Autora: Nai Jackson
SINOPSE
Therese Brown é uma misteriosa advogada de
27 anos que guarda obscuros segredos do passado. Ao ser designada para
solucionar um caso para uma importante empresa publicitária, ela conhece o
também advogado Michael Jackson, um homem competente, rígido e perspicaz, pelo
qual ela prontamente se sente atraída.
Enquanto trabalham lado a lado na
tentativa de fechar um acordo entre os seus clientes, conquistar Michael
torna-se para Therese uma prioridade; e ela não mede esforços para alcançar o objetivo
de tê-lo ao seu lado. Sem conhecer a mente doentia escondida por trás dos
delicados traços daquela bela e sedutora mulher, Michael é envolvido em um
arriscado e excitante jogo amoroso, onde o perigo é iminente e o prazer é
ilimitado.
Capítulo 1
Acomodei-me no banco traseiro do
primeiro táxi que vi cruzar uma das principais avenidas de Los Angeles e reabri
a pasta preta que eu trazia nas mãos para conferir – pela enésima vez – uma
dúzia de papéis em branco que em breve estariam devidamente assinados. Dei as
coordenadas para o motorista já grisalho e voltei a fechar a pasta, abrindo a
bolsa para tirar de dentro dela os itens necessários para retocar a minha
maquiagem. Meus cabelos estavam presos em um alto coque e meus lábios estavam cuidadosamente
tingidos de um tom avermelhado, contrastando com o blazer preto feito de um
corte reto e a saia de mesma cor que descia até pouco acima do joelho. Eu já
ouvira falar que o advogado com o qual eu me encontraria era um homem refinado
e de bom gosto, portanto, usar um pouco do meu charme feminino seria o primeiro
passo para conseguir com ele o acordo financeiro que os meus importantes
clientes tanto desejavam.
Assim que o táxi chegou ao local
indicado, estiquei para o motorista uma nota de cinquenta dólares e, sem ter
tempo para esperar o troco, saí apressadamente do carro e caminhei sob o vento
frio até a entrada do grande e moderno prédio onde Michael Jackson deveria
estar esperando por mim. Subi até o terceiro andar e, após ser anunciada pela
sua jovem secretária ruiva com cara de prostituta, dei três leves batidas na
porta e esperei que ele me autorizasse entrar.
- Entre – ouvi ele dizer do lado de
dentro.
Apertei a pasta nas mãos e entrei na
sala luxuosamente decorada, ouvindo o meu salto fino bater contra o assoalho
até que eu finalmente parasse diante da enorme mesa de madeira nobre onde o
homem com os olhos mais negros que eu já vira observava-me com atenção. Ele
vestia um terno preto bem cortado e uma camisa branca com uma impecável gravata
vermelha logo abaixo dele, em contraste com a pele clara e os lábios bem
definidos também avermelhados. “Puta
que pariu. Que delícia de homem!”,
foi a primeira coisa que pensei comigo mesma ao analisá-lo com cautela. “Eu não
fazia a mínima ideia de que ele era assim.”
- Doutora... – ele começou a dizer e olhou
apressadamente para um papel ao lado do telefone, voltando novamente os olhos pra
mim. – Brown. Devo dizer que você está três minutos atrasada?
Sentei-me na poltrona à sua frente e
arqueei as sobrancelhas na tentativa de amenizar um pouco os efeitos imediatos
que aquele homem causara em mim. Não haviam me dito que ele era tão bonito. E
eu não sabia que teria uma recepção tão fria e metódica da sua parte. “Aposto
que ele é ótimo de cama”, pensei comigo mesma, enquanto abria a pasta e
retirava os papéis de dentro dela. “Maldição... Será que ele é casado?”
- Doutor Jackson, eu conheço muito bem
os meus horários – respondi com a mesma frieza na voz, esforçando-me para
manter a concentração. – Mas ainda não tenho o poder de controlar o trânsito
infernal dessa cidade.
Ele abriu um meio sorriso e reclinou-se
um pouco mais na cadeira, sem nem sequer esticar uma das mãos para um formal cumprimento
de apresentação.
- Por favor, diga-me... – olhou para a
minha mão esquerda e pareceu satisfeito por um momento. - O que a senhorita
pensa que veio fazer aqui?
Eu havia mencionado aquilo repetidas vezes
por telefone, portanto, a pergunta me pareceu um pouco irônica e arrogante ao
vir da boca dele.
-
Fazer um acordo, oras! – respondi com uma pontada de irritação.
Ele
me analisou demoradamente e voltei a me arrepiar ao sentir o seu olhar pesar
sobre mim. Seus traços eram impecáveis e ele tinha um ar autoritário que muito
me agradava. Era exatamente o tipo de homem pelo qual eu costumava me
interessar. “Será que ele se deixaria ser dominado por mim?” perguntei
mentalmente enquanto o esperava falar alguma coisa.
–
Eu não disse ao telefone que estava disposto a discutir um acordo - ele disse
recobrando a minha atenção.
-
Mas eu ainda nem fiz a proposta!
-
Levaremos o caso para o tribunal – disse ele obstinadamente. - A empresa que
você representa usou fotos do meu cliente em uma campanha publicitária sem a
autorização dele e pode ser processada por uma infinidade de artigos do nosso
Código Penal.
– O seu cliente tinha um contrato devidamente
assinado e reconhecido – rebati esticando alguns papéis para ele. – Está tudo
dentro da lei, confira se quiser.
-
O contrato não foi devidamente cumprido – disse, ignorando os papéis à sua
frente. – Uma cláusula deixa claro que o meu cliente tinha o direito de ver cada
foto tirada e escolher quais delas seriam editadas antes de ir para a campanha,
o que, segundo ele, não aconteceu.
-
O seu cliente só pode ser um veado cheio de frescuras! – explodi, indignada por
ele querer abrir um processo por algo tão sem importância. – Ele está querendo
colocar as mãos em uma alta grana fácil, mas tenha absoluta certeza de que não
permitirei que isso aconteça!
-
Controle os ânimos e tome cuidado com o que fala – exigiu quase sorrindo. Ele
estava se divertido com a minha irritação, e eu o estava odiando por isso. –
Você também pode acabar sendo processada por calúnia e difamação.
-
Vamos Jackson, use a cabeça – argumentei novamente, e a extrema calma dele
começou a me dar ainda mais nos nervos. -
Vocês irão perder feio se não fizerem um acordo justo agora.
Michael
me encarou e, a julgar pela sua expressão, me achou petulante por minha
insistência.
- Eu nunca perco, senhorita Brown –
murmurou ele pacientemente. – Receio que um acordo, nesse momento, é algo fora
de cogitação. – Apontou para a porta e abriu um sorriso cínico. – Isso é tudo o
que tenho para dizer em nome do meu cliente. A reunião está encerrada.
Cruzei as pernas e tentei manter a
calma, enquanto os meus olhos fixos naquele homem fumegavam de raiva. Quem ele
pensava que era para falar comigo daquela forma? E por que diabos algo nele
atraía tanto a minha atenção?
- Eu acho que deveríamos conversar com
calma para encontrar uma solução que seja proveitosa para ambos os lados –
propus estrategicamente. – Mal nos conhecemos e, definitivamente, acredito que
começamos com o pé esquerdo.
Ele ficou em silêncio por alguns
minutos e assentiu devagar.
- Tudo bem. – Sorriu. - Talvez possamos
marcar mais uma reunião.
Levantei-me da poltrona e consegui abrir
um pequeno sorriso.
- Eu já conheci o irritante Jackson –
murmurei levantando as sobrancelhas. – Que tal me apresentar apenas o Michael?
- indaguei na tentativa de atravessar a barreira formal que ele construíra em
torno de si. – Talvez ele seja um pouco mais amigável e aceite fazer esse
maldito acordo de uma vez.
Ele sorriu e mordeu o lábio inferior;
um simples gesto que, vindo dele, me deixou subitamente excitada.
- Parece interessante – ele disse
olhando para mim. Abaixou o olhar despudoradamente até os meus seios e me
abençoei imediatamente por ter escolhido um belo e pouco discreto decote. – Apesar
de tê-la achado uma histérica impontual, eu não poderia negar um convite de uma
mulher tão bonita quanto você, senhorita Brown.
Suas palavras foram tão firmes que
quase me fizeram perder a linha de raciocínio. Estava na cara que já não
estávamos mais falando sobre trabalho. Ele havia gostado de algo do que viu em
mim: e aquele interesse era mútuo, sem sombra nenhuma de dúvida.
-
Já que iremos nos conhecer melhor... Pode me chamar de Therese ou Tess –
murmurei olhando para os seus lábios vermelhos, esticando uma das mãos para
ele. – É assim que me chamam os íntimos.
Ele pegou minha mão e deu um quente beijo
no seu dorso.
- Quer dizer que seremos íntimos? –
perguntou, e não pude deixar de notar a malícia presente na sua voz.
- Ligarei para marcar o local do nosso
encontro – avisei, sem responder a sua pergunta, satisfeita ao notar que ele
não usava aliança em nenhuma das duas mãos. - Ainda não foi um prazer
conhecê-lo... Mas você terá a chance de mudar isso, espero que saiba
aproveitá-la bem. Tenha uma ótima tarde.
Ele riu e soltou vagarosamente a minha
mão.
- Faço das suas as minhas palavras,
Therese – murmurou apontando a porta de saída, com um irresistível toque de
malícia e bom humor na voz.
Capítulo 2
Certo, Michael Jackson havia se
mostrado muito mais firme do que pensei que se portaria. Um acordo era a melhor
saída; economizaria tempo, trabalho e grana, por isso eu não conseguia entender
por qual motivo ele insistia em abrir um processo que poderia se arrastar
lentamente ao longo dos anos.
Mas a questão central após conhecê-lo
passou a ser: Dane-se essa merda de acordo! Ele era o homem mais bonito e excitante
que eu já vira na vida... Poderíamos
fazer muita, muita coisa juntos. Ele tinha um sorriso sínico que estampado no
seu rosto tomara um ar extremamente sexy e atraente. Era um tipo de cara raro
de se encontrar e, definitivamente, eu não o deixaria escapar de mim tão fácil.
O nosso segundo encontro foi marcado
para dois dias após a nossa primeira reunião. Eu mesma havia escolhido o local;
um refinado bar com músicas de bom gosto, onde poderíamos conversar com
absoluta privacidade. Quando cheguei ao bar, ele já estava sentado na mesa mais
afastada esperando por mim, girando vagarosamente entre os dedos um copo preenchido
com uma boa dose de whisky sem gelo.
- Dessa vez foram cinco minutos de atraso
– ele disse com um pequeno sorriso quando me viu parar diante da mesa. – Você
nunca consegue ser pontual?
Puxei a cadeira para me sentar e o
observei com atenção. Diferentemente da primeira vez que nos vimos, ele estava
vestido com uma grossa camisa vermelha de botões, uma calça preta vincada,
mocassins e chapéu fedora da mesma cor. Bem mais informal e à vontade, mas tão
lindo e irresistível quanto antes.
-
Gosto da forma como você se veste – murmurei descendo os olhos pelo seu
pescoço, sentando-me em frente a ele. – E cinco minutos não são nada.
Ganharemos muito tempo depois... Garanto a você.
Ele sorriu e fez um sinal para o
garçom.
- O que você bebe, Therese?
- Um Dry Martini, por favor – respondi
repousando a bolsa na mesa.
Michael fez o meu pedido para o garçom
e também pediu mais uma dose de whisky para si. Virou a última dose do seu copo
e me fitou com firmeza.
- Conversei com o meu cliente sobre um
possível acordo... – ele começou a dizer para mim.
-
E o que ele disse?
Michael
juntou as mãos.
-
Ele disse que poderá pensar nessa possibilidade... se a empresa em questão
oferecer para ele uma boa quantia em dinheiro para ressarci-lo por todo o desgaste emocional que ele sofreu durante as
últimas semanas.
-
O seu cliente é um oportunista cara de pau – afirmei para ele sem me exaltar
dessa vez. – Você é um advogado sério... Por que está defendendo aquele filho
da mãe?
- Ele tem dinheiro suficiente para
pagar os meus caros honorários, portanto, estou comprometido a fazer o que seja
melhor para ele.
- Já que ele está disposto a negociar,
veremos uma quantia justa para encerrar esse caso de uma vez – respondi com
determinação. – Dessa forma todos irão ficar felizes e satisfeitos com o nosso
trabalho.
Michael inclinou-se um pouco sobre a
mesa e arqueou as sobrancelhas.
-
Tem certeza de que quer mesmo falar sobre essa droga de acordo?
Balancei a cabeça negativamente.
- Não.
Ele sorriu.
- Assim como imaginei. – Desceu os
olhos até a provocativa fenda lateral do meu vestido azul-escuro. – Seja
sincera... Esse não é um encontro profissional, certo?
Cruzei as pernas e sorri satisfeita.
Ele era tão rápido e esperto quanto eu imaginara.
- Por que não seria? – perguntei
fazendo-me de desentendida.
Michael
colocou uma das enormes mãos em um dos meus joelhos e seus longos dedos
começaram a acariciar a minha pele, riscando delicados círculos com a ponta das
unhas.
-
Você parece ser o tipo de mulher que sabe bem o que quer, Therese. –
Aproximou-se mais um pouco. – E sei que você quer a mim. Estou enganado?
Meus
lábios se retraíram em um sorriso.
-
Você está sendo muito convencido... – eu disse e levantei as sobrancelhas. -
Admiro essa qualidade.
-
Tenho muitas outras que você ainda
não conhece... – murmurou levantando os dedos até passá-los por cima da minha
coxa. – Mas não se preocupe, farei questão de apresentá-la todas elas.
Sua
firmeza e determinação fizeram o meu corpo inteiro se arrepiar.
-
Você é um homem muito interessante... – eu disse, passando levemente a ponta das
minhas unhas pelo seu dedo anelar da mão esquerda repousada em cima da mesa. –
Pelo que estou vendo aqui, você ainda não se uniu em matrimônio, o que muito me
agrada. – O garçom trouxe nossas bebidas e tomei o primeiro gole do Dry Martini.
- Já sei que você não é casado, então, por que não me fala mais um pouco sobre
a sua vida e me deixa descobrir mais um pouco?
Ele tomou um gole da sua bebida e
continuou a me observar, parecendo refletir sobre algo.
- Vamos... – incentivei. - Permita que
eu o conheça melhor.
Michael tirou a mão devagar da minha
perna e ajeitou o chapéu.
- O que posso dizer? Eu advogo a pouco
mais de doze anos... Sou o único dono do meu escritório... Moro sozinho em um
confortável apartamento do outro lado da cidade... – Tomou mais um gole de
whisky. - E tenho uma grande queda por loiras – concluiu com um sorriso
pervertido nos lábios, observando a cor dos meus cabelos. – E você, Therese, o
que tem a me dizer?
- Hm... Comecei a trabalhar há pouco mais de
três anos... Gosto muito da minha profissão... Odeio falar sobre a minha
vida... E adoraria conhecer o seu apartamento – murmurei tranquilamente,
passando minhas pernas por entre as suas debaixo da mesa. – Vai me levar até
ele... Ou prefere continuar a perder tempo?
- Gosto de mulheres diretas como você –
ele respondeu quase me devorando com os olhos. – Termine logo a sua bebida e me
acompanhe até carro – instruiu levantando-se, com os lábios retraídos em um
sorriso satisfeito.
Capítulo
3
Eu e Michael permanecemos em silêncio a
maior parte do caminho até o seu apartamento. Quando chegamos lá, ele guiou-me
para dentro e acendeu as luzes da sala decorada com requinte e elegância.
- É um belo lugar para se morar – eu
disse, observando o local com atenção. Coloquei a bolsa em cima do sofá e olhei
para Michael. – Irá me oferecer uma
bebida?
Ele sorriu e aproximou-se de mim,
passando os longos dedos pelo meu queixo sem o mínimo de cautela.
- Não, Therese – murmurou, apertando os
meus seios por cima do vestido em suas mãos. – Sei que nenhum de nós dois está
a fim de perder tempo com enrolações desnecessárias.
Um sorriso formou-se no canto dos meus
lábios e eu aproximei nossos rostos, entrelaçando as duas mãos em torno do seu
pescoço. Seus lábios famintos chocaram-se contra os meus e sua língua abriu
passagem para explorar milimetricamente cada canto da minha boca enquanto suas
mãos começavam a se mover pela minha bunda.
Maldição,
como ele beijava bem! Senti a minha calcinha se umedecer no mesmo instante e o
empurrei para o sofá, pondo-me de joelhos em frente à suas pernas abertas.
- Vamos ver o que temos aqui, Jackson...
– eu disse com expectativa, passando as mãos por sua ereção por cima da calça
enquanto ele se livrava da própria camisa.
Michael observou-me com atenção, fitando-me
com o olhar mais safado que eu já havia visto na vida. Abri o zíper devagar e
abaixei a cueca boxer preta, libertando o seu membro e permitindo que ele se
estendesse vagarosamente diante dos meus olhos.
- Aprova, senhorita Brown? – Michael
perguntou encarando-me com um sorriso pervertido.
Mordi os lábios e levantei as
sobrancelhas, boquiaberta e satisfeita ao mesmo tempo. Engoli em seco e senti
minha intimidade se contorcer instintivamente contra o tecido da calcinha. Eu
nunca tinha visto um pênis tão grande e tão convidativo na vida. Além de ser enorme,
ele estava com a glande completamente molhada pelo líquido incolor que escapava
em abundância por ali, escorrendo pela sua extensão e molhando as veias
alteradas que pulsavam pelas bordas. Levei uma das mãos até ele para suprir a
necessidade de explorá-lo, expondo a glande por completo, e Michael puxou o ar
com dificuldade entre os dentes, jogando a cabeça levemente para trás em sinal
de aprovação.
- Minha nossa, você foi muito abençoado
pela natureza – comentei sem disfarçar a minha satisfação, descendo a calça por
completo e começando a masturbá-lo. Olhei no fundo dos seus olhos e dei uma
demorada lambida na glande. – Hmm... Parece ser uma delícia.
O
seu membro pulsou entre os meus dedos e Michael colocou as mãos nos meus
cabelos, guiando-me para baixo.
-
Então prove-o, baby – sussurrou, e deu um longo gemido quando eu obedeci,
colocando a metade do seu membro na minha boca.
Passei
a língua por toda a extensão do seu pênis e suguei apenas a ponta dele,
esfregando-o na parte interna da minha bochecha. Michael apertou os olhos e eu
o senti estremecer, entrando e saindo por entre meus lábios tão duro quanto o
fragmento de uma rocha. Pela expressão de prazer nos seus olhos e pelos gemidos
cada vez mais altos que saiam da sua boca pude perceber que ele estava
adorando. Forcei o membro para dentro o máximo que pude e Michael começou a
empurrar o quadril rapidamente para frente, fazendo-o deslizar pela língua até próximo
à entrada da garganta.
– Oh merda...
Foder a sua boca é uma delícia – ele gemeu, mordendo o lábio inferior com força
e empurrando-me apressadamente para o seu lugar. - Eu adoraria gozar dentro
dela, mas prefiro que isso aconteça quando eu estiver metendo tudo isso dentro
de você.
-
Estou ansiosa para isso... – sussurrei, enquanto ele se livrava do meu vestido e
dos nossos sapatos, acomodando-se por cima de mim. – Veja como você me deixou –
eu disse para ele, afastando as pernas e passando os dedos pelo tecido
encharcado da pequena calcinha.
Seus
olhos faiscaram de desejo e ele passou a língua por cima do tecido vermelho,
olhando-me firme nos olhos, fazendo a minha excitação triplicar no mesmo
instante. Subiu mais um pouco e passou a boca pela minha barriga, contornando o
umbigo com a língua, desenhando um caminho horizontal até chegar aos meus seios,
onde distribuiu uma sequência de leves mordidas e beijos molhados. Corri as
unhas pelas costas e ele começou a chupar e a sugar os mamilos com força,
fazendo alguns gemidos escaparem pelos meus lábios.
O
meu corpo tensionado sentia que eu poderia alcançar o orgasmo a qualquer
instante, antes mesmo da penetração. As mãos de Michael encontraram a minha
calcinha e ele a retirou, levando dois dedos até a minha intimidade e
esfregando-os em pequenos círculos por cima dos clitóris. Quando percebeu que
eu já estava completamente pronta para recebê-lo, prendeu os meus lábios entre
os dentes e esfregou a cabeça rosada do membro pela minha entrada, forçando-a
até que ela começasse a escorregar para dentro de mim.
-
Maldição... Isso é muito gostoso – gemi quando ele me invadiu, sugando forte o
seu lábio inferior.
-
Você é tão apertada, Tess... – ele rosnou, enfiando o rosto no meu pescoço. – Deixe-me
fodê-la até o fundo... – gemeu e começou a empurrar o quadril para frente,
alcançando-me tão longe quanto poderia.
Tê-lo me preenchendo por completo era uma das
melhores coisas que eu já havia sentido na vida e eu estava quase gozando com
as suas investidas cada vez mais ritmadas. O orgasmo tão próximo era uma
necessidade, uma súplica, um desespero tão grande que chegava a doer. Soltei um
alto grito e me agarrei a Michael com as unhas, descendo-as com força pela sua
pele clara até ver uma gota de sangue escorrer pelas suas costas. Meu corpo
inteiro tremeu e minha intimidade apertou Michael dentro de mim, molhando-se
completamente com os jatos quentes que escapavam deliciosamente pelo seu membro
pulsante.
Aproximei
a boca de Michael da minha e ele me beijou intensamente, retirando-se devagar
de dentro de mim. Tentei regular a minha respiração e apoiei a cabeça em uma
das almofadas do sofá, observando o suor que escorria da testa de Michael.
-
Eu não imaginei que você tinha algo tão grande e tão gostoso no meio das pernas
– eu disse para ele com um pequeno sorriso. Observei as suas costas e limpei
com o polegar o filete de sangue que escorria pela enorme marca vermelha feita
pelas minhas unhas que descia do pescoço até perto do quadril. – Que droga...
Eu te machuquei.
Ele
me beijou e balançou a cabeça negativamente.
-
Não foi nada. Vamos para o quarto, devemos continuar de onde paramos.
Eu
sorri para ele e assenti satisfeita.
-
É um convite muito interessante.
Ele
levantou-se e me puxou para os seus braços, com o membro tão ereto quanto antes
mesmo após o orgasmo.
-
Isso não é um convite, Therese – murmurou com as sobrancelhas arqueadas, enquanto
me apertava forte em seus braços. Sorriu e fez um pequeno gesto com a cabeça
enquanto completava: - É uma ordem.
Capítulo
4
O
espaçoso quarto de Michael era quase todo decorado em preto, cinza e branco.
Ele me beijou quando atravessamos a porta e levou-me em direção à enorme cama,
empurrando-me demoradamente para trás até que as minhas costas repousassem
sobre o colchão. Seus olhos tão negros e tão expressivos estavam fixos em mim,
analisando o meu rosto com atenção, parecendo revirar a minha alma a procura de
algo.
-
Há algo de errado comigo? – questionei para ele, apoiando a cabeça em um dos
travesseiros.
Michael
fez um sinal negativo com a cabeça e levou as mãos aos meus seios, desenhando
círculos pacientemente em volta dos mamilos rosados.
-
Vendo você assim, Therese, nua em cima da minha cama, você parece tão
delicada... Tão indefesa – ele disse calmamente. – Se eu já não a conhecesse o
suficientemente bem, iria achar que você é uma daquelas mulheres frágeis que
adoram filmes de romance e colecionam papel de carta.
Eu
gargalhei.
-
Delicada, eu? – perguntei sem conseguir deixar de rir pela sua interpretação. -
O que te faz pensar assim?
Ele
passou as mãos pela minha barriga, acariciando devagar a pele macia.
-
Você tem uma aparência bastante vulnerável.
– Para ser franca, Michael, eu jamais
enxerguei o lado lírico e romântico da vida. Essas bobagens tediosas não fazem
o meu estilo.
Ele
parecia cada vez mais interessado no rumo da conversa.
-
Tenho que lhe perguntar algo. Mas não ache que é uma curiosidade sem sentido,
apesar de esse assunto fugir completamente do nosso contexto.
-
Okay. Pergunte.
-
Você já se apaixonou por alguém?
-
O que isso tem a ver? – perguntei entrelaçando as nossas pernas.
-
Não sei ao certo. Você demonstra ser tão centrada e metódica. Não deve se
apaixonar com facilidade.
Refleti
por alguns instantes.
-
Essa noção poética de amor e paixão é uma das coisas mais idiotas que já
inventaram – respondi simplesmente. – Só os fracos se apaixonam.
Michael
absorveu minhas palavras e um vinco se formou em sua testa.
-
Você pensa diferente da maioria das mulheres. Esse seu frio ponto de vista quer
dizer que você tem um coração de pedra?
Inclinei-me
para frente e o beijei.
-
Não. Ele quer dizer que talvez eu nem tenha um coração. – Afastei as pernas e
passei os dedos pela parte interna das minhas coxas: - Mas para quê se
preocupar com o meu coração enquanto eu tenho algo muito mais interessante bem
aqui esperando por você?
Ele
mordeu o lábio e inclinou-se na direção do meu corpo.
-
Diga-me como você quer que seja.
Coloquei
os meus cabelos em suas mãos e olhei nos seus olhos.
-
Segure-me por aqui e puxe o mais firme que puder – pedi, passando os lábios
pelo seu pescoço. – Eu quero sentir você me fodendo tão forte quanto acabou de
fazer naquele sofá. Isso, sim, faz o meu estilo.
O
seu membro latejou e ele cheirou os meus cabelos.
-
Eu também desejo isso – murmurou ao meu ouvido. – Vou fodê-la tão duro que
certamente você ficará sem voz por alguns minutos. – Empurrou-me novamente
contra o travesseiro. - Mas não vamos apressar as coisas. Quero conhecê-la de
todas as maneiras possíveis. Talvez isso me ajude a desvendá-la.
-
Eu sou um enigma para você, Michael?
Ele
balançou a cabeça positivamente.
-
É. Mas não se preocupe, baby. Eu logo saberei o que você esconde de mim.
-
Gostaria de ler os meus pensamentos? – perguntei.
-
Eu adoraria.
Passei
os dedos pelo seu queixo.
-
Posso dizer em voz alta para você o que a minha mente erótica está pensando
nesse exato momento.
Ele
sorriu.
-
Sinta-se à vontade.
-
Estou pensando no quanto os seus lábios são apetitosos, bonitos e bem
desenhados.
-
Eles também são bastante habilidosos – ele disse e desceu a boca pela minha
barriga, fazendo todo o meu corpo se arrepiar. Acomodou-se lentamente no o meio
das minhas pernas e esfregou os lábios pelo meu clitóris. Eu estremeci abaixo
do seu corpo e ele sorriu. – Está vendo? Eu mal comecei e você já está de
contorcendo.
-
God... Isso é muito bom... – eu disse
apertando os olhos, mordendo o canto dos lábios. – Vamos, Jackson, continue.
Michael
separou os grandes lábios com os dedos e passou a língua sobre eles, sugando o
clitóris e massageando a minha entrada com a ponta das unhas. Penetrou-me com
três dedos e começou a movê-los pela parede interna da vagina, riscando
círculos completos bem lá no fundo.
Agarrei
a cabeceira, sem conseguir conter os gemidos cada vez mais altos e enfiei as
unhas nos cabelos de Michael quando comecei a atingir o orgasmo. Relaxei um
pouco mais as pernas e enfiei as unhas nos cabelos de Michael, gemendo quase
sem voz o seu nome. Finquei os dentes nos lábio inferior para conseguir sufocar
um grito e meu corpo inteiro começou a vibrar por dentro. Minha intimidade
retesou na boca de Michael e eu levantei a cabeça a procura de ar, com os
cabelos loiros bem mais bagunçados do que o habitual.
-
Você sempre tem que ver sangue quando chega ao orgasmo? – Michael perguntou com
um sorriso divertido nos lábios, saindo do meio das minhas pernas e
inclinando-se sobre mim.
-
Claro que não – respondi mais rápido do que o necessário. – Qual o motivo da
pergunta?
Ele
apontou para a minha boca, colocando-se de joelhos na cama. Passei dois dedos
por cima dos lábios e senti uma leve ardência no local onde eu havia prendido
os dentes.
-
Merda – praguejei, passando o pulso pela boca. – Saiba que a culpa foi toda
sua.
-
Minha? – ele perguntou com um sorriso baixo, virando-me de bruços e puxando-me
para trás até que eu me posicionasse de quatro.
-
Toda sua – repeti, enquanto ele passava o membro duro pelas minhas nádegas. –
Você está me fazendo gozar tão gostoso! Maldição, você é muito bom no que faz.
Michael
abriu um sorriso pervertido e levou os dedos até as minhas pernas, abrindo-as
um pouco mais. Passou as mãos pelos meus ombros e agarrou os meus cabelos com
firmeza, puxando-os para trás até que um alto gemido escapasse da minha
garganta.
-
Gostaria de apanhar um pouco, Therese? – perguntou com a boca no meu ouvido,
passando uma das enormes mãos pela minha bunda.
Apertei
o travesseiro com os dedos e senti o meu clitóris tremer. Definitivamente, eu
odiava ficar tão submissa ao ponto de deixar um homem comandar tanto a
situação. Mas com Michael, estava sendo completamente diferente. Eu estava
adorando tê-lo no controle, por mais que detestasse admitir isso para mim
mesma.
-
Só de você – eu disse quase sem voz, sentindo que ficaria maluca se não
sentisse de uma vez por todas o peso das suas mãos. – Bate, Michael.
Ele
colocou a cabeça do seu membro na minha entrada e me deu uma mordida nas
costas, deixando a marca arredondada dos seus dentes na minha pele. Segurou os
meus cabelos com força e levantou uma das mãos, soltando-a com firmeza enquanto
começava a se empurrar para dentro de mim. Um alto barulho estralado ecoou
pelas paredes do quarto e apertei os olhos, implorando que ele batesse mais
vezes e fosse mais rápido.
O
atrito da mão de Michael contra a minha pele ardia, doía tanto que o meu sangue
parecia vibrar dentro das veias em torno das minhas nádegas. Mas quanto mais
ele batia, mais tesão eu sentia e, consequentemente, mais prazer ele me
proporcionava.
Michael
jogou a cabeça para trás e puxou o ar pelos dentes, empurrando o quadril para
frente enquanto os nossos corpos se chocavam um contra o outro. Gemíamos tanto
e tão alto que provavelmente os vizinhos dos andares de cima e de baixo iriam
conseguir ouvir a nossa voz, a menos que o apartamento tivesse um ótimo
revestimento especial para fazer o bloqueio sonoro. Quando o orgasmo nos
atingiu, intensificamos ainda mais os movimentos e os gemidos tornaram-se ainda
mais altos, enquanto nossos corpos suados e ofegantes desfrutavam daquele
delicioso momento em completa sintonia.
Após
terminarmos, tomei um banho enquanto Michael bebia uma taça de vinho na sala e,
por conta do horário tão avançado, ele não me deixou ir embora. Dormimos juntos
na sua cama, com mãos e pernas imprudentemente entrelaçadas, na primeira vez
que eu me permiti passar uma noite inteira ao lado de um homem.
Capítulo
5
Quando
acordei na manhã seguinte Michael ainda estava dormindo tranquilamente ao meu
lado. Olhei a hora no relógio, saltei da cama com cuidado para não acordá-lo e
segui para o banheiro. Arrumei os cabelos em um desajeitado rabo de cavalo,
lavei o rosto, e na falta da minha escova de dentes acabei usando a de Michael.
Voltei para o quarto e comecei a procurar as minhas roupas, mas logo lembrei
que elas estavam jogadas por algum lugar no chão da sala. Abri o armário de
Michael, retirei de dentro dela uma fina camisa branca de botões e a vesti sem
usar calcinha por baixo. Segui para a cozinha e abri a geladeira à procura de
algo para o café da manhã, afinal de contas, após uma noite tão cheia de sexo
eu estava morrendo de fome.
-
Bom dia, Therese – ouvi a voz de Michael dizer na porta da cozinha alguns
minutos depois. Ele estava muito sexy... Enrolado em um roupão preto, com os
cabelos molhados ondulados na altura dos ombros. – Eu não sabia que você ainda
estava aqui.
-
Estava fazendo omelete – eu disse para ele, apontando para a frigideira recém
saída do fogão. – E eu não iria embora sem antes me despedir de você.
Ele
aproximou-se da mesa e puxou uma cadeira para se sentar.
-
O aroma está muito bom – murmurou quando estiquei um prato para ele.
Analisou-me com atenção e pegou um garfo. – Pelo que vejo, você andou mexendo
nas minhas roupas.
Desci
os olhos até a camisa branca e também me sentei.
-
Eu ainda preciso procurar o meu vestido e não queria ficar circulando nua pela
casa – expliquei. – Espero que você não se importe.
Michael
balançou a cabeça negativamente e deu uma garfada na omelete, levando-a até a
boca.
-
Não há problema. A minha camisa ficou ótima em você.
Abandonei
a omelete no meu prato sem nem tocá-la direito e levantei-me novamente, dando a
volta na mesa e sentando-me com as pernas abertas no colo de Michael, virada
para ele.
-
O melhor de tudo, baby, é que não estou usando nada por baixo dela.
-
Essa é uma ótima forma de começar o dia – ele disse passando as mãos nos meus
seios por baixo da camisa.
Michael
me beijou e abri o seu roupão.
Mordi
o seu lábio e peguei o seu membro já ereto entre as mãos. Posicionei-o na minha
entrada e desci pela sua extensão, levando-o para dentro de mim. Michael
sufocou os meus gemidos com a boca e segurou a minha cintura, guiando-me para
baixo em movimentos de vai e vem. Seus dedos começaram a se mover pelo meu
clitóris e eu relaxei nos seus braços minutos depois, chegando ao orgasmo e trazendo-o
comigo.
-
Tão gostosa – ele disse ao meu ouvido quando regulou a respiração. – É uma pena
que eu tenha que ir para o escritório.
Dei um demorado beijo nos seus lábios e
levantei-me do seu colo.
- Eu também tenho que ir trabalhar. Mas
antes preciso passar em casa para trocar de roupa e pegar as chaves.
- Eu levo você – ofereceu.
Eu
sorri e assenti.
-
Tudo bem. Vou procurar a minha roupa e os meus sapatos – eu disse dando uma
piscadela para ele.
Ele
beijou meus lábios mais uma vez e ajeitou o roupão em torno do corpo.
-
Eu também vou me trocar, volto em um minuto – disse para mim antes de ir em
direção ao quarto.
* * * * *
Apenas
alguns minutos depois eu e Michael já estávamos devidamente vestidos, saindo
juntos do seu apartamento. Demos alguns passos até o elevador e esperamos que a
porta de metal se abrisse.
-
Eu acho que já estou atrasado – Michael disse olhando para o relógio. – Tenho
uma reunião importante, espero que o trânsito colabore.
Quando
a porta do elevador se abriu, uma mulher morena saiu de dentro dele, segurando
algumas sacolas de supermercado. Era alta, bonita e cheia de curvas, aparentando
ter pouco menos de 30 anos. Pensei que Michael iria se apressar em descer, mas,
por algum motivo que não consegui captar de primeira, ele ficou parado exatamente
onde estava.
-
Bom dia, Michael – a mulher disse quando o viu.
Ele
deu um sorriso – um sorriso largo e extremamente amistoso - e fez um aceno com
a cabeça.
-
Bom dia, Melodie – respondeu. – Como está você?
-
Eu estou bem! – murmurou ela com um sorriso nos lábios.
-
Como está indo o trabalho? – Michael perguntou com interesse.
-
Cada dia melhor... – ela disse. – Agradeço muito pela sua ajuda. Se não fosse
por você, talvez o diretor não tivesse me dado uma chance.
-
O mérito é todo seu – Michael murmurou. – Só dei um telefonema... Era o mínimo
que eu poderia fazer.
Pigarreei de leve, sentindo-me perdida no
diálogo, e a mulher olhou para mim, parecendo um pouco desconfortável de
repente.
-
Therese, essa é Melodie Simpson – Michael apresentou quando o silêncio se fez,
como se o nome dela me causasse algum interesse.
-
Senhora ou senhorita Simpson? – perguntei esticando uma das mãos para ela.
-
Senhorita – ela respondeu, e ao apertar a minha mão vi que ali não havia
nenhuma aliança.
“Mais
uma das vacas que o Michael leva para a cama” uma voz cantarolou na minha
cabeça.
-
É um prazer conhecê-la – eu disse mesmo de mau gosto.
-
O prazer é todo meu – a mulher respondeu. – Bom, eu tenho que ir. Daqui a pouco
tenho que estar no hospital.
-
É médica? – perguntei.
-
Não, sou enfermeira.
-
Hum, interessante – eu disse sem conseguir disfarçar o tédio da voz. Olhei para
o relógio. – Você também não está atrasado? – relembrei para Michael.
-
Sim, eu estou – murmurou ele com relutância. – Até mais, Melodie.
A
mulher abriu um sorriso e deu um tchauzinho para nós dois.
-
Até mais.
Desfiz
o sorriso mentiroso dos lábios e revirei os olhos quando ela se virou e começou
a caminhar no corredor em direção a um dos apartamentos. Eu e Michael entramos
no elevador e a porta à nossa frente deslizou até se fechar.
-
Eu não sabia que você tinha um lado tão simpático e cavalheiro.
-
Eu já havia dito que tenho muitas qualidades que você ainda não conhece – ele
respondeu com um sorriso, apertando no painel eletrônico o botão que nos
conduziria até a garagem no subsolo.
-
Não me diga que você também anda comendo a sua vizinha?! – questionei com as
sobrancelhas levantadas. – Sem brincadeira, isso parece um clichê daqueles
filmes pornôs de quinta categoria.
Ele
gargalhou.
-
Não é nada disso – corrigiu. – A Melodie é nova na cidade e está em fase de
adaptação. Só estou tentando ser prestativo com a garota.
-
De onde ela é? – perguntei e a porta do elevador se abriu.
-
Detroit.
-
Nunca transou com ela? – perguntei sem conseguir acreditar, enquanto
caminhávamos até o carro.
-
Eu e ela estamos saindo há algumas semanas, mas não passamos da conversa e de
algumas taças de vinho – murmurou e parecia estar sendo sincero.
Entramos
no BMW preto de vidros escuros e travamos o cinto de segurança.
-
Eu pensei que mulher nenhuma resistisse ao seu incrível charme – rebati. – Pelo
visto essa Melodie está te fazendo de idiota.
Ele
deu a partida e saiu de ré, reposicionando o carro em frente ao portão que
levantou automaticamente para permiti-lo sair.
-
Acredite, com ela é diferente.
-
Diferente... como?
-
Ela me entende perfeitamente bem... Temos uma grande sintonia. Nos tornamos
bons amigos e eu não quero estragar tudo.
Peguei
a bolsa e retirei um espelho de dentro dela.
-
Desde quando sexo estraga alguma coisa?
-
Desde quando há sentimentos envolvidos – ele respondeu.
Arqueei
as sobrancelhas.
-
Você gosta dela pra valer?
-
Não faça perguntas difíceis, Therese – Michael desconversou. – Ahm, eu preciso
do seu endereço.
Olhei-me no espelho e disse para mim mesma que
eu era muito mais bonita e atraente do que a tal de Melodie.
-
Tess, preciso do endereço – ele repetiu, recobrando a minha atenção, mas eu
estava perdida nos meus próprios pensamentos.
-
Você me acha sexy? – perguntei para Michael.
-
Eu estaria cego ou louco se dissesse que não. Você é extremamente sexy e sabe
bem disso – ele respondeu. – Agora posso saber para onde devo levá-la?
-
West Century Boulevard 7467 - eu disse guardando o pequeno espelho de maquiagem
na bolsa outra vez.
-
Segure-se, baby, porque agora eu vou pisar fundo – ele avisou com um risinho
assim que pegamos uma longa avenida.
“Maldição”
pensei comigo mesma. “Os peitos dela são maiores do que os meus e ela tem uma
pele tão bronzeada...” analisei com uma súbita irritação observando a minha
pele pálida. “Melodie. Que nome ridículo!”
-
Michael, eu quero um orgasmo... – eu disse para ele, sentindo uma súbita excitação
tão grande que fazia a minha intimidade doer. Ele me encarou incrédulo e eu
completei: - Agora.
-
Aqui? – perguntou sem parar de acelerar, entrando na contra mão para chegar
mais rápido. – Tess, estamos cruzando a avenida mais importante da cidade.
- Eu preciso – murmurei quase em uma súplica,
colocando uma das pernas no painel do carro. – Você tem que me fazer gozar.
Michael
riu e tirou uma das mãos do volante, ainda em alta velocidade. Enfiou a mão por
baixo do meu vestido e colocou a minha calcinha para o lado, começando a
massagear o meu clitóris.
Joguei
a cabeça para trás e fechei os olhos ao sentir os seus dedos se moverem em mim.
Comecei a gemer alto, pedindo que ele fosse mais rápido. Michael não havia
decidido se ficava com os olhos na estrada ou com os olhos em mim. Pela
expressão pervertida no seu rosto dava pra perceber que ele adorava dar prazer
dessa forma pra uma mulher.
Um
ônibus escolar surgiu à frente do carro e buzinou alto, fazendo Michael
manobrar rapidamente e voltar ao seu lugar na pista. Eu me contorci sobre o
banco e agarrei o seu pulso com uma das mãos, enfiando as unhas sem piedade na
pele dele. A minha intimidade estremeceu e senti uma onda quente se espalhar
rapidamente por todo o meu corpo.
-
Isso... Goza bem gostoso nos meus dedos, baby – Michael incitou com a voz
rouca, sem parar de me masturbar.
Apertei
as pálpebras, sem conter os gemidos, e depois de gozar afrouxei as unhas no seu
pulso. Michael moveu os dedos devagar por mais duas vezes e os retirou do meio
das minhas pernas, enquanto eu voltava a me sentar da forma correta.
-
É um milagre ainda estarmos vivos – Michael comentou rindo. – Por Deus, você só
pode ser louca!
-
Gosta de mulheres loucas? – perguntei para ele.
-
São as minhas preferidas – ele disse para mim e nós dois rimos.
-
Já disseram que os dedos são perfeitos? – comentei. – Você tem uma mão linda e
muito sexy.
Ele
fixou as mãos no volante.
-
Hoje à noite elas estarão apertando você por todos os lugares – ele murmurou. –
A não ser que você não queira, claro.
-
Claro que eu quero! – eu disse.
Michael
sorriu.
-
Eu realmente adorei a noite que passamos juntos. Quero muito tê-la outra vez –
disse, parando o carro em frente ao enorme prédio branco que se destacava por
entre as outras construções da rua.
-
Estarei esperando por você – eu disse para ele. - Apartamento 347, décimo
terceiro andar.
Ele
assentiu me deu um demorado e delicioso beijo na boca.
-
Perfeito. Estarei aqui por volta das nove – avisou, assim que nossos lábios se
separaram.
Capítulo
6
Troquei
de roupa ao chegar em casa e duas horas depois eu estava levando uma bronca do
meu chefe por ter chegado atrasada no escritório. Peguei meia dúzia de pastas
para reavaliar o andamento de um processo e fui para minha sala, mas Michael
simplesmente não saía da minha cabeça, impedindo-me de trabalhar direito. Tirei
o espelho da bolsa e olhei o meu reflexo nele, ajeitando os cabelos loiros e
retocando o batom vermelho. “Estou contando as horas para o nosso próximo
encontro, baby” falei comigo mesma, rindo e recostando-me na cadeira.
______________________________________________
Residência dos Brown, Seattle, 20 anos antes.
A garotinha de olhos claros
estava sentada na grama do jardim, de vestido rodado e passadeira nos cabelos,
sorrindo para o homem bem apessoado que estava sentado ao seu lado. O homem
passou as mãos pela sua perna e começou a distribuir cócegas pelo seu corpo,
fazendo-a cair suavemente de costas na grama, quase engasgando de tanto rir.
- Eu te amo, papai – ela
disse para ele quando parou de sorrir. Jogou-se nos seus braços e pôs a cabeça
no seu colo.
- Eu também te amo, querida
– ele respondeu acariciando os seus cabelos.
A alguns passos dali, uma
mulher alta de traços fortes observava o marido e a filha com absoluta atenção.
Arqueou as sobrancelhas e respirou fundo, saindo dali poucos minutos depois sem
fazer barulho.
______________________________________________
Eu
estava enrolada em uma toalha branca quando ouvi a campanhia do apartamento
tocar por duas vezes seguidas. Conferi o relógio na parede e praguejei comigo
mesma por ter perdido a noção do tempo, irritada por não ter conseguido me arrumar
a tempo de esperar pelo meu visitante. Caminhei até a porta apressadamente e a
abri, dando de cara com Michael do lado de fora. Ele me olhou de cima a baixo e
não disfarçou a satisfação em me ver sem roupa.
-
Boa noite, Jackson – eu disse com um sorriso, segurando a toalha para mantê-la
fixa ao corpo. – Você está um gato – murmurei ao descer os olhos pela sua
roupa; composta por calça preta, camisa branca com gola em V, jaqueta escura e
chapéu fedora.
Ele
riu e me deu um beijo nos lábios.
-
Você já começou a tirar a roupa sem mim? – perguntou com bom humor.
-
Eu acabei de chegar do escritório – expliquei, abrindo espaço para que ele
pudesse entrar. – Fiquei presa no trânsito e foi um inferno. Eu não queria que você
me encontrasse nesse estado – lamentei.
-
Qual a importância das roupas? – ele perguntou passando os dedos pela minha
nuca. - Iremos tirá-las de qualquer jeito!
Abri
um sorriso e estendeu para mim uma garrafa de whisky.
- Eu pensei em trazer flores... Mas acho que
uma boa bebida combina muito mais com você.
-
Muito melhor assim – murmurei, rindo e pegando a garrafa. - Eu não preparei
nada para nós, mas podemos pedir algo pelo telefone se você estiver com fome.
Conheço um restaurante japonês onde a comida é estupenda. Tenho certeza de que
você iria adorá-la.
-
Não é necessário – recusou. – Eu não estou muito a fim de comer.
-
Hm... Tem certeza? – perguntei dando uma leve mordida no lábio.
Gargalhamos
quando ele captou a malícia presente na minha pergunta.
-
O que você tem a me oferecer, Therese, é muito mais apetitoso do que comida
japonesa, tenha absoluta certeza.
Eu
ri para ele e dei outro beijo nos seus lábios.
-
Vou para o banho, okay? – eu disse pegando um controle remoto ao lado do abajur
e colocando em suas mãos. - Ligue a TV e se distraia, baby, volto em alguns
minutos.
Ele
assentiu e sentou-se no sofá, começando a surfar pelos canais a procura de algo
interessante, enquanto eu seguia na direção do banheiro.
Depois
do banho, fui para o quarto e vesti uma lingerie de renda preta com
transparências que Michael certamente iria adorar. Enfiei-me em um vestido de
tecido fino, soltei os cabelos, passei delineador nos olhos e batom escuro nos
lábios antes de voltar para sala.
-
Voltei – anunciei, aproximando-me do sofá com dois copos de whisky nas mãos.
Dei um dos copos para Michael e bebi um gole do outro, sentando-me ao seu lado
no sofá. Um filme em preto e branco que não consegui identificar passava em
algum canal da TV à nossa frente.
-
Vi a enorme coleção de filmes que você tem ali – ele disse apontando para a
estante bem organizada. – Todos são clássicos do terror e do suspense. Impressionante!
-
Tenho um encantamento especial pelos filmes de Stephen King e Alfred Hitchcock
– confessei. – Sempre saio pela cidade a procura de raridades para aumentar a
coleção.
-
Por que você gosta tanto desse tipo de filme? – Michael perguntou com
curiosidade.
-
Porque me divirto muito com a expressão que os personagens fazem quando são
assassinados – respondi com sinceridade. – É engraçado vê-los correndo e
entrando em desespero, tentando escapar do inevitável. É como um labirinto.
Quanto mais eles fogem, maiores são as chances de serem pegos.
-
Você tem um gosto muito peculiar, Therese – Michael comentou bebendo o whisky.
- Eu prefiro as comédias. Amo os filmes de Charlie Chaplin.
-
God... Ele era retardado!
-
Ele era um verdadeiro gênio! – Michael defendeu.
-
Meu pai era um grande fã daquele demente – relembrei. – Até se encontrou com um
dos filhos dele certa vez.
-
Sério?! – ele perguntou com entusiasmo.
-
Sério! Ele exibia a foto que tiraram juntos como um troféu. Gostaria de vê-la?
Talvez você consiga me explicar o que torna aquela porcaria tão interessante.
Michael
balançou a cabeça positivamente e me levantei, puxando-o pelas mãos e
guiando-me até o meu quarto. Bati a porta quando entramos e agachei-me diante
do criado-mudo, revirando um amontoado de papéis dentro de uma das gavetas até
encontrar a fotografia em que dois homens altos sorriam para a câmera.
-
Veja que coisa mais ridícula – eu disse rindo, esticando a foto para Michael.
Michael
pegou a fotografia, a analisou calmamente, e levantou os olhos até fitar o meu
rosto novamente.
-
Espera aí... Eu o conheço – ele murmurou com surpresa.
-
Acho que o nome dele é Christopher – murmurei sem dar muita importância. – Ele
é um dos filhos mais novos de Charlie.
Michael
balançou a cabeça negativamente.
-
Falo do outro homem... - corrigiu-me. – Oh Deus, Therese! – murmurou como se estivesse
feito a maior descoberta do século – Esse é cara aqui é Donald Brown, certo? Não
me diga que você é filha do senhor Brown?!
Minhas
sobrancelhas se arquearam automaticamente.
-
Sou... – eu disse cautelosamente. – Vocês e o meu pai se conheciam?
-
Trabalhei para o senhor Brown em Seattle há anos atrás, logo após sair da
faculdade – disse olhando a foto novamente. - Eu era jovem, estava no início da
carreira, e mesmo assim ele acreditou na minha competência e me deixou
responsável por importantes contratos da empresa que ele dirigia – Michael
relembrou. – Depois que vim para Los Angeles fiquei sabendo por terceiros que
ele e a esposa haviam morrido em um incêndio no chalé onde passavam as férias,
deixando uma filha adolescente. Foi uma perda lamentável.
-
Eu era a filha em questão. Que
coincidência! Quase dez anos já se passaram desde a tragédia – lembrei, ficando
distante de repente.
-
Eu sinto muito – consolou-me.
-
Tudo bem – eu disse, pegando a foto das suas mãos e guardando-a novamente. –
Não sou a primeira órfã do mundo e provavelmente não serei a última. – Sorri. –
Podemos mudar de assunto?
Michael
assentiu e aproximou-se um pouco mais, colocando as mãos em torno do meu
quadril.
-
Sobre o que você quer falar, baby? – perguntou, passando os lábios pelas minhas
bochechas.
Segurei-o
pela gola da camisa e chupei lentamente o seu pescoço.
-
Não quero falar, Michael, eu quero fazer – respondi afastando as lembranças,
empurrando-o para cima da minha cama.
Capítulo
7
Michael abriu um sorriso satisfeito e
repousou a cabeça no meu travesseiro, enquanto eu começava a desabotoar a sua
camisa. Tirei os sapatos, as meias, a calça e o deixei apenas com a boxer
vermelha que cobria o seu membro já excitado. Distribui uma sequência de beijos
nos seu peitoral e sentei-me em cima dele, esfregando a minha intimidade no seu
membro ainda por cima da roupa. Ele mordeu o lábio e soltou um longo suspiro
enquanto tentava se livrar do meu vestido, apertando os meus seios e descendo
as mãos pelas minhas costas.
- Hoje o domínio é meu, Jackson – eu
disse ao seu ouvido, inclinando-me sobre ele e enfiando uma das mãos na
primeira gaveta da mesa de cabeceira próxima à cama para tirar duas algemas de
metal de dentro dela.
Dei um longo beijo nos lábios de
Michael e, quando ele deu por si, eu já estava prendendo os seus pulsos na
cabeceira da cama.
- Quanta provocação, Therese – ele
murmurou com um meio sorriso nos lábios, enquanto eu terminava de imobilizá-lo.
O seu membro pulsava sob a cueca, implorando para ser libertado logo dali.
Passei os dedos lentamente sobre o tecido da boxer e Michael se contorceu
devagar. – Tire-o para fora, baby – pediu, apertando as unhas contra as
próprias mãos.
-
E acabar com o melhor da festa? – perguntei com um sorriso divertido,
esfregando a ponta dos dedos pela sua virilha. – Ainda é cedo demais para satisfazer
as suas vontades. Sou eu quem manda aqui dessa vez.
Saltei
da cama e o contemplei deitado diante de mim, quase completamente nu, entregue
a qualquer coisa que eu resolvesse fazer naquele momento. Engatinhei até voltar
para cima dele outra vez e chupei o seu lábio inferior, esticando uma das mãos
para pegar outro objeto dentro da gaveta.
-
Vamos brincar um pouquinho? – perguntei baixinho para ele, puxando da gaveta
uma arma prata de metal e apontando-a para ele. Michael me observou e, mesmo
tentando se manter impassível diante da minha ação, vi o susto e a surpresa atravessarem
o seu rosto. - Qual o motivo do espanto? – perguntei sem conseguir segurar o
riso. – Nunca viu uma arma na vida?
Michael
desceu os olhos até o cano da arma e levantou uma das sobrancelhas.
-
As consequências dessa brincadeira podem ser desastrosas – ele disse para mim.
– Guarde essa porcaria novamente antes que um de nós acabe se machucando de
verdade.
-
Não seja tão rude com a minha amiga – defendi, passando o metal gelado pela
pele do seu pescoço. – O nome dela é Pluma e ela não é uma porcaria.
-
Espero que ela esteja devidamente registrada, ou você poderá ser presa por
porte ilegal de arma de fogo – ele sibilou.
Eu
gargalhei.
-
Foda-se as leis! As regras são feitas para serem quebradas, não concorda?
-
Eu me surpreendo ao ouvir uma advogada falando dessa forma.
Beijei
os seus lábios e tentei acalmá-lo.
-
Não leve tudo tão à sério. A Pluma só quer um pouco de diversão.
-
Que tipo de pessoa coloca um nome em uma arma? – ele questionou.
-
As criativas – devolvi. Deslizei o cano da arma pelo seu rosto e a repousei na
sua cabeça, bem no meio da sua testa. O sorriso no meu rosto se desfez e fitei
Michael com firmeza. – Não sente nem um pouco de medo?
Ele
me olhou com indiferença.
-
Não. Eu sei que você não atiraria em mim.
Apertei
a arma um pouco mais forte contra a sua testa.
-
Diga que você tem medo.
-
Eu não tenho medo, Therese – reafirmou sem me levar à sério.
Respirei
fundo e destravei a arma, voltando a empurrá-la contra a sua cabeça. Olhei no
fundo dos seus olhos e levantei as sobrancelhas.
-
Nunca me subestime, baby – murmurei com a voz firme, deslizando o dedo
indicador pela arma até puxar o gatilho.
Capítulo 8
A
arma fez um clique oco e eu gargalhei alto. Michael soltou um longo suspiro e
eu voltei a beijá-lo, colocando a arma em cima da mesa de cabeceira.
-
A Pluma está descarregada, okay? – eu disse para ele.
-
Você é louca, Therese – ele murmurou para mim. Puxou as mãos algemadas e fez um
sinal de cabeça para que eu o libertasse. – Solte-me.
Assenti
devagar e peguei a chave que destravava as algemas.
-
Tudo bem, mas eu ainda não terminei com você – eu disse, soltando-o e
arranhando de leve o seu tórax.
Michael
mordeu o próprio lábio e eu deslizei a boca pelo seu peitoral, fazendo todo o
seu corpo se arrepiar. Ele ainda parecia estar assustado, mas o seu membro
continuava rígido sob o tecido da cueca, pedindo em silêncio que eu o
libertasse dali de dentro. Retirei a boxer, sem parar de beijá-lo e Michael
desceu a minha calcinha, pondo as mãos no meu quadril e guiando-me na direção
do seu pênis ereto. Joguei a cabeça para trás e permiti que ele deslizasse para
dentro de mim, enquanto Michael começava a me puxar cada vez mais rápido contra
o seu corpo.
O
único som que poderia ser ouvido no quarto era o dos nossos altos gemidos e dos
nossos corpos se fundindo em apenas um. Quando chegamos juntos ao orgasmo
Michael apertou as mãos ainda mais forte no meu quadril e inclinou-se até
encontrar os meus lábios, dando uma mordida tão forte no meu lábio inferior que
por pouco foi ele quem arrancou sangue de mim daquela vez.
Quando
o seu membro parou de pulsar dentro de mim eu sorri para ele e deitei-me ao seu
lado, beijando os seus lábios com calma para que a nossa respiração pudesse
voltar ao normal. Michael apoiou a cabeça no travesseiro e pareceu pensativo e
distante por alguns minutos.
-
Eu vou desligar a TV e apagar as luzes da sala – eu disse para ele, dando um suave
beijo nos seus lábios e saltando da cama.
Ele
permaneceu em silêncio, apenas me observando. Fui até a sala e procurei o
controle da TV no sofá. Na tela, um casal apaixonado se beijava em um filme que
não consegui identificar. Revirei os olhos e a desliguei, apertando o
interruptor da luz em seguida e voltando para o quarto. Quando cruzei a porta,
vi Michael sentado na cama com a minha arma nas mãos.
-
Descarregada? – ele perguntou para mim, gesticulando para o tambor de metal que
ele havia aberto.
Havia
uma bala encaixada entre cinco espaços vazios.
-
Quase descarregada – eu me corrigi.
Os
punhos dele se cerraram.
-
Que merda você pensou que estava fazendo, Therese?! – bradou. - Poderia ter
estourado a porra dos meus miolos nessa cama!
-
Que drama desnecessário – retruquei. – Cabem 6 balas aí, mas só tinha umazinha!
As chances de você receber um tiro eram mínimas.
Ele
me encarou com incredulidade e começou a se vestir.
-
Prefiro nem pensar no que poderia ter acontecido – ele murmurou com raiva. –
Você é uma maluca, deveria se tratar!
Continuei
tão calma quanto antes.
-
Não quer dormir aqui? – perguntei.
Ele
terminou de calçar os sapatos e abotoar a camisa.
-
Nem sei se quero olhar para a sua cara outra vez – ele respondeu, saindo
furioso pela porta do quarto.
______________________________________________
Residência dos Brown, Seattle, 14 anos antes.
Os gritos que vinham do
quarto ao lado eram altos e perturbadores. A garota loira na cama apertava as
mãos com força sobre as orelhas para tentar trazer o silêncio, mas mesmo assim
conseguia ouvir a voz alterada da sua mãe:
- Eu não sou cega, Donald!
Sei muito bem do que estou falando!
- Cale essa boca, Angeline!
Você não sabe de nada!
Ouviu mais alguns gritos e
depois o silêncio absoluto reinou no ambiente. Tentou dormir, mas o sono havia
se dispersado por completo. Provavelmente a mãe havia se entupido de remédios e
conseguido dormir após a discussão. Minutos depois ouviu a porta do seu quarto
abrir lentamente e alguns passos se aproximaram da cama. Fingiu que dormia
enquanto mãos masculinas começavam a abraçá-la.
- Ah querida... – o homem
sussurrou enquanto passava as mãos pelos seus braços.
Pouco
depois a sua camisola deslizou até a cintura, deixando seus seios à mostra.
Quando
ele saiu do quarto, os olhos da garota estavam cheios de lágrimas. “Você ainda
irá pagar muito caro por isso, papai” pensou consigo mesma, secando os olhos
com força.
______________________________________________
Capítulo 9
Não
entendi por qual motivo Michael saiu do meu apartamento tão irritado. Sério,
não havia motivo para tanto drama. Havia mesmo chances de ele ter recebido um
tiro, mas isso não aconteceu! Ele estava tão inteiro quanto antes, portanto,
por que ficou tão transtornado com uma simples brincadeira?
Na
manhã seguinte eu estava no escritório pensando em Michael quando o meu chefe
entrou na minha sala com uma pasta preta repleta de papéis nas mãos. Respirei
fundo e recobrei a atenção quando vi o senhor de cabelos levemente grisalhos atirar
a pasta em cima da mesa.
-
Trouxe mais um presentinho para você, Therese – ele disse.
Peguei
a pasta e comecei a folhear os papéis.
-
Devo fazer uma reavaliação desse processo?
Ele
assentiu.
-
O caso estava arquivado, mas foi reaberto. Estude-o minuciosamente e encontre
as falhas para que possamos montar uma boa defesa para um cliente importante.
Corri
os olhos pela primeira folha e vi pesava contra um sujeito porto-riquenho uma
acusação sobre importação ilegal de bebidas.
-
Verei o que posso fazer.
-
O cliente quer dois advogados cuidando disso – ele acrescentou. – Escolha alguém
para auxiliá-la. A situação do cara está complicada e duas cabeças pensam
melhor do que apenas uma.
-
O senhor tem alguém em mente?
-
Pensei no Manson – ele murmurou.
O
cara em questão era Shad Manson, o maior idiota daquele escritório de advocacia.
-
Se não se importar, eu gostaria de indicar outra pessoa.
-
Faça o que julgar mais conveniente, Therese – ele respondeu. – Você tem colegas
muito competentes aqui, faça a sua escolha.
Ele
virou-se na direção da porta e antes que ele saísse, eu o chamei:
-
Senhor Harold?
Ele
virou-se novamente para mim, com a mão na maçaneta.
-
Sim?
-
O meu parceiro poderia ser um advogado que não trabalha nesse escritório?
Ele
balançou a cabeça negativamente.
-
Claro que não! Isso diminuiria os nossos lucros e não seria nem um pouco
inteligente.
-
Posso tirar do meu próprio bolso para pagar os honorários dele – propus. - O
que o cliente pagar para o segundo advogado ficará para o escritório. O senhor
irá ficar com a parte inteira da grana, e não apenas com uma porcentagem.
-
Por qual razão você faria essa maluquice? – questionou com dúvida.
Cruzei
as pernas e fechei a pasta.
-
Porque eu quero Michael Jackson nesse caso.
Suas
sobrancelhas se levantaram
-
Sei quem ele é. É um filho da mãe muito esperto. E muito caro, por sinal. Já
ouvi dizer que ele não abre mão de trabalhar sozinho. Por qual razão ele
aceitaria cuidar desse caso com você?
-
Porque eu o conheço bem e ele não me negaria isso – respondi. – Tenho muito a
aprender com ele. Ele é muito experiente.
O
meu chefe balançou a cabeça positivamente e deu de ombros.
-
Faça como achar melhor, Therese. Eu só não quero sair perdendo - ponderou. -
Por isso, é bom que você saiba de verdade o que está fazendo – aconselhou com a
expressão fechada, antes de abrir a porta e sair da sala.
* * * * *
No fim do dia saí mais cedo do trabalho e
segui para o escritório de Michael. Agora eu tinha a desculpa perfeita para me
encontrar com ele após o seu surto dramático da noite anterior.
Minutos
após ter sido anunciada pela sua secretária eu fui autorizada a entrar na sala
onde nos vimos pela primeira vez.
-
O que faz aqui, Therese? – Michael perguntou quando parei diante da sua mesa.
-
Ainda está irritado comigo? – foi a primeira coisa que perguntei.
-
Você quase me matou – ele relembrou. - Como quer que eu esteja?
Sentei-me
em uma poltrona diante dele e cruzei as pernas.
-
Vamos esquecer aquele pequeno incidente, está bem? Eu estou aqui porque tenho
uma proposta para lhe fazer.
Ele
arqueou as sobrancelhas.
-
Qual proposta? Enfiar uma bala na minha cabeça?
Revirei
os olhos.
-
Até quando você vai me encher o saco por conta disso? Eu já disse que foi
apenas uma droga de uma brincadeira!
Ele
inclinou-se sobre a mesa e juntou as mãos.
-
Economize as explicações e diga logo o que veio fazer aqui – apressou-me,
fitando-me com firmeza.
-
Eu gostaria de ter a sua ajuda na reavaliação de um processo – comecei a dizer.
- Você é mais experiente do que eu e preciso de um parceiro nesse caso. Logo
pensei em você.
-
Sinto muito, mas eu não trabalho em parcerias – ele respondeu.
-
Eu seria uma parceira excepcional – sussurrei para ele.
-
Não estou interessado. Prefiro ficar longe de você.
-
Tem certeza? – perguntei, levantando-me e dando a volta na mesa até me sentar
no seu colo. Passei as unhas pela sua nuca e senti seu corpo se arrepiar. –
Esqueça o que aconteceu ontem. Não irá se repetir, eu prometo.
-
Eu vou ser bem remunerado? – ele perguntou com um tom nitidamente malicioso.
-
Vai – afirmei, descendo as mãos pela sua gravata. – Tanto financeiramente... –
Mordi o seu lábio inferior e passei uma das mãos pelo seu membro por cima da
calça: – Quanto sexualmente.
Ele
fitou os meus lábios tão próximos aos seus e me deu um demorado beijo. Olhou
para cima quando nossos lábios se separaram e voltou a me encarar, naquela
expressão de quem odeia dar o braço a torcer.
-
Está bem – ele disse por fim. – Vamos marcar uma reunião para que você possa me
explicar sobre o andamento do caso.
Eu
sorri e beijei de leve o seu pescoço.
-
Prometo que vou explicar tudinho pra você... – eu disse, começando a desabotoar
a sua camisa. – Mas vamos deixar isso para depois. Agora, temos assuntos muito
mais urgentes tratar – murmurei enquanto fitava os seus olhos, desfazendo o nó
da sua gravata.
Capítulo 10
Michael apertou as
mãos na minha cintura e levantou-se rapidamente, colocando-me sentada em cima
da sua mesa. Alguns papéis e canetas caíram no chão e eu sorri para ele,
puxando o seu rosto para perto do meu até que nossos lábios se encontrassem.
- A
sua secretária não vai entrar aqui? – perguntei para ele enquanto ele descia as
alças da minha blusa e passava os lábios pelo meu ombro, mordiscando a pele até
deixá-la levemente avermelhada.
- A
Emilly não entra aqui sem se anunciar – ele respondeu, enquanto os meus dedos
apressados desciam o seu zíper e abriam o botão da sua calça.
Mordi
o lábio ao tirar o seu membro de dentro da boxer cinza e o olhei nos olhos
antes de me inclinar para frente e passar a língua por todo ele, lubrificando-o
com a saliva antes de tê-lo dentro de mim.
Michael
enfiou as mãos por baixo da minha saia e colocou a calcinha para o lado,
segurando uma das minhas pernas enquanto começava a esfregar o seu pênis
molhado em mim.
Apoiei
os cotovelos na mesa e prendi o canto da boca entre os dentes quando senti o
seu membro deslizar para dentro de mim. Puxei a gravata bagunçada de Michael
até que o seu tronco repousasse sobre mim e o beijei intensamente, enquanto ele
não parava de mover o quadril para frente e para trás. Pouco tempo depois senti
o orgasmo se aproximar e me deixei levar por ele, trazendo Michael junto
comigo. Ele me deu uma sequência de beijos no pescoço e levantou-me novamente,
colocando-me sentada e retirando-se de dentro de mim.
- A
propósito, eu não perguntei quem nós iremos nos defender – ele disse, enquanto
eu o ajudava a refazer o nó da gravata.
- Um
porto-riquenho que anda encrencado com o comércio ilegal de bebidas – respondi,
terminando de fazer o nó.
- O
seu chefe permitiu que você colocasse um advogado de outro escritório no caso?
– perguntou, ajeitando a minha saia. - Por que ele foi tão burro?
-
Ele é bem liberal – respondi, sem dizer que eu iria pagar caro por aquilo. –
Ele só quer que o caso seja logo solucionado e eu disse que você era a pessoa certa
para cuidar disso comigo.
- Eu
quero que você leve todos os papéis para o meu apartamento hoje à noite. Vamos
analisar linha por linha e descobrir algo que possa ser usado ao nosso favor.
Saltei
da mesa e o celular de Michael tocou.
- Só
um minuto, Therese – ele disse antes de atender o aparelho.
-
Fique à vontade – respondi.
-
Sim? Melodie... – disse abrindo um pequeno sorriso. Minhas sobrancelhas se
arquearam e comecei a tamborilar os dedos pela mesa. Fez uma breve pausa. – Oh,
claro. Essa noite? Será um prazer. Vejo você mais tarde. Outro beijo. Até mais.
-
Problemas? – perguntei com curiosidade.
-
Não. A Melodie pediu uma ajuda com a mobília do novo apartamento. Disse que
precisa de uma opinião masculina antes de fechar o negócio.
-
Desde quando você é decorador? – perguntei secamente.
- Eu
já disse para você que eu e ela somos amigos. Ela acabou de receber o
mostruário e não me custa nada ajudar.
-
Esta noite? Você se esqueceu de que temos outros planos para mais tarde?
- A
nossa reunião terá que ficar para amanhã – ele disse tranquilamente. – Teremos
tempo, Therese. Não precisamos ter tanta pressa.
-
Precisamos de agilidade na merda do processo! – retruquei.
-
Teremos que discutir sobre isso. Você acabou de jogar essa responsabilidade em
cima de mim e está se esquecendo de que eu tenho outras coisas a fazer, outros
assuntos a tratar, outros clientes para atender. Eu não poderei ficar à sua
disposição 24 horas por dia. Entenda isso ou essa parceria irá terminar antes
mesmo de começar.
Revirei
os olhos, jogando mil pragas na maldita Melodie, e tentei me controlar.
- Eu
sei disso – murmurei com a voz mais calma.
-
Estarei esperando por você no meu apartamento amanhã à noite.
Fui
na direção da porta, visivelmente irritada, e o fitei com firmeza antes de me
retirar.
-
Mantenha essa Melodie longe enquanto trabalhamos – murmurei para ele antes de
cruzar a porta. – Eu odeio ser colocada em segundo plano, Michael. Odeio de
verdade!
Capítulo 11
Relevei
a falta de consideração de Michael comigo e, na noite seguinte, agi como se não
tivesse dado a mínima para a sua atitude. Ele havia trocado a minha companhia
pela companhia de outra mulher! Eu estava acostumada a ser o centro das
atenções e odiava ser jogada para escanteio.
Mas,
mesmo detestando isso, fui jogada para escanteio por mais uma dúzia de vezes
durante os dias seguintes. Eu e Michael estávamos nos dando bem enquanto
trabalhávamos juntos. Montamos uma boa estratégia de defesa para o nosso
cliente, transamos mais do que trabalhamos no caso, ele sempre estava no meu
apartamento ou eu estava no dele. Mesmo assim, com tudo indo tão bem, ele
sempre estava falando na Melodie, pensando na Melodie e se encontrando com a
Melodie. Qualquer um conseguia enxergar que aqueles dois estavam apaixonados e
isso me deixava tão irritada que eu seria capaz de mandá-los ir de mãos dadas
para o inferno.
O
que ela tinha a mais do que eu? Ela não era mais bonita, não era mais atraente,
não era mais sexy, muito pelo contrário, era sem graça e boazinha demais! O que
o Michael viu nela?! Por que não se apaixonou por mim? Por que continuava a me
tratar como apenas mais uma das que iam pra sua cama?
A
Melodie era o maldito empecilho. Se ela não estivesse no meu caminho, Michael
teria até mesmo me pedido em namoro naquelas cinco semanas.
Mas
em breve aquilo estaria resolvido. “Eu vou afastá-la dele” afirmei para mim
mesma. “Vou afastá-la do meu homem.
Custe o que custar.”
* * * * *
Eu e
Michael tínhamos uma festa para ir. Um grande evento havia sido marcado para
comemorar as bodas de prata de um importante advogado da cidade, um colega de
profissão que eu e Michael tínhamos em comum, e nós dois havíamos sido
convidados.
Qual
seria a coisa mais óbvia, justa e sensata do mundo? Que nós dois fôssemos
juntos para a droga da festa. Eu seria a sua acompanhante durante a noite e
todos nós ficaríamos satisfeitos.
Mas
Michael disse que nós não poderíamos ir juntos. Convidou a idiota da Melodie
para ser a sua acompanhante. Eu fingi que não me importava, enquanto por dentro
eu me corroia de raiva pela sua atitude tão ridícula e tão egoísta.
Shad
Manson me convidou para ser a sua acompanhante na festa. Trabalhávamos juntos
no escritório e ele havia passado os últimos dois anos tentando, sem sucesso,
me levar para a cama. Ele não era o tipo de cara que me atraía. Era alto, tinha
cabelos loiros e olhos azuis, e era dono de um ar folgado que me dava nos
nervos. Não era como Michael – nem chegava aos pés dele. Eu detestava a sua companhia,
mas como eu não queria acabar indo para a festa sozinha, coloquei o meu maior
sorriso no rosto e aceitei acompanhá-lo.
Na
noite da festa eu estava deslumbrante. Meu vestido vermelho escuro era longo e
tinha uma pequena fenda lateral, além de deixar as costas nuas. Coloquei um
colar e um par de brincos de pérolas que herdei da minha mãe e caprichei no
salto alto e na maquiagem. Guardei a Pluma na minha carteira de mão preta –
apenas por precaução – e prendi os cabelos em uma bem feita trança embutida.
Quando
cheguei com Shad ao salão de festas da luxuosa residência, avistei Michael e
Melodie conversando com um grupo de juízes e advogados. Respirei fundo e tentei
manter o foco enquanto caminhávamos até eles.
Michael
estava lindo, definitivamente. Vestia um terno preto de corte reto e perfeito,
camisa branca e gravata vermelha por baixo. Melodie também estava muito bonita
vestindo um longo vestido azulado, com os cabelos negros presos em um alto
coque. Ela e Michael faziam um belo casal, devo admitir. Mas não tão belo
quanto eu e ele juntos.
-
Therese... – o meu chefe disse quando nos aproximamos do pequeno grupo do qual
Michael e Melodie também faziam parte. – Você está maravilhosa!
- Eu
sei, senhor Harold – murmurei quando ele beijou o dorso da minha mão.
-
Bom trabalho, Manson – ele disse com um risinho dando um tapinha no ombro de
Shad. – Parece que você finalmente conseguiu o que queria.
Shad
deu um risinho e também o cumprimentou.
-
Tudo bem, Michael? – eu perguntei despreocupadamente quando coloquei os olhos
em cima dele.
-
Tudo ótimo, senhorita Brown – Michael respondeu com um sorrisinho, porque já
havia notado que eu não gostava de ser chamada daquela forma. – Você e a
Melodie já se conhecem, certo? – perguntou gesticulando para a sua
acompanhante.
Eu a
encarei de mal gosto.
-
Claro que sim. Ela sempre está entre
nós, não é mesmo?
Shad
pigarreou e entrelaçou as mãos dele nas minhas.
-
Você e a Tess ainda estão trabalhando juntos? – Shad perguntou para Michael.
- Só
quando a Melodie deixa – apressei-me em responder. – É impressionante como ela
sempre está precisando do Michael. É o tipo de mulher que não sabe andar com as
próprias pernas.
Melodie
levantou as sobrancelhas e seu semblante tornou-se sério.
- O
que disse?
-
Que o Michael é bem prestativo com você – murmurei. – O que seria da sua vida
sem ele, querida? Ele sempre faz tudo para te ajudar.
Todos
me encararam e permaneceram em silêncio.
-
Senhorita Brown, todos aqui estão percebendo o quanto você está exaltada – Michael
murmurou, tentando disfarçar o sorriso cínico. – Há algo de errado? Talvez você
esteja precisando de uma boa dose de whisky para relaxar um pouco.
- Eu
estou ótima, Jackson – afirmei com um sorriso tranquilo. – Não preciso de
absolutamente nada.
-
Therese é uma mulher de fases – comentou o meu chefe sorrindo. – Trabalha para
mim há mais de dois anos e eu nunca consegui entendê-la.
–
Deve ser bipolar – Michael acrescentou.
- Ou
louca – ouvi Melodie sussurrar baixinho ao ouvido de Michael.
-
Vão começar a discutir sobre a minha vida como se não estivessem na minha
presença?! – interrompi.
-
Mantenha a calma, baby. Você está estressada demais – Michael disse.
-
Por algum acaso o Manson não está dando conta do recado? – o senhor Harold
perguntou diminuindo a voz.
Revirei
os olhos e Shad o fuzilou com o olhar, sem rir da sua piada sem graça.
- Eu
e a Tess continuamos a ser apenas amigos – ele respondeu. – Por enquanto.
-
Vamos dançar, Shad? – convidei, nervosa e irritada demais para continuar ali.
Shad
assentiu e enlaçou os braços na minha cintura.
-
Até mais, pessoal – ele disse, arrastando-me para a pista de dança enquanto eu
o seguia sem tirar os olhos de Michael.
Capítulo 12
Eu e
Shad dançamos por algum tempo, mas eu não parava de observar cada passo de
Michael. Em um certo momento Melodie disse algo ao seu ouvido e levantou-se,
começando a caminhar na direção contrária à porta de entrada. Eu a segui com o
olhar e balancei o braço de Shad.
- Vá
pegar algo para que nós possamos beber – eu disse, mas a minha voz estava sendo
abafada pela música.
-
Hã? – Shad gritou.
-
Be-bi-da – eu disse para ele.
-
Qual?
-
Whisky! – falei. - Sem gelo!
Ele
assentiu e pediu que eu o esperasse no mesmo lugar, sumindo no meio das pessoas
que dançavam ao nosso lado.
Comecei
a abrir caminho pela pista de dança até seguir na mesma direção que Melodie
havia ido. Ela atravessou a porta do toalete e olhei para todos os lados antes
de também me colocar para dentro.
Tive
a enorme sorte de encontrá-la sozinha retocando a maquiagem no enorme espelho
que tomava quase toda a parede. Fechei a porta a aproximei-me dela, parando a
alguns centímetros de distância das suas costas. Quando ela terminou de guardar
o rimel na carteira de mão e voltou a se olhar no espelho, viu o meu reflexo
observando-a atentamente.
Ela
estremeceu e deixou o batom escorregar para dentro da pia. Virou-se na minha
direção rapidamente, mas se esforçou para parecer calma, por mais que eu
soubesse muito bem que ela estava morrendo de medo de mim.
- Eu
te assustei? – perguntei com um sorriso no canto dos lábios.
- Eu
não gosto de você – ela murmurou.
A
afirmação patética dela me fez gargalhar.
-
Você acha que eu me importo com isso?!
-
Não consigo entender porque o Michael ainda não mandou você sumir de vez da
vida dele – ela disse com firmeza. – Você sabe que é só mais uma das tantas e
tantas que ele leva pra cama, não sabe? Você não faz diferença pra ele. Ele não
se importa nem um pouco com você.
Enfiei
as unhas nas minhas próprias mãos e a fitei com olhos furiosos.
-
Você é uma vadia idiota que está atrapalhando os meus planos, Melodie.
-
Você já deve ter percebido que o Michael está tão apaixonado por mim quanto eu
estou por ele – ela teve a coragem de dizer. – Não há nada que você possa
fazer. Desista dele, Therese. Com você é apenas sexo, por enquanto. Daqui a
algum tempo, nem isso ele vai mais querer de você.
Dei
um passo para frente e coloquei uma das minhas mãos no seu pescoço, apertando
as minhas unhas contra a sua pele. Ela tentou se soltar, mas eu a havia pego
desprevenida, o que me deixou no completo controle. Puxei a Pluma de dentro da
minha carteira de mão e os olhos de Melodie se arregalaram quando encostei o
cano de metal na sua coxa, subindo pelo meio das suas pernas até repousá-lo no
meio dos seus seios.
-
Repita o que disse – incitei, apertando forte o cano da arma contra ela.
Ela
tentou nivelar a respiração e eu a empurrei ainda mais firme contra a pia.
-
Tira essa droga de cima de mim ou começarei a gritar – ela murmurou.
-
Grita – aconselhei. – Posso te dar um tiro tão certeiro que você não terá tempo
nem de fechar os olhos antes de morrer, sua cadela maldita.
- E
você acha que isso faria o Michael gostar de você?
-
Ele já gosta de mim! – explodi com raiva. – Cala essa boca, você só fala
besteira!
-
Por que ele não quis você como acompanhante esta noite? – ela perguntou.
-
Porque você não o deixa em paz! – bradei.
-
Porque ele gosta de ficar comigo – Melodie retrucou. – Quer você queira ou não,
ele adora a minha companhia.
Enfiei
as unhas ainda mais forte no seu pescoço e a empurrei para trás.
-
Você irá ficar bem longe do Michael, está me ouvindo?
Melodie
puxou o ar com força, completamente sem voz, e eu a pressionei ainda mais.
-
Você não sabe nada sobre mim – acrescentei. – Não sabe do que sou capaz. Irá se
arrepender se continuar a me afrontar. Talvez eu seja boazinha e meta uma bala
na sua cabeça. Talvez eu seja má e resolva fazer algo muito pior com você. –
Inclinei-me sobre ela e passei o cano da arma pelo seu rosto. - Seria péssimo
se a polícia precisasse reconhecer o seu corpo pela arcada dentária, concorda?
Afrouxei
a mão do seu pescoço lentamente e afastei-me dela, pegando a carteira de mão e
guardando a Pluma novamente. Encarei Melodie por uma última vez e me retirei do
banheiro a passos firmes, deixando-a tossindo e se contorcendo a procura de um
pouco de ar.
Voltei
para a festa com a expressão mais natural do mundo e pouco depois Shad
aproximou-se novamente de mim.
-
Caramba, onde você se meteu?! – ele perguntou. – Eu fiquei feito um idiota na
pista de dança esperando por você!
-
Você ficou feito um idiota porque é um
idiota – respondi para ele, sem parar de caminhar.
-
Para onde você está indo? – quis saber.
-
Para casa – eu disse. – Essa maldita festa já deu!
-
Ainda é muito cedo – argumentou. – E eu pensei que você iria para o meu
apartamento depois que saíssemos daqui...
- Vá
procurar uma demente que queira, por algum sério desequilíbrio mental, dar pra
você – murmurei. – Se enxerga, Shad! E saia da minha frente, droga! – bradei,
apressando o passo até deixá-lo para trás.
Capítulo 13
No
fim da tarde seguinte eu estava me sentindo muito leve quando entrei
cantarolando no carro e joguei uma pasta de papéis no banco do carona,
preparando-me para ir até o apartamento de Michael.
Enquanto
dirigia pela cidade, eu sentia que algo estava prestes a mudar entre Michael e
eu. Podia até mesmo sua voz perguntando: “Therese, você quer namorar comigo?”
Eu nunca dei a mínima para relacionamentos... Mas com ele eu desejava até mesmo
constituir uma família. Seria uma gracinha ter um par de filhinhos que
parecessem com ele ou comigo. Contanto que eu não precisasse amamentar nem
ficar com aquela ridícula cara de idiota que a maioria das mulheres ficam
depois que se tornam mães.
Quando
entrei no prédio de Michael, pedi mil vezes mentalmente para não encontrar
Melodie nos corredores quando eu chegasse ao andar do seu apartamento. Eu iria
odiar vê-la novamente. O meu consolo era saber que depois da prensa da noite
anterior ela já era uma carta fora do baralho. “Posso apostar que ela ainda
está morrendo de medo da Pluma” pensei comigo mesma, sem deixar de gargalhar ao
lembrar dos seus olhos assustados pedindo socorro em silêncio. “Agora ela sabe
bem com quem está lidando.”
- Olá, Michael! – eu disse com empolgação assim que ele atendeu a
porta.
- Olá, Therese – ele respondeu abrindo espaço para que eu pudesse
entrar. – Melhorou o mau humor de ontem?
- Eu estava de ótimo humor – menti para ele. – O Shad arrancou
sorrisos de mim a noite inteira! Não só sorrisos, como também gemidos e
suspiros dos mais altos.
- Não queira que eu acredite que você e aquele seu acompanhante
passaram a noite inteira juntos – Michael retrucou fechando a porta, e notei um
tom de ciúmes no seu tom de voz. - Ele não faz o seu tipo.
- E qual é o meu tipo, Jackson? – perguntei com as sobrancelhas
arqueadas.
Michael enlaçou uma das mãos na minha cintura e me puxou forte
contra o seu corpo, pressionando-me contra ele. Soltei um longo suspiro e olhei
no fundo dos seus olhos, tentando reordenar os pensamentos embaralhados.
- Homens que te pegam forte e te deixam assim, sem saber o que
dizer – ele murmurou, soltando-me novamente. Sorriu. – Eu sou perfeito para você, Tess, e aquele tal de Shad Manson está
em um nível muito abaixo do meu.
- Convencido! – murmurei mordendo o lábio, sem deixar de concordar
com o que ele dissera. Joguei a pasta de papéis para ele e sentei-me no sofá. –
Ainda temos mais trabalho a fazer.
Michael analisou algumas folhas e sentou-me diante de mim.
- Antes de começarmos, eu preciso conversar com você. É um assunto
sério.
- Vai perguntar qual é a cor da minha calcinha? – perguntei
sorrindo, sabendo que o seu assunto “sério” antes do trabalho era sempre tirar
a minha roupa e me jogar na sua cama.
- Não tem nada a ver com isso – apressou-se em dizer. – Mas agora
você acabou me deixando curioso, baby – completou, fitando-me com uma expressão
travessa. – Mostre-me.
Afastei os joelhos lentamente e vi seus olhos fixarem-se no meio
das minhas pernas abertas por entre a saia vincada que eu vestia.
- Hm... Roxa – ele
constatou voltando a olhar nos meus olhos. – Acho que essa calcinha ficaria
muito melhor jogada aqui no tapete, Tess.
Sorri para ele e desci a calcinha pelas pernas, repousando-a no
chão. Vi o volume que se formara abaixo da calça de Michael e tirei as
sandálias, esticando os pés até alcançá-lo na poltrona diante de mim e
começando a massagear as suas coxas com os dedos.
- Vem aqui, vem... – chamei em um sussurro e ele levantou-se,
empurrando-me deitada contra as almofadas do sofá. Desabotoei rapidamente a sua
calça e tirei o seu membro de dentro de uma boxer avermelhada, beijando Michael
enquanto ele já se preparava para entrar em mim.
Os movimentos tornaram-se gradativamente mais intensos e eu logo
cheguei ao orgasmo, contorcendo-me abaixo dele e suspirando o seu nome. Michael
investiu contra mim mais algumas vezes e também se rendeu ao clímax, apertando
forte a minha cintura e beijando os meus lábios com ainda mais voracidade.
Fiz uma pequena marca no
seu pescoço e sorri para ele quando a nossa respiração começou a voltar ao
normal. Ele saiu de cima de mim e eu peguei a calcinha do chão, voltando a
vesti-la tranquilamente.
- Qual era o assunto de antes? – perguntei para ele, recostando a
cabeça no sofá.
Ele terminou de fechar o zíper e olhou para mim.
- Tem a ver com a Melodie.
Revirei os olhos e soltei um suspiro de tédio.
- Oh droga. Sempre tem a ver com a Melodie – reclamei.
- Tess... O que você fez com ela ontem à noite? – ele perguntou,
olhando nos meus olhos.
- Como disse? – perguntei levantando a cabeça.
- O que você fez com ela? – repetiu.
- O que eu poderia ter feito? – perguntei com a voz calma. - Eu
nem vi a garota direito.
Ele juntou as mãos e levantou as sobrancelhas.
- Ela estava muito perturbada quando me chamou para ir embora –
começou a dizer. - Quando perguntei o que havia acontecido, ela soltou o seu
nome na rápida explicação e depois não quis mais falar sobre o assunto. Sei que
ela está me escondendo algo e tenho certeza de que você está metida nessa
história.
- Não faço a mínima ideia do que você está falando – murmurei,
esforçando-me a manter a neutralidade. - Eu ajudaria se pudesse. Juro! Não sei
o que pode haver com aquela retardada.
Michael suspirou e não mediu muito as palavras para dizer para
mim:
- Tess, estou apaixonado pela Melodie.
Mantive as mãos juntas para disfarçar o leve tremor que senti ao
ouvir sua frase e balancei a cabeça negativamente.
- Isso não me interessa nem um pouco – devolvi com firmeza.
– Eu vou pedi-la em namoro – ele revelou. - E quando isso
acontecer, terei que cortar todo o tipo envolvimento sexual que eu e você temos
um com o outro.
Engoli a minha raiva crescente e cerrei os punhos enquanto as
minhas veias pareciam endurecer por baixo da pele.
- Espera aí, Michael. Você está me dando a porra de um fora? – foi
a única coisa que consegui perguntar.
- Não exatamente – ele defendeu-se. – Não somos namorados, Therese,
e eu nem lhe devo satisfações da minha vida. Estamos tendo essa conversa porque
gosto de você e não me sentiria bem se você me visse por aí sem mais nem menos
aos beijos com outra mulher.
- Como eu fico nessa maldita história? – perguntei sem conseguir
manter a voz nivelada. – Você vai mesmo ter a coragem de me trocar por aquela
enfermeirinha idiota e sem graça?
- Não fale assim – ele defendeu.
- Diga-me, o que você viu nela?! – questionei, tremendo de ódio. -
Eu aposto que ela nem sabe como satisfazer um homem na cama! Ela não é mulher
pra você, Michael!
-
Pare com essas observações ridículas, Therese – Michael me censurou.
Levantei-me
e, mesmo tentando manter o controle, a minha respiração estava bem mais alta do
que o habitual. Eu sabia que ela não ia aceitar o pedido. Eu acabaria com ela
se ela resolvesse aceitar ser a namorada dele. O que me irritava muito era
saber que Michael estava mesmo tão disposto a ficar com ela.
-
Você tem mais alguma coisa para me dizer? – perguntei para ele.
-
Por hora, não – murmurou com firmeza. - Eu já lhe disse o que desejava.
-
Permite que eu lhe dê um sensato conselho?
Ele
cruzou os braços.
-
Fique à vontade.
-
Pedir a Melodie em namoro será um grande erro – eu disse devagar, pegando a
minha bolsa. - Espero que você pense duas vezes antes de tomar uma decisão tão patética
e tão fadada ao fracasso – completei em tom de ameaça, saindo dali e deixando-o
sozinho no meio da sala.
* * * * *
“Merda!”
praguejei comigo mesma entrando no carro e retirando-o na garagem do prédio.
Minhas mãos seguravam o volante com tanta força que ele teria sido arrancado
dali se não fosse preso tão fixamente. “Merda, merda!” repeti enfiando o pé no
acelerador e saindo cantando os pneus no asfalto. Merda! Eu não significava
nada para Michael? Por que maldição ele não disse que queria a mim como sua
namorada? Eu não era boa o suficiente para ele? O que ele tinha enxergado naquela
morena retardada e sem atrativos?
Eu
estava com tanta raiva que seria capaz de esganar Melodie até fazê-la morrer
asfixiada. Lembrei das minhas unhas apertando o seu pescoço na noite anterior e
me amaldiçoei por não ter enfiado o cano da Pluma na boca dela e apertado o
gatilho sem dó nem piedade.
Ela
merecia. Merecia coisa pior. Ela era a grande responsável por Michael não
querer comigo nada além de sexo.
O
sol já havia se posto e a noite estava horrível. Nuvens nubladas pairavam pelo
céu e logo pingos de chuva começaram a bater contra o carro. Ativei o
pára-brisas e o vi desembaçar o vidro frontal, jogando a água para lá e para cá
no seu movimento sistemático, permitindo que eu tivesse uma melhor visibilidade
da estrada.
O
percurso até a minha casa estava se mostrando relativamente calmo e tranquilo.
A maioria das pessoas estava fazendo o possível para fugir da chuva e quase não
havia pedestres no caminho, exceto por alguns que apareciam em baixo dos seus
guarda-chuvas sinalizando à procura de um taxi. Mesmo com pressa de chegar em
casa, reduzi a velocidade por precaução e entrei em uma rua cercada por
frondosas árvores dos dois lados. Em dias de chuva, um pequeno deslize ali
poderia ser fatal e eu não estava nem um pouco a fim de causar um acidente.
...Hum... Ou estava?
Levantei
as sobrancelhas e uma ideia repentina passou pela minha cabeça. Um pequeno
sorriso surgiu nos meus lábios e eu comecei a dirigir o carro ainda mais
devagar enquanto refletia comigo mesma.
Bem,
estava na hora de colocar as cartas na mesa e analisar alguns pontos
importantes.
Por que diabos Michael estava sempre perto
da Melodie?
Porque
ela sempre estava precisando da sua ajuda, por mais banal que a assistência
dele pudesse ser.
Se
eu precisasse da sua ajuda, era de mim que ele iria cuidar. E se, por
ventura, em um inesperado infortúnio, eu ficasse impossibilitada fisicamente,
ele iria dedicar sua absoluta atenção para mim.
Era
isso! Eu precisava ter um bom motivo para que ele ficasse por perto. Além do
mais, se algo acontecesse comigo, naquele momento, ele iria se culpar porque
havia me deixado sair do seu apartamento bem mais alterada que o habitual. Ele
cuidaria de mim, ficaria preocupado... Faria de mim uma prioridade e colocaria
a Melodie em segundo plano.
Parei
o carro no meio da rua e abaixei o vidro da janela ao meu lado. A chuva estava
ainda mais forte do a que minutos atrás e todas as casas da rua estavam de
portas e janelas fechadas.
Abri
a porta e desci do carro, sentindo a chuva fria bater contra mim e começar a
molhar os meus cabelos e a minha roupa. Olhei para a esquina, fiz alguns
cálculos mentalmente e voltei para dentro. Evitei colocar o cinto de segurança
e alinhei as costas com o banco. Respirei fundo e rodei a chave na ignição,
dando a ré e criando uma longa distância até a primeira árvore da fileira.
Apertei o volante entre as mãos, certa do que
deveria fazer, e olhei fixamente para frente. Eu não deveria ir muito rápido ou
acabaria causando um sério acidente e me machucando pra valer. Mas se, por
outro lado, eu fosse muito devagar não conseguiria nada além de alguns
arranhões na lataria do carro.
“Você
vale esse risco, baby” murmurei pensando em Michael, antes de trocar a marcha e
pisar fundo no acelerador. Eu não estava com medo e não estava dando a mínima
para a possibilidade de sair machucada. Eu só conseguia pensar em Michael
correndo desesperado para o hospital, pedindo notícias aos médicos, implorando
para me ver.
Os
pneus deslizaram rápido pelo asfalto, fazendo um enorme barulho, e acelerei,
girando o volante com tudo e jogando o carro para o acostamento. Ouvi o barulho
ensurdecedor do carro batendo contra o tronco da árvore e um galho dela
desprendeu-se com o choque, caindo em cima do teto bruscamente, fazendo a parte
superior afundar e os vidros se estraçalharem.
Meu
corpo foi jogado para frente com o impulso e minha cabeça bateu com força
contra o volante. Senti o sangue quente escorrer pela minha testa e meu braço
ficou tão dolorido que eu quase não conseguia movê-lo. “Bom trabalho, garota”
parabenizei a mim mesma, grogue e com um intenso incômodo na cabeça.
Eu
sabia que não iria demorar até que os vizinhos percebessem o ocorrido e
chamassem o socorro. Tateei o chão à procura da bolsa que havia caído e, com
muita dificuldade, puxei o celular de dentro dela.
Apertei
um único botão com as mãos trêmulas e encaminhei uma ligação para Michael.
Estava na hora de colocar em prática a parte mais importante do plano, a
atitude que seria a cereja do bolo.
O
celular chamou duas longas vezes e caiu na caixa postal. Ouvi o barulho de uma
sirene se aproximando e fiz a terceira tentativa, amaldiçoando Michael por
ainda não ter me atendido.
- Michael... – eu disse em um suspiro quando
ele atendeu.
-
Therese – ele murmurou do outro lado da linha. Fiquei em silêncio e esperei que
ele percebesse pela minha voz afetada que algo havia acontecido.
-
Michael, eu preciso de ajuda – murmurei com um fio de voz, enquanto abria um sorriso
satisfeito e deixava o celular manchado de sangue escorregar pelas minhas mãos
até cair no chão do carro.
Capítulo 14
Permaneci
imóvel dentro do carro arrebentado até que o barulho da sirene tornou-se mais
intenso e um burburinho formou-se do lado de fora. Minha testa pulsava, sem
parar de escorrer sangue, e logo percebi que a pancada na cabeça havia me
deixado, tonta, grogue e desnorteada.
Alguém
abriu a porta cautelosamente e conferiu os meus sinais vitais. Vi em um borrão
algumas pessoas aglomeradas ao meu redor, mãos imobilizando o meu pescoço,
braços me repousando em cima de uma maca debaixo da chuva, e depois de ter sido
empurrada para o fundo de um carro com duas mulheres de branco, fechei os olhos
e apaguei de vez.
* * * * *
Quando
voltei a abrir os olhos, pude identificar o barulho irritante e contínuo de um
aparelho que vinha do lado da cama onde eu estava deitada. As paredes eram
pintadas de azul claro, o ar exalava um cheiro insuportável de remédio e uma
agulha enfiada no meu braço levava uma substância incolor para dentro da minha
corrente sanguínea. Nem precisei raciocinar para saber que aquele ambiente
monótono era um quarto de hospital.
Ouvi
alguns passos se aproximando rapidamente e a figura de Michael surgiu ao meu
lado na cama, abrindo um sorriso de nítido alívio.
-
Você acordou! – suspirou, tocando minha bochecha com delicadeza.
-
Quanto tempo eu dormi? – perguntei confusa, sem conseguir me situar.
-
Umas 15 horas – ele respondeu; e pelas olheiras profundas, pude notar que ele
ficara todo aquele tempo comigo. – Está sentindo alguma dor?
-
A minha testa não para de pulsar e minhas costelas parecem ter vida própria –
eu disse com a voz embolada, sem conseguir formular bem as respostas. – Merda,
a minha voz está horrenda – reclamei sem firmeza.
-
Isso não é nada comparado ao que poderia ter acontecido – Michael retrucou. –
Você se lembra do acidente?
-
Não muito bem.
-
Você perdeu a direção do carro por conta da chuva e bateu em uma árvore –
explicou. – Lembra-se de ter ligado para mim?
-
Disso eu me recordo. – Ele repousou uma das mãos em cima da minha e entrelacei
nossos dedos com dificuldade. – Eu pensei que iria morrer, Michael. Escutar a
sua voz era tudo o que eu queria naquele momento. Pensei que seria o último da
minha vida.
-
Você me deixa comovido, Tess – ele disse com a voz suave. – Os médicos disseram
que logo você ficará boa outra vez.
Ouvi
o barulho de uma porta sendo aberta e um homem baixinho de jaleco branco sorriu
para nós.
Capítulo 15
Meus
dois dias no hospital foram bem melhores do que eu imaginava. Michael ficou ao
meu lado a maior parte do tempo e era muito bom vê-lo preocupado comigo,
cuidando de mim, querendo que eu recebesse logo alta e fosse pra sua casa. Eu
estava me sentindo novamente o centro das atenções e isso me fazia muito bem.
Mesmo
com a minha paciência esgotada, Michael acabou falando sobre Melodie durante o
tempo que fiquei internada. Comentou que ela trabalhava naquele hospital e que,
por algum motivo desconhecido, ela estava o evitando pelos corredores.
Perguntou-me novamente sobre o que havia acontecido na noite da festa, mas eu
voltei a dizer que não sabia de nada. Eu sabia que aquela covarde ficara com
medo das minhas ameaças e que não oferecia mais nenhum risco a Michael ou a
mim. Aquela concorrente já havia sido abatida. Ou pelo menos foi isso o que
pensei naquele momento.
Os
dias na casa de Michael, para minha surpresa e irritação, acabaram se mostrando
mais tediosos do que o planejado. Ele me via como uma doente que precisava de
cuidados. Apenas isso. Ele não queria mais nem transar comigo.
A
rotina resumia-se a Michael me dar remédios, me ajudar com o curativo da testa,
ficar na cama comigo jogando conversa fora... Tudo, menos sexo. Ele
dizia que eu estava fraca e que o médico recomendara repouso absoluto. Eu já
estava me sentindo ótima fisicamente, mas ele não parava de me evitar.
Diante
da sua repetida recusa ao longo dos dias, passei a questionar com cada vez mais
frustração: de que adiantara eu jogar o carro contra a porra da árvore? Acabei
adquirindo de Michael uma atenção que era o oposto daquela que eu desejava. Ele
estava me fazendo sentir como uma irmã mais nova dele.
E,
com o passar dos dias, aquela situação infernal já estava começando de verdade a
me dar nos nervos.
* * * * *
Michael
chegou do escritório e apareceu na porta do quarto de hóspedes para me ver. Uma
semana já havia se passado desde a minha alta do hospital e eu estava deitada
ouvindo música, contando as horas para que ele voltasse logo para casa.
Arranquei os fones do ouvido assim que o vi e me recostei na cabeceira,
chamando-o para se sentar ao meu lado. Eu odiava ficar longe dele. Aquele
apartamento era um tédio completo quando ele não estava por perto.
-
Como foi no trabalho? – perguntei juntando as mãos.
-
Bem – respondeu. – Tomou o seu remédio?
Franzi
os lábios.
-
Esqueci.
Ele
me lançou um olhar de reprovação e levantou-se para pegar os comprimidos, mas
eu o segurei pela perna, fazendo-o se sentar novamente.
-
Eu não quero me dopar de novo – murmurei. – Sério, eu não preciso dessa merda
de remédio. Eu não estou mais dolorida.
-
O médico mandou, Tess – ele argumentou. – Não seja tão teimosa.
-
Eu conheço um remédio muito mais eficaz – eu disse com malícia, passando os
dedos pela suas coxas. – Você sabia que o corpo produz endorfina durante o
orgasmo? Eu posso ficar ótima, baby. Só depende de você.
Ele
se esquivou do meu toque.
-
Não, Therese – censurou-me.
-
Por que não?! – reclamei.
-
Serei sincero. – Suspirou. - Eu não consigo tirar a Melodie da cabeça. Não quero
transar com você pensando em outra mulher.
Cerrei
os punhos e o fuzilei com o olhar.
-
Não me quer por conta dela? É por isso que está se esquivando de mim?!
Ele
suspirou e passou os dedos pelo meu queixo.
-
Eu gosto de você, Tess. Podemos ser amigos. Não dificulte tanto as coisas, okay?
Ajoelhei-me
na cama e coloquei as mãos na sua nuca. Aproximei nossos lábios lentamente, na
tentativa desesperada de que ele permitisse que os instintos masculinos
falassem mais alto.
-
Não sente mais tesão quando faço assim? – sussurrei, passando as unhas pelas
suas costas por baixo da camisa.
-
Therese...
–
Vamos Michael, a quem você acha que está enganando com esse papo de bom moço?
Eu sei muito bem que você me deseja.
Ele
apertou as mãos na minha cintura e eu abri um pequeno sorriso ao sentir seu
toque. Por um breve momento eu pensei que havia conseguido o que queria. Mas
quando eu já estava me preparando para ser empurrada contra o colchão, ele me
afastou e olhou no fundo dos meus olhos.
-
Não.
Uma
onda de raiva percorreu o meu corpo e eu dei um soco no travesseiro.
-
Você é um filho da mãe idiota! – bradei. – Eu odeio ser ignorada! Odeio ser
tratada dessa forma!
Michael
pareceu surpreso com minha explosão de fúria repentina.
-
É tão difícil entender que eu não te quero mais, Therese? – ele teve a ousadia
de perguntar.
Fitei
os seus olhos e o agarrei pelo colarinho da camisa de botões.
-
É melhor você me beijar! – murmurei com firmeza. – É melhor você me jogar nessa
cama e me foder de uma vez, Michael, ou eu vou acabar com você da mesma forma
que acabei com o idiota do meu pai!
Vi
o choque atravessar o rosto de Michael e ele levantou as sobrancelhas. Ficou em
silêncio por alguns minutos, parecendo tentar captar o verdadeiro sentido das
minhas palavras, e depois perguntou:
-
Therese... Por Deus. Sobre o que você está falando?
Engoli
em seco e me arrependi por ter me exaltado tanto.
-
Esquece. Não tem mais importância.
Ele
me fitou nos olhos e pareceu de muito esforço para conseguir pronunciar a
frase:
-
Você tem alguma coisa a ver com a morte dos seus pais?
Virei
o rosto para a janela e apertei os olhos.
-
Eu não quero falar sobre isso.
-
Conte-me – ele insistiu, abraçando-me por trás. Era um pouco tarde para ele
demonstrar afeto, mas gostei de sentir o seu toque. – Eu sei que algo a
perturba. Conte-me a verdade e talvez eu possa ajudá-la.
-
Você não entenderia, Michael. Ninguém entenderia.
-
Desde a primeira vez que a vi, eu tive a certeza de que você precisava se
libertar de algo – ele sussurrou. - Não vou julgá-la, muito menos condená-la,
Therese. Conte-me o que aconteceu.
Pensei
por alguns segundos e voltei a fitá-lo nos olhos.
-
Você promete que irá continuar a gostar de mim mesmo depois que souber? Promete
que irá tentar me amar da forma que eu mereço?
-
Prometo... – ele disse, com menos firmeza do que eu gostaria.
Puxei
o ar devagar e me preparei para contar a ele tudo o que havia acontecido.
Coisas da infância e da adolescência que me perturbavam tanto. E que, de alguma
forma, haviam sido responsáveis por eu ter me tornado a mulher que eu me
tornei.
Capítulo 16
-
Você sabe que meus pais morreram em um incêndio – eu disse para ele.
Ele
assentiu e continuou a me ouvir com o máximo de atenção.
-
Eu poderia tê-los salvo, Michael – revelei com a voz baixa. – Eu poderia ter
tirado o meu pai e a minha mãe daquela casa em chamas.
Ele
segurou as minhas mãos e passou os dedos pelo meu queixo, obrigando-me a
olhá-lo nos olhos.
-
Explique-me isso, Therese – pediu. – Está me dizendo que poderia ter impedido a
morte deles?
Balancei
a cabeça positivamente e suspirei, disposta a dividir com ele o segredo que
guardei comigo por tanto tempo.
-
Eu tinha acabado de completar 17 anos e estávamos passando as férias em um
chalé nas montanhas – comecei a contar. – Um dia antes de voltarmos pra Seattle,
fui para uma festa na vila com algumas amigas e quando voltei, tarde da noite,
percebi logo da estrada que algo errado estava acontecendo.
“Eu
me lembro perfeitamente bem do susto que tomei quando vi a fumaça e as chamas
que vinham da casa. Parei o carro, corri até o jardim e de lá vi os meus pais
tentando arrebentar a janela do quarto, encurralados pelas chamas que começaram
no andar de baixo e já haviam chegado ao andar de cima, onde eles estavam
dormindo.
Assim
que eles me viram, começaram a fazer sinais para que eu pegasse uma escada no
estábulo e os ajudasse a sair dali. Minha mãe tinha problemas respiratórios e
aparentemente já havia inalado bastante fumaça. Meu pai tentava socorrê-la, mas
eles não tinham para onde ir. Provavelmente o corredor já estava tomado pelo
fogo e eles não conseguiam abrir a única janela.
Eu
poderia ter tentado colocar uma escada e arrebentado o vidro. Poderia ter
ligado pros bombeiros, chamado a polícia ou a guarda florestal.
Mas
não fiz nada.
Eu
fiquei lá, parada, assistindo o desespero deles, esperando que o fogo tomasse
todo o quarto de uma vez. Senti prazer em vê-los agonizando com a morte tão
próxima. Queria ver aqueles dois malditos ardendo no fogo da mesma forma que
devem estar ardendo no inferno nesse exato momento.”
Michael
olhou para mim quando parei de falar, aparentemente horrorizado comigo, e uma
interrogação construiu-se na sua expressão perplexa.
-
Por que tanto ódio? – ele perguntou sem entender. – Diga-me. Por que você não
os ajudou?
Residência dos Brown, Seattle, 14 anos antes.
Os
gritos que vinham do quarto ao lado eram altos e perturbadores. A garota loira
na cama apertava as mãos com força sobre as orelhas para tentar trazer o
silêncio, mas mesmo assim conseguia ouvir a voz alterada da sua mãe:
- Eu
não sou cega, Donald! Sei muito bem do que estou falando!
- Cale
essa boca, Angeline! Você não sabe de nada!
- Não
estou ficando louca – gritou. – Aquela menina não é normal. Por Deus! Reparo a
forma que ela te olha desde que era criança. Sempre esteve causando brigas e
intrigas entre nós, você nunca percebeu?
- Ela é
nossa filha! – bradou. – Que espécie de mãe atribui algo tão absurdo à própria
filha?
- Deus
sabe o quanto eu rezei para estar enganada. Como você acha que eu me sinto com
tudo isso, Donald? Isso só pode ser obra do demônio. Precisamos internar essa
garota o quanto antes!
- Não
vamos internar ninguém – ele retrucou. – Se alguém aqui precisa de internação,
essa pessoa é você. Esse assunto está encerrado, ouviu? Não quero ouvir mais
nem uma palavra sobre essa loucura.
A
garota em seu quarto levantou as sobrancelhas e o silêncio absoluto reinou no
ambiente. Tentou dormir, mas o sono havia se dispersado por completo.
Provavelmente a mãe havia se entupido de remédios e conseguido dormir após a
discussão. Minutos depois ouviu a porta do seu quarto abrir lentamente e alguns
passos se aproximaram da cama. Fingiu que dormia enquanto mãos masculinas
começavam a abraçá-la.
-
Papai? – ela perguntou abrindo os olhos.
- Ah
querida... – o homem sussurrou enquanto passava as mãos pelos seus braços. – Eu
te amo tanto!
- Eu
sei – ela murmurou. Olhou para ele. – O senhor estava chorando?
- A sua
mãe, querida. Ela só pode estar ficando louca.
- O que
a mamãe fez? – Abaixou os olhos. - Eu sei que ela não gosta de mim.
-
Gosta, claro que gosta – apressou-se em responder. – Nós te amamos!
- Posso
saber o que ela disse?
Ele
hesitou e ficou em silêncio.
- Eu
não sei o que o senhor ainda está fazendo casado com ela – Therese criou
coragem para dizer. – Ela está sempre brigando com o senhor, pai. Ela não te
ama. Não te ama como eu te amo.
- Não
fale assim – censurou. – A Angeline só está confusa agora. Eu e ela nos amamos.
- Eu
sou muito mais bonita do que ela – a garota sussurrou. – O senhor não acha?
- Você
é linda, Tess – Donald confirmou inocentemente.
A
garota sorriu e sentou-se na cama, aproximando o rosto ao rosto do pai até que
seus lábios se tocassem devagar. Donald levantou-se da cama em um salto e
encarou a filha, perplexo.
-
Therese!
- O
senhor sempre me ignora – ela reclamou. – Os garotos no colégio brigam para ter
a minha simples companhia, mas o senhor só tem olhos para a mamãe. O senhor a
beija na boca enquanto só me beija no rosto. Como pensa que me sinto?
- Você
tem ideia dos absurdos que está dizendo?! – questionou, o rosto retorcido em
uma máscara de completa incredulidade.
- Por
que o senhor não deseja a mim? – ela perguntou com raiva. – Por que me trata
como uma criança? Eu não sou mais criança. Estou me tornando uma mulher agora –
disse e desceu a alça da camisola, permitindo que o tecido deslizasse até a
cintura, deixando seus seios à mostra.
-
Vista-se! – exigiu ainda perplexo pelo choque. – Eu e sua mãe teremos uma séria
conversa, Therese! É bom que comece a arrumar as suas malas, pois iremos
levá-la para um internato amanhã mesmo!
Quando
ele saiu do quarto a passos firmes, os olhos da garota estavam cheios de
lágrimas. “Você ainda irá pagar muito caro por isso, papai” pensou consigo
mesma, secando os olhos com força.
-
Eu era apaixonada pelo Donald – murmurei. – Eu o amava tanto, Michael! E ele
nunca teve olhos para mim.
-
Apaixonada... pelo seu próprio pai? – ele perguntou sem conseguir acreditar.
-
Eu era linda... Sempre fui! Eu chamava a atenção de todos os caras desde a
adolescência. Mas meu pai... Meu pai nunca me notou da forma que eu gostaria.
Só o que eu queria era ser amada e desejada por ele da mesma forma que eu o
amava e desejava. – Fechei os olhos e suspirei. – Por conta disso, ele e minha
mãe me deixaram em um maldito internato dos 13 aos 16 anos. Acharam que eu
sofria de sérios distúrbios psiquiátricos.
-
E depois disso? – Michael questionou.
-
Depois eles acharam que já estava na minha hora de voltar para casa -
expliquei. - Nas férias seguintes... Fomos para o chalé e por conta de um curto
circuito no térreo o incêndio aconteceu. – Fitei Michael e minhas sobrancelhas
se arquearam. - Diga-me: se eu não era boa o suficiente para atrair meu pai,
por que diabos eu seria boa o suficiente para salvá-lo da morte?
Michael soltou a minha mão e afastou-se de
mim. Percebi que seus olhos estavam marejados.
-
O senhor Brown e a esposa não mereciam isso, Therese – ele murmurou. – Ele foi
como um segundo pai para mim quando saí da faculdade. Ele era um sujeito tão
bom... Tão honesto!
-
Chega de drama, Michael! Ele não merece a piedade de ninguém – retruquei com a
voz firme. – E já estou ficando farta de dizer para você não me ignorar. Você
não gostaria de terminar como ele, gostaria?
Michael
secou os olhos.
-
Therese... Você tem noção da gravidade de tudo que acaba de me dizer?
Revirei
os olhos e me recostei na cabeceira da cama.
-
O que sei é que meus pais estão mortos há mais de dez anos e você não deveria
se sentir tão mal pelo que aconteceu.
Cada um tem o final que merece, Michael. Agora podemos esquecer esse
maldito assunto?
Ele
ficou em silêncio por alguns minutos e depois se reaproximou de mim novamente.
-
Tudo bem – murmurou. – Agora você vai tomar o seu remédio.
-
Eu não quero – recusei. – Essa porcaria me faz dormir.
Sem
se importar com a minha recusa, ele pegou o comprimido de uma cartela intacta
na gaveta, saiu do quarto e voltou segundos depois com um copo de água em mãos.
-
Você precisa ficar boa de uma vez – murmurou com a voz desconcertada. – Eu me
preocupo com você, está ouvindo? Eu me preocupo com você.
-
Eu já estou boa – eu disse.
-
Não seja tão teimosa – reclamou, colocando o comprimido na minha boca com súbita
delicadeza. – Tome o remédio, é para o seu bem.
Soltei
um suspiro e peguei o copo de água das suas mãos, revirando os olhos e odiando
estar sendo tão contrariada.
Capítulo 17
Tirei
o comprimido da boca discretamente e o coloquei em baixo do travesseiro,
deitando-me na cama e puxando o braço de Michael até que ele me abraçasse e se
acomodasse ao meu lado. O silêncio tomou conta do ambiente e pouco tempo depois
minhas pálpebras começaram a bater devagar até que meus olhos se fechassem.
Quando Michael achou que eu havia dormido, retirou os braços da minha cintura e
levantou-se cuidadosamente, tirando o celular do bolso e discando um número no
aparelho enquanto seguia em direção à sala.
-
Melodie... – eu o ouvi dizer pouco depois.
Minhas
sobrancelhas se arquearam em alerta e saltei da cama rapidamente, caminhando de
pés descalços até a porta para tentar captar o que ele dizia ao celular.
-
Eu preciso falar com você. Sim, é urgente. – Fez uma longa pausa. – Você
poderia vir até aqui? – perguntou em um suspiro. – Estou esperando, baby. – E
desligou.
Semicerrei
os olhos e quase dei um soco na parede por conta da sua atitude. Será que ele não digerira bem a minha
revelação e pretendia tramar com Melodie uma forma de me tirar da sua casa? “O
filho da mãe prometeu que não me julgaria” relembrei com raiva, de certa forma arrependida
por ter contado para ele o que realmente acontecera com meus pais.
Enquanto
eu ainda o observava da porta, vi Michael preencher lentamente um copo com uma
boa dose de whisky. Ouvi a campanhia tocar e ele tomou um gole generoso da
bebida, caminhando até a porta.
-
Obrigado por ter vindo – ele disse com a voz um pouco mais aliviada quando
atendeu.
Vi
Melodie dar um desconcertado beijo no seu rosto e entrar no apartamento.
-
Você parecia bastante preocupado. Aconteceu alguma coisa?
Michael
apontou o sofá para que ela se sentasse e colocou mais whisky no copo.
-
Me acompanha? – perguntou com a garrafa nas mãos.
-
Não, obrigada – ela recusou.
Ele
se sentou ao lado dela e a fitou nos olhos.
-
Eu preciso da sua ajuda, Mel – ele murmurou.
-
O que posso fazer por você?
Ele
suspirou.
–
Pode me contar de uma vez por todas o que a Therese fez com você na noite
daquela festa.
Melodie
desviou os olhos dele e pareceu desconfortável com o pedido. “Não ouse abrir a
boca, cadela” pensei observando-a com fúria.
-
Por favor – Michael insistiu. – Eu preciso saber. Tenho uma louca sob o teto da
minha própria casa e ao que parece, fui o último a perceber isso.
“Traidor
filho da mãe!”
Melodie
levantou as sobrancelhas e sussurrou:
-
Ela está aí?
-
Não se preocupe, ela tomou um remédio que provavelmente a fará dormir até
amanhã de manhã – tranquilizou-a. – Agora diga-me o que aquela doente fez.
Ela
pensou por alguns segundos e depois suspirou.
-
A sua amiga doutora me encurralou no banheiro e apontou uma arma para mim – ela
finalmente contou. – Fez uma dúzia de ameaças e deixou bem claro que é capaz de
qualquer coisa para conseguir o que deseja.
Michael
apertou os olhos e cerrou os punhos.
-God, eu jamais me perdoaria se ela te
machucasse!
-
Você precisa se livrar dela o quanto antes – Melodie aconselhou. – Essa mulher
ainda pode colocá-lo em sérios apuros, Michael.
-
Eu sei. Agora, eu sei. Ela deveria estar em um sanatório, acredite.
-
Ela não tem família? Não tem ninguém que possa providenciar uma internação ou
algo do tipo?
-
A Therese não tem ninguém – ele murmurou. – E não seria tão simples interná-la.
Ela aparentemente é normal. Age friamente, não tem surtos repentinos quando
está cercada por outras pessoas. Para a lei ela é uma mulher como outra
qualquer até que possa se provar o contrário.
-
Aquela maluca realmente me dá arrepios.
Michael
pegou as mãos de Melodie e acariciou o seu rosto lentamente.
–
Eu fui um idiota – ele disse. - Fui um idiota todo esse tempo. Eu não deveria
ter me envolvido com ela. Você é a única mulher que me importa, Melodie,
percebi isso desde a primeira palavra que trocamos. É você quem eu quero que
esteja ao meu lado.
“Mas
que cena patética!” refleti comigo mesma enquanto Melodie passava os dedos no
queixo dele e o fitava nos olhos. “Ele não sabe o que diz. Está completamente
equivocado.”
-
Você sabe quanto tempo eu esperei para ouvir isso? – ela perguntou com um
sorriso nos lábios. – Sabe quantas vezes senti vontade de te beijar enquanto
conversávamos?
“Sabe
quanto tempo espero pra acabar com você, vadia atrevida?”
Michael
sorriu e aproximou-se mais dela, deixando seus rostos a poucos centímetros de
distância.
-
Deveria ter beijado, baby – ele provocou, esticando a mão para colocar o copo
de bebida ao lado do abajur.
-
Que tal agora? – ela perguntou em um súbito rompante de coragem, fitando os
olhos dele e puxando-o lentamente pelo colarinho, até que seus lábios se
aproximassem.
Michael
a envolveu com os braços e desceu as mãos pelas suas costas, puxando-a para
ainda mais perto de si. Partilharam um beijo longo e intenso, que parecia não
ter mais fim, enquanto eu sentia vontade de matar os dois com uma única bala.
-
Tão gostoso quanto eu imaginava – ela sussurrou com malícia assim que seus
lábios se afastaram, com os dedos movendo-se lentamente pela sua nuca.
Michael
abriu um sorriso satisfeito, com os lábios vermelhos e molhados pelo beijo, e
puxou-a para si novamente, beijando-a outra vez.
-
Eu quero que você seja minha namorada, baby – ele murmurou quando, minutos
depois, pararam de se beijar. – O que você me diz disto?
Os
olhos dela brilharam e ela sorriu.
-
Digo sim, claro! – Fitou seus olhos. – Mas antes, tire a Therese dessa casa.
Diga que não a quer mais aqui, que não quer mais vê-la. Mantenha-a longe.
-
Você acha mesmo que ela vai aceitar numa boa sair daqui? – ele questionou,
voltando a pegar o copo de whisky. - Sinceramente, tenho minhas dúvidas quanto
a isso.
-
O que sei é que ela não pode ficar – Melodie respondeu. – Você não pode se
submeter às vontades daquela desequilibrada. O apartamento é seu, a lei estará
ao seu lado se for necessário.
Michael
assentiu.
-
Falarei com ela amanhã mesmo.
-
Seja firme. E, por favor, tome cuidado.
-
Fique calma – ele disse beijando-a outra vez. – Ela não pode fazer nada contra
mim. Sei lidar com ela – completou, acariciando os seus cabelos com delicadeza.
-
Por que você a trouxe para cá? – Melodie perguntou. – O que fez você se
interessar tanto por ela?
Michael
pensou por alguns instantes.
-
Eu a trouxe para cá porque não queria deixá-la sozinha. E, bem, começamos a
sair porque eu sabia que havia algo diferente nela, algo que me atraiu mais do
que posso explicar. – Tomou mais um gole, recostou a cabeça no sofá e deu um
sorriso distante. - Acho que gosto de perigo.
Ela
analisou sua expressão e enlaçou os braços atrás do seu pescoço.
-
E o que você faria se eu também o colocasse em uma situação de risco? – ela perguntou
com a voz travessa, inclinando o corpo no sofá e sentando-se no colo de Michael
sem aviso prévio. Levou os dedos ao colarinho da camisa dele e deu um leve
puxão, fazendo o peitoral dele encostar-se aos seios dela. – Acho que agora
você está sem saída, concorda? – murmurou olhando-o nos olhos, começando a
desabotoar os botões para revelar o seu tronco.
Michael,
antes surpreso por aquela atitude, agora já não conseguia disfarçar a sua
excitação. Um enorme volume formou-se na sua calça e Melodie beijou seu
pescoço, movendo o quadril para se esfregar nele por cima do tecido.
- Ah, garota, não me provoque assim – ele
suspirou, mordendo o canto da boca. – Você não sabe do que eu sou capaz.
Melodie
contornou o queixo dele com os dedos e correu a boca pelo seu pescoço, mordendo
o lóbulo da orelha, fazendo Michael se arrepiar.
-
Estou louca para descobrir – ela disse mais baixo. – Quero que me mostre –
incitou enquanto descia as mãos até sua ereção. - Agora.
Michael
soltou um gemido por entre os lábios e firmou as mãos no seu quadril, pondo-a
deitada no sofá e acomodando-se sobre ela. Enquanto ele começava a despi-la, caminhei
lentamente de volta para a cama e me deitei sem fazer barulho.
Ele
pensava mesmo que me passar para trás seria tão fácil assim? Enfiei as unhas no
lençol e a medida que os gemidos na sala se tornavam mais altos e intensos,
comecei a pensar no que diabos eu poderia fazer para acabar com os planos
românticos daqueles dois traidores que estavam pensando em me mandar pra longe.
Capítulo 18
Acabei
pegando no sono algum tempo depois e no dia seguinte, ao acordar, constatei que
Michael resolvera não ir para o escritório. Ele estava sentado no sofá, de
olhos fechados e cabeça jogada para trás, com um copo de whisky quase vazio nas
mãos mesmo ainda estando tão cedo para beber, parecendo refletir seriamente
sobre algo. Eu sabia que ele estava escolhendo as palavras certas para me
mandar embora, portanto, resolvi me antecipar e colocar em prática a primeira
parte da estratégia que havia arquitetado na madrugada anterior. Voltei para o
quarto com passos silenciosos e abri o armário, começando a tirar minhas poucas
roupas de dentro dele e jogá-las em cima da cama.
-
Você já está acordada – uma voz disse minutos depois, fazendo-me olhar em
direção à porta aberta, onde Michael estava parado me observando, apoiando uma
das mãos na parede. – O que você está fazendo?
-
Não parece óbvio? – perguntei gesticulando para uma pequena mochila ao lado do
travesseiro. – Estou arrumando minhas coisas para dar o fora daqui.
Michael
entrou no quarto, nitidamente confuso e surpreso, e postou-se ao meu lado.
Estava lindo, mesmo tendo no rosto uma expressão de quem tinha dormido pouco.
Os cabelos cacheados presos e meio desarrumados, uma camisa branca com dois
botões abertos, a habitual calça preta, os lábios levemente avermelhados, e um
cheiro de whisky que estava me deixando completamente tentada a beijá-lo.
-
Está me dizendo que irá voltar para casa?
Comecei
a enfiar as peças de roupa na mochila e assenti com a cabeça.
-
Não faz mais sentido eu ficar aqui – murmurei.
Ele pensou por
alguns segundos.
– Tomou essa
decisão por conta da conversa que tivemos ontem? – questionou. – Se arrependeu
de ter me contado sobre seu passado, sobre a morte de seus pais?
- Claro que
não – respondi. Por que ele achava que eu deveria me arrepender? Fiz a coisa
certa e nunca fui rondada pelas sombras do arrependimento. – O que está feito,
está feito – eu disse para ele.
- E por que
você não quer mais ficar aqui?
Afastei-me da
cama e soltei os cabelos, permitindo que eles descessem em cascata até a curva
do pescoço.
– Olhe para
mim, Michael – pedi e seus olhos negros fixaram-se em mim. - Acha que sou do
tipo de mulher que precisa implorar por sexo? Preciso pedir para ser notada,
amada, desejada?
Ele suspirou.
- Therese,
você é linda e muito atraente, sabe disso. Eu já lhe disse o motivo pelo qual
não quero mais transar com você.
- Você tem me
ignorado desde quando vim para esta casa e não para de me entupir de remédios
desnecessários. Chega, okay? Eu não preciso de você, Jackson – afirmei,
tentando reconstruir minha total auto-suficiência. – Não preciso de ninguém.
Continuar aqui será uma grande perda de tempo e eu sou uma mulher bonita,
competente e bem resolvida, não tenho tempo a perder.
- É bom que
pense dessa forma – Michael murmurou, de certa forma aliviado por minha atitude
ter-lhe poupado maiores aborrecimentos. – Eu teria uma conversa com você a
respeito disso. Você já está recuperada, pode se cuidar sozinha.
Arqueei as
sobrancelhas, esforçando-me para manter a superioridade.
- Passarei a
diante o caso em que estávamos trabalhando juntos – anunciei. – Há muitos
advogados no escritório dispostos a trabalhar nele.
- Melhor assim
– ele disse sem nenhum remorso.
Peguei a
mochila e parei diante dele, ainda esperando, insensatamente, que ele me
beijasse, me jogasse na cama, e me pedisse para não ir embora.
- Então... é
realmente assim que terminaremos? – perguntei engolindo em seco.
Ele permaneceu
impassível, com a expressão firme de quem não gosta de ceder.
- É uma boa
maneira de terminar algo que nem deveria ter começado, Therese – murmurou. –
Espero que você encontre algo ou alguém que possa lhe fazer feliz de verdade.
“É você quem
me fará feliz de verdade, Michael. Pode acreditar.”
- É uma pena
que eu não possa dizer o mesmo – eu disse de volta. – Uma grande pena. – E me afastei dele, indo em direção à
porta.
*
* * * * *
Os dias
seguintes me fizeram enxergar com cada vez mais clareza o quanto eu havia
mentido ao dizer que não precisava de Michael. Desde que eu o conhecera, a
presença dele tornara-se uma necessidade tão fundamental quanto ar, comida,
água. Tínhamos tudo para estar juntos, tínhamos tudo para dar certo. E teríamos
dado. Se não fosse a Melodie, a insistente pedra no caminho.
Michael me
desprezou, me humilhou em todas as vezes que tentou me manter distante, me
reduziu a nada quando disse que não iria transar comigo porque estava
apaixonado por outra mulher. Mas, com sinceridade, eu seria capaz de relevar
tudo aquilo. Ele estava cego, não conseguia ver que era a mim que ele amava. Eu
teria que mostrá-lo, de alguma forma, o quanto estava enganado.
Quanto a
Melodie, esta não teria chance alguma para se redimir pelos seus erros. Por que
ela não aceitara os conselhos que dei para ela na noite daquela festa? Tudo
poderia ter ficado bem se ela tivesse se afastado do Michael como eu ordenei. Ela
roubara momentos que seriam apenas meus, beijos que não deveriam pertencer a
mais ninguém. Jurei a mim mesma que ela me pagaria pela afronta; por um preço
justo, que ela mesma havia procurado.
Minha distração
preferida tornou-se seguir Michael diariamente e observar seus passos, o que me
deixava muito satisfeita, mesmo estando de longe. Fazia parte da sua rotina
passar a maior parte do tempo no escritório, às vezes sair para alguma reunião
em restaurantes, bares ou outros escritórios de advocacia. No início da noite
ele costumava parar em frente ao hospital onde Melodie trabalhava e dar a ela
uma carona até em casa.
Essa era a
pior parte do dia.
Os dois trocavam
beijos dentro do carro e, por diversas vezes, vi os dois abraçados na sacada do
apartamento de Michael, observando juntos as luzes da cidade - provavelmente
antes de uma longa sessão de sexo que duraria boa parte do resto da noite.
Consegui o telefone de Melodie no hospital e liguei para o apartamento dela em
várias madrugadas diferentes. Em todas as vezes, a ligação foi encaminhada para
a caixa postal, o que significava que ela não estava dormindo em casa. Deveria
estar aninhada nos braços de Michael, gemendo em seus braços, contorcendo-se em
cima da cama onde eu e ele deveríamos
estar deitados. As palavras que ela me dissera um dia ainda estavam bem frescas
na minha mente.
“Você já deve ter
percebido que o Michael está tão apaixonado por mim quanto eu estou por ele.
Não há nada que você possa fazer. Com você é apenas sexo, por enquanto. Daqui a
algum tempo, nem isso ele vai mais querer de você.”
“É bom que ela aproveite enquanto pode”, eu praguejava comigo mesma. “É bom que
ela o beije enquanto tem lábios, o abrace enquanto tem braços e pense que me
venceu, enquanto ainda tem a massa encefálica dentro da cabeça”.
Ela estava
rindo de mim pelas costas e eu tinha que acabar logo com aquilo. Decidi que
sairia da casa de Michael antes que ele me mandasse embora porque minha
profissão me ensinara a recuar quando estava encurralada e a atacar de uma só
vez quando menos esperassem. Michael e Melodie estavam achando que eu tinha um
temperamento bipolar e que havia resolvido sair da vida dele tão rápido quanto
entrei. Não me conheciam bem o suficiente, essa é a verdade. Não sabiam que
nunca desisto de nada, que movo céus e terras para conquistar o que deve ser
meu.
*
* * * *
Em uma manhã
de sol, ao sair de casa para ir ao escritório, parei o carro enquanto esperava
o sinal abrir e a fachada reluzente de uma loja de departamentos chamou minha
atenção. Tirei os óculos escuros, abaixei o vidro e me inclinei sobre a janela.
Valentine’s Day
Já comprou algo especial para presentear o seu amor?
Ainda há tempo para uma linda surpresa!
Era dia dos namorados e eu tinha me esquecido
completamente disso. Nunca dei a mínima para essas datas, afinal de contas,
nunca tive um namorado. Mas, naquela manhã, essa data especial me deixou
interessada. Deveria ser um dia especial para Michael e eu, se a Melodie não
tivesse estragado tudo.
Passei a manhã
inteira debruçada em um processo, mas aquela frase se recusava a sair da minha
cabeça. “Já comprou algo especial para presentear o seu amor? Ainda há tempo
para uma linda surpresa!” “Ainda há tempo para uma linda surpresa”, repeti,
mordiscando o bocal da caneta.
Sim, como
dizia o anúncio, ainda estava tempo de fazer uma surpresa. Dia dos namorados: aquele
seria o dia perfeito para finalmente acertar minhas contas pendentes e fazer
Michael perceber que era por mim que sempre esteve apaixonado.
Trabalhei o
resto do dia e, quando voltei para casa, o sol no horizonte já começava a se
por. Conferi se Michael e Melodie estavam trabalhando; primeiro consultando a
secretária de Michael por telefone e depois ligando para o hospital,
passando-me por uma antiga paciente que queria saber se Melodie Simpson - “a
enfermeira mais querida que tive a chance de conhecer” – estava de serviço e
poderia cuidar de um curativo mal colocado por outra enfermeira que cuidara de
mim há poucos dias atrás.
Quando tive a
certeza de que nenhum dos dois estava em casa, dirigi até o prédio de Michael,
levando comigo a chave que ele me entregara nos dias que passei como sua
hóspede e que não devolvi quando fui embora. Estava nos meus planos entrar em
sua casa e esperar os dois no quarto, para que pudesse participar de alguma forma
bastante animada da comemoração de dia dos namorados que os dois pombinhos
apaixonados com certeza iriam fazer à noite. Se eles não aparecessem, eu
ficaria ali do mesmo jeito, esperando até que os dois chegassem. Eu não tinha
pressa. Sabia que a espera antes da diversão seria tediosa. Mas estava levando
a Pluma para me fazer companhia! Como eu poderia me sentir sozinha na presença
da minha mais fiel companheira?
Já no tão
conhecido prédio de Michael, passei pela recepção, tamborilando o salto alto no
piso envernizado, entrei no elevador ocupado por mais duas pessoas e segui até
o último andar. Caminhei tranquilamente até a porta do seu apartamento e
segurei a chave com cuidado, tentando encaixá-la na fechadura.
Teoricamente,
eu estava invadindo um apartamento, mas esse fato não me deixou sobressaltada,
nem com medo de que seguranças surgissem e me impedissem de completar o ato. Eu
havia sido uma presença constante naquele prédio há apenas algumas semanas
antes, e todos sabiam do meu envolvimento com Michael, o que tornaria natural
eu ter a chave da sua casa e estar entrando ali. Mas, quando a chave não girou
e a porta continuou intacta apesar do meu esforço, comecei a perder a tão bem
construída paciência. Inclinei-me para observar a fechadura e testei a chave
mais duas vezes, sem obter sucesso em nenhuma das tentativas. A chave mal
entrava e, o pior, não rodava direito. Fechei os punhos e dei um soco na parede
ao perceber o que estava acontecendo ali. “Mas que droga”!, praguejei
transbordando de raiva por não ter previsto aquilo. “Merda!”
“O desgraçado
trocou a porcaria da fechadura!”
Capítulo
19
Respirei
fundo, me obrigando a permanecer calma, e dei meia volta, indo para o elevador
novamente e descendo até o saguão, onde um jovem bem apessoado atrás de um
enorme balcão de mármore e madeira falava ao telefone.
- Espere um
minuto, por favor – ele disse com a voz educada, ao notar minha presença. –
Posso ajudá-la em algo? – perguntou assim que pôs o telefone de volta ao
gancho.
- Pode, sim.
Qual o seu nome? – perguntei com um sorriso simpático, dando-me conta de que
passei várias vezes por aquele mesmo lugar, mas nunca dei a mínima para aquele
homem uniformizado atrás do balcão.
- Douglas
Pierce – ele respondeu educadamente. Era moreno, devia ter no máximo 22 anos e
parecia bastante prestativo. – Está a procura de alguém?
Balancei a
cabeça negativamente.
- Doug... –
comecei a falar, tentando criar uma proximidade com o rapaz. - Você já deve ter
me visto por aqui antes. Estou certa?
- Já a vi aqui
por várias vezes – ele confirmou. – A senhorita está na lista de pessoas que o
senhor Jackson autorizou a subir para seu apartamento a qualquer hora, sem
precisar sem anunciada.
Sorri, sem
conseguir deixar de transparecer meu alívio. Então Michael não havia me cortado
da lista depois que fui embora. Deveria estar ocupado demais para isso.
- Isso mesmo – afirmei. – Estou com um pequeno
probleminha. O Michael trocou a fechadura do apartamento recentemente e esqueci
a nova chave. Acabei pegando a antiga e achando que era a certa – lamentei,
abrindo a mão e mostrando para ele a chave que não servia mais.
- Não deveria
ligar para ele? – o rapaz questionou.
- Deveria. –
Encostei-me mais no balcão para completar com a voz mais baixa: - Mas isso
estragaria completamente a surpresa. Você sabe que dia é hoje. Preciso estar
dentro do apartamento e preparar umas coisinhas antes que o Michael volte do
trabalho.
- Eu adoraria
ajudar – ele disse. – Lamento, não há nada que eu possa fazer.
Mordi o lábio
e mostrei-me decepcionada.
- Há, claro
que há – retruquei. – Eu sei que o Michael deixa uma cópia da chave dele aqui,
para que o apartamento seja aberto para entregas e reparos quando ele não está.
Você poderia me emprestar a chave, só por um minuto. Não quero que este simples
detalhe estrague a minha noite.
Ele me
observou por alguns minutos e balançou a cabeça em negativa.
- Sinto muito,
mas não tenho ordens para fazer isso.
Revirei os
olhos.
- Tenho cara
de ladra, Doug? – perguntei gesticulando uma das mãos em torno do meu corpo. –
Acha que vou roubar algo do apartamento do meu namorado?
- Não foi isso
o que eu quis dizer – ele explicou-se. – Namorado? – perguntou nitidamente
confuso.
- Sim,
namorado. Por que pergunta?
A face de Doug
tingiu-se de rubor.
- Hum... Eu
não me meto na vida de nenhum dos moradores e o senhor Jackson é um homem muito
reservado e discreto. Mas pensei que ele e a senhorita Simpson...
- Ah, a
Melodie – interrompi. – Ela não perde a oportunidade de dar em cima dele. E às
vezes até acho que ele gosta disso. Nosso relacionamento é aberto e sem
caretices, o que é mais um motivo para você me emprestar a chave. – Olhei para
os lábios dele com lentidão e arqueei as sobrancelhas. – Eu sei reconhecer um
gesto de ajuda... e você sempre me pareceu tão prestativo. Não irei esquecer
isto.
Douglas
pareceu inquieto e interessado com minhas palavras, mas voltou a balançar a
cabeça negativamente.
- Sinto muito,
muito mesmo.
- É só a droga
de uma chave! – rebati com impaciência, fazendo-o se sobressaltar. Respirei
fundo e passei as unhas lentamente pelo balcão, pronta para recomeçar. –
Douglas, você já viu o Michael irritado? Já viu a cara dele quando está com
raiva?
- Não,
senhorita.
- Prepare-se
para vê-lo furioso quando ele souber que a nossa noite foi um fracasso por culpa
sua.
- Senhorita...
– ele tentou argumentar. – Eu já disse que adoraria ajudar, mas não posso fazer
algo sem ser ordenado. Posso perder meu emprego por isso.
- Ninguém vai
saber – murmurei. – Quando o Michael chegar e tudo estiver pronto, ele nem vai
saber que peguei a chave aqui. Tenho a chave em casa, apenas a esqueci, mas ele
não precisa saber desse detalhe.
O rapaz me
fitou, balançado com o meu argumento.
- Por favor? –
reforcei lançando um olhar suplicante, insinuando-me um pouco mais para ele. Ele
desceu o olhar até os meus seios e voltou a subi-los rapidamente.
- Pode
garantir que não ficarei encrencado? – ele perguntou.
Abri um
sorriso iluminado.
- Claro que
não se meterá em encrenca! Eu ficarei feliz, o Michael ficará feliz e você
também pode ficar feliz, Doug, basta colocar a chave aqui na minha mão.
Ele virou-se,
agachou-se diante de uma gaveta, remexeu o conteúdo dela e puxou uma chave de
dentro, entregando-a para mim.
- Aqui está.
- Segredo
nosso, okay? – murmurei, dando uma piscadela e inclinando-me para repousar um
leve beijo nos seus lábios. O rapaz retribuiu o gesto e eu sorri para ele,
dando de ombros e caminhando na direção do elevador.
* * * * *
Com a chave
certa em mãos, voltei para o apartamento de Michael e consegui abrir a porta
sem a mínima dificuldade. Entrei na sala, me servi de uma generosa dose de
whisky sem gelo e comecei a percorrer os cômodos com a garrafa nas mãos,
analisando o que mudara desde a última vez que estive ali. Tudo estava
exatamente igual, exceto pelo sutiã preto de rendas que encontrei em cima do
criado mudo assim que entrei no seu quarto. Ao que parecia, Melodie já estava
começando a deixar suas marcas por ali.
Eu já estava
no terceiro copo de whisky quando vi, pela janela do quarto, o carro de Michael
atravessar a rua e entrar para a garagem no subsolo. Virei o último gole da
bebida e voltei lentamente para o corredor, entrando no quarto de hóspedes e
encostando devagar a porta. Todas as luzes estavam apagadas e, desde que eu
permanecesse em silêncio, nada poderia denunciar a minha presença ali. Ouvi,
poucos minutos depois, a porta da frente sendo aberta e passos andando pela
casa. Vi a sombra de Michael atravessar o corredor em direção ao quarto, uma
música soar no ambiente e, logo em seguida, o chuveiro do banheiro dele sendo
aberto.
“Já comprou
algo especial para presentear o seu amor?” perguntei ao me enxergar no espelho
preso à parede do outro lado, ajeitando os cabelos. “Ainda há tempo para uma
linda surpresa.”
Eu precisava
encontrar os dois juntos, ou a noite não teria a mínima graça. Eles poderiam
passar aquela noite em um motel, no apartamento de Melodie, ou em qualquer
outro inferno, mas preferi acreditar que Michael a receberia em seu
apartamento; o que era o mais provável ao levar em consideração que era ali que
eles estavam passando a maior parte das últimas noites. Assustar os dois ao mesmo
tempo era uma ideia que me deixava completamente leve e satisfeita. Eu pouparia
Michael, claro, porque não podia pensar na possibilidade de perdê-lo. Quando
Melodie estivesse ao seu lado, ferida e impotente, com uma bala lhe queimando a
carne, ele com certeza perceberia o quanto ela era fraca, o quanto ela era
errada para ele. Homens firmes como Michael precisam de uma mulher firme, como
eu. Ele só não havia enxergado isso ainda, mas eu abriria os seus olhos e o
faria ver.
“Já comprou
algo especial para presentear o seu amor?” perguntei para a Pluma. Sorri. “Ainda
há tempo para uma linda surpresa, sabia?”
Tirei meus
sapatos para evitar fazer barulho e os coloquei atrás da porta do quarto, ao
lado do copo e da garrafa de whisky quase vazia. Peguei a Pluma da bolsa e
comecei a analisá-la calmamente, em todos os detalhes já tão conhecidos,
enquanto os ruídos no quarto ao lado me faziam perceber que Michael estava se
trocando e, pelo cheiro inebriante, se perfumando. Tempos depois a campanhia
tocou e sua sombra fez o caminho de volta, indo atender a porta da frente. Dei
alguns passos cuidadosos pelo corredor e pude vê-lo abraçado com Melodie,
puxando-a para dentro, o que me deixou irritada e satisfeita ao mesmo tempo.
- Deveríamos
ter ido jantar, Mel – eu o ouvi dizer minutos depois, servindo vinho branco
para ambos.
- E qual seria
a graça de perder parte da noite em um restaurante, Mike? – ela perguntou
sorrindo, enquanto ele enlaçava os braços na sua cintura e lhe dava uma
sequência de beijos no pescoço. – Prefiro ficar aqui, sozinha com você... –
murmurou, passando os dedos pelos cabelos dele. – Hum... Seu cheiro está uma
delícia e você está um gato! Tudo isso é pra mim?
Ele mordeu o
lábio e assentiu.
- Tudo para
você, baby. – Observou-a com atenção. – Você também está linda. Adorei o
vestido, mas vamos ter que retirá-lo.
Ela gargalhou.
- Tão
depressa? – Beijou seus lábios. – Eu acho uma ótima ideia.
Michael pegou
a mão dela e guiou até o seu membro.
- Está vendo o
que você já fez comigo? – ele perguntou com um tom de malícia, enquanto os dois
seguiam abraçados em direção ao corredor. Dei três passos para trás e voltei
para o quarto de hóspedes, ouvindo os dois passarem ao meu lado, do outro lado
da parede, e entrarem no quarto de Michael.
Segurei a Pluma
com firmeza e repassei na mente mais uma vez o que deveria ser feito naquele
momento. Como Michael poderia tratá-la daquela forma? Era para mim que ele
deveria estar dizendo cada frase que dirigia a ela.
“Comprei algo
especial para você, Michael. Ele está aqui, dentro da Pluma, e tirará a Melodie
de vez do nosso caminho. Será apenas você e eu. Você mal pode esperar, não é?
Eu também!”
Caminhei
lentamente pelo corredor, ouvindo Melodie e Michael sorrirem e se provocarem,
enquanto começavam a se despir. Quando surgi na porta do quarto, Michael estava
sem camisa, em cima de Melodie, desabotoando pacientemente os botões do seu
curto vestido vermelho. Os dois ainda continuaram por mais alguns minutos, sem
notar a minha presença. Precisei destravar a Pluma e apontá-la na direção deles
para que eles ouvissem que eu, a presença mais importante da noite, havia
chegado.
- Comprei um
presente para você, Michael – eu disse com a voz mais doce do que gostaria,
fitando os dois com atenção.
Melodie
arregalou os olhos em sobressalto e Michael saiu de cima dela, encarando-me com
surpresa e incredulidade.
-
Mas que porra você está fazendo aqui, Therese?! – ele perguntou com a voz
elevada, tão assustado quanto a garota subitamente pálida que agarrava-se em
seu braço
Capítulo 20
A voz alta de
Michael me fez estremecer, mas logo tratei de me recompor e manter o máximo de
firmeza que consegui.
- Que péssima
recepção – reclamei, com os dedos ainda firmes ao redor da Pluma. – Eu vim
salvar você dela e é assim que você me trata?
Michael e
Melodie se entreolharam e voltaram a olhar para mim.
- Therese,
abaixa essa droga e vamos conversar – Michael murmurou com a voz mais branda,
inclinando-se um pouco para que Melodie se protegesse atrás dele. – Você não
deveria estar aqui. Como diabos você veio parar aqui dentro?!
- Isso não
importa, importa? – eu disse dando três passos lentos para frente. – O que
importa é que estou aqui e você deveria estar contente em me ver.
Um vinco
formou-se em sua têmpora e ele tentou se levantar vagarosamente, puxando
Melodie com ele devagar, ainda protegendo-a com o próprio corpo. Estava
assustado, respirando pesadamente, ainda se esforçando para acreditar que eu
estava mesmo ali. Os olhos de Melodie também denunciavam surpresa,
incredulidade, confusão e, o melhor de tudo, pânico! Era gratificante vê-la
acuada e com o rabo entre as pernas como a cadela medrosa que ela nunca deixara
de ser.
- Voltem – ordenei com as sobrancelhas
levantadas. – Eu não mandei ninguém aqui levantar. Mandei?
Os dois se
sentaram novamente, impotentes diante da minha mira, ainda em estado de alerta.
Michael assentiu devagar para Melodie, pedindo baixinho que ela mantivesse a
calma, e apertou sua mão tão forte em sinal de proteção que os dedos dela quase
ficaram brancos.
- Vamos
conversar, okay? – Michael propôs para mim.
- Claro –
concordei, puxando uma poltrona aos pés da cama e sentando-me nela, sem deixar
de observá-los nem por um segundo. – Eu e a Pluma não temos pressa. Podemos
conversar.
Michael
respirou fundo, parecendo calcular bem as palavras.
- O que você
pensa que está fazendo? – perguntou tomado de dúvida e confusão. – Por Deus! O
que você pensa que está fazendo aqui?
Olhei para
baixo, procurando a resposta. “Ainda há tempo para uma surpresa.”
- Eu estava
com saudade – respondi, e era verdade. - E você, não sentiu saudade de mim? –
perguntei em um tom mais calmo e afetuoso. Michael ficou em silêncio, estudando
meus passos com atenção, e senti uma súbita onda de fúria ao focalizar Melodie
apertando seus braços, sem ousar me dirigir a palavra. – Não sentiu saudade,
ingrato?! – bradei com raiva, voltando a apontar a Pluma em sua direção.
- Porra,
Therese! – Michael explodiu em sobressalto, com as veias alteradas vibrando nas
têmporas. – Mantenha essa porcaria abaixada!
- Louca! –
Melodie bradou, passando a palma das mãos pelo braço tensionado de Michael. –
Ela não vai atirar, Mike – murmurou baixo para ele. – Todos ouviriam e ela
seria presa antes mesmo de sair do prédio.
- Cala a boca,
cadela, eu não suporto a sua voz – eu disse para Melodie, apontando a arma para
ela. – Acha mesmo que a Pluma não sabe ficar quieta? Não nos subestime, outra
vez. Ela é mais silenciosa do que você imagina.
- Diga logo o
que você quer – Michael ordenou com a voz firme e autoritária. – Não vamos
entrar no seu jogo ridículo e doentio. Diga de uma vez o que pretende fazer
aqui.
Suspirei e
sorri. Nada no mundo me excitava mais do que ouvir sua voz soar tão firme.
- Aí é que
você se engana, baby. Vocês vão entrar no jogo que eu quiser, afinal de contas,
eu não estou dando escolha para nenhum dos dois.
- Você precisa
se tratar – Melodie murmurou. – Com urgência.
- Pare de
falar como uma médica, pois você não passa de uma enfermeirinha incompetente –
devolvi sem paciência. - Coloque-se no seu lugar, sim? Aliás, se você soubesse
bem onde fica o seu lugar, não estaríamos aqui agora, pois você estaria bem
longe do Michael.
- O que você
quer, Therese? – Michael voltou a perguntar.
“Você. Não
parece óbvio? Você é tudo o que posso querer”, pensei comigo mesma, mas não
disse as palavras em voz alta. Cruzei as pernas e abaixei um pouco a Pluma.
– Tire o
vestido dela, Jackson – ordenei.
Ele me olhou,
com um vinco de dúvida na testa, e permaneceu imóvel.
- O quê?!
- Está surdo?
– perguntei voltando a apontar a arma. – Tire o vestido dela.
Hesitante,
Michael terminou de abrir o vestido já meio aberto de Melodie e jogou a peça no
chão. Mordi o lábio satisfeita e a analisei com atenção. Eu precisava descobrir
o que ela tinha de melhor do que eu para fazer Michael se interessar tanto por
ela.
- O sutiã
agora.
Michael
hesitou outra vez mas ela balançou a cabeça positivamente para ele, incitando-o
a continuar. Os seios dela se revelaram e eu os observei, enumerando os mínimos
detalhes. Eram bonitos, no tamanho ideal, mas eu me recusava a aceitar que ela
era mais bonita do que eu em muitos aspectos.
- Foi por isto
que você me trocou? – perguntei. – Francamente, Michael, espero que melhore.
Vamos, tire a calcinha.
- Não vou
fazer isso – ele recusou.
- Claro que
vai. Não é isso que você tem feito nas últimas noites? – Apontei a Pluma para a
cabeça de Melodie e descruzei as pernas. – Continue. Agora.
Melodie
esticou as longas pernas morenas na cama e Michael segurou a calcinha,
puxando-a para baixo. Quando ela estava completamente nua eu me levantei,
analisei seu corpo com atenção e voltei a me sentar.
- Por que você
me trocou por ela? – perguntei para Michael com indignação. – Ela é comum
demais, sem graça demais, não serve pra você.
Michael me
fitou.
- Eu sei que
ela não se compara a você – ele disse enquanto Melodie voltava a se vestir. – Nenhuma
mulher se compara a você, Therese. Por que você tem que ser dona de um
temperamento tão difícil?
Gostei muito,
muito mesmo, de ouvi-lo falar aquilo.
- Eu sou mais
simples do que pareço – murmurei. – Funcionamos maravilhosamente bem juntos,
você sabe disso. O que tivemos não pode ser jogado fora assim, como algo que
não tem a mínima importância.
- Sei – ele
confirmou, seus olhos subitamente doces. – Eu quero ajudá-la, Tess. Permita que
eu lhe ajude.
- Você irá me
ajudar se me amar – murmurei, deixando a tensão de lado por um momento e
abrindo-me para ele. – Nunca senti uma necessidade tão grande de ser amada por
alguém, Michael. Você é como uma âncora para mim, entende? Não consigo ficar
bem quando você não está por perto.
Ele continuou
a me fitar e Melodie abaixou os olhos. Provavelmente as palavras de Michael
estavam fazendo-a perceber o quanto era inferior a mim.
- Vamos
recomeçar – sugeri para ele. – Podemos apagar tudo e começar outra vez.
- Vamos, Tess
– Michael disse com suavidade. – Me dê a arma, okay? Você não precisa dela.
Você não precisa machucar ninguém.
- Não –
neguei.
- Por favor,
baby? – insistiu, colocando os pés para fora da cama e levantando-se devagar,
em movimentos extremamente calculados, vindo em minha direção para recolher a
Pluma.
- Não!
- Sim.
Entregue-a para mim.
- Eu já disse
que não! – gritei ao vê-lo a poucos passos de distância.
- Agora! –
ouvi uma voz de mulher gritar e Michael abaixou-se bruscamente no tapete,
enquanto um forte estrondo ecoava pelo quarto, penetrando lentamente pelos meus
tímpanos e deixando-me sem nada entender por alguns instantes.
Tive uma
fração de segundos para assimilar o que havia acontecido. A terceira gaveta da
mesa de cabeceira estava aberta e Melodie, de quem eu dispersara a atenção por
apenas alguns segundos, estava ajoelhada na cama, com uma arma nas mãos e os
dedos trêmulos no gatilho. Eu não sabia que Michael tinha uma arma guardada,
mas agradeci instantaneamente por ser Melodie a autora do inesperado disparo. A
bala, que passou zumbindo ao meu lado, estraçalhou o enorme espelho atrás de
mim e fez uma chuva de cacos de vidro se derramar pelo quarto.
Joguei-me no
chão assim que ouvi o estrondo e coloquei os braços em frente ao rosto para me
proteger dos cacos afiados que desmembraram-se do espelho. Senti um filete de
sangue quente escorrer pela minha testa e, mais por instinto do que por
qualquer outro sentimento, estiquei a mão na direção da cama e puxei o gatilho
da Pluma, vendo o sangue jorrar de uma ferida aberta em Melodie e jogá-la para
trás com o impacto. Entre tantas outras coisas, minha mira também era muito
melhor do que a dela. Michael virou a cabeça para fitá-la caída na cama,
horrorizado, e correu desesperado em sua direção.
- Melodie! –
ele gritou.
Era com ela
que ele estava preocupado, e não comigo. Ele havia me enganado; e, o pior de
tudo, pela segunda vez! Tateei o chão com pressa e agarrei com força um dos
enormes cacos de vidro, sentindo-o penetrar entre os dedos e a palma e cortar minha
mão.
- Filho da mãe
desgraçado! – bradei com fúria, indo para cima de Michael e puxando-o para
trás. Enfiei o caco de vidro na sua perna com o máximo de força que consegui,
na altura da coxa, e o torci dentro da carne, fazendo Michael gritar de dor e
cair com tudo no chão, enquanto o sangue começava a jorrar pelas bordas do
ferimento. – Traidor de merda!
Ele puxou minha mão, tentando desvencilhar-se dela,
e fez esforço para se levantar, mas coloquei-me em cima dele e o forcei para
trás, da mesma forma que tínhamos transado tantas vezes antes. Seu rosto se
contorcia e o caco de vidro ainda estava enfiado em sua perna, causando muito
dor, por sinal. Firmei os dedos ensangüentados em torno da Pluma e pressionei o
cano contra a testa de Michael, completamente decidida a terminar com aquilo de
uma vez.
- Não era pra
ter sido assim! – bradei apertando o cano com mais força. - Foi você quem
escolheu isso, Michael! A escolha foi sua!
- Você é uma
doente! – ele gritou furioso. – Uma vagabunda completamente doente!
Deslizei o
indicador para o gatilho e, por um instante, senti um aperto no peito.
- Eu sinto
muito – murmurei. - Foi você quem escolheu assim.
E então senti
uma pancada forte e firme na cabeça, vinda de trás; um golpe surpresa que me
deixou sem chances para me defender. Só tive tempo de ver Melodie de relance,
com um abajur nas mãos e uma expressão firme e determinada de raiva no rosto,
forte e imponente, mesmo estando com o vestido completamente manchado de
sangue. Michael empurrou-me para o lado rapidamente e puxou a Pluma da minha
mão, apontando-a na minha direção, pressionando-a forte contra a minha pele.
Meus olhos se
arregalaram.
- Você não
teria coragem – foi a única coisa que consegui dizer, olhando nos seus olhos
mais nublados do que nunca. – Você não atiraria em mim, Michael.
Ele semicerrou
os olhos e colocou a outra mão no meu pescoço, impedindo-me de levantar.
- Cada um tem
o final que merece, lembra-se? – murmurou com a voz carregada de determinação.
- E eu não sinto nem um pouco – completou, antes de finalmente puxar o gatilho
e fazer o meu mundo inteiro cair na escuridão.
Epílogo
Los Angeles, 16:30 P.M, 7 anos depois
A
mulher vestida com uma saia primaveril desceu do carro e colocou os pés na
calçada, respirando o ar leve e fresco do fim da tarde. Estava cansada de ficar
dentro do carro, onde passara boa parte das últimas semanas, captando detalhes
e informações, antes de pode agir.
Mais
cedo vira um belo casal deixar o filho de seis anos na escola e sair de mãos
dadas, rindo um com o outro, na maior descontração. Os dois pouco haviam mudado
desde a última vez que ela os vira - em uma situação que lhe rendera um buraco
no tórax, sete anos em uma clínica para doentes mentais, e uma cicatriz na pele
branca que nunca desapareceria. Perdera sete anos da vida, convivendo com um
bando de retardados, fazendo terapia e recebendo medicação. Vigiada 24 horas
por dia por guardas e médicos que nem sabiam o que estavam fazendo. Mas agora
estava livre, finalmente. Sabia que o seu bom comportamento e sua cooperação
iriam lhe render bons frutos, como realmente rendeu.
Ajeitou
a franja de cabelos pretos sobre a testa para esconder uma antiga cicatriz e
levantou o rosto em direção ao sol, absorvendo o calor gostoso que penetrava na
sua pele. Ajeitou o vestido e travou a porta do carro, enquanto caminhava em
direção ao parquinho repleto de crianças correndo de um lado para o outro, em
uma pracinha próxima à escola infantil. Um grupo de babás despreocupadas
conversavam entre si, em uma rodinha, vez ou outra virando o rosto para ver se
estava tudo bem com suas crianças.
Ela
observou de longe o garoto que corria em volta do escorregador, escondendo-se
de um dos colegas que estava com o rosto apoiado em uma árvore, contando até
cem. Não deixava de se surpreender com o quanto ele se assemelhava ao pai. A
mesma curvatura das bochechas, os mesmos lábios, os mesmos cabelos, a mesma
forma de se mover e, o que mais a encantara, os mesmos olhos negros, atentos,
firmes, decididos. Descobrira que seu nome era Prince Michael, mas que todos o
chamavam de Blanket.
A
mulher caminhou pela grama e aproximou-se do esconderijo do garoto, colocando
no rosto um sorriso enorme e iluminado.
-
Olá – disse com a voz doce. – Tudo bem, lindinho?
O
menino a olhou desconfiado, sem responder.
-
Ei, não precisa se preocupar comigo, eu não sou uma estranha – comentou rindo.
– Como estão o Michael e a Melodie? Sou uma antiga amiga dos seus pais.
Blanket
a fitou, menos desconfiado desta vez.
-
Ah... Estão em casa – respondeu.
-
Faz muito tempo que não os vejo, sabia? – ela murmurou. – O que acha de me
levar até lá para uma visita? Eles iriam adorar.
-
Tenho que falar com a Emma – ele murmurou gesticulando para a babá desatenta. -
Mamãe e papai disseram que não posso fazer nada sem perguntar para a Emma
primeiro.
-
Sei disso. E é por isso que já falei com ela – mentiu. – Ela disse que podemos
ir.
O
menino olhou para a babá, desconfiado, e voltou a olhar para a mulher que
sorria simpática para ele.
-
Vamos? – ela chamou, esticando a mão para o garoto. – Podemos passar em algum
lugar para comprar um sorvete bem grande antes de vermos sua mamãe e seu papai.
Indeciso sobre o que fazer, Blanket a
encarou, sem se mover.
-
Como você se chama, hein? – ele perguntou antes de tomar sua decisão.
A
mulher alargou ainda mais o sorriso e inclinou-se mais um pouco, entrelaçando
seus dedos nos pequeninos dedos do garoto, antes de responder:
-
Therese Brown. Seu pai já falou sobre mim para você?
Ele
balançou a cabeça negativamente.
-
Não.
-
Que falta de consideração da parte dele... – ela reclamou mordendo o canto do
lábio. – Posso contar para você como eu e ele nos conhecemos, quando estivermos
a caminho da sua casa... – continuou a dizer, caminhando pelo gramado e
trazendo o garoto consigo.
“Sim,
cada um tem o final que merece, Michael”, cantarolou consigo mesma, satisfeita,
enquanto conversava com o menino ao seu lado, a cópia perfeita e fiel do pai.
“Se não estamos juntos agora, assim como merecemos, é porque o fim ainda não
chegou para nós.”
“É
apenas o nosso começo, querido. Pode acreditar!”
- NN
Continuaaaaaaaaaaaaaaa
ResponderExcluirContinuuuuuua! Tomara q eles fiquem juntos! <3
ResponderExcluirN para! Continua! Queria saber oq ela vai fazer agora!!
ResponderExcluirEssas fic estão ficando sem graça de ler, sempre interminavéis...pq?
ResponderExcluirEla está terminada ... ou está a referir de a fic ser grande e demorar acabar???
Excluir'-' cade quero continuaçao droga
ResponderExcluirMas ela já terminou
ExcluirOi gente. A segunda parte dessa fic já está sendo postada no blog ;)
ResponderExcluirObrigada por lerem <3