchado de sangue. Michael empurrou-me para o lado rapidamente e puxou a Pluma da minha mão, apontando-a na minha direção, pressionando-a forte contra a minha pele.
Meus olhos se arregalaram.
- Você não teria coragem – foi a única coisa que consegui dizer, olhando nos seus olhos mais nublados do que nunca. – Você não atiraria em mim, Michael.
Ele semicerrou os olhos e colocou a outra mão no meu pescoço, impedindo-me de levantar.
- Cada um tem o final que merece, lembra-se? – murmurou com a voz carregada de determinação. - E eu não sinto nem um pouco – completou, antes de finalmente puxar o gatilho e fazer o meu mundo inteiro cair na escuridão.

Epílogo

Los Angeles, 16:30 P.M, 7 anos depois

A mulher vestida com uma saia primaveril desceu do carro e colocou os pés na calçada, respirando o ar leve e fresco do fim da tarde. Estava cansada de ficar dentro do carro, onde passara boa parte das últimas semanas, captando detalhes e informações, antes de pode agir.
Mais cedo vira um belo casal deixar o filho de seis anos na escola e sair de mãos dadas, rindo um com o outro, na maior descontração. Os dois pouco haviam mudado desde a última vez que ela os vira - em uma situação que lhe rendera um buraco no tórax, sete anos em uma clínica para doentes mentais, e uma cicatriz na pele branca que nunca desapareceria. Perdera sete anos da vida, convivendo com um bando de retardados, fazendo terapia e recebendo medicação. Vigiada 24 horas por dia por guardas e médicos que nem sabiam o que estavam fazendo. Mas agora estava livre, finalmente. Sabia que o seu bom comportamento e sua cooperação iriam lhe render bons frutos, como realmente rendeu.
Ajeitou a franja de cabelos pretos sobre a testa para esconder uma antiga cicatriz e levantou o rosto em direção ao sol, absorvendo o calor gostoso que penetrava na sua pele. Ajeitou o vestido e travou a porta do carro, enquanto caminhava em direção ao parquinho repleto de crianças correndo de um lado para o outro, em uma pracinha próxima à escola infantil. Um grupo de babás despreocupadas conversavam entre si, em uma rodinha, vez ou outra virando o rosto para ver se estava tudo bem com suas crianças.  
Ela observou de longe o garoto que corria em volta do escorregador, escondendo-se de um dos colegas que estava com o rosto apoiado em uma árvore, contando até cem. Não deixava de se surpreender com o quanto ele se assemelhava ao pai. A mesma curvatura das bochechas, os mesmos lábios, os mesmos cabelos, a mesma forma de se mover e, o que mais a encantara, os mesmos olhos negros, atentos, firmes, decididos. Descobrira que seu nome era Prince Michael, mas que todos o chamavam de Blanket.
A mulher caminhou pela grama e aproximou-se do esconderijo do garoto, colocando no rosto um sorriso enorme e iluminado.
- Olá – disse com a voz doce. – Tudo bem, lindinho?
O menino a olhou desconfiado, sem responder.
- Ei, não precisa se preocupar comigo, eu não sou uma estranha – comentou rindo. – Como estão o Michael e a Melodie? Sou uma antiga amiga dos seus pais.
Blanket a fitou, menos desconfiado desta vez.
- Ah... Estão em casa – respondeu.
- Faz muito tempo que não os vejo, sabia? – ela murmurou. – O que acha de me levar até lá para uma visita? Eles iriam adorar.
- Tenho que falar com a Emma – ele murmurou gesticulando para a babá desatenta. - Mamãe e papai disseram que não posso fazer nada sem perguntar para a Emma primeiro.
- Sei disso. E é por isso que já falei com ela – mentiu. – Ela disse que podemos ir.
O menino olhou para a babá, desconfiado, e voltou a olhar para a mulher que sorria simpática para ele.
- Vamos? – ela chamou, esticando a mão para o garoto. – Podemos passar em algum lugar para comprar um sorvete bem grande antes de vermos sua mamãe e seu papai.
         Indeciso sobre o que fazer, Blanket a encarou, sem se mover.
- Como você se chama, hein? – ele perguntou antes de tomar sua decisão.
A mulher alargou ainda mais o sorriso e inclinou-se mais um pouco, entrelaçando seus dedos nos pequeninos dedos do garoto, antes de responder:
- Therese Brown. Seu pai já falou sobre mim para você?
Ele balançou a cabeça negativamente.
- Não.
- Que falta de consideração da parte dele... – ela reclamou mordendo o canto do lábio. – Posso contar para você como eu e ele nos conhecemos, quando estivermos a caminho da sua casa... – continuou a dizer, caminhando pelo gramado e trazendo o garoto consigo.
“Sim, cada um tem o final que merece, Michael”, cantarolou consigo mesma, satisfeita, enquanto conversava com o menino ao seu lado, a cópia perfeita e fiel do pai. “Se não estamos juntos agora, assim como merecemos, é porque o fim ainda não chegou para nós.”
“É apenas o nosso começo, querido. Pode acreditar!”



- NN

8 comentários:

  1. Continuuuuuua! Tomara q eles fiquem juntos! <3

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  2. N para! Continua! Queria saber oq ela vai fazer agora!!

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  3. Essas fic estão ficando sem graça de ler, sempre interminavéis...pq?

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    1. Ela está terminada ... ou está a referir de a fic ser grande e demorar acabar???

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  4. '-' cade quero continuaçao droga

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  5. Oi gente. A segunda parte dessa fic já está sendo postada no blog ;)
    Obrigada por lerem <3

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