Autora: TatahJacksonMania
Sinopse.
O casal mais bonito de toda
Hollywood.
Michael e Alice Jackson se
tornaram, em pouco tempo, o casal mais fofo do mundo dos artistas, sendo
paparicados por fãs e, inevitavelmente, tendo que enfrentar o assédio da
mídia.
Eles já haviam provado do que o
amor é capaz. Já haviam provado que sim, estavam completamente presos um ao
outro, mas... E se, de repente, tudo mudasse?
E se o amor do 'casal perfeito'
começasse a desmoronar? Mas... Um amor verdadeiro desmorona, ou apenas passa
por provas?
Eles achavam que nada mais
poderia abalá-los. Mas nem tudo é tão simples assim, um casamento não é tão
simples assim e talvez o "felizes para sempre" fosse apenas uma
expressão e não uma realidade para eles dois.
Seria possível que um casamento
sólido sobrevivesse as armadilhas imposta entre eles?
Junho de 1996
- Você é o bebê mais lindo do mundo... - murmurei para Prince já adormecido em meus braços. - Eu amo você.
- E eu amo vocês. - ouvi Michael dizer.
Olhei em direção a porta e o vi encostado com os braços cruzados e um lindo sorriso no rosto. Foi impossível não sorrir também. Ele se aproximou de nós e deu um beijo na testa de Prince, logo depois beijando meus lábios docemente.
- Me dê ele aqui... Vou coloca-lo no berço.
Michael pegou Prince em seu colo e o beijou carinhosamente na testa enquanto o levava até seu berço, colocando-o deitado em sua cama. Pude ouvir os pequenos resmungos de Prince. Ele não gostava de sair do conforto de nossos braços e ir para sua cama, mas Michael logo o fez se acalmar, cantarolando I'll Be There para ele. Isso sempre o acalmava.
Quando percebeu que ele havia entrado em sono profundo novamente, Michael se virou para mim e estendeu sua mão. Com um sorriso a segurei e então saímos do quarto de Prince. Pude sentir o sorriso de Michael em minha nuca, quando ele me abraçou por trás.
- Agora você é toda minha, Sra. Jackson...
- Pensei que eu já era sua... - murmurei, tentando inutilmente conter um sorriso.
Ele beijou meu ombro e foi fazendo uma trilha de beijos até chegar a minha orelha.
- Você é e sempre será minha. - ele disse em um tom rouco que denunciava sua excitação.
Nos guiando até a porta de nosso quarto, Michael a abriu com pressa, mordendo o lábio inferior ao perceber onde meus olhos estavam pousados naquele momento; no intenso volume em sua calça, que denunciava o quão excitado ele estava.
Ele me puxou pela mão e eu simplesmente não consegui me conter, o puxei pela camisa trazendo-o pra mim, e ataquei sua boca com a minha, sentindo suas mãos apertarem minha bunda com força me forçando contra sua ereção.
Eu o amava tanto e em quase dois anos de casamento todo esse sentimento havia aumentado, juntamente com o intenso desejo que eu sentia por ele.
Puxei sua camisa para cima, e ele sorriu por conta de minha pressa. Mordendo o lábio, ele abaixou as alças da minha camisola e beijou meus ombros, deixando minha roupa cair até parar em minha cintura, onde a segurou com as mãos em meus quadris.
- Eu simplesmente amo o contato da seda com a sua pele... - ele murmurou olhando para minha cintura, onde seus dedos faziam círculos em minha pele por cima da camisola de seda. - Mostra o quão o íntimo e profundo é a nossa relação, porque sei que sou a único a sentir o toque da seda em sua pele quente.
- E continuará a ser o único. - falei olhando em seus olhos.
Ele sorriu e então me pegou no colo, me colocando deitada em nossa cama. Era uma noite fria, mas o calor do momento me esquentava. Acomodei melhor minha cabeça no travesseiro e Michael se ajoelhou perto de meus pés, onde ele começou acariciar meu tornozelo e beijar minhas pernas.
Ele era esperto e sabia como aquele pequeno toque em meu tornozelo me excitava. Soltei um pequeno gemido quando ele começou a fazer círculos ali, e ele sorriu perversamente, separando minhas pernas e se colocando no meio delas.
Suas mãos subiram por minhas coxas e ele tocou em minha camisola, enquanto seus beijos subiam e chegavam a minha virilha. Com um sorriso safado, ele puxou minha calcinha com o dente, até arrebentar o tecido fino e deixar minha intimidade a mostra.
Foi impossível conter um sorriso quando ele passou a língua pelos lábios e abaixou a cabeça, começando a beijar meu monte de Vênus. Não precisávamos de palavras quando fazíamos amor, nossos olhos e nossos corpos conversavam por si só e o erotismo nos gestos de Michael era o suficiente para me deixar completamente louca por ele.
Ainda tocando minha cintura por cima da camisola, Michael passou a língua pela minha pele até encontrar meu clitóris, um movimento pequeno, que me fez arfar e estremecer a baixo dele, enquanto minhas pernas se abria mais para ele poder explorar tudo e me levar a loucura como sempre fazia.
- Quero que goze na minha boca, Alie... - ele disse com sua voz rouca e sexy - Vou usar somente minha língua hoje, está bem? E você vai se desfazer pra mim...
Sua voz pronunciando tudo aquilo fez meu baixo ventre oscilar. Agora mais do que nunca eu precisava sentir tudo aquilo, precisava realmente me desfazer pra ele.
Olhando em meus olhos, ele separou meus grandes lábios com os dedos, deixando meu clitóris amostra. Mordi o lábio com força quando ele começou a movimentar a ponta da língua naquele ponto tão sensível e excitado, e ele gostou daquilo, porque fez de novo e de novo, passando a língua de cima para baixo, me deixando molhada com sua saliva.
Seus lábios se fecharam em volta de meu clitóris e então ele começou a me chupar com força e rapidez, seus movimentos de sucção fazendo com que meu clitóris entrasse por seus lábios, enquanto ele fazia questão de fazer barulho e gemer, para que a vibração de sua voz ondulasse por meu nervo sensível.
Eu podia sentir tudo dentro de mim vibrar e se apertar, meu orgasmo se formando e vindo com força, fazendo com que eu gritasse e escorregasse minha intimidade por sua língua, quando gozei forte pra ele.
- Adoro quando se perde desse jeito pra mim... - ele sussurrou, subindo os beijos pelo meu corpo, sua ereção ainda coberta pela calça, se esfregando por todo o meu corpo até parar em cima de meu clitóris sensível.
- E isso acontece por sua culpa... - murmurei com um sorriso malicioso nascendo em meu rosto.
- Eu sei que sim...
Ele sorriu e me beijou, essa foi a minha deixa para que o empurrasse e o colocasse deitado em meu lugar.
Por mais que eu tivesse um milhão de orgasmos com sua boca apressada e maldosa, eu sempre iria querer explodir com ele dentro de mim, sentindo-o ocupar seu lugar de direito.
Me coloquei sentada em cima dele, mas antes que me acomodasse em sua cintura, ele se sentou e me puxou com força pra baixo, fazendo meu clitóris se encontrar com sua ereção, que pulsava abaixo de mim.
Sua boca encontrou a minha, e enquanto nos beijávamos, desamarrei a calça de seu pijama, abaixando-a apenas para que seu membro pulasse pra fora, acomodando-se no meio de minhas pernas. Peguei-o em minhas mãos e comecei a masturba-lo, sentindo-o quente e pulsante em minhas mãos.
Michael gemeu baixinho em meus lábios, franzindo o cenho ao sentir o prazer o atingir, e eu apressei o movimento de minhas mãos, querendo que ele sentisse algo próximo do que eu senti, mesmo sem minha boca está o envolvendo. Ele gemeu mais alto e balançou os quadris em um movimento de penetração e então eu parei.
Ele abriu os olhos, confuso e eu sorri, tirando minha camisola e pegando seu membro em minhas mãos novamente para guia-lo pra dentro de mim.
- Oh Alie... Eu amo você, baby...
Sorri, começando a me movimentar em cima dele, sentindo ir lentamente até o fundo de mim.
- Eu te amo mais, Mike. - murmurei, começando a beija-lo novamente.
Senti suas mãos circundarem cada lado de minha cintura, começando a me manusear para cima e para baixo, cada vez mais rápido. Ele ia até o fundo, pulsando dentro de mim.
Me apoiei em seus ombros e subi lentamente, prendendo-o dentro de mim, vendo-o gemer alto e sentindo-o apertar minha cintura com força. Ele sorriu, me puxando pra baixo com rapidez.
- Não pode fazer isso, amor... Desse jeito eu vou gozar antes de você... - ele sussurrou em meu ouvido.
- Eu vou gozar junto com você...
E realmente iria, porque meu corpo seguia os comandos do corpo de Michael, mesmo quando eu estava controlando tudo.
Continuei a me movimentar em cima dele, tendo sua ajuda para ir cada vez mais para cima e para baixo. Senti tudo dentro de mim se apertar, e gememos juntos quando o orgasmo chegou para nós dois ao mesmo tempo.
Junho de 1996
Michael dormia calmamente com o braço ao redor de minha cintura, enquanto eu estava deitada em seu peito.
Havia acabado de acordar e esse era um dos raros dias em que eu acordava e Michael ainda estava na cama. Os últimos meses tinham sido difíceis, a nova turnê de Michael estrearia em três meses e ele estava correndo ao lado de sua equipe. Eu o entendia e o apoiava em tudo e por conta de seu trabalho, havíamos entrado em consenso quanto a minha carreira.
Durante a turnê, que iria até outubro do ano que vem, eu não iria trabalhar nem fechar contrato em nenhum musical, o que achei muito justo. Michael estaria viajando por todo o mundo e eu tinha que ficar com nosso filho e também iria acompanhá-lo em algumas dessas viajens, pelo menos no país onde ele ficasse por mais tempo.
Eu sabia a loucura que era fazer uma turnê mundial, mesmo ficando apenas alguns dias ao lado de Michael durante a turnê Dangerous, pude perceber o quão cansativo era aquilo então, nem pensei duas vezes quando ele me pediu de uma forma extremamente carinhosa, para que eu ficasse parada durante um ano.
De qualquer forma eu não conseguria dizer não para e não iria dizer não. Na verdade, nem tinha como dizer não. Erámos uma família, e um tinha que abrir um pouco de espaço para o outro agir, assim que tinha que ser e era assim que eu queria que fosse. Nos últimos dois anos, Michael esteve ao meu lado em tudo o que fazia, me apoiando e me alertando sobre o que era bom ou errado - como um bom conhecedor de toda aquela área - nada mais do que justo que eu fizesse o mesmo por ele agora.
Tirei os olhos da janela e contemplei seu rosto sereno enquanto dormia. Eu estava tão orgulhosa por ele nunca mais ter usado aqueles medicamentos e eu tinha a plena certeza que ele nunca mais usair aquele tipo de coisa. Ele prometera pra mim e tinhamos um bebê agora, pelo qual Michael era apaixonado. Nossa vida era Prince, faríamos qualquer coisa por nosso filho e isso estava incluído que Michael nunca mais usasse aquele tipo de coisa. Ele sabia dos riscos que os remédios ofereciam e ele não queria brincar com a possibilidade de algo sério acontecer com ele.
Olhei para o seu peito e o acariciei levemente com os dedos, beijando seu pescoço. Não era minha intensão acordá-lo, mas o senti se mover um pouco abaixo de mim, e logo seus lábios estavam beijando meus cabelos.
- Bom dia, amor... - ele disse.
Olhei pra ele e sorri, sentindo seus lábios pousarem sobre os meus.
- Bom dia. Desculpe te acordar, não era a intensão...
Ele sorriu.
- Eu sei, baby, mas pude sentir seu cérebro trabalhando... - ele sorriu de lado. - No que estava pensando?
- Estava pensando no quanto nossa família é perfeita e no quanto você me faz feliz. - falei, olhando em seus olhos.
- Você também me faz feliz amor... - ele sorriu e se virou, me colocando deitada na cama e se colocando por cima de mim. - Na verdade, você me faz muito feliz e eu mal posso esperar para essa felicidade se multiplicar... - ele disse olhando para o meu ventre.
Não pude conter um sorriso, principalmente quando ele beijou meu pescoço e acariciou minha barriga.
- Hei, nós combinamos que eu só engravidarei depois que sua turnê acabasse, mocinho!
- Nós combinamos não, você decidiu isso... Eu não falei se aceitava ou não. - ele disse com a cara séria, mas com uma pitada de sorriso em sua voz.
- Ora, então eu decido por nós dois aqui! - falei, vendo-o arquear uma sobrancelha pra mim e um sorriso despontar em seu rosto. - Não quero engravidar agora, Mike, isso significaria que você não participaria de quase nada e não só eu, mas sei que você quer está ao meu lado do começo ao fim e também está quando nosso segundo bebê vier ao mundo...
Eu continuaria a citar motivos, mas ele colocou dois dedos em minha boca, me impedindo de continuar a falar.
- Hei, eu sei, amor... Conversamos sobre isso e é verdade. Se você engravidar agora, não estarei aqui, e eu quero está aqui. Você sabe que sim. - ele sorriu e beijou a ponta de meu nariz. - Eu só estava brincando... - seus beijos desceram por meu rosto e foram para o meu pescoço até parar em meu colo. - Na verdade, eu ainda quero brincar, mas é de outra coisa...
Sua voz ficou rouca no final e eu só tive tempo de esboçar um sorriso antes que ele me atacasse e fízessemos amor mais uma vez.
Diferente do que eu pensava, Prince e eu não tivemos a companhia de Michael pelo dia todo, como eu achava que seria.
Michael Bush, estilista de Michael, ligou para ele, pedindo para que o encotrasse em seu apartamento para uma reunião de última hora. Bush teve sua viajem para Paris antecipada e embarcaria na manhã seguinte com previsão para voltar apenas no final do mês e precisava da aprovação de Michael para os croquís que - pela milésima vez - ele havia modificado e desenhado.
Pedindo mil desculpas, Michael deu um beijo em mim e em Prince e saiu as pressas, há quatro horas atrás.
Tinha acabado de dar janta a Prince quando ele chegou, abraçando a nós dois e me beijando. Entreguei Prince para Mary, nossa babá e fui com Michael até a sala para que ele me contasse as novidades. Via em seus olhos o quão ansioso ele estava para isso.
- E então, finalmente gostou do que Bush lhe apresentou? Diga que sim, porque, sinceramente, eu já estou com pena dele. Nada do que ele desenha você gosta, Mike! - falei, rindo.
Ele riu junto comigo e pegou a pasta com os desenhos, começando a falar antes de abrí-los:
- Finalmente ele conseguiu fazer tudo do jeito que eu pedi. Você sabe que sou chato, Alie, e perfeccionista também, simplesmente não poderia aceitar algo que não havia gostado, mas dessa vez... Dessa vez ele foi direto ao ponto, e fez tudo como eu queria. Ficou perfeito, você precisa vê!
Ele abriu a pasta e pegou o primeiro croquí para que eu pudesse vê.
- Olhe isso, não é maravilhoso? - ele perguntou, sorrindo.
Ao meu vê era maravilhoso e lindo. Uma roupa dourada e chamativa, o problema era que eu não seria a única a vê aquilo. Quer dizer, aquela calça era... Apertada demais e marcava tudo, exatamente tudo!
- É lindo, Michael, mas... Em que vida você acha que vai usar isso aqui? - perguntei, olhando pra ele.
- O que? - ele perguntou sem me entender.
- Isso mesmo, em que vida você acha que vai usar uma calça como essa? Quer dizer... É quase uma segunda pele! Michael, essa roupa marca tudo, se é que me entende.
Ele me olhou arqueando uma sobrancelha e rindo de lado.
- Está com ciumes, amor? - ele sorriu
- Não é ciúmes, Mike... - falei, revirando os olhos. - Quer dizer, é ciúmes sim, mas é bem mais que isso. Você é um homem casado, Michael, acho que deveria ter um pouco de respeito com esse fato. - falei.
Ele franziu o cenho e acho que dessa vez ele percebeu que aquilo tudo não era apenas um ataque de ciúmes.
- Alie, não acha que está fazendo tempestade em um copo d'água? É apenas uma calça, não tem nada demais.
- Você fez com que eu mudasse o figurino inteiro do último musical que eu participei e agora está me dizendo que eu estou exagerando? Ah, pelo amor de Deus... - falei, me levantando.
Fui em direção a cozinha que estava vázia e Michael foi atrás de mim com os desenhos em mãos.
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra, Alice.
Me virei pra ele, vendo que ele continuava com a mesma expressão, o que me deixou ainda mais irritada.
- Claro que tem, Michael. Essa calça é indecente, ela marca tudo!
- Acontece que você é mulher. Eu jamais deixaria que a minha mulher ficasse usando uma roupa curta pra um monte de homem vê, Alice! - ele disse, começando a alterar o tom de voz.
- Ora, e você é homem e eu não quero que o meu marido use uma calça que marca exatamente tudo que só eu tenho o direito de vê, Michael!
Ele riu de forma irônica e jogou os desenhos em cima do balcão. Podia sentir que sua paz havia ido embora, porque ele me olhava de forma desafiadora, querendo medir o nível de raiva entre nós.
Mas eu estava com muito, muito mais raiva do que ele.
- E você quer que eu faça o que? Mude todo o figurino porque você não gostou da bendita calça? Sinto muito, Alice, mas não vai dá pra realizar esse desejo. A turnê começa em três meses e como eu aprovei os desenhos, as roupas já começaram a ser feitas.
- Engraçado... Eu pude realizar o seu "desejo", pedindo para mudarem todo o figurino do musical... Mas você não pode fazer o mesmo por mim? - perguntei, rindo de leve com tudo aquilo.
Ele andou em minha direção e só parou quando estava de frente pra mim.
- Jogando as coisas na minha cara agora, Alice?
- Talvez... - respondi em tom irônico.
Ele revirou os olhos e se afastou, pegando os croquis em cima da mesa. Quando chegou na porta da cozinha, ele se virou e olhou pra mim.
- Foda-se. Eu não vou mudar nada porque minha esposinha está sendo mimada. É o meu trabalho, Alice, você tem que respeitar isso e ponto final!
- Mas o musical é o meu trabalho também, Michael! E eu mudei tudo porque você não gostou! - gritei olhando pra ele.
Eu estava com tanta raiva com o modo como ele estava falando. Era muito egoísmo da parte dele querer usar uma roupa tão sensual, sendo que ele era um homem casado!
- Por que você está gritando? - ele perguntou, olhando pra mim. - Pra começar, eu estou praticamente do seu lado, não precisa elevar o tom de voz, não sou surdo!
- Mas parece que é, Michael! Será que pode parar de ser egoísta? - perguntei, abaixando o tom de voz. - Eu só estou pedindo pra mudar a calça, ou colocá-la menos apertada... É só isso.
Fiquei olhando pra ele, esperando uma resposta enquanto ele ficava com a expressão nula, sem me deixar saber no que estava pensando. Todo aquele silêncio estava me deixando mais nervosa e eu estava me segurando pra não falar em alto e bom som o quanto ele estava sendo egoísta.
- Com licença? - Mary bateu na porta da cozinha, parecendo sem graça. - Sra. Jackson, Prince já dormiu e está no berço. Eu posso me recolher agora?
- Claro. Pode ir dormir, querida... - forcei um sorriso.
Ela apenas assentiu e deu boa noite, saindo da cozinha logo em seguida. Voltei a olhar pra Michael e então ele resolvei falar:
- Eu não posso, Alice. A roupa está do jeito que eu pedi, está exatamente do jeito que eu quero e eu não vou mudar. - ele disse pausadamente. - Perdi completamente a vontade de jantar, vou dá um beijo no meu filho e ir para o quarto. Com licença.
Ele virou as costas e saiu da cozinha, me deixando sozinha.
Depois de fazer um lanche, dar um beijo em Prince e tomar banho, resolvi que estava na hora de me deitar. Já passava das duas da manhã e eu ainda não tinha reunido coragem suficiente para ir para meu quarto, me deitar ao lado de Michael.
Nunca fui boa em brigas. Sempre fui o tipo de pessoa que fazia de tudo para se livrar de algo que pudesse gerar ofensas, confusões e tapas, porém, não havia imaginado que uma calça poderia se tornar uma briga de casal. Quando iniciei o assunto, pensei que Michael me entenderia e mudaria de opinião, como eu já havia feito diversas vezes por conta dele, mas não foi bem assim.
Michael não era egoísta em sua vida pessoal, mas ele era em seu trabalho. Gostava que tudo fosse feito do seu jeito e odiava quando alguém interferia nisso, mas eu não sou uma pessoa qualquer. Sou esposa dele, sou a mulher com quem ele divide a cama todas as noites, com quem ele divide a vida. Por isso acho errado todo o escândalo que ele havia feito, que me arrastou a fazer um escândalo também.
Poucos motivos faziam com que Michael e eu brigássemos e quando brigávamos, minutos depois já havíamos feito as pazes. Nunca fomos nos deitar brigados do jeito que ele havia feito hoje e aquilo estava me magoando. Porém, eu não era mais a Alice de antigamente, que abaixava a cabeça por qualquer coisa e simplesmente deixava pra lá tudo de ruim que as pessoas faziam comigo.
Algo que eu havia aprendido nos últimos dois anos, era saber me impor. Me tornar uma mulher casada me ajudou a perceber que eu não era mais uma garota que tinha que reerguer o pai quando a mãe morreu, ou uma quase mulher tentando alcançar um sonho. Eu era realmente uma mulher. Era casada e tinha um filho de um ano e meio, que precisava de mim. Meu marido precisava de mim e simplesmente não dava mais para me esconder quando as coisas apertavam.
Eu era uma nova Alice e tinha muito orgulho dela. Mesmo brigando com Michael, porque me provava que eu não era mais tão submissa aos sentimentos das outras pessoas e estava pensando um pouco mais em mim mesma.
Coloquei o livro que eu estava tentando ler, em cima da mesa e sai da biblioteca. Quando entrei no quarto apenas a luz do abajur do lado de Michael estava ligada, mas ele já estava dormindo profundamente - ou ao menos fingindo que estava dormindo. Desliguei o abajur e me deitei, tendo Michael virado de costas para mim e não me deixando deitar em seu peito, como de costume.
Eu até poderia realmente ser uma nova Alice, mas pequenas coisas ainda me machucavam e essa era uma dessas "pequenas coisas". Não ter o prazer de me deitar no peito de meu marido me doeu e continuou doendo até que finalmente eu consegui pegar em sono profundo.
Eu sabia que estava tudo infinitamente errado na minha vida. O meu jeito de ser, minhas novas vontades e minhas maneiras também, porém o mais errado de tudo era a forma como
eu estava guiando aquele carro.
As lágrimas desciam desesperadas por meus olhos, eu sabia o porquê de tudo aquilo, mas não queria acreditar. Enquanto minhas mãos tremiam e minha garganta travava, a chuva fazia meu carro deslizar com ainda mais velocidade pelo asfalto molhado.
O asfalto do sentido contrário ao caminho que eu deveria fazer. Eu havia invadido a pista ao lado, estava na contra-mão, mas não tinha coordenação motora para guiar o carro de volta ao seu lugar correto. Eu apenas estava... Desesperada e tudo piorou quando uma luz branca e forte cegou minha visão, o barulho de uma buzina alta afetando meus ouvidos, enquanto eu sentia o impacto de meu carro contra algo grande.
Meu corpo foi arremessado para frente, e tudo pareceu rodar em câmera lenta, enquanto eu era impulsionada para fora do carro, caindo no asfalto molhado. Minha cabeça latejou e eu senti algo rachar dentro de mim, enquanto via somente a chuva e sentia a dor dentro de cada parte de mim.
Dor, choro, sangue e enfim, a paz.
- Alice! Alice, pelo amor de Deus, acorda! - eu ouvia a voz de Michael me chamar.
Em um pulo me sentei na cama, minha cabeça zonza enquanto eu tentatava enxergar onde eu estava e tirar todo aquele pesadelo do meu campo de visão. Meu coração batia forte e eu soluçava em meio ao choro sem ao menos sentir que estava chorando.
- Hei, amor, se acalma, já passou... - Michael disse passando os braços pela minha cintura.
Eu queria abraçá-lo também, mas a dor de todo aquele tormento ainda estava dentro de mim, eu poderia sentí-la lá, se retorcendo em meu estômago e se alojando em minha garganta, me fazendo chorar ainda mais.
Michael passou a ponta dos dedos pelo meu rosto, limpando minhas lágrimas enquanto eu continuava a chorar cada vez mais desesperada, mas agora não era somente pelo pesadelo... Era por alívio, por medo, por tudo.
- Alie, amor, eu estou desesperado... Seja lá o que foi que você sonhou, já passou...
- Eu morria, Michael... - murmurei em meu ao choro.
Eu sabia que morria, eu sentia que eu morria logo após tudo aquilo.
- O que? - ele me olhou arregalando os olhos. - Como assim morria, amor?
- Eu sofri um acidente de carro... Eu fui arremessada contra o para-brisa e cai no asfalto... Tudo doia, Mike e então parou de repente. Eu sei que eu morri ali, eu sinto isso!
- O que? Não, Alie, por Deus não pense nisso... - ele me abraçou e puxou minha cabeça para o seu peito. - Não fale uma coisa dessas nem brincando! Eu amo você e não posso te perder... Não quero nem pensar nisso. - ele disse com a voz embargada
Ficamos abraçados durante um tempo. Meu rosto afogado em seu peito, ouvindo seu coração bater não forte quanto o meu, enquanto ele afagava minhas costas e beijava meu cabelo. Tudo dentro de mim já estava se acalmando, porque Michael tinha esse poder sobre mim. Mas o medo que se instalou em nós dois ainda era palpável.
- Hei, olhe pra mim... - ele disse, pegando meu rosto em suas mãos. - Foi só um sonho ruim, ok? Nada disso irá acontecer, certo? Não quero que pense nisso, sonhos ruins vem e vão e esse foi apenas mais um.
- Ok... - assenti, mesmo sem está muito segura daqui. - Eu quero te pedir desculpas pela nossa briga de hoje, Mike e dizer que...
Ele colocou dois dedos na minha boca, me impedindo de começar a falar. Seus olhos estavam doces como sempre foram, e ele sorriu minimamente pra mim.
- Eu é quem tenho que pedir desculpas. Eu fui egoísta, Alie, eu estava nervoso e não pensei em você, nem em nada que eu estava falando. Amanhã mesmo eu vou ligar para Bush e marcar um reunião, vamos mudar o figurino e...
- Não. - o interrompi. Me sentei melhor na cama e me virei pra ele, pegando em suas mãos. - Não quero que mude nada. A roupa é linda, Mike, eu só falei tudo aquilo porque suas fãs vão ficar olhando pra você vestido naquilo e... Eu sinto muito ciumes, e não quero que meus ciumes atrapalhe seus planos.
- Mas não está atrapalhando nada, amor...
- Está sim e eu sei disso. - falei olhando pra ele. - Apenas... Apenas não deixe que elas passem em mão em você, sabe... Aquela calça marca coisa demais.
Ele me olhou e então o som da sua gargalhada preencheu o quarto parcialmente iluminado pelo abajour.
- Está certo, eu não vou deixar. - ele me olhou e chegou perto de mim, passando a mão por meu rosto. - Eu te amo muito, Alie.
Sorri pra ele e me aproximei, beijando seus lábios com carinho.
- Eu também te amo muito, Mike.
Julho de 1996
- Oh meu Deus, Alie... Você está linda, garota! - Mark disse se aproximando de mim.
Michael e eu nos olhamos e rimos do jeito escandaloso de Mark. Nem mesmo na festa de aniversário de seu namorado, ele era comedido.
Chegando perto de nós, ele me deu dois beijos no rosto e apertou a mão de Michael.
- É sério, Mike, não deixe Alice sozinha nessa festa. O que mais tem é gavião a solta!
- Pode deixar, Mark. Ela não vai sair de perto de mim... - Michael disse enlaçando minha cintura e beijando meu pescoço.
- Isso mesmo, bebê, não deixe! Mas, Alie, tempo não passa pra você, não é mesmo? Continua com a mesma carinha de sempre e o mesmo corpão!
Capitulo 1
Junho de 1996
- Você é o bebê mais lindo do mundo... - murmurei para Prince já adormecido em meus braços. - Eu amo você.
- E eu amo vocês. - ouvi Michael dizer.
Olhei em direção a porta e o vi encostado com os braços cruzados e um lindo sorriso no rosto. Foi impossível não sorrir também. Ele se aproximou de nós e deu um beijo na testa de Prince, logo depois beijando meus lábios docemente.
- Me dê ele aqui... Vou coloca-lo no berço.
Michael pegou Prince em seu colo e o beijou carinhosamente na testa enquanto o levava até seu berço, colocando-o deitado em sua cama. Pude ouvir os pequenos resmungos de Prince. Ele não gostava de sair do conforto de nossos braços e ir para sua cama, mas Michael logo o fez se acalmar, cantarolando I'll Be There para ele. Isso sempre o acalmava.
Quando percebeu que ele havia entrado em sono profundo novamente, Michael se virou para mim e estendeu sua mão. Com um sorriso a segurei e então saímos do quarto de Prince. Pude sentir o sorriso de Michael em minha nuca, quando ele me abraçou por trás.
- Agora você é toda minha, Sra. Jackson...
- Pensei que eu já era sua... - murmurei, tentando inutilmente conter um sorriso.
Ele beijou meu ombro e foi fazendo uma trilha de beijos até chegar a minha orelha.
- Você é e sempre será minha. - ele disse em um tom rouco que denunciava sua excitação.
Nos guiando até a porta de nosso quarto, Michael a abriu com pressa, mordendo o lábio inferior ao perceber onde meus olhos estavam pousados naquele momento; no intenso volume em sua calça, que denunciava o quão excitado ele estava.
Ele me puxou pela mão e eu simplesmente não consegui me conter, o puxei pela camisa trazendo-o pra mim, e ataquei sua boca com a minha, sentindo suas mãos apertarem minha bunda com força me forçando contra sua ereção.
Eu o amava tanto e em quase dois anos de casamento todo esse sentimento havia aumentado, juntamente com o intenso desejo que eu sentia por ele.
Puxei sua camisa para cima, e ele sorriu por conta de minha pressa. Mordendo o lábio, ele abaixou as alças da minha camisola e beijou meus ombros, deixando minha roupa cair até parar em minha cintura, onde a segurou com as mãos em meus quadris.
- Eu simplesmente amo o contato da seda com a sua pele... - ele murmurou olhando para minha cintura, onde seus dedos faziam círculos em minha pele por cima da camisola de seda. - Mostra o quão o íntimo e profundo é a nossa relação, porque sei que sou a único a sentir o toque da seda em sua pele quente.
- E continuará a ser o único. - falei olhando em seus olhos.
Ele sorriu e então me pegou no colo, me colocando deitada em nossa cama. Era uma noite fria, mas o calor do momento me esquentava. Acomodei melhor minha cabeça no travesseiro e Michael se ajoelhou perto de meus pés, onde ele começou acariciar meu tornozelo e beijar minhas pernas.
Ele era esperto e sabia como aquele pequeno toque em meu tornozelo me excitava. Soltei um pequeno gemido quando ele começou a fazer círculos ali, e ele sorriu perversamente, separando minhas pernas e se colocando no meio delas.
Suas mãos subiram por minhas coxas e ele tocou em minha camisola, enquanto seus beijos subiam e chegavam a minha virilha. Com um sorriso safado, ele puxou minha calcinha com o dente, até arrebentar o tecido fino e deixar minha intimidade a mostra.
Foi impossível conter um sorriso quando ele passou a língua pelos lábios e abaixou a cabeça, começando a beijar meu monte de Vênus. Não precisávamos de palavras quando fazíamos amor, nossos olhos e nossos corpos conversavam por si só e o erotismo nos gestos de Michael era o suficiente para me deixar completamente louca por ele.
Ainda tocando minha cintura por cima da camisola, Michael passou a língua pela minha pele até encontrar meu clitóris, um movimento pequeno, que me fez arfar e estremecer a baixo dele, enquanto minhas pernas se abria mais para ele poder explorar tudo e me levar a loucura como sempre fazia.
- Quero que goze na minha boca, Alie... - ele disse com sua voz rouca e sexy - Vou usar somente minha língua hoje, está bem? E você vai se desfazer pra mim...
Sua voz pronunciando tudo aquilo fez meu baixo ventre oscilar. Agora mais do que nunca eu precisava sentir tudo aquilo, precisava realmente me desfazer pra ele.
Olhando em meus olhos, ele separou meus grandes lábios com os dedos, deixando meu clitóris amostra. Mordi o lábio com força quando ele começou a movimentar a ponta da língua naquele ponto tão sensível e excitado, e ele gostou daquilo, porque fez de novo e de novo, passando a língua de cima para baixo, me deixando molhada com sua saliva.
Seus lábios se fecharam em volta de meu clitóris e então ele começou a me chupar com força e rapidez, seus movimentos de sucção fazendo com que meu clitóris entrasse por seus lábios, enquanto ele fazia questão de fazer barulho e gemer, para que a vibração de sua voz ondulasse por meu nervo sensível.
Eu podia sentir tudo dentro de mim vibrar e se apertar, meu orgasmo se formando e vindo com força, fazendo com que eu gritasse e escorregasse minha intimidade por sua língua, quando gozei forte pra ele.
- Adoro quando se perde desse jeito pra mim... - ele sussurrou, subindo os beijos pelo meu corpo, sua ereção ainda coberta pela calça, se esfregando por todo o meu corpo até parar em cima de meu clitóris sensível.
- E isso acontece por sua culpa... - murmurei com um sorriso malicioso nascendo em meu rosto.
- Eu sei que sim...
Ele sorriu e me beijou, essa foi a minha deixa para que o empurrasse e o colocasse deitado em meu lugar.
Por mais que eu tivesse um milhão de orgasmos com sua boca apressada e maldosa, eu sempre iria querer explodir com ele dentro de mim, sentindo-o ocupar seu lugar de direito.
Me coloquei sentada em cima dele, mas antes que me acomodasse em sua cintura, ele se sentou e me puxou com força pra baixo, fazendo meu clitóris se encontrar com sua ereção, que pulsava abaixo de mim.
Sua boca encontrou a minha, e enquanto nos beijávamos, desamarrei a calça de seu pijama, abaixando-a apenas para que seu membro pulasse pra fora, acomodando-se no meio de minhas pernas. Peguei-o em minhas mãos e comecei a masturba-lo, sentindo-o quente e pulsante em minhas mãos.
Michael gemeu baixinho em meus lábios, franzindo o cenho ao sentir o prazer o atingir, e eu apressei o movimento de minhas mãos, querendo que ele sentisse algo próximo do que eu senti, mesmo sem minha boca está o envolvendo. Ele gemeu mais alto e balançou os quadris em um movimento de penetração e então eu parei.
Ele abriu os olhos, confuso e eu sorri, tirando minha camisola e pegando seu membro em minhas mãos novamente para guia-lo pra dentro de mim.
- Oh Alie... Eu amo você, baby...
Sorri, começando a me movimentar em cima dele, sentindo ir lentamente até o fundo de mim.
- Eu te amo mais, Mike. - murmurei, começando a beija-lo novamente.
Senti suas mãos circundarem cada lado de minha cintura, começando a me manusear para cima e para baixo, cada vez mais rápido. Ele ia até o fundo, pulsando dentro de mim.
Me apoiei em seus ombros e subi lentamente, prendendo-o dentro de mim, vendo-o gemer alto e sentindo-o apertar minha cintura com força. Ele sorriu, me puxando pra baixo com rapidez.
- Não pode fazer isso, amor... Desse jeito eu vou gozar antes de você... - ele sussurrou em meu ouvido.
- Eu vou gozar junto com você...
E realmente iria, porque meu corpo seguia os comandos do corpo de Michael, mesmo quando eu estava controlando tudo.
Continuei a me movimentar em cima dele, tendo sua ajuda para ir cada vez mais para cima e para baixo. Senti tudo dentro de mim se apertar, e gememos juntos quando o orgasmo chegou para nós dois ao mesmo tempo.
Capitulo 2
Junho de 1996
Michael dormia calmamente com o braço ao redor de minha cintura, enquanto eu estava deitada em seu peito.
Havia acabado de acordar e esse era um dos raros dias em que eu acordava e Michael ainda estava na cama. Os últimos meses tinham sido difíceis, a nova turnê de Michael estrearia em três meses e ele estava correndo ao lado de sua equipe. Eu o entendia e o apoiava em tudo e por conta de seu trabalho, havíamos entrado em consenso quanto a minha carreira.
Durante a turnê, que iria até outubro do ano que vem, eu não iria trabalhar nem fechar contrato em nenhum musical, o que achei muito justo. Michael estaria viajando por todo o mundo e eu tinha que ficar com nosso filho e também iria acompanhá-lo em algumas dessas viajens, pelo menos no país onde ele ficasse por mais tempo.
Eu sabia a loucura que era fazer uma turnê mundial, mesmo ficando apenas alguns dias ao lado de Michael durante a turnê Dangerous, pude perceber o quão cansativo era aquilo então, nem pensei duas vezes quando ele me pediu de uma forma extremamente carinhosa, para que eu ficasse parada durante um ano.
De qualquer forma eu não conseguria dizer não para e não iria dizer não. Na verdade, nem tinha como dizer não. Erámos uma família, e um tinha que abrir um pouco de espaço para o outro agir, assim que tinha que ser e era assim que eu queria que fosse. Nos últimos dois anos, Michael esteve ao meu lado em tudo o que fazia, me apoiando e me alertando sobre o que era bom ou errado - como um bom conhecedor de toda aquela área - nada mais do que justo que eu fizesse o mesmo por ele agora.
Tirei os olhos da janela e contemplei seu rosto sereno enquanto dormia. Eu estava tão orgulhosa por ele nunca mais ter usado aqueles medicamentos e eu tinha a plena certeza que ele nunca mais usair aquele tipo de coisa. Ele prometera pra mim e tinhamos um bebê agora, pelo qual Michael era apaixonado. Nossa vida era Prince, faríamos qualquer coisa por nosso filho e isso estava incluído que Michael nunca mais usasse aquele tipo de coisa. Ele sabia dos riscos que os remédios ofereciam e ele não queria brincar com a possibilidade de algo sério acontecer com ele.
Olhei para o seu peito e o acariciei levemente com os dedos, beijando seu pescoço. Não era minha intensão acordá-lo, mas o senti se mover um pouco abaixo de mim, e logo seus lábios estavam beijando meus cabelos.
- Bom dia, amor... - ele disse.
Olhei pra ele e sorri, sentindo seus lábios pousarem sobre os meus.
- Bom dia. Desculpe te acordar, não era a intensão...
Ele sorriu.
- Eu sei, baby, mas pude sentir seu cérebro trabalhando... - ele sorriu de lado. - No que estava pensando?
- Estava pensando no quanto nossa família é perfeita e no quanto você me faz feliz. - falei, olhando em seus olhos.
- Você também me faz feliz amor... - ele sorriu e se virou, me colocando deitada na cama e se colocando por cima de mim. - Na verdade, você me faz muito feliz e eu mal posso esperar para essa felicidade se multiplicar... - ele disse olhando para o meu ventre.
Não pude conter um sorriso, principalmente quando ele beijou meu pescoço e acariciou minha barriga.
- Hei, nós combinamos que eu só engravidarei depois que sua turnê acabasse, mocinho!
- Nós combinamos não, você decidiu isso... Eu não falei se aceitava ou não. - ele disse com a cara séria, mas com uma pitada de sorriso em sua voz.
- Ora, então eu decido por nós dois aqui! - falei, vendo-o arquear uma sobrancelha pra mim e um sorriso despontar em seu rosto. - Não quero engravidar agora, Mike, isso significaria que você não participaria de quase nada e não só eu, mas sei que você quer está ao meu lado do começo ao fim e também está quando nosso segundo bebê vier ao mundo...
Eu continuaria a citar motivos, mas ele colocou dois dedos em minha boca, me impedindo de continuar a falar.
- Hei, eu sei, amor... Conversamos sobre isso e é verdade. Se você engravidar agora, não estarei aqui, e eu quero está aqui. Você sabe que sim. - ele sorriu e beijou a ponta de meu nariz. - Eu só estava brincando... - seus beijos desceram por meu rosto e foram para o meu pescoço até parar em meu colo. - Na verdade, eu ainda quero brincar, mas é de outra coisa...
Sua voz ficou rouca no final e eu só tive tempo de esboçar um sorriso antes que ele me atacasse e fízessemos amor mais uma vez.
***
Diferente do que eu pensava, Prince e eu não tivemos a companhia de Michael pelo dia todo, como eu achava que seria.
Michael Bush, estilista de Michael, ligou para ele, pedindo para que o encotrasse em seu apartamento para uma reunião de última hora. Bush teve sua viajem para Paris antecipada e embarcaria na manhã seguinte com previsão para voltar apenas no final do mês e precisava da aprovação de Michael para os croquís que - pela milésima vez - ele havia modificado e desenhado.
Pedindo mil desculpas, Michael deu um beijo em mim e em Prince e saiu as pressas, há quatro horas atrás.
Tinha acabado de dar janta a Prince quando ele chegou, abraçando a nós dois e me beijando. Entreguei Prince para Mary, nossa babá e fui com Michael até a sala para que ele me contasse as novidades. Via em seus olhos o quão ansioso ele estava para isso.
- E então, finalmente gostou do que Bush lhe apresentou? Diga que sim, porque, sinceramente, eu já estou com pena dele. Nada do que ele desenha você gosta, Mike! - falei, rindo.
Ele riu junto comigo e pegou a pasta com os desenhos, começando a falar antes de abrí-los:
- Finalmente ele conseguiu fazer tudo do jeito que eu pedi. Você sabe que sou chato, Alie, e perfeccionista também, simplesmente não poderia aceitar algo que não havia gostado, mas dessa vez... Dessa vez ele foi direto ao ponto, e fez tudo como eu queria. Ficou perfeito, você precisa vê!
Ele abriu a pasta e pegou o primeiro croquí para que eu pudesse vê.
- Olhe isso, não é maravilhoso? - ele perguntou, sorrindo.
Ao meu vê era maravilhoso e lindo. Uma roupa dourada e chamativa, o problema era que eu não seria a única a vê aquilo. Quer dizer, aquela calça era... Apertada demais e marcava tudo, exatamente tudo!
- É lindo, Michael, mas... Em que vida você acha que vai usar isso aqui? - perguntei, olhando pra ele.
- O que? - ele perguntou sem me entender.
- Isso mesmo, em que vida você acha que vai usar uma calça como essa? Quer dizer... É quase uma segunda pele! Michael, essa roupa marca tudo, se é que me entende.
Ele me olhou arqueando uma sobrancelha e rindo de lado.
- Está com ciumes, amor? - ele sorriu
- Não é ciúmes, Mike... - falei, revirando os olhos. - Quer dizer, é ciúmes sim, mas é bem mais que isso. Você é um homem casado, Michael, acho que deveria ter um pouco de respeito com esse fato. - falei.
Ele franziu o cenho e acho que dessa vez ele percebeu que aquilo tudo não era apenas um ataque de ciúmes.
- Alie, não acha que está fazendo tempestade em um copo d'água? É apenas uma calça, não tem nada demais.
- Você fez com que eu mudasse o figurino inteiro do último musical que eu participei e agora está me dizendo que eu estou exagerando? Ah, pelo amor de Deus... - falei, me levantando.
Fui em direção a cozinha que estava vázia e Michael foi atrás de mim com os desenhos em mãos.
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra, Alice.
Me virei pra ele, vendo que ele continuava com a mesma expressão, o que me deixou ainda mais irritada.
- Claro que tem, Michael. Essa calça é indecente, ela marca tudo!
- Acontece que você é mulher. Eu jamais deixaria que a minha mulher ficasse usando uma roupa curta pra um monte de homem vê, Alice! - ele disse, começando a alterar o tom de voz.
- Ora, e você é homem e eu não quero que o meu marido use uma calça que marca exatamente tudo que só eu tenho o direito de vê, Michael!
Ele riu de forma irônica e jogou os desenhos em cima do balcão. Podia sentir que sua paz havia ido embora, porque ele me olhava de forma desafiadora, querendo medir o nível de raiva entre nós.
Mas eu estava com muito, muito mais raiva do que ele.
- E você quer que eu faça o que? Mude todo o figurino porque você não gostou da bendita calça? Sinto muito, Alice, mas não vai dá pra realizar esse desejo. A turnê começa em três meses e como eu aprovei os desenhos, as roupas já começaram a ser feitas.
- Engraçado... Eu pude realizar o seu "desejo", pedindo para mudarem todo o figurino do musical... Mas você não pode fazer o mesmo por mim? - perguntei, rindo de leve com tudo aquilo.
Ele andou em minha direção e só parou quando estava de frente pra mim.
- Jogando as coisas na minha cara agora, Alice?
- Talvez... - respondi em tom irônico.
Ele revirou os olhos e se afastou, pegando os croquis em cima da mesa. Quando chegou na porta da cozinha, ele se virou e olhou pra mim.
- Foda-se. Eu não vou mudar nada porque minha esposinha está sendo mimada. É o meu trabalho, Alice, você tem que respeitar isso e ponto final!
- Mas o musical é o meu trabalho também, Michael! E eu mudei tudo porque você não gostou! - gritei olhando pra ele.
Eu estava com tanta raiva com o modo como ele estava falando. Era muito egoísmo da parte dele querer usar uma roupa tão sensual, sendo que ele era um homem casado!
- Por que você está gritando? - ele perguntou, olhando pra mim. - Pra começar, eu estou praticamente do seu lado, não precisa elevar o tom de voz, não sou surdo!
- Mas parece que é, Michael! Será que pode parar de ser egoísta? - perguntei, abaixando o tom de voz. - Eu só estou pedindo pra mudar a calça, ou colocá-la menos apertada... É só isso.
Fiquei olhando pra ele, esperando uma resposta enquanto ele ficava com a expressão nula, sem me deixar saber no que estava pensando. Todo aquele silêncio estava me deixando mais nervosa e eu estava me segurando pra não falar em alto e bom som o quanto ele estava sendo egoísta.
- Com licença? - Mary bateu na porta da cozinha, parecendo sem graça. - Sra. Jackson, Prince já dormiu e está no berço. Eu posso me recolher agora?
- Claro. Pode ir dormir, querida... - forcei um sorriso.
Ela apenas assentiu e deu boa noite, saindo da cozinha logo em seguida. Voltei a olhar pra Michael e então ele resolvei falar:
- Eu não posso, Alice. A roupa está do jeito que eu pedi, está exatamente do jeito que eu quero e eu não vou mudar. - ele disse pausadamente. - Perdi completamente a vontade de jantar, vou dá um beijo no meu filho e ir para o quarto. Com licença.
Ele virou as costas e saiu da cozinha, me deixando sozinha.
Capitulo 3
Depois de fazer um lanche, dar um beijo em Prince e tomar banho, resolvi que estava na hora de me deitar. Já passava das duas da manhã e eu ainda não tinha reunido coragem suficiente para ir para meu quarto, me deitar ao lado de Michael.
Nunca fui boa em brigas. Sempre fui o tipo de pessoa que fazia de tudo para se livrar de algo que pudesse gerar ofensas, confusões e tapas, porém, não havia imaginado que uma calça poderia se tornar uma briga de casal. Quando iniciei o assunto, pensei que Michael me entenderia e mudaria de opinião, como eu já havia feito diversas vezes por conta dele, mas não foi bem assim.
Michael não era egoísta em sua vida pessoal, mas ele era em seu trabalho. Gostava que tudo fosse feito do seu jeito e odiava quando alguém interferia nisso, mas eu não sou uma pessoa qualquer. Sou esposa dele, sou a mulher com quem ele divide a cama todas as noites, com quem ele divide a vida. Por isso acho errado todo o escândalo que ele havia feito, que me arrastou a fazer um escândalo também.
Poucos motivos faziam com que Michael e eu brigássemos e quando brigávamos, minutos depois já havíamos feito as pazes. Nunca fomos nos deitar brigados do jeito que ele havia feito hoje e aquilo estava me magoando. Porém, eu não era mais a Alice de antigamente, que abaixava a cabeça por qualquer coisa e simplesmente deixava pra lá tudo de ruim que as pessoas faziam comigo.
Algo que eu havia aprendido nos últimos dois anos, era saber me impor. Me tornar uma mulher casada me ajudou a perceber que eu não era mais uma garota que tinha que reerguer o pai quando a mãe morreu, ou uma quase mulher tentando alcançar um sonho. Eu era realmente uma mulher. Era casada e tinha um filho de um ano e meio, que precisava de mim. Meu marido precisava de mim e simplesmente não dava mais para me esconder quando as coisas apertavam.
Eu era uma nova Alice e tinha muito orgulho dela. Mesmo brigando com Michael, porque me provava que eu não era mais tão submissa aos sentimentos das outras pessoas e estava pensando um pouco mais em mim mesma.
Coloquei o livro que eu estava tentando ler, em cima da mesa e sai da biblioteca. Quando entrei no quarto apenas a luz do abajur do lado de Michael estava ligada, mas ele já estava dormindo profundamente - ou ao menos fingindo que estava dormindo. Desliguei o abajur e me deitei, tendo Michael virado de costas para mim e não me deixando deitar em seu peito, como de costume.
Eu até poderia realmente ser uma nova Alice, mas pequenas coisas ainda me machucavam e essa era uma dessas "pequenas coisas". Não ter o prazer de me deitar no peito de meu marido me doeu e continuou doendo até que finalmente eu consegui pegar em sono profundo.
-----
Eu sabia que estava tudo infinitamente errado na minha vida. O meu jeito de ser, minhas novas vontades e minhas maneiras também, porém o mais errado de tudo era a forma como
eu estava guiando aquele carro.
As lágrimas desciam desesperadas por meus olhos, eu sabia o porquê de tudo aquilo, mas não queria acreditar. Enquanto minhas mãos tremiam e minha garganta travava, a chuva fazia meu carro deslizar com ainda mais velocidade pelo asfalto molhado.
O asfalto do sentido contrário ao caminho que eu deveria fazer. Eu havia invadido a pista ao lado, estava na contra-mão, mas não tinha coordenação motora para guiar o carro de volta ao seu lugar correto. Eu apenas estava... Desesperada e tudo piorou quando uma luz branca e forte cegou minha visão, o barulho de uma buzina alta afetando meus ouvidos, enquanto eu sentia o impacto de meu carro contra algo grande.
Meu corpo foi arremessado para frente, e tudo pareceu rodar em câmera lenta, enquanto eu era impulsionada para fora do carro, caindo no asfalto molhado. Minha cabeça latejou e eu senti algo rachar dentro de mim, enquanto via somente a chuva e sentia a dor dentro de cada parte de mim.
Dor, choro, sangue e enfim, a paz.
-----
- Alice! Alice, pelo amor de Deus, acorda! - eu ouvia a voz de Michael me chamar.
Em um pulo me sentei na cama, minha cabeça zonza enquanto eu tentatava enxergar onde eu estava e tirar todo aquele pesadelo do meu campo de visão. Meu coração batia forte e eu soluçava em meio ao choro sem ao menos sentir que estava chorando.
- Hei, amor, se acalma, já passou... - Michael disse passando os braços pela minha cintura.
Eu queria abraçá-lo também, mas a dor de todo aquele tormento ainda estava dentro de mim, eu poderia sentí-la lá, se retorcendo em meu estômago e se alojando em minha garganta, me fazendo chorar ainda mais.
Michael passou a ponta dos dedos pelo meu rosto, limpando minhas lágrimas enquanto eu continuava a chorar cada vez mais desesperada, mas agora não era somente pelo pesadelo... Era por alívio, por medo, por tudo.
- Alie, amor, eu estou desesperado... Seja lá o que foi que você sonhou, já passou...
- Eu morria, Michael... - murmurei em meu ao choro.
Eu sabia que morria, eu sentia que eu morria logo após tudo aquilo.
- O que? - ele me olhou arregalando os olhos. - Como assim morria, amor?
- Eu sofri um acidente de carro... Eu fui arremessada contra o para-brisa e cai no asfalto... Tudo doia, Mike e então parou de repente. Eu sei que eu morri ali, eu sinto isso!
- O que? Não, Alie, por Deus não pense nisso... - ele me abraçou e puxou minha cabeça para o seu peito. - Não fale uma coisa dessas nem brincando! Eu amo você e não posso te perder... Não quero nem pensar nisso. - ele disse com a voz embargada
Ficamos abraçados durante um tempo. Meu rosto afogado em seu peito, ouvindo seu coração bater não forte quanto o meu, enquanto ele afagava minhas costas e beijava meu cabelo. Tudo dentro de mim já estava se acalmando, porque Michael tinha esse poder sobre mim. Mas o medo que se instalou em nós dois ainda era palpável.
- Hei, olhe pra mim... - ele disse, pegando meu rosto em suas mãos. - Foi só um sonho ruim, ok? Nada disso irá acontecer, certo? Não quero que pense nisso, sonhos ruins vem e vão e esse foi apenas mais um.
- Ok... - assenti, mesmo sem está muito segura daqui. - Eu quero te pedir desculpas pela nossa briga de hoje, Mike e dizer que...
Ele colocou dois dedos na minha boca, me impedindo de começar a falar. Seus olhos estavam doces como sempre foram, e ele sorriu minimamente pra mim.
- Eu é quem tenho que pedir desculpas. Eu fui egoísta, Alie, eu estava nervoso e não pensei em você, nem em nada que eu estava falando. Amanhã mesmo eu vou ligar para Bush e marcar um reunião, vamos mudar o figurino e...
- Não. - o interrompi. Me sentei melhor na cama e me virei pra ele, pegando em suas mãos. - Não quero que mude nada. A roupa é linda, Mike, eu só falei tudo aquilo porque suas fãs vão ficar olhando pra você vestido naquilo e... Eu sinto muito ciumes, e não quero que meus ciumes atrapalhe seus planos.
- Mas não está atrapalhando nada, amor...
- Está sim e eu sei disso. - falei olhando pra ele. - Apenas... Apenas não deixe que elas passem em mão em você, sabe... Aquela calça marca coisa demais.
Ele me olhou e então o som da sua gargalhada preencheu o quarto parcialmente iluminado pelo abajour.
- Está certo, eu não vou deixar. - ele me olhou e chegou perto de mim, passando a mão por meu rosto. - Eu te amo muito, Alie.
Sorri pra ele e me aproximei, beijando seus lábios com carinho.
- Eu também te amo muito, Mike.
Capitulo 4
Julho de 1996
- Oh meu Deus, Alie... Você está linda, garota! - Mark disse se aproximando de mim.
Michael e eu nos olhamos e rimos do jeito escandaloso de Mark. Nem mesmo na festa de aniversário de seu namorado, ele era comedido.
Chegando perto de nós, ele me deu dois beijos no rosto e apertou a mão de Michael.
- É sério, Mike, não deixe Alice sozinha nessa festa. O que mais tem é gavião a solta!
- Pode deixar, Mark. Ela não vai sair de perto de mim... - Michael disse enlaçando minha cintura e beijando meu pescoço.
- Isso mesmo, bebê, não deixe! Mas, Alie, tempo não passa pra você, não é mesmo? Continua com a mesma carinha de sempre e o mesmo corpão!
- Oh, querido, obrigada! E você também está ótimo... Frenci está fazendo muito bem a você, hm?
Ele sorriu de lado.
- Pode apostar que sim... Ele é o amor da minha vida! - ele sorriu. - Agora venha, tem uma mesa reservada para vocês dois.
Após nos mostrar onde era nossa mesa, Mark sumiu entre os convidados, dizendo que iria procurar por Frenci e trazê-lo até nós. Frenci estava completando quarenta e cinco anos e Mark disse que quatro décadas e meia deveria ser comemorada em grande estilo. Com o aval do aniversariante, ele se programou e planejou tudo, fazendo uma grande festa na casa deles.
De longe avistamos Elizabeth com um braço enlaçando ao de Mark e o outro ao de Frenci. Eles se aproximaram de nós e eu me levantei para dar um abraço apertado em um dos meus mais queridos amigos.
- Oh Frenci... Parabéns, baby! Que Deus o abençoe muito, viu? - falei, beijando cada uma de suas mãos.
Ele sorriu pra mim e beijou minha testa.
- Que Ele nos abençoe, Alie. Obrigada por ter vindo, querida.
- E você achou que eu não viria? Ora essa... - sorrimos.
Falei com Elizabeth enquanto Michael falava com Frenci. Logo eles desapareceram de novo e Liz se sentou a nossa mesa, um sorriso de orelha a orelha.
- Ok, Liz. Pode dizer o motivo desse sorriso agora... - Michael disse, bebendo um pouco de seu drink.
Ela riu.
- Eu estou muito feliz. - ela disse. - Começando por Frenci e Mark finalmente mostrarem ao mundo o amor lindo que sentem um pelo outro. Estou muito feliz por vocês dois, pela família linda que formaram... - ela nos olhou e sorriu pra nós. - E por fim, estou muito feliz por mim mesma. Por todos vocês estarem realizados.
Ela ainda sorria e seus olhos brilhavam de alegria, o que me fez ficar emocionada. Ela sempre foi como uma mãe e cuidava de cada um de nós como tal. Estiquei meu braço na mesa e peguei em sua mão.
- Oh Liz... Você é um anjo. Obrigada por tudo de bom que traz para nossas vidas.
- Isso mesmo, Liz. Você sabe o quanto ajudou cada um de nós. Agradecemos a Deus todos os dias por ter alguém como você junto a nós. - Michael disse, sorrindo pra ela.
- Oh, seus bobos... Obrigada, mas vamos parar com isso, ok? Estamos em uma festa e daqui a pouco eu estarei chorando aqui... - ela disse, passando a ponta dos dedos perto dos olhos.
Um garçom se aproximou de nós e enquanto nos servia algumas bebidas, um homem de terno parou em nossa mesa, ao meu lado. Ele sorriu pra mim e arqueou uma sobrancelha:
- Acho que ainda não fomos devidamente apresentados... - ele disse esticando uma mão pra mim. - Me chamo Martin Rock, sou produtor e ator de musicais.
Confesso que não estava nem um pouco interessada em ser devidamente apresentada aquele rapaz. Ele não era confiável, eu poderia sentir. Mas mesmo assim, parti pra educação, que era algo que sempre carregava comigo.
Coloquei minha mão em cima da dele, pensando em apertá-la levemente e logo puxá-la de volta, mas ele me surpreendeu levando minha mão até seus lábios e plantando um beijo cálido ali. Senti Michael passar o braço em minha cintura, quase que para marcar território.
- Alice Jackson. - falei, puxando minha mão de volta.
- Claro que sim. Você é ainda mais bonita de perto, Alice... Posso te chamar assim não é mesmo?
- Não. Você não pode chamá-la assim. - Michael disse ao meu lado. - Ela é uma mulher casada e acho que a boa educação faria com que você a chamasse de Sra. Jackson.
- Ok, então... Sra. Jackson. - ele sorriu de lado. - Por falar em educação, me perdoem... Fui um completo mal educado. - se virando para Liz, ele pegou sua mão e a beijou. - É um prazer conhecê-la, Sra. Taylor.
- É um prazer conhecê-lo, Sr. Rock. - Liz disse, olhando profundamente pra ele.
Se virando para Michael, ele estendeu a mão e depois de alguns segundos, Michael a apertou.
- É um prazer conhecê-lo também, Sr. Jackson. - ele disse e Michael apenas balançou a cabeça. Se virando pra mim, ele tirou um cartão de seu bolso e me entregou. - Este é o meu cartão, e eu realmente gostaria de me reunir com a senhora em uma reunião, para conversarmos sobre a possibilidade de um musical. Um musical que estou escrevendo apenas para você.
Peguei seu cartão e vi seu nome e dois números de contatos impressos nele. Para não soar muito desinteressada, coloquei o cartão em minha bolsa e então o olhei.
- Muito obrigada pela proposta, Sr. Rock, mas eu não posso fazer nenhum musical agora. Motivos particulares.
Ele arqueou uma sobrancelha, me olhando fixamente.
- Tudo sempre pode mudar. E eu espero que mude. - ele sorriu de lado. - Eu espero sua ligação, Sra. Jackson.
Me olhando mais uma vez, ele deu a volta e saiu de perto de nossa mesa. Ouvi Michael bufando ao meu lado e me virei pra ele, segurando em sua mão.
- Hei, não precisa ficar nervoso ou com raiva... Ele já foi embora.
- Como não ficar com raiva, Alie? O cara estava quase te comendo com os olhos! E ainda por cima é abusado! - ele disse, emburrado.
- Ora, baby... Esse é o preço a se pagar quando se tem uma esposa bonita. Sempre haverá caras em cima dela, interessados por ela. Uns são mais comedidos, outro mais explícitos, como esse tal de Martin Rock. - Liz disse, olhando para nós por cima do canudo de seu coquetel.
- Mas eu não quero que nenhum deles a olhe e você, Alice, vai pegar esse cartão e vai rasgá-lo, queimá-lo, não sei! Mas não o quero com você!
- Certo, eu vou jogar fora, seu ciumento... - falei, sorrindo e então peguei seu rosto em minhas mãos. - Não precisa se preocupar, ok?
Ele travou o maxilar e então se aproximou de mim, beijando minha boca lentamente. Quando se afastou de mim, pude vê que ele ainda continuava emburrado, mas eu realmente não deixaria que aquilo arruínasse nossa noite. Liz pediu licença, dizendo que eu iria conversar com um amigo e assim que ela saiu, eu me virei pra Michael, pegando em sua mão.
- Venha dançar comigo, hm? - perguntei olhando pra ele com carinho.
Ele me olhou e sorriu de lado, arqueando uma sobrancelha.
- Isso está errado, o correto seria: - ele limpou a garganta, se levantou e esticou sua mão para mim, quase como um príncipe. Meu príncipe. - Aceitaria dançar comigo, senhorita?
- É Sra. Jackson. Sou uma mulher casada, não é correto ficar dançando com moços no meio de uma festa. - falei, entrando em um personagem qualquer, como ele estava fazendo.
Uma expressão safada perpassou em seu rosto, enquanto seus lábios se curvavam em um sorriso presunçoso e malicioso.
- Ele não precisa ficar sabendo, Sra. Jackson. Sou muito bom em guardar segredos. - ele piscou.
- Sendo assim... - coloquei minha mão em cima da dele e me levantei. - Eu aceito dançar, senhor.
Me conduzindo até a pista de dança quase vázia, Michael apoiou uma mão em minhas costas, deixando-a subir e descer, quase chegando a minha bunda. Olhei pra ele, me sentindo a mulher mais feliz do mundo por tê-lo ao meu lado, como meu marido, meu amigo, meu amante.
Ele era, realmente, uma das melhores coisas que Deus já havia me dado e eu agradeceria a Ele todos os dias, por ter posto Michael em minha vida.
A festa estava quase vázia, quando Michael e eu fomos nos despedir de Mark e Frenci. Eles estavam perto da saída e um homem vestido de terno estava de costas para nós, falando com eles.
Quando nos aproximamos, reconheci quem era o tal homem. Martin Rock. Creio que Michael também havia o reconhecido, pois ele ficou tenso ao meu lado, mas apenas olhei pra ele e apertei um pouco sua mão, dizendo com o olhar que não era para ele se preocupar com aquilo.
Mark veio até Michael e eu e me abraçou com força. Pude vê quando Martin se virou e me olhou atentamente, comprimindo um pouco os olhos enquanto me analisava. Assim que Mark me soltou, Michael se colocou ao meu lado, enlaçando minha cintura com seu braço.
- Sra. Jackson... - Martin disse me olhando e passando a língua pelos lábios. Aquele gesto me deixou enojada. - Espero que pense em minha proposta. Por favor, não me decepcione.
- Minha esposa não tem muito o que pensar. Como ela mesmo disse: ela não pode aceitar sua proposta e não irá aceitar.
Ele riu um pouco e colocou o copo vázio de uísque em cima de uma mesa que estava atrás dele.
- Bem, Alice pode ser sua esposa e eu tenho que ser obrigado a chamá-la de "Sra. Jackson", mas isso não quer dizer que você responde por dela. Creio que ela tem capacidade de responder por si mesma.
- Sim, eu tenho. - me apressei a falar, antes que Michael pudesse abrir a boca mais uma vez. - E eu não vou aceitar sua proposta.
- Por causa de seu marido? Baby, não deixe que a carreira dele atrapalhe a sua... - ele sorriu.
Michael respirou fundo e mais rápido do que meu reflexo pudesse capitar, ele se aproximou de Martin, pegando-o pelo colarinho de seu terno.
- Michael, pelo amor de Deus! - falei, tentando sua chamar sua atenção, mas não fui atendida.
A expressão dele não era nada amigável. Mark, Frenci e eu nos aproximamos dele, mas qualquer coisa que dissessemos seria em vão.
A ira já havia o tomado.
- Você, garoto, não é porra nenhuma pra chamar a minha mulher de "baby"! Ouviu bem? Nunca, jamais, a trate dessa forma de novo, ou algo pior do que um colarinho amassado pode acontecer a você! - ele gritou.
Martin não fez nada além de rir e então Michael o largou. Frenci chamou um segurança que acompanhou Martin para fora de sua casa e Michael chegou perto de mim.
- Vamos embora, Alice. - virando-se para Mark e Frenci, Michael os olhou com desculpa nos olhos. - Eu sinto muito por isso, mas o amigo de vocês realmente passou de todos os limites! Eu me controlei a festa inteira com a forma que ele havia tratado Alice quando foi se apresentar, e também com os olhares que ele dirigiu a ela durante toda a noite.
- Não, Michael, nós é quem pedimos desculpas. Nunca pensamos que Martin poderia se comportar dessa maneira terrível. Quando decidimos chamá-lo pra festa, não contávamos com isso, apesar de ele ser pouco confiável, é um bom colega de profissão e pensei que se comportaria bem. Vocês deveriam ter falado comigo assim que ele destratou Alice, eu teria expulsado-o na hora! - disse Frenci. - Eu estou tão envergonhado... Me perdoem.
- Eu também estou. Baby, eu sinto muito... - Mark disse pegando em minhas mãos e as beijando.
- Está tudo bem, vocês não precisam se desculpar, não foi culpa de vocês. A festa foi maravilhosa, nós amamos tudo. Isso que aconteceu foi apenas algo sem importância, nada irá apagar a maravilha que foi essa noite. - eu disse.
Me aproximei deles com um sorriso e abracei os dois ao mesmo tempo, sendo abraçada, de volta.
- Eu amo vocês, certo? E vocês estavam divinos nessa festa, deveriam fazer mais disso, Michael e eu iriamos adorar! - falei, me afastando e ficando ao lado de Michael, pegando em sua mão.
Ele ainda estava nervoso, eu podia sentir. A única coisa que ele queria era ir embora logo, estava praticamente escrito em sua testa.
- Oh, nós iremos fazer sim, e pode ter certeza que eu vou selecionar especificamente quem entrará nessa festa. - Frenci disse. - Mas uma vez, nos perdoem por isso.
- Está tudo bem, Frenci. Não precisa se preocupar. - Michael disse, forçando um sorriso e se aproximando deles, apertando a mão de cada um. - Apesar do contratempo, a festa estava maravilhosa.
- Obrigado, Mike. Eu espero vê vocês em breve, antes da turnê começar. - Mark sorriu amigavelmente.
- É só ir a nossa casa, sabem que Neverland sempre estará aberta pra vocês. - Michael disse.
- Está certo, marcaremos um dia, pode deixar. Vão com Deus e deem um beijo em Prince por nós.
Após nos despedirmos, Michael e eu fomos até a garagem, onde Gary nos esperava com o carro. Ele abriu a porta da limousine para nós e minutos depois o carro começou a circular. Com a janela que dava acesso a Gary fechada, me aproximei de Michael e passei meus braços por cima de seu ombro, olhando para seu maxilar tenso.
- Você vai mesmo ficar com essa cara feia? - perguntei.
- Você quer que eu fique como, Alice? - ele bufou e passou a mão pelo rosto. - Eu estou furioso! Só não bati naquele infeliz por respeito a você, a Mark e Frenci, se não a cara dele estaria com um belo estrago agora.
- Ele é só isso, Mike: um infeliz. E não merece ter sua atenção. - falei, puxando seu rosto pra mim e fazendo com que ele me olhasse. - Lembra quando eu fui ao banheiro antes de irmos embora?
Ele franziu o cenho por um instante e então me olhou com cautela.
- Lembro. Não me diga que... - ele travou o maxilar e respirou fundo. - Não me diga que aquele infeliz foi atrás de você no banheiro, Alice?
Olhei pra ele e reprimi uma risada, com medo dele me interpretar mal. Balancei a cabeça, negando. Ele relaxou visívelmente.
- Então o que foi?
- Eu tirei minha calcinha... - sussurrei olhando em seus olhos e levantando meu vestido até chegar perto de onde ele poderia vê minha calcinha, se ela estivesse lá. - A tirei porque tenho alguns planos... A viajem até nossa casa é bem longa. Achei que poderíamos nos divertir um pouco...
Ele me olhou parecendo um pouco surpreso e então mordeu o lábio inferior, descendo o olhar até minha intimidade parcialmente exposta pra ele. Ainda olhando pra 'ela', ele começou a passear a ponta dos dedos por minha coxa, subindo e descendo.
- Você acha que podemos fazer isso? - ele perguntou, a voz começando a ficar rouca. Seu tom de voz mais íntimo, o tom de voz que apenas eu tinha o direito de ouvir.
- Eu tenho certeza... Mas não depende apenas de mim... - murmurei, me aproximando dele e começando a passar meus lábios pelo seu maxilar até chegar a sua orelha. - Depende de você também. - sussurrei em seu ouvido, mordendo o lóbulo de sua orelha logo em seguida.
Pude sentir seu sorriso e quando mordi sua orelha de novo, ele separou minhas pernas com rapidez, subindo seus dedos até tocarem meu clitóris, onde ele começou a acariciar com destreza. Com a mão livre, ele puxou meu rosto para perto do seu e me beijou com pressa, sua língua vasculhando minha boca com paixão.
Estávamos com pressa, na verdade, eu estava. Ainda sentindo os dedos de Michael em mim, começando a entrar e sair pela minha abertura apertada, desabotoei sua camisa rapidamente, logo me dirigindo a sua calça. Ele sorriu e olhou para baixo, enquanto me via tirando seu membro ereto de dentro da cueca.
- Adoro te vê com pressa... Toda safada desse jeito. Eu fico louco com isso, Alice. - ele disse enfiando dois dedos dentro de mim com mais força.
Um gemido alto escapou de meus lábios e eu não consegui ter vergonha depois que o coloquei pra fora, na verdade, ele foi apenas o primeiro. Michael se aproximou de mim e beijou minha boca novamente, enquanto eu começava a tocá-lo, sentindo-o pulsar pra mim.
Mas eu não queria só aquilo, eu queria mais. Tirando minha mão de seu membro, eu o empurrei de leve e tirei sua mão do meio de minhas pernas. Me sentei em seu colo, de frente pra ele e olhei em seus olhos, passando a ponta de minha língua em seus lábios entreabertos. Ele gemeu baixinho e agarrou minha bunda com as duas mãos, me impulsionando pra cima e tentando entrar em mim, mas eu não deixei.
- Antes disso eu preciso fazer uma coisa, amor... - murmurei beijando seu pescoço. - Eu preciso ter você em minha boca.
Ele gemeu e respirou fundo, jogando a cabeça pra trás quando eu circundei seu mamilo com minha língua. Desci por sua barriga, beijando e mordendo cada parte e me ajoelhei a sua frente, vendo seu membro chegar na altura do umbigo, teso e ereto pra mim.
Michael me olhou com o lábio inferior preso entre os dentes. Passei a língua pelos lábios e peguei seu membro em minhas mãos, tocando-o com rapidez antes de colocá-lo em minha boca. Michael gemeu e tocou em minha cabeça, prendendo meus cabelos em suas mãos.
- Isso, baby... Leve-o até fundo, vai... Quero senti-lo na sua garganta, Alie. - ele disse entre gemidos, começando a controlar meus movimentos.
Atendendo a seu pedido, deixei que seu membro deslizasse até chegar em minha garganta, e então ele deu um impulso forte, empurrando-o enquanto eu levantava a minha cabeça. Seus gemidos ecoaram pelo carro enquanto eu o prendia em meus lábios, sugando-o com força, sentindo seu sabor agridoce e sua espessura grossa.
Quando ele jogou a cabeça pra trás, e murmurou meu nome, eu sabia que seu orgasmo estava próximo, então parrei aos poucos, sentindo-o pulsar com força em minha boca. Ele me olhou e me puxou pra cima, me colocando sentada em seu colo enquanto descia o zíper do meu vestido. Eu mesma abaixei as alças e ele sorriu ao vê meus seios expostos.
- Não me canso de olhá-los... De tocá-los. - ele disse, prendendo meu mamilo entre seu dedo indicador e o polegar, fazendo um arrepio parar em meu clitóris. Sua boca se aproximou do outro seio, e ele passou a língua por meu mamilo teso. - O gosto deles são incríveis, baby... São tão lindos, você é toda linda e só minha.
- Só sua! - gemi quando ele sugou meu seio com força enquanto apertava minha bunda com a mesma pressão. Tudo dentro de mim pedia, exigia, que ele estivesse dentro de mim.
Peguei seu membro em minhas mãos, e o coloquei na entrada da minha intimidade. Michael me olhou com meu seio em sua boca e então levou as mãos a minha cintura, me abaixando de uma só vez, entrando em mim com força. Um grito alto saiu de minha garganta e eu poderia ter chegado ao orgasmo apenas com aquele impacto.
Todo o meu ser vibrou e com a ajuda de Michael, comecei a me mover em cima dele, sentindo-o lá dentro de mim, abrindo espaço, me tocando no fundo com toda a força. Michael impulsionava o quadril pra cima, enquanto eu descia de encontro a ele, nossos movimentos eram perfeitos enquanto nosso olhar não se desgrudava um do outro.
Por mais safados que sejamos, por mais que meia dúzia de palavras sujas saíssem de nossas bocas em momentos como aquele, eu tinha a plena convicção de que sim, era amor que fazíamos, porque palavras sujas não seria capaz realmente se 'sujar' todo o nosso momento. O amor vinha de dentro, e trasbordava em nossos olhos e em nossos corpos da forma mais sublime.
Michael espalmou as mãos em minha bunda e em um gesto rápido, me colocou deitada no banco de couro, colocando uma de minhas pernas no encosto do sofá e a outra dobrada no banco, fazendo meu pé quase encostar no chão. Eu estava completamente aberta, e ele se acomodou ali no meio, deitando-se por cima de mim e olhando para baixo, entrando em mim lentamente, gemendo ao vê seu membro entrar em mim.
Ele começou a aumentar a velocidade, e tudo dentro de mim tremia, anunciando que meu orgasmo seria forte demais. Coloquei minhas mãos em seus ombros, arranhando-o por cima da camisa e ele desceu a cabeça, beijando meu pescoço e indo cada vez mais rápido. Seu nome começou a sair cada vez mais rápido por entre meus lábios e então eu gritei em seu nome, sentindo tudo dentro de mim se apertar, enquanto um dos orgasmos mais arrebatadores de minha vida explodia dentro de mim, um atrás do outro, não me dando chance de raciocinar ou parar.
Michael gemeu alto, e eu senti meu baixo ventre oscilar com suas investidas constantes. Meu corpo já estava exausto, mas eu ainda estava excitada mesmo depois de ter gozado não sei quantas vezes, uma atrás da outra. Sua mão foi pra minha cintura, e ele me olhou, metendo fundo e forte.
- Sim, amor... Você vai gozar de novo, gostoso, forte e comigo. - ele rugiu, suado.
Um sorriso se formou em meus lábios e ele mordeu meu lábio inferior, pulsando dentro de mim, indo no fundo, buscando mais um orgasmo meu. Precisou apenas mais uma investida, indo naquele ponto e eu gozei de novo, sentindo-o explodir dentro de mim com toda a força, me fazendo perder a linha de raciocínio novamente.
Michael caiu em cima de mim, enquanto eu descia minha perna do encosto do sofá, sentindo o mundo voltar a girar. O som de nossas respirações se misturava ao barulho da música que tocava dentro do carro.
Sorri com aquilo. Eu nem mesmo me lembrava de está tocando música no carro, na verdade, eu não me lembrava de nada, exceto que eu havia acabado de fazer amor com o meu marido dentro da limousine.
Senti os beijos de Michael em meus pescoço e então ele levantou a cabeça, me olhando com um sorriso bobo e satisfeito nos lábios.
- Eu amo você, garota que adora me impressionar...
Não pude conter minha risada e ele riu junto comigo, se levantando e se sentando a minha frente. Eu continuei deitada, vendo-o abotoar sua calça e sua camisa, tentando ficar apresentável novamente, mesmo sabendo que não conseguiria. Quando ele terminou, seu olhar encontrou o meu e ele acariciou meus pés, colocando-os em cima de suas pernas.
- Você não sabe o quanto está sexy desse jeito. Eu poderia ficar durante horas e horas apenas olhando pra você.
- Eu duvido muito que conseguiria ficar só olhando... - murmurei passando meus pés por cima de seu membro coberto pela calça.
Ele riu.
- Realmente, mas se você continuar a fazer isso, vou ter que mandar Gary dá uma volta por toda Los Angeles. Não saíremos desse carro nem tão cedo, sua danada! - ele me olhou. - Onde está sua calcinha, acho que você precisa se ajeitar...
- Sim, eu preciso... - falei, me sentando ao seu lado. Ele chegou perto de mim e ajeitou a parte de cima de meu vestido, fechando o zíper em minhas costas. Eu apenas abaixei a parte de baixo e prendi meu cabelo em um coque alto. O penteado já estava todo desfeito. - Não sei com que cara eu vou encarar Gary... Será que ele ouviu?
- Bem, eu creio que sim, já que a rádio está ligada. Não estava antes de começarmos... - ele riu. - E você vai encará-lo com a cara de uma mulher que teve vários orgasmos com o homem que ama. Um homem muito bom de cama, na verdade... - ele disse, parecendo refletir sériamente sobre o assunto.
- Oh sim... E como seria essa cara?
Ele me olhou e sorriu.
- Essa aqui... - ele murmurou passando os dedos por meu rosto. - Essa sua cara sexy e corada.
- Você é um tarado, Michael Jackson! - falei, empurrando para o lado.
Ele me puxou e gargalhou.
- Mas foi você quem me atacou, não se esqueça disso, Alice Jackson! Eu fui uma vítima aqui!
- Claro que foi... Uma vítima que me tacou no banco daquele jeito? Ótima vítima, senhor... - falei, sorrindo. - Sem contar que ninguém vai acreditar em você. Eu sou a mulher da história...
Ele me olhou de lado, prendendo o riso.
- É... Ninguém vai acreditar que minha esposa tímida aos olhos de todos, foi capaz de tirar a calcinha no banheiro de uma festa, pra depois me atacar no carro. - ele riu e então me olhou. - Você é muito espertinha, Sra. Jackson.
- Eu faço o que posso... - falei, piscando pra ele.
Michael chegou perto de mim e passou os braços pela minha cintura, me puxando mais pra perto. Quando olhamos pela janela, vimos que estávamos nos portões de Neverland.
- Mas adorei a surpresa, na verdade, foi a melhor parte da noite. Se eu soubesse, nem demoraria tanto tempo para vir embora. - ele sorriu. - E nem pense que acabamos por aqui, ainda quero está dentro de você essa noite, baby.
- E eu mal posso esperar por isso!
Ele riu e me beijou, enquanto sentíamos o carro parar.
- Sr. Jackson? Chegamos. - Gary disse.
Michael se distânciou um pouco de mim e então se virou pra frente.
- Ok, Gary. Já iremos sair... Você pode se recolher agora, certo? Boa noite.
- Tudo bem. Boa noite.
- Boa noite, Gary... - falei, tentando fazer com que me voz não soasse tão envergonhada.
Quando estávamos sozinhos no carro, Michael se permitiu soltar uma risada alta.
- Você faz as coisas e depois não aguenta as consequências, né? Me agradeça, se não, ia ter que encarar o Gary. - ele disse, rindo.
Olhei pra ele de lado, tentando ficar séria, mas só consegui por pouco tempo.
- Como se você não tivesse pensando em si mesmo também, quando pediu para ele sair antes de nós... - falei, rindo. - Vamos subir agora?
- Está certo, querida... - ele sorriu e me deu um beijo antes de abrir a porta do carro.
Tudo estava extremamente bem em nossas vidas. E eu esperava que continuasse assim por muito, muito tempo.
31 de agosto de 1996
- E então, querida, como foi o aniversário de casamento no dia 28 e o aniversário de de Michael no dia seguinte? Eu sinto muito por não poder está aqui para comemorar com vocês... - meu pai falou, tomando um pouco de seu vinho.
Ele havia acabado de chegar de viagem, e havia me chamado para almoçar com ele, o que foi muito bom. Eu estava com saudades de meu pai, e ele também estava com muitas saudades de nós, visto que não tinha largado Prince nem por um segundo depois que nós chegamos a sua casa.
Passar a manhã com ele foi ótimo e agora que Prince estava tirando uma soneca, havíamos nos reunidos para almoçar.
- Foi ótimo. Fizemos apenas uma pequena reunião com amigos mais próximos e alguns irmãos de Michael pra comemorar as duas coisas juntas, visto que a mãe dele não comemora aniversários por conta de sua religião. Sobre nosso aniversário de casamento, não podemos viajar por causa da turnê e provavelmente não poderemos viajar ano que vem, mas Michael prometeu que irá compensar isso... - falei sorrind um pouco e colocando minha taça na mesa. - Mas sentimos muito a sua falta por lá, pai.
- Oh, querida... - ele sorriu e acariciou minha mão por cima da mesa. - Eu fiz de tudo para ir, mas as reuniões em Nova York não terminavam nunca. Só consegui ser liberado ontem a tarde. Esse escritório em Nova York está me atolando, é muita burocracia. Estou pensando seriamente jogar tudo pro alto!
- O que senhor já deveria ter feito a muito tempo... Você sabe que eu nunca concordei com essa ideia de você começar a trabalhar nesse escritório, trabalhar para Michael já é o suficiente para você, papai. Sabe que não precisava disso.
Ele suspirou.
- Eu sei, querida, mas não queria ficar preso a Michael, não por ele ser meu genro ou algo parecido, mas porque eu queria me mover, entende?
- Mas do que o senhor se move viajando pra cima e pra baixo por causa de Michael? - perguntei, sorrindo levemente.
Ele riu.
- Tudo bem, Sra. Jackson, está totalmente certa. Vou fazer isso, pedirei demissão desse escritório em Nova York, principalmente agora, que Michael começará uma nova turnê. Tenho que está livre de compromissos, caso ele precise de mim.
Sorri pra ele e levei minha mão a sua, segurando-a com carinho por cima da mesa.
- Obrigada, papai, não por causa de Michael, mas por causa do senhor mesmo. Ficar cheio de coisas para fazer nem sempre é bom.
- Você, como sempre, cuidando de mim... - ele sorriu e então me olhou, indicando que iria mudar de assunto. - Confesso que estou muito curioso para saber o resultado da viagem de Michael ao Arizona, no final do mês passado.
Olhei pra ele confusa, sem saber de onde ele havia tirado aquilo.
- Ao Arizona? Não, pai, Michael viajou para Londres no final do mês passado... Não houve nenhuma viajem ao Arizona.
Ele pousou o grafo no prato e me olhou com o semblante confuso.
- Claro que houve, querida... Michael viajou ao Arizona no final do mês passado, para gravar seu novo clipe. In The Closet, se não me engano... Eu fui com ele, mas tive que voltar no dia seguinte a Nova York por causa do escritório.
Fiquei em silêncio durante alguns segundos, tentando puxar na minha mente alguma conversa minha e de Michael, onde ele me falava que iria viajar ao Arizona, para gravar um vídeoclipe. Nada veio a minha cabeça, porque simplesmente não havia acontecido conversa alguma.
Eu nunca soube dessa viagem, nem de vídeoclipe algum.
- Você não sabia, Alie? - meu pai perguntou, me tirando de meus pensamentos.
- Ah, hm... Sim, é claro que eu sabia, pai, apenas me confundi. - menti, forçando um sorriso. - Você sabe, Michael viaja tanto... Não me lembrava dessa viagem em especial.
Era realmente melhor não falar a verdade para meu pai. Ele não era a melhor pessoa a saber que meu marido havia mentido pra mim.
- Ah sim... - ele me olhou. - É um clipe bastante sensual, Michael deixou isso claro pra você, não é mesmo? Seria realmente muito desagradável que isso a pegasse de surpresa.
- Oh sim, claro que eu sabia... - falei, tentando não cerrar meus dentes na frente dele. Com uma expressão serena, voltei a falar: - Mas, o senhor viu toda a gravação? Também estou curiosa, Michael não quis falar sobre tudo, ele, hm... Me disse que não queria estragar a surpresa do vídeo.
Dando mais um gole em seu vinho, ele me olhou.
- Eu não vi toda a gravação, como disse, eu só fiquei no primeiro dia. Mas pelo o que eu pude vê, é algo bastante ousado. Confesso que fiquei pensando se você estava totalmente de acordo com aquilo. Naomi Campbell é uma mulher muito sexy e pelo o que pude perceber, o clipe vai ficar bastante quente.
Realmente foi um grande esforço para que o vinho que estava em minha boca não saísse de lá, ou que meus olhos não se esbugalhassem tanto e saíssem das órbitas. Naomi Campbell? Eu havia escutado direito?
Ela era... Simplesmente linda e só a ideia de que Michael havia feito um clipe sensual com ela, me dava naúseas.
- Ah sim... - murmurei, sem saber mais o que dizer.
Meu pai abriu a boca para falar novamente, mas o choro de Prince o interrompeu. Eu nunca fiquei tão agradecida por meu filho acordar no meio de uma conversa. Pedindo licença para meu pai, saí da mesa e fui em direção ao seu quarto.
Prince estava sentado no meio da cama de casal, cercado por vários travesseiros. Quando me viu, ele levantou os braços e chamou mamãe do jeito fofo que só ele conseguia. O peguei no colo e sequei suas lágrimas, desejando, por um momento, ter de novo a idade dele e não ter que enfrentar o mundo dos adultos ou sentir a imensa raiva que estava sentindo de Michael naquele momento.
Eu não sabia o motivo que levou Michael a mentir, ou talvez eu soubesse e não quisesse acreditar. Apenas a ideia de saber que ele havia inventado uma história para acobertar outra, me deu vontade de vomitar. Eu odiava mentiras, odiava mesmo e ele sabia disso.
Eu só esperava que ele tivesse uma boa explicação para toda aquela história.
31 de agosto de 1996
Já estava quase anoitecendo quando Michael chegou em casa. Ele havia passado o dia fora por conta de reuniões, e por isso não havia ido almoçar comigo e meu pai. O que realmente me deixou agradecida. Talvez, se ele estivesse lá, eu não conseguiria esconder sua mentira de meu pai, quando ele tocasse no assunto de sua viagem e seu videoclipe.
Prince estava dormindo no andar de cima, e eu estava na biblioteca, tentando ler um livro e tirar toda aquela história da minha mente, mas eu simplesmente não conseguia. Tudo aquilo estava me atormentando e eu estava ponto de explodir!
Não fui ao encontro de Michael como normalmente fazia quando ele chegava. Ao invés disso, fiquei na biblioteca esperando que ele perguntasse a alguma das empregadas onde eu estava e viesse até a mim. Seria bom ter aquela conversa em um lugar fechado. Ninguém precisava saber que eu era uma esposa enganada.
Levou apenas alguns minutos até eu escutasse seus passos pelo corredor. Logo as batidas na porta da biblioteca foram ouvidas e ele abriu um pouco a porta.
- Hei... Posso entrar? - perguntou, sorrindo.
Aquele sorriso... Eu queria matá-lo por está sorrindo e provavelmente com a consciência limpa depois de ter mentido pra mim!
- Claro. - falei, tentando soar um pouco amigável.
Ele entrou e foi até a mim. Se curvou um pouco no sofá e me beijou nos lábios. Eu retribui até ele querer aprofundar o beijo. Não conseguiria ir tão longe com minha falsidade e deixar que minha língua entrasse em sua boca.
Ele se afastou estranhando um pouco e então se sentou ao meu lado.
- E então, como foi o almoço com seu pai? Conseguiu persuadí-lo a pedir demissão? - ele perguntou, sorrindo maliciosamente pra mim.
- Sim. - falei. Ele levantou uma sobrancelha, esperando que eu continuasse a falar. - Conversamos sobre várias coisas, realmente, vários assuntos... Principalmente sobre a sua viagem ao Arizona.
Vi quando ele engoliu em seco e seus olhos se arregalaram tanto, que eu pensei que fossem saltar das órbitas. Eu continuava olhando pra ele, esperando que ele falasse alguma coisa, qualquer coisa! Mas ele continuava naquele silêncio infeliz.
- Eu ainda estou esperando você falar alguma coisa, Michael...
- Calma, Alie... O que, realmente, o seu pai disse pra você?
- Nada demais... Quer dizer, apenas o que o meu marido deveria ter me dito. Que você viajou ao Arizona no final do mês passado e que estava gravando um clipe muito sensual com a Naomi Campbell. - falei, me levantando do sofá.
Eu realmente não conseguia ficar sentada ao lado dele.
Ouvi seu suspiro atrás de mim e me virei, vendo que ele estava com o rosto escondido nas mãos. Depois de esfregar os olhos, ele me olhou.
- Alie, eu ia contar pra você...
- Ah, ia? Quando? Quando o mundo todo visse a estréia do seu novo videoclipe? Eu sinceramente pensei que sendo sua esposa, eu teria algum crédito e saberia dos seus planos, Michael!
- Alice, por favor, se acalma e me deixa explicar! - ele disse, olhando pra mim.
- Certo, Michael, eu vou ficar parada aqui - falei, me encostando na mesa de madeira, ficando frente a frente com ele. - e vou escutar sua explicação.
Cruzei meus braços e fiquei olhando pra ele, esperando que ele me falasse algo que realmente explicasse o porquê de suas mentiras.
- Eu menti, Alie...
- Oh, não me diga! - o cortei, usando todo o sarcasmo que estava dentro da minha mente.
Ele me olhou com o semblante sério.
- Você vai me deixar falar ou não? - ele perguntou. Ao receber meu silêncio como resposta, ele continuou: - Eu ia te contar, Alie, mas na hora... Na hora eu resolvi que seria melhor não. Você tinha feito um escândalo sobre uma calça, o que faria se eu te contasse como seria o clipe? Você simplesmente enloqueceria e não deixaria.
- Certamente e obviamente, eu não deixaria.
- E eu sabia disso, por isso resolvi não contar. Na hora de falar que iria viajar, eu disse que iria para Londres, ao invés de ir para o Arizona.
- Porém, Michael, você não decidiu fazer um clipe de uma hora pra outra. Com certeza isso já estava sendo planejado há algum tempo, tempo suficiente pra você me contar. Que porra você estava na cabeça na hora que decidiu mentir pra mim?!
Ele bufou.
- Eu sei que eu errei, Alice, mas tá vendo como você está reagindo? Eu não queria enfrentar isso antes de gravar o clipe.
- "Isso", é uma esposa que descobriu que o marido mentiu pra ela, Michael, "isso", é o que você está me causando! - gritei, começando a andar de um lado para o outro. - Meu pai disse que o clipe é sensual, que vocês dançam e se tocam... Eu simplesmente não posso acreditar que meu marido estava se esfregando com uma mulher na frente das câmeras, e o pior, pelas minhas costas!
Ele revirou os olhos e passou as mãos pelos cabelos.
- Alice, por favor, pare de fazer uma tempestade em um copo d'água! O clipe é sensual sim, eu danço com a Naomi, mas isso não quer dizer que eu transo com ela! Não é uma traição!
- Mentira é quase uma traição, Michael! - falei. - Você fala que eu estou fazendo uma tempestade em um copo d'água, mas como você se sentiria se eu tivesse mentido pra você, falando que iria pra não sei onde, sendo que eu estava indo gravar um clipe sensual com outro homem? Com certeza você não estaria nem um pouco calmo.
- Não seja burra, Alice, seu trabalho é diferente do meu.
Me virei pra ele, sentindo meu sangue começar a ferver ainda mais dentro das veias. Eu estava com muita raiva e ele não estava ajudando em nada para aquilo tudo passar.
- Ah, é verdade... Você é um cantor que tem que ficar usando calça apertada pras fãs verem o tamanho do que você carrega no meio das pernas, e tem que ficar gravando um clipe safado pra elas verem o quanto você pode ser sensual, ou o quanto você deve ser bom de cama! - gritei, perdendo a paciência que eu ainda achava que tinha.
Ele me olhou com o senho franzido de raiva e se levantou e indo até a mim, colocando as mãos em meus ombros.
- Alice, para com isso! - ele gritou, olhando pra mim. - Para já com isso, ouviu bem? Você está passando dos limites!
- Ah, eu estou passando dos limites? Pode ter certeza, meu querido, que você ainda não me viu passar dos limites! - gritei de volta e o empurrei. - E tira as mãos de mim! Eu não consigo suportar a ideia de que você tocou em outra mulher do jeito que meu pai descreveu e depois vem colocando essas mãos em mim!
- Então agora eu não posso mais tocar em você? É isso que está querendo dizer, Alice? - ele perguntou, me olhando.
- Você mentiu pra mim, me enganou, gravou um clipe sensual com outra mulher, e ainda está perguntando se pode tocar em mim? - perguntei, balançando a cabeça e deixando um riso sem humor escapasse por minha garganta. - Acho que, se pra gravar um clipe, você pôde tocar nela... Então pode continuar a tocar nela, Michael! Você não precisou me contar nada, não é mesmo? Então também não deve precisar tocar em mim.
Ele franziu o cenho e também riu, incrédulo.
- Eu simplesmente não acredito no que eu acabei de ouvir, Alice... Eu vou fingir que não ouvi isso, está bem?
- Foda-se! - falei, vendo ele me olhar com surpresa. - Já que você já escondeu as coisas de mim uma vez... Não precisa mais se dá ao trabalho de contar as coisas que vai fazer de agora em diante.
Olhando pra ele mais uma vez, me dirigi a porta, ouvindo a voz dele atrás de mim.
- Alice, nós ainda não terminamos de conversar, mas eu juro por Deus que se você sair por essa porta, eu não vou atrás de você para terminarmos isso e ficarmos de bem. Não vou ceder a isso, não vou mesmo!
Eu poderia ficar, eu realmente poderia ficar para terminarmos aquela conversa toda, mas ele não merecia aquilo. Depois de tudo o que ele havia feito e dito, ele não merecia mesmo que eu ficasse ali para terminar aquilo. Muito menos para ficarmos bem.
Sem me dá ao trabalho de responder, sai da biblioteca e o deixei sozinho. Eu queria socar alguma, gritar e quebrar tudo o que eu via pela frente, mas não fiz isso. Subi e fui para o meu quarto, batendo a porta com toda a força que eu tinha. Lá dentro, eu olhei em volta e tudo aquilo só me remetia a Michael e eu juntos, fazendo amor e sorrindo, o que me deu nauseas.
Ele era um mentiroso, havia me enganado e pelo visto não estava nem um pouco arrependido. Se ele ao menos estivesse arrependido, eu poderia pensar e repensar em tudo, mas ele não estava, então eu também não tinha que pensar em nada.
Me jogando na poltrona ao lado da cama, respirei fundo, mordi o lábio, mas nada tirava toda aquela raiva de mim. Olhei em volta do meu quarto mais uma vez, tentando fazer com que minha mente parasse de criar imagens de Michael acariciando Naomi, e então eu vi.
O cartão de Martin estava em cima da escrivaninha, do meu lado da cama. Eu o tirei da bolsa para jogar fora, mas tinha esquecido... Sem pensar duas vezes, peguei o cartão e tirei o telefone do gancho, discando os números. Foram apenas três toques e então eu ouvi sua voz do outro lado da linha:
- Martin Rock.
Meu coração pulou rápido no peito e antes que ele pudesse fazer outra coisa, minha mente trabalhou mais rápido:
- Martin, sou eu... Alice Jackson, você está disposto a me encontrar, agora?
31 de agosto de 1996
Me olhei no espelho mais uma vez, conferindo se o vestido preto básico que eu havia colocado não estava exagerado demais. Ao perceber que eu estava bem, peguei minha bolsa e sai do quarto.
Estava descendo as escadas, torcendo pra não topar com Michael, quando sua voz no correndo da sala. Ele estava falando com Grace, nossa governanta, mas estava de costas pra mim. Ele realmente não iria perceber que eu estava ali, mas Grace fez o favor de desviar os olhos dele e me olhar. Foi apenas questão de segundos até ele se virar e olhar pra mim.
- Obrigada, Grace, era só isso... - ele disse ainda olhando pra mim.
Grace murmurou algo e então saiu de nossa presença. Eu queria ir embora logo, mas o olhar de Michael estava me prendendo ali. Depois de alguns segundos em silêncio ele começou a falar:
- Onde você vai?
Minha vontade foi de rir, na verdade, eu até poderia rir mas decidi que essa atitude infantil simplesmente não me levaria a nada. Então, olhando pra ele, apenas tomei um pouco da atitude que ele havia tomado comigo.
- Não me lembro de você ter me dado satisfação de alguma coisa... Como por exemplo, sobre sua viagem e seu clipe... - comentei.
Ele me olhou, cerrando o maxilar e respirando fundo.
- Eu só fiz uma pergunta, Alice.
- E eu respondi a sua pergunta, Michael.
- Não respondeu, Alice. Vamos tentar mais uma vez, certo? - ele pigarreou, como se tivesse falando com uma criança. - Onde você vai?
- Vamos falar em um palavreado mais chulo, certo? - perguntei lentamente também. - Não te interessa.
Ele bufou alto e passou a mão pelos cabelos.
- Eu estou realmente puto com isso, Alice! - falou, começando a me olhar. - Tem como você parar? Você quer que eu faça o que? Que eu me ajoelhe aos seus pés e peça perdão porque menti?
- Seria bom... Mas no momento eu tenho que sair, querido, quem saber quando eu voltar, hm?
- Para com esse tom sarcástico! - ele gritou. - Isso está me irritando!
- Sua mentira também me irritou, pode apostar nisso! - falei, começando a andar em direção a porta. - Você pode dar mamadeira a Prince? Ele mama daqui a uma hora, certo? Boa noite, Michael.
Eu o escutei me chamando, mas não iria mais perder tempo tendo com ele uma conversa que não nos levaria a lugar algum. Agradeci a Gary por ele ter preparado um carro pra mim e me sentei no banco do motorista, me preparando para dirigir até o centro de Los Angeles.
Quando Martin atendeu o telefone e escutou a voz de Alice do outro lado da linha, ele pensou que estivesse delirando.
Apesar de achar que era somente uma questão de tempo até ela lhe ligar, os dias foram passando e quando um mês se fez completo, ele já tinha perdido um pouco da esperança que nutria dentro dele.
Até porque... Alice era casada com Michael Jackson, o maior artista de todos os tempos, se ela quisesse não precisaria mais trabalhar pelo resto da vida. Mas ele era ousado e muito, muito chato quando queria alguma coisa e principalmente, não costumava desistir tão facilmente assim.
Ainda mais quando se falava em Alice. Ele era fascinado por ela, aquela loira sexy que ele teve o prazer de vê rebolando e cantando na estreia de "Burlesque" e de outro musical - não tão sensual quanto primeiro - mas mesmo assim fascinante que ela havia feito.
Ele a queria para o musical que estava escrevendo, na verdade, um musical feito só pra ela, completamente pensado nela. E a queria muito mais para si. Talvez seria um pouco difícil tirá-la de seu marido, mas nada para Martin Rock era impossível.
Alice, com toda a certeza, também não seria.
Uma hora e meia depois eu estava estacionamento do prédio de Martin. Meu coração pulou no peito novamente ao pensar nele, dessa vez me deixando entender que não concordava com a minha atitude.
Mas o meu coração sempre foi mole demais, sempre amou muito mais aos outros do que a mim mesma, então... Dessa vez eu não iria ligar pra ele. Já estava ali e não iria embora até falar com Martin.
Na verdade, eu não sabia muito bem o que estava fazendo ali, muito menos o que eu iria falar. Mas eu tinha certeza que ele tinha muito a dizer, visto que ficou tão animado ao telefonado.
Por um momento, me deixei pensar no que Michael faria se soubesse que eu estava ali. Creio que eu não gostaria nem um pouco, na verdade, ele odiaria saber, mas ele não estava em condições de gostar ou não de algo. Ele tinha simplesmente que aceitar aquilo, da mesma formar que achava que eu tinha que aceitar sobre sua mentira e aquele clipe ridículo que ele havia feito.
Sai do carro e olhei em volta, vendo que o estacionamento estava vazio, o que me fez ficar mais tranquila. A última coisa que eu queria era ser reconhecida por alguém. Fui em direção ao elevador e em poucos minutos estava no décimo quinto andar. Assim que as portas se abriram, fui em direção ao número do apartamento de Martin e apertei a campanhia.
Escutei alguns passos do lado de dentro apartamento, então a porta de abriu. Martin apareceu vestindo uma calça jeans e uma camisa branca, que constratava com sua pele morena.
- Olá, Sra. Jackson... - ele sorriu. - Por favor, entre.
Ele chegou para o lado e indicou o interior do apartamento com a o rosto. Um sorriso pendia nos cantos de seus lábios. Entrei e ele fechou a porta atrás de mim, logo indicando para que eu me sentasse.
- Primeiramente, pode me chamar de Alice. - falei, me sentando no sofá.
- Ah sim... Pensei que nunca chegaríamos nessa fase de te chamar pelo primeiro nome. - ele riu. - Você aceitar beber alguma coisa? Água, refrigerante, vinho...?
- Vinho está ótimo.
Ele assentiu e sumiu pelo corredor, minutos depois voltando com uma garrafa de vinho e duas taças.
- Por falar nisso, pode me chamar de Martin. Eu realmente odeio ser chamado de senhor, parece que sou um velho. - ele falou, enchendo as taças.
- Mas você está bem longe de ser um velho... - comentei, vendo-o me olhar com uma sobrancelha arqueada. - Quer dizer, é bobagem você pensar dessa forma.
- Pode ser... - ele riu e me deu uma taça. - Confesso que fiquei bastante surpreso com a sua ligação. Já havia perdido as esperanças de que você fosse entar em contato comigo.
- Eu realmente não iria... Mas aí eu vi seu cartão em cima da mesa e resolvi ligar. - falei, dando de ombros. - Na verdade, eu quero saber que musical é esse que você está escrevendo pra mim.
- Você disse que não faria o musical...
- Não estou dizendo que vou fazer. - falei. Ele me olhou um pouco surpreso e eu fiquei envergonhada com a forma como falei. - Me desculpe, não quis falar desse jeito.
- Está tudo bem... - ele bebeu um pouco e me olhou por cima da taça, como se tivesse me analisando. - Certo, Alice, posso não te conhecer muito bem, mas sei reconhecer quando uma pessoa está com problemas... O que houve com você?
Confesso que sua pergunta me pegou um pouco desprevenida. Quer dizer... Ele realmente não me conhecia, mas parecia saber que eu não estava bem.
- Nada demais, apenas uma briga de casal. - comentei, olhando pra minha taça de vinho.
- Ah... Você e Michael brigaram? - ele perguntou e eu apenas assenti. - Por isso que você está aqui? No meio da briga decidiu não obedecer mais as ordens dele? - ele sorriu de lado.
- Ao contrário do que você pensa, Martin, Michael não me obrigou a não aceitar sua proposta de fazer o musical. Foi uma coisa que nós dois decidimos. Ele entrará em turnê daqui a alguns dias e eu vou ficar com o nosso filho e ás vezes viajar com ele. Um precisa parar um pouco pro outro continuar, nossas carreiras são assim, não tem jeito.
- Isso é o que você pensa. Sua carreira não impede a dele, é a dele que está impedindo a sua, Alice. Você está se privando de trabalhar porque a carreira dele pede isso a você.
Balancei a cabeça, rindo um pouco, mesmo sem sentir vontade de rir.
- Você não está entendendo. Eu tenho um filho de um ano e meio que é muito agarrado a nós dois. Ele já não terá Michael por perto por causa da turnê, eu simplesmente não posso me prender a nada agora , senão ele ficaria sem a mãe também.
- Então, me desculpe se eu estiver soando grosseiro, mas... O que você está fazendo aqui?
O que eu estava fazendo ali? Nem eu mesma sabia responder aquela pergunta pra mim, quanto mais pra ele.
- Eu não sei. Eu apenas vi seu cartão e senti vontade de ligar...
- Porque está curiosa para saber o que estou escrevendo...
- Sim, eu estou curiosa. E até agora você não me respondeu.
Ele sorriu um pouco e encheu mais a sua taça, logo depois enchendo mais da minha.
- Seria um musical bastante diferente. Você não seria uma personagem, seria a estrela principal. No seu segundo musical, eu li em uma pergunta em um jornal que me intrigou... Estava escrito: "Como seria Alice Jackson fazendo um show de verdade e não um musical?" e isso ficou martelando em minha cabeça. Então... Eu simplesmente pensei em fazer um musical onde você seria Alice, a cantora de um show e não a artista fazendo um personagem em um musical romântico.
- Hm... Deixa eu vê se entendi, você está me propondo fazer um musical que representa um show de verdade? - ele assentiu. - E como seria isso?
- Um show de verdade, Alice, com banda, dançarinos e tudo que tem direito.
- Vai ser sensual? - perguntei, realmente interessada naquilo.
Uma vingança pessoal para Michael cairia muito bem agora.
- Com certeza, o nome é "Stripped". Já pode imaginar o que significa, não é mesmo? - ele sorriu de lado. - Você é linda, Alice, e muito, muito sexy, sem contar que sua voz é perfeita. Realmente seria o musical do ano, mas você não pode fazê-lo... - ele deu de ombros com o semblante decepcionado.
- Talvez eu possa fazer.
Ele sorriu de lado, se curvando um pouco na poltrona para ficar mais perto de mim.
- Está falando sério?
- Sim, estou falando muito sério. Eu adoraria fazer esse musical e quero fazer.
- Então está pensando em mudar de ideia quanto o seu acordo com Michael?
- Já mudei de ideia, Martin. - falei, cruzando as pernas e me sentando melhor na poltrona. Olhei pra ele e tomei um gole do meu vinho. - Eu quero que você me entregue, por escrito, detalhes sobre tudo o que acontecerá nesse musical/show.
Ele riu.
- Certo, eu entregarei. Ah, não sei se já mencionei, mas tenho um grupo de dançarinos perfeito. Eu sou o coreógrafo e também farei parte do musical. Todas as cenas em que você precisa dançar com algum homem, eu serei esse homem. - ele sorriu de lado. - Confesso que será bastante interessante.
- Ah, com certeza, vai ser bem interessante... - murmurei - Quero conhecer seu grupo de dançarinos e pode avisá-los: Alice Jackson fará parte desse musical.
- Então... Que brindemos a isso, Alice.
Sorrindo, ele chegou perto de mim e bateu sua taça levemente na minha, fazendo o barulho do vidro ecoar por todo o apartamento.
31 de agosto de 1996
Passava um pouco das onze e meia quando estacionei o carro dentro de Neverland. Gary veio em minha direção, me dando boa noite e dizendo que iria guardar o carro e eu respirei fundo, tentando tomar coragem para entrar em casa e encarar Michael.
A noite com Martin foi agradável, ao contrário do que eu pensava, ele não era um mau caráter. Me tratou com cordialidade enquanto eu estava em sua casa e passamos a noite tomando vinho e conversando sobre o musical. A ideia dele era ótima e eu realmente havia gostado muito de tudo aquilo. Esperava mesmo que desse tudo certo.
Entrei em casa e o hall estava parcialmente escuro, apenas a luz da sala iluminava a entrada. Pude escutar a voz de Michael, acho que ele falava ao telefone mas não consegui identificar com quem. Quando apareci na entrada da sala, ele me olhou e respirou fundo, passando a mão pelos cabelos.
- Não se preocupe, Mark, ela acabou de chegar aqui. - ele disse, me olhando. - É, eu também estou muito curioso pra saber onde ela estava, obrigado por me atender e me desculpe por ter ligado tão tarde. - ele ficou em silêncio por alguns segundos. - Certo, eu digo isso a ela. Até mais, Mark.
Ele colocou o telefone no gancho e me olhou, como se estivesse esperando uma explicação.
- Por que ligou pra Mark?
- O que é que você acha? Porra, Alice, você sabe que horas são? Quase meia-noite, você saiu de casa ás seis horas! Tem noção do que passou pela minha cabeça? - ele falou alto, olhando pra mim com os olhos flamejantes de raiva. - Liguei pra Deus e o mundo, tentando descobrir onde você estava, e simplesmente não te encontrei! Liguei pra Elizabeth, pra Mark, até para o seu pai, todos estavam preocupados.
- Uma bobagem se preocupar desse jeito, eu estou bem, sou adulta e sei me cuidar, Michael. Não precisava perturbar nenhum deles. - falei em um tom tranquilo.
- E onde você estava?
- Isso não tem importância, eu já estou em casa, não é mesmo? Então pronto, não precisa mais se preocupar com nada. - falei, dando um sorriso forçado. - Agora eu vou subir, o dia hoje foi um pouco estressante.
Fui em direção as escadas e senti Michael andando atrás de mim, me seguindo. Ele ainda queria falar alguma coisa, eu sentia, mas eu não estava disposta a ouvir.
Não quando nada do que ele dissesse resolveria nossa situação.
Fui em direção ao quarto de Prince, vendo que ele já estava dormindo tranquilo em seu berço. Olhar pra ele fazia com que me fúria se acalmasse um pouco. Eu o amava de todo o meu coração e fica perto dele, ver seu sorriso sempre seria minha paz. Dei um beijo em sua cabeça e sussurrei que o amava, antes de me virar para Michael:
- Você deu a mamadeira dele?
- Claro que sim, Alice, ao contrário do que você possa está pensando, eu sei cuidar do meu filho.
- Que bom que você sabe fazer isso, já que compartilhar as coisas com a sua esposa você não sabe muito bem. - falei.
Dei mais um beijo em Prince e passei por ele, saindo do quarto e indo em direção ao nosso. Foi apenas questão de minutos até que ele abrisse a porta do nosso quarto.
- Você não vai mesmo me dizer onde estava? - ele perguntou, se sentando em nossa cama e ficando frente a frente comigo.
- Já disse, Michael: isso não tem importância. - falei, começando a tirar meus brincos.
Seu suspiro cansado chegou aos meus ouvidos, e vi de relance quando ele passou as mãos pelos cabelos com força.
- Eu sinto muito, Alie, realmente sinto muito por ter mentido pra você. Eu sei que não foi o certo a se fazer, mas eu não queria brigar com você. Eu iria te contar, só estava esperando um momento bom pra isso.
- E quando seria esse momento? - perguntei, esperando que ele me respondesse. Alguns segundos se passaram e ele continuou em silêncio. - Não teria momento, Michael, provavelmente eu iria descobrir quando ligasse a TV e visse meu marido se esfregando com Naomi Campbell. Com certeza não é uma maneira muito legal de se descobrir uma coisa dessas.
- Eu iria contar antes do clipe ser lançado, Alice. Eu só não sabia quando, mas eu ia. Não era pra você descobrir desse jeito...
- Mentira tem perna curta, Michael, um ditado antigo mas muito certo. Você não me contou com medo de uma briga, eu descobri de outra forma e brigamos do mesmo jeito. No final, não adiantou nada você ter me escondido.
Ele ficou em silêncio e eu me ocupei de tirar meu cordão, sem querer olhar pra ele. Ele estava se desculpando, estava tentando, mas não estava surtindo efeito em mim. Nada conseguia dissipar o sentimento de ter seu marido a enganando e mentindo da forma como ele fez comigo.
- É o meu trabalho, Alie. É só um clipe. Eu gravei e pronto, não tenho contato com Naomi ou nada parecido, por favor, entenda isso. Eu não te traí.
- A questão não é essa, Michael. É muito mais do que você ter gravado um clipe com ela, não é só isso. Você mentiu pra mim, disse que iria para Londres e ficaria lá por uma semana por causa de reuniões, quando na verdade foi pro Arizona gravar um clipe. Eu estou me sentindo enganada.
Ele se levantou e foi em minha direção, parando atrás de mim. Sua respiração tocava em meu ombro, enquanto ele me olhava pelo espelho da cômoda e colocava meu cabelo para o lado. Eu não queria que ele me tocasse, mas eu sempre fui fraca demais quando ele vinha com carinhos pra cima de mim.
- Por favor, Alie... Eu amo você e estou realmente muito arrependido por ter mentido, acabei de aprender que isso não foi certo e jamais mentirei pra você novamente. - ele beijou meu ombro e subiu até minha nuca, passando as mãos pela minha barriga. - Me perdoa, amor? Vamos ficar bem de novo, vamos viajar daqui a dois dias, não quero está brigado com você.
Ele molhou os lábios com a língua e os passou em minha nuca novamente, começando a pressionar minha bunda com seu quadril, me deixando sentir seu membro começar a ter uma ereção. Mordi o lábio e senti minha respiração ficar mais curta, quase se dissipando quando ele tocou meus seios por cima do meu vestido.
Eu estava tentando, realmente estava tentando trazer de volta minha linha de raciocínio, mas estava praticamente impossível com Michael atrás de mim, me tocando e me seduzindo.
- Michael... - eu tentei continuar nossa conversa, mas seu nome saiu como um gemido.
Um gemido que ele não perdeu.
Senti seu sorriso safado em minha pele e suas mãos desceram pela lateral do meu corpo, parando na barra do meu vestido e o levantando até minha cintura, deixando minha calcinha exposta pra ele. Começando a beijar meu pescoço, ele aproveitou que meu vestido era tomara-que-caia e o abaixou, revelando meus seios e os olhando pelo espelho.
Eu já estava perdida, qualquer atitude que eu deveria tomar simplesmente não chegou ao meu cérebro. Eu só conseguia pensar nas carícias de Michael e em seu pênis que estava cutucando minha bunda, me deixando muito quente no meio das pernas.
- Eu quero tanto você, Alie... Tanto... - ele sussurrou em meu ouvido, levando uma mão ao meu seio e outra ao meio de minhas pernas.
Um gemido alto escapou de meus lábios quando ele adentrou a mão em minha calcinha e me tocou, começando rodiar meu clitóris sensível, me dando aquele prazer tão conhecido. Foi apenas questão de segundos até que ele tirasse minha calcinha e abrisse o zíper de sua calça, me fazendo sentir seu membro ereto em minha bunda, a glande molhada se encostando em minha pele.
Abri um pouco mais minhas pernas e apertei os lados da cômoda com força, deixando seu nome escapar alto pelos meus lábios quando ele me penetrou devagar. Me olhando pelo espelo, Michael passou a língua pelo meu pescoço, começando a se mover mais forte em mim. Uma de sua mãos voltou ao meio de minhas pernas, começando a tocar em meu clitóris novamente enquanto a outra segurava minha cintura, me mantendo no lugar.
Era impossível não gemer, sentindo-o dentro de mim, não tão fundo, mas mesmo assim me tocando onde me dava prazer, saindo rápido e entrando ainda mais rápido. Eu já sentia meu orgasmo próximo e Michael também sentia, pois ele começou a me tocar e meter mais rápido, gemendo em meu ouvido e dizendo o quanto era gostoso está dentro de mim.
Segurando a cômoda com mais força, senti tudo começar a girar ao meu redor, quando meu orgasmo me atingiu em cheio. Michael gemeu alto em meu ouvido, apertando minha cintura com as duas mãos e metendo até o fundo quando ele gozou forte dentro de mim.
Nossas respirações estavam ofegantes e Michael sorriu me olhando, começando a beijar meus ombros. Não consegui sorrir, na verdade, nem mesmo consegui manter meus olhos nele, quando minha boca processou em voz alta o que minha mente ditava naquele momento.
- Eu não vou viajar com você, Michael.
31 de agosto de 1996
Ele parou o que estava fazendo e me olhou pelo espelho com as sobrancelhas franzidas.
- O que?
Respirei fundo, ainda sentindo-o dentro de mim. Ainda pulsávamos pelo orgasmo recente, mas eu tinha que parar de me concentrar naquilo e sim no que tinha que dizer. Não poderia mais ser fraca.
- Eu não vou viajar com você, Michael. - repeti.
Ele estava imóvel, como se o que eu falei tivesse saído em outra língua e ele ainda não tivesse conseguido entender o o que eu queria dizer.
- Como... Como assim, Alice? Como não vai viajar comigo? A turnê começa no dia sete de setembro e havíamos combinado que viajaríamos juntos no dia dois. Você quer ir depois, é isso?
- Eu não vou nem com você e nem depois, Michael.
- Por que?
- Porque eu me encontrei com Martin Rock hoje a noite e decidi que vou fazer o musical que ele está escrevendo pra mim. - falei de uma só vez.
Ele saiu de dentro de mim bruscamente, me deixando apenas um vázio lá dentro. Vi pelo espelho ele se arrumar e subir o zíper da calça. Quando terminou, ele olhou em meus olhos.
- Você está brincando, não é? - ele perguntou com a voz rouca de raiva.
Respirei fundo, pressionando os lábios antes de voltar a falar:
- Não, eu não...
Eu tentei terminar, mas Michael me pegou pelos ombros bruscamente e me virou de uma só vez, começando a me sacudir rapidamente.
- Diz pra mim que você está brincando, Alice! - ele gritou com raiva, me olhando furiosamente.
- Não, eu não estou! E pare de me sacudir assim! - falei, tirando as mãos dele de meus ombros.
Me afastando dele, comecei ajeitar o meu vestido, enquanto o via começar a andar de um lado para o outro. Ele estava com muita raiva e confesso que vê-lo com ao menos metade da raiva que eu estava sentindo era gratificante pra mim.
- Eu simplesmente não posso acreditar que você saiu de casa pra se encontrar com aquele filho da puta! Você ficou louca?
- Não. - falei, terminando de subir meu vestido e tampar meus seios. - Eu não estou louca, Michael, eu apenas senti vontade de ir até ele e ouvir sobre o musical que ele estava escrevendo pra mim e digo pra você: é simplesmente magnífico.
- Oh, pelo amor de Deus... - ele gritou, sarcástico. - Você não deve ter noção do que está dizendo, não é, Alice? E eu pensando que você tinha saído de casa pra se encontrar com um de nossos amigos e chorar no colo deles! Mas não, você foi se encontrar com aquele imbecíl que estava dando em cima de você na festa de Frenci! O que deu em você?!
- Michael, eu estou há alguns passos você, será que pode parar de gritar?
- Não, eu não posso! Acabei de descobrir que minha mulher acaba de brigar comigo e vai afogar suas mágoas no colo de outro cara. De um cara que ela ao menos conhece! Porra, Alice, eu estou morrendo de raiva!
- Ótimo, Michael, porque eu também estou morrendo de raiva ao saber que meu marido mentiu pra mim!
- Não me venha com esse asssunto de novo, Alice. Não use isso como um pretexto pra ir se encontrar com aquele filho da puta. A verdade é que você queria apenas um motivo pra ir até ele, não é? Pode admitir, Alice!
- É claro que não! Eu apenas vi o cartão dele em cima da mesa de cabeceira e resolvi ligar. Foi apenas isso, eu não fui afogar minhas mágoas com ele, eu apenas liguei e perguntei se ele poderia me encontrar, porque eu comecei a ficar curiosa com o que ele poderia está escrevendo pra mim.
Ele riu sem humor e parou de andar pelo quarto, parando de frente pra mim.
- E o que ele escreveu pra você? Um musical que precise de uma cama, onde vocês dois vão está transando pro público ver? Porque esse é o tipo de coisa que ele certamente escreveria pra você!
- Não foi nada disso que ele escreveu, mas mesmo se fosse, Michael... Não estaria nada longe do que provavelmente você gravou para o seu clipe! - falei olhando pra ele com raiva.
- Ah, então se ele escrevesse algo do tipo você aceitaria?
- É claro que não, eu não aceitaria porque não sou esse tipo de mulher e porque, ao contrário de você, eu respeito o nosso casamento! - gritei.
- Eu não posso acreditar... Então a culpa agora é do meu trabalho? Só por causa de um clipe você arma um escândalo, se faz de vítima, vai encontrar com o filho da puta que deu em cima de você na minha frente e por conta de uma vingancinha, aceita fazer o musical que ele está escrevendo? - ele bateu palmas, olhando pra mim. - Parabéns, Alice, você é uma mulher e tanto com essas atitudes!
- A vida é minha, o trabalho é meu e eu não vou me privar disso por sua causa. Você pode até pensar que é por causa de uma vingança, mas a verdade é que Martin disse algo muito certo hoje: a sua carreira está tentando impedir a minha, mas eu não vou deixar isso acontecer, Michael.
Ele ficou em silêncio, apenas olhando pra mim como se não reconhecesse quem estava a sua frente. Balançando a cabeça, ele suspirou e se afastou.
- Precisou apenas de algumas horas ao lado desse cara, pra ele conseguir fazer a sua cabeça. Sinceramente, Alice, se é assim que você pensa sobre o meu trabalho e sobre nós dois... - ele se calou e respirou fundo. - Eu não posso fazer mais nada.
Dito isso ele foi até a porta de nosso quarto e girou a maçaneta. Quando pôs um pé pra fora do quarto ele se virou pra mim:
- Só espero que você não se arrependa dessa escolha.
Me olhando uma última vez, ele virou as costas e bateu a porta atrás de si.
02 de setembro de 1996
- Hei, meu amor... Preste atenção. - Michael disse com Prince no colo. Nosso bebê sorria pra ele, sem entender nada sobre o mundo dos adultos, o que eu agradecia aos céus. - O papai vai ter que viajar agora e dessa vez eu vou ficar mais tempo longe de casa do que eu fico normalmente, mas eu prometo ligar todos os dias para falar com você, certo? Eu te amo muito, muito e vou morrer de saudades...
Meu coração e minha garganta se apertaram de tal forma que eu não consegui mais ficar ali no quarto de Prince e presenciar aquela cena. Saí de fininho do quarto, sentindo várias lágrimas brotar em meus olhos.
Durante esse dois dias Michael e eu ficamos o máximo possível longe um do outro. Ele ficou dormindo no quarto de hóspedes e durante o dia, quando não tinha reunião, ele ficava ao lado de Prince, simplesmente me ignorando. Eu também não queria dá o braço a torcer. Ele se achava certo no meio de toda aquela história, mas ele não estava certo.
Mas agora... Agora ele estava indo embora para fazer sua turnê e eu percebi que ficaria longe dele por muito tempo. Não estava preparada para aquilo e vê-lo ir embora sem me despedir de verdade estava me matando por dentro. Obviamente eu ainda estava muito magoada com Michael, mas eu o amava demais, sempre amei e sempre amarei, e isso é um sentimento que ás vezes supera outros como raiva e mágoa.
Mas eu já havia me magoado tantas vezes e que dessa vez... Dessa vez eu não conseguia simplesmente me colocar de lado e pensar nos outros. Eu sempre fiz isso durante toda minha vida, e estava cansada de sempre me colocar em último lugar. Dessa vez eu não correria atrás de Michael, eu queria que ele viesse até a mim.
Estava na sala sentada no sofá quando ouvi os passos de Michael na escada. Ele parou no último degrau e me olhou.
- Cuide bem de Prince, certo? Vê se pelo menos essa parte do nosso acordo você pode cumprir. - ele disse com o tom frio qual se dirigia a mim durante o tempo em que estivemos brigados.
Fechei meus olhos e contei até dez. Eu tinha sido forte até agora, não havia deramado uma lágrima sequer e dessa vez não seria diferente. Não seria fraca, não na frente dele.
- Pode ter certeza que eu vou cuidar de Prince, Michael. Ele é meu filho também, se você se esqueceu disso. - falei, abrindo meus olhos e olhando pra ele.
- Ótimo, era só isso que eu queria falar pra você. - falou.
Me olhando mais uma vez, ele colocou o chapéu que estava em sua mão na cabeça e foi em direção a porta.
- Michael? - o chamei, me arrpenedendo logo em seguida.
Eu queria ir até lá e abraçá-lo. Pedir desculpas mesmo sem a culpa ser totalmente minha e dizer que eu iria com ele, que eu ia esquecer suas mentiras e que cumpriria nosso trato, mas não fiz isso. Eu não ia ceder tão facilmente.
Ele me olhou com uma sobrancelha arqueada, tentando esconder um pouco da esperança que vi em seus olhos.
- Só... Se cuida, certo? Não esqueça de se cuidar e de se alimentar. - falei, pois foi a única coisa que passou pela minha mente.
Sua feição de esperança se transformou na mesma cara séria que ele estava antes.
- Pode deixar, Alice. - ele assentiu. - Tchau.
- Tchau... - murmurei, vendo-o sair de casa.
Eu senti algo se fechando dentro de mim no momento em que o carro que levava Michael passou pelos portões de Neverland. Eu não contemplei o sol, nem as árvores e flores, na verdade, eu não vi nada a minha volta enquanto um sentimento de raiva tomava conta de mim.
Raiva por Michael não ter tido a capacidade de me olhar de forma digna durante o tempo em que estivemos brigados, raiva por perceber que ele não parecia nem um pouco disposto a tentar se desculpar comigo. Raiva por saber que ele tinha ido embora e não tinha tido sequer a intensão de me dar um abraço.
Se ele achava que poderia fazer tudo isso e eu não poderia fazer nada parecido, ele realmente estava muito enganado. Eu tinha coragem e vontade o suficiente pra seguir minha vida e minha carreira, assim como ele também tinha, então... Minha consideração por ele havia acabado no exato momento em que ele fez com que minha raiva ficasse acima de todos os sentimentos bons que havia dentro de mim.
Praga - 03 de setembro de 1996
Já havia passado duas horas que Michael estava rolando de um lado para o outro na cama e não havia conseguido dormir.
Na verdade, ele não dormia bem por duas noites seguidas. As duas noites em que ele ficou no quarto de hospedes na sua casa e não em seu quarto. Dormir sem Alice sempre foi algo difícil pra Michael. Ele já estava acostumado com o cheiro dela, com a presença dela, com a cabeça dela encostada em seu peito durante toda a noite. E agora ele não tinha mais aquilo.
Ele ainda estava tentando entender o que tinha dado errado naquela semana. Eles não brigavam desde o episódio de seu figurino, estavam bem como sempre estiveram, e então, de repente, tudo desabou.
Obviamente ele sabia que tinha errado com o fato de mentir para Alice, mas ele nunca imaginou que ela ficaria tão enfurecida. Ele mentiu justamente pra evitar uma briga, mas ele se arrependia mais pelo fato de fazer com que ela se enfurecesse daquela maneira, do que pela própria mentira.
Porém, pra ele, nada justificava o fato dela ter procurado Martin Rock e de ter decidido, de uma hora pra outra, fazer o musical que ele estava escrevendo. Só de pensar no nome dele a raiva e o ódio corria por suas veias. Jurara a si mesmo que se o visse em qualquer lugar, o faria ir para o hospital em estado de coma, de tanto que bateria nele. A raiva o estava deixando completamente cedo e insano e ele até que estava gostando daquilo.
Pensar em seu filho o deixava morrendo de saudades, pensar em Alice o deixava melancólico, mas pensar em Alice e Martin juntos o deixava furioso! Nada nunca o deixou naquele estado.
Ainda pensando em tudo o que estava acontecendo em sua vida, o telefone o tirou de seus devaneios. Uma esperança se ascendeu em seu peito, ao pensar em atender o telefone e ouvir a voz amorosa de Alice, pedindo desculpas e dizendo que iria encontrá-lo em Praga, mas ao invés disso foi outra voz amorosa que invadiu seus ouvidos:
- Olá Michael, meu bem... Como foi a viagem? - Elizabeth perguntou.
Michael impediu um suspiro de decepção sair de seus lábios e então respondeu com a voz equilibrada:
- Foi bem, Liz.
- E como está Alice e Prince? O pequeno não estranhou ficar tanto tempo no avião?
Dessa vez foi impossível conter o suspiro que estava preso.
- Eles não viram, Liz...
- Como não? Você havia me dito que eles iriam viajar com você, Mike... O que foi que houve, meu bem?
- Tudo desandou, Liz... Alice descobriu sobre a minha viagem ao Arizona e você já pode imaginar como foi.
- Oh, Mike... - ela suspirou. - Eu te disse que era errado mentir pra Alice daquela forma, mas você não quis me escutar. Como ela descobriu?
- Peter disse a ela. Eles almoçaram juntos há três dias atrás e ele acabou falando tudo. - ele passou a mão livre pelo rosto. - E eu nem posso culpá-lo, ele não sabia da mentira, ele achou que Alice soubesse de tudo.
- Oh Deus... A reação dela foi tão ruim assim, Michael?
- Ela ficou furiosa, Liz, de uma forma que eu nunca vi. Ela estava com raiva do clipe, da forma como Peter disse que seria, mas estava com ainda mais raiva da mentira. Nunca pensei que ela fosse ter uma reação tão ruim. Mas não foi isso que a impediu de viajar comigo... - ele disse, começando a sentir a amargura no tom de voz.
- Não? Então... O que foi? Não consigo pensar em outro motivo, Mike.
- Quando terminamos de brigar, Alice se trancou no quarto e logo depois saiu. Você se lembra disso, não é? Lembra que eu te liguei naquela noite?
- Claro que sim, Michael. Você estava desesperado ao telefone. Mas o que foi que aconteceu depois disso? Onde Alice estava, afinal?
Ele soltou um risinho sem humor, algo que fez Elizabeth sentir que algo de muito ruim havia acontecido.
- Ela tinha ido ao encontro de Martin Rock, Liz.
Elizabeth abriu e fechou a boca duas vezes, sem saber o que dizer. Simpelsmente não conseguia imaginar que Alice tinha ido se encontrar com Martin Rock, ainda mais depois de um briga com Michael.
- Como assim, Michael? Você tem certeza?
- Infelizmente sim, Liz, eu tenho certeza. Ela chegou em casa eram quase meia-noite e então fomos para o quarto, discutimos mais um pouco e eu decidi que eu devia pedir desculpas, coisa que não havia feito até aquele momento. Eu me desculpei, reconheci que tinha errado, mas ela continuava irredutível, então... Eu confesso que poderia ser arriscado, mas eu parti pra sedução, Liz. - ele disse, sentindo-se envergonhado, mas confortável ao contar aquilo para Elizabeth. - Nós fizemos amor e eu pensei que estava tudo resolvido ali, eu vi amor nos olhos dela enquanto estávamos juntos, mas assim que acabamos... Ela nem me olhou, Liz, ela apenas disse que não iria viajar comigo porque iria fazer o musical que Martin estava escrevendo.
- O que?! - o grito de Elizabeth saiu antes que ela pudesse evitar. - Oh meu Deus, Michael, isso é sério?
- É... Isso é sério. - ele cerrou o punho. - Eu estou com tanta raiva disso, Liz, ela me disse tanta coisa! Foi capaz de dizer que tinha mesmo que fazer o tal musical, porque a minha carreira estava atrapalhando a dela, você tem noção disso? De como eu me senti?
- Michael, eu simplesmente não consigo acreditar... - ela murmurou. - Querido, eu acho que Alice estava apenas com raiva na hora em que aceitou essa proposta, mas ela vai pensar melhor, na verdade, eu vou fazer com que ela pense melhor. Eu vou conversar com ela, Mike, e você vai ver que ela vai mudar de ideia.
- Será que ela vai mudar de ideia, Liz? Eu não tenho muita certeza disso...
- Ela vai sim, Mike, eu vou conversar com ela. Confie em mim, ok? - ela sorriu. - Eu vou desligar agora, esse fuso horário é doido e nem faço ideia da hora que está aí, me perdoe se liguei muito tarde, querido, mas eu queria muito saber como você está. Fica bem, certo? Logo Alice e Prince estarão ao seu lado.
Michael sorriu, se sentindo mais tranquilo.
- Ok, Liz, se conseguir isso eu vou ser ainda mais grato a você do que já sou.
- Oh meu bem, eu amo você e faço de tudo para que fique bem.
- Eu também amo você, Liz.
Eles se despediram e Michael desligou o telefone, voltando a se deitar na cama. Fez uma pequena prece a Deus, pedindo para que Elizabeth conseguisse fazer Alice mudar de ideia. Com o coração cheio de esperanças, ele finalmente conseguiu dormir.
05 de setembro de 1996
- Mary... Tome conta de Prince pra mim, eu vou sair agora e devou chegar tarde, certo? - falei, com Prince em meu colo. Ele sorria pra mim e gritava sua versão de "mamãe" pra brincar comigo.
- Certo, Sra. Jackson. - ela disse em seu tom amigável.
Dei vários beijos em Prince e sorri pra ele, vendo o quanto ele estava lindo e crescido.
- Hei, garotão, comporte-se na ausência da mamãe, certo? - perguntei, colocando-o no chão, vendo-o andar atrás de um brinquedo.
Mary chegou perto dele e logo eles começarão a brincar juntos. Dei apenas mais uma olhada em meu filho e sai de seu quarto, descendo as escadas. Iria para o apartamento de Martin conhecer toda a sua equipe de dançarinos. Estava realmente empolgada com aquilo, sem Michael por perto Neverland era muito parada e eu estava começando a me sentir solitária.
Michael... Eu não havia falado com ele desde que ele fora embora. Ele ligava apenas para saber de Prince e falava ou com Grace ou com Mary, nem ao menos perguntava por mim, o que só me mostrou que ele não estava sentindo minha falta. No final, eu percebi que mesmo se eu viajasse, seria como dá última vez: eu seria apenas um peso morto no meio de tudo aquilo.
Entrei no carro e Gary se posicionou em seu lugar, dando partida. Minha mente estava tão atribulada pensando em Michael e em nossa briga, que eu ao menos percebi que havíamos chegado ao prédio de Martin. Gary abriu a porta pra mim e eu agradeci, dizendo que ligaria pra ele quando quisesse ir embora.
A música que vinha dentro do apartamento de Martin estava tomando conta de todo o corredor. Apertei a campanhia duas vezes e fiquei com medo de que a música o impedisse de ouvir, mas logo a porta foi aberta e Martin sorriu.
- Olá, baby... Entre, por favor. - ele disse, dando espaço pra mim passar.
Quando entrei no apartamento, vi que ele estava falando sério que tinha um grande grupo de dançarinos. O apartamento estava cheio de pessoas, tantas que eu ainda não tinha conseguido destinguir se haviam mais mulheres ou homens.
- Hei, pessoal! - Martin chamou a atenção deles, colocando uma mão em minhas costas e ficando ao meu lado. - Pablo, você pode abaixar o som, por favor? - um homem loiro assentiu e abaixou o som. O apartamento ficou quase em silêncio. - Então, pessoal... A estrela da noite chegou!
- Até que enfim! Oh meu Deus, você é ainda mais linda pessoalmente! - disse uma menina sorridente, chegando perto de mim e me abraçando com força.
A abracei também e sorri, ainda a ouvindo dizer o quanto eu era bonita. Foi impossível conter que a vermelhidão chegasse ao meu rosto.
- Okay, Becky, espere! Você terá muito tempo pra tietar Alice, contenha-se! - Martin disse, rindo pra ela.
Becky me soltou e olhou pra Martin.
- Olha aqui, Martin, eu sou fã dessa mulher desde Burlesque, você não vai me conter agora! - ela disse pra e então se virou pra mim, sorrindo. - Aliás, eu me chamo Rebecca, mas todos me chamam de Becky.
- É um prazer conhecer você, Becky. Fico muito feliz que aprecie meu trabalho... - falei, sorrindo pra ela.
- Eu amo o seu trabalho e o que você faz! Um dia eu vou ser como você, garota... - ela piscou.
- Certo, Becky, é o suficiente por hora, ok? - Martin disse. - Venha, eu vou te apresentar a todo o pessoal.
Certamente eu já havia perdido a conta de quantos rostos havia visto, mas estava sendo divertido. Todos eram muito simpáticos e me trataram muito bem, me interando nos assuntos e puxando um pouco o meu "saco". Eu apenas fiz de tudo pra mostrar que era como eles e não era porque tinha sucesso e era casada com um homem de sucesso, que eu tinha que ser tratada de forma diferente.
Eu já me sentia um pouco tonta com a bebida e também estava começando a ficar melancólica. Álcool nunca foi o meu forte e eu realmente não estava acostumada a ficar bêbada. Enquanto ouvia o pessoal conversar, comecei a me desligar um pouco de tudo, pensando no que Michael deveria está fazendo.
Provavelmente era dia em Praga, e eu queria saber se ele estava sentindo a minha falta, porque, eu estava sentindo muito a falta dele, mesmo sem deixar isso transparecer.
- Hei, Alie... - Martin me chamou, sentando-se ao meu lado. - O que houve? Você ficou calada de repente...
- Não é nada... - falei olhando para meu copo de marguerita que estava vázio. - Eu apenas estou me sentindo um pouco melancólica...
- Ah sim, eu posso entender... Por conta de Michael, não é?
Eu apenas assenti, sem querer falar sobre aquilo realmente. Eu não queria chorar na frente de todo mundo e era isso que iria acontecer se eu começasse a falar de Michael.
- Alie, eu realmente não gosto de te vê assim... - ele colocou a mão por cima da minha. - Eu queria tanto que você ficasse melhor, se sentisse melhor. Não deixe que Michael a deixe triste assim.
- Não é algo que ele ou eu podemos controlar, Martin. Eu o amo e não estou acostumada a ficar longe dele por tanto tempo, principalmente brigada com ele.
- Mas será que ele está desse jeito que você está, Alice? Talvez ele esteja muito bem, e você está aqui, sofrendo por conta dele. - ele suspirou. - Venha comigo, eu quero que você relaxe e aproveite nossa pequena reunião de verdade. Sei como conseguir isso.
Ele se levantou e estendeu a mão pra mim. Meu olhar ficou parado em sua mão aberta, ainda tentando assimilar o que ele disse. Talvez Martin tivesse razão... Talvez Michael não estivesse ligando pra mim, enquanto eu estava deprimida por conta dele.
Peguei a mão de Martin e me levantei. Ele segurou minha mão e me levou por um corredor até chegarmos em uma sala que tinha sido feita de escritório. Assim que entramos ele fechou a a porta e apontou para a cadeira que estava em frente a mesa. Fui até lá e me sentei, observando-o dar a volta e começar a mexer em algumas gavetas. Quando achou o que queria, veio até a mim e se sentou ao meu lado.
- Promete não se assustar, Alie? Isso que eu vou te dar agora não é nada demais, é apenas algo que vai te ajudar a superar seus problemas e curtir um pouco mais a vida.
Olhei pra ele e sorri de lado, reprimindo uma risada sem humor.
- E existe um remédio pra isso, Martin?
- Isso aqui não cura, mas ajuda... Muito, na verdade.
- E o que seria "isso"? - perguntei, começando a ficar curiosa.
Ele abriu a mão direita e me deixou vê três pacotinhos transparente cheios de um pó branco. Olhei direito tentando reconhecer o que poderia ser aquilo, mas nada me veio a mente.
- Não reconhece? - ele sorriu de lado e abriu um deles, jogando todo o pó na mesa.
Com um estilete fino, ele separou o pó em carreiras com uma habilidade impressionante. Ao vê o pó ficar separado em várias fileiras finas e longas, o reconhecimento chegou ao meu cérebro, me deixando assustada.
- Isso é cocaína. - murmurei, ainda olhando para as carreiras de pó a minha frente.
- Sim... Mas eu costumo chamá-las de 'amigas'. - ele disse.
- Como droga pode ser "amiga" de alguém, Martin?
- Querida, não é assim... Preste atenção, você precisa saber usá-la da forma correta. Obviamente você não vai fazer uso dela todos os dias, durante vinte e quatro horas, isso sim faz mal, mas usá-la apenas para desestressar, se livrar dos problemas, isso é uma ajuda.
- E você usa isso pra se livrar dos problemas? - perguntei de forma sarcástica.
- Sim. - ele disse, balançando a cabeça. - E está vendo? Eu estou bem até hoje, não sou um víciado ou algo do tipo, Alie. Você tem o total domínio da sua mente, lembre-se sempre disso, quando você quiser parar é só ordenar o seu cérebro e pronto, você vai parar.
Fiquei em silêncio, apenas escutando o que ele estava dizendo. Era um absurdo, eu nunca me imaginei usando aquele tipo de coisa.
- Preste atenção, baby... - ele puxou meu queixo para olhá-lo. - Eu jamais daria algo pra você que não lhe fizesse bem. Acima de tudo, Alie, você é minha amiga e eu gosto muito de você. Isso aqui é apenas para você se esquecer um pouco dos problemas... Apenas prove, certo? Prove e se você não gostar, nunca mais precisa usar.
- Eu... Eu não posso, Martin. Isso é errado.
- Não é, Alice. Confie em mim.
Eu não deveria confiar nele, meu coração pedia para não confiar nele, mas o que ele estava me prometendo... Me livrar de todos os meus problemas era o que eu mais precisava agora, era tudo o que eu queria e eu estava disposta a fazer qualquer coisa para obter aquilo.
- Como se faz? - perguntei.
- Pra usar? - ele perguntou e eu assenti. - Sempre soube que você era o tipo de mulher corajosa, Alie. É muito fácil. Você tem apenas que tampar uma das narinas e se aproximar... Da nossa 'amiga', - ele sorriu. - Você vai respirar pela outra narina e a nossa 'amiga' vai junto, então você solta a outra narina, joga a cabeça pra trás e funga. É apenas isso.
Mordi o lábio, sem saber ao certo como prosseguir. Ele me olhou e sorriu de lado.
- Eu vou amostrar a você, certo?
Assenti e ele tampou a narina esquerda, se aproximando da mesa. Respirando rápido, quase toda a primeira carreira de pó foi pra dentro dele e então ele jogou a cabeça pra trás, fungando algumas vezes. Logo depois me olhou, passando a mão pelas narinas.
- Viu? É simples, baby e eu sei que você consegue.
Olhando pra ele mais uma vez, tampei minha narina esquerda e me aproximei da mesa. Senti quando ele segurou meus cabelos e eu até pensei em protestar, mas respirei inconscientemente e o todo o pó entrou em meu nariz, me pegando de surpresa. Senti um pouco de cócegas em dentro de meu nariz e Martin puxou minha cabeça pra trás delicadamente. Comecei a fungar porque eu realmente senti necessidade daquilo, parecia que o pó ainda estava em minha narina.
Rapidamente uma sensação de tontura, prazer e esquecimento tomou conta de todo o meu cérebro, algo que me deu vontade sorrir.
- Parece que alguém gostou do resultado... - ouvi Martin dizer, enquanto eu continuava de olhos fechados, apreciando tudo aquilo. - Não é bom?
- É sim... - murmurei. - É muito bom, parece que... Que eu estou flutuando, sei lá!
Ele riu e eu ri também, levantando minha cabeça e olhando pra ele.
- Eu quero mais disso, garoto! Eu gostei.
- Então, tome mais um pouco, baby...
Ele aproximou a próxima carreira e eu usei de novo, e depois de novo, até começar a sentir a ponta dos meus dedos dos pés ficarem dormente. Era impossível explicar a sensação, eu apenas sentia vontade de rir e se eu fechasse os olhos, o prazer do entorpecimento tomava conta de mim. Tudo era bom demais.
- Agora chega, mocinha, nossa 'amiga' já te ajudou muito por hoje!
- Ah não... Só mais... Um pouquinho, Martin... - pedi, sentindo minha língua pesada e minha cabeça girar muito, como se não conseguisse parar no lugar.
- Nada disso... Eu vou colocar um pouco dela na sua bolsa e vou chamar seu motorista, a senhora precisa ir pra casa descansar.
- Mas agora eu quero aproveitar a festa...
- Eu faço outra festa pra você, querida, não se preocupe, certo? - senti meu corpo ser erguido e forcei os olhos para vê o que estava acontecendo. Martin havia me pego no colo e logo depois senti algo fofo abaixo de mim. - Fique deitada aqui no sofá, eu já volto. Nem tente sair daí, apesar de eu achar que você não vai conseguir de qualquer forma...
Ouvi seus passos se afastarem e o silêncio tomou conta de todo o escritório. Minha mente continuava a girar e girar até que a escuridão me tomou completamente.
06 de setembro de 1996
Tentei abrir os olhos e assim que consegui os fechei novamente. A luz havia acabado de massacrar minha mente. Sentia tudo queimando de um modo que nunca senti em toda a minha vida. Ainda de olhos fechados, tentei me lembrar da última coisa que eu havia feito.
Quando a cena de Martin e eu dentro de seu escritório chegou a mim, eu dei um pulo, começando a olhar em volta. Eu estava em meu quarto, ainda com a roupa da festa. Apesar da luz ainda me incomodar bastante e minha cabeça está ponto de explodir, eu queria entender o que havia acontecido.
"Eu vou colocar um pouco dela na sua bolsa e vou chamar seu motorista, a senhora precisa ir pra casa descansar."
Um pouco dela... Um pouco da 'amiga'! Olhei em volta e vi minha bolsa em cima da mesa de cabeceira. A abri rapidamente, jogando tudo que havia dentro dela em cima da cama e vi dois pacotes com pó branco cair rapidamente. Meu coração deu um baque, enquanto minhas mãos iam a minha cabeça.
Eu havia usado cocaína! E se aquilo era um efeito colateral que ela dava, eu nunca mais iria usá-la! Eu ao menos me lembrava de como havia chegado em casa... Na verdade, eu havia apagado no sofá de Martin. Tudo estava muito confuso, mas eu me lembrava muito bem da sensação que aquela coisinha havia me dado. A sensação do prazer, do entorpecimento... Era quase palpável e tudo dentro de mim implorava para sentir aquilo novamente.
- Não, Alice! Você tem o controle de sua mente e isso aqui é... Só para caso de emergência! - falei comigo mesma, colocando tudo dentro da bolsa. A última coisa que eu queria era que alguém visse cocaína em cima da minha cama.
Passei a mão pelos meus cabelos e passei o olho no relógio, levando um susto ao perceber que já passavam de uma da tarde. Me levantei com cuidado, sentindo tudo ainda rodar um pouco e então fui em direção ao banheiro.
Um banho frio certamente faria com que tudo aquilo acabasse logo.
Estava terminando de descer as escadas quando ouvi os gritinhos de felicidade de Prince. Um sorriso veio ao meu rosto e terminei de descer tudo correndo, querendo vê-lo logo.
Ao chegar na sala, vi Prince em pé na frente de Elizabeth, ela estava concentrada mostrando a ele um brinquedo. Os dois ainda não haviam percebido minha presença e eu fiquei apenas me perguntando porque Liz estava ali e ninguém tinha ido me chamar.
- Olá... - falei, sorrindo e entrando na sala.
Prince se virou e sorriu pra mim, balançando os braços.
- Mama... - ele gritou sua versão de "mamãe" rindo. O peguei no colo e o enchi de beijos, me sentando em uma poltrona de frente para Liz.
- Oi meu amor... Você estava fazendo bagunça com sua madrinha, é? - perguntei, vendo-o sorrir. - Como você está, Liz? Por que ninguém me avisou que você estava aqui?
- Eu estou bem, querida... Grace havia lhe chamado, mas você estava dormindo e eu decidi esperar por você.
Senti meu rosto ficar quente enquanto me sentia envergonhada.
- Me perdoe, Liz... Eu abusei do sono hoje. Não venho dormido muito bem nas últimas noites... - falei, dando uma desculpa, apesar da minha falta de sono ser uma verdade.
- Não se preocupe, meu bem... Prince me fez companhia durante esse tempo, brincamos muito juntos. - ela sorriu. - Eu vim aqui porque queria saber como você estava e também pra conversar com você, Alice.
Seu tom se tornou mais sério na última frase e eu logo soube qual era o assunto que ela queria tratar comigo.
- Certo... - murmurei, me virando para Prince. - Meu amor, que tal ir com a tia Mary vê desenhos, hm?
Ele olhou pra mim e gritou, saindo do meu colo e indo até a babá. Pegando a mão dela, os dois sairam da sala, enquanto Grace entrava com uma bandeja. Quando ela saiu, me virei para Elizabeth.
- Pronto, Liz... Estamos a sós agora.
Ela tomou um pouco do seu chá e me olhou por cima da xícara.
- Você já sabe sobre o que vim conversar, não é mesmo, Alice?
- Tenho uma vaga ideia... - falei, tentando fazer de tudo pra não soar sarcástica.
Aquela famosa raiva e aquele famoso sarcasmo estava começando a subir por minhas veias, e era algo que eu não estava conseguindo evitar.
- Ótimo, assim não preciso dar voltas pra onde chegar onde eu quero. - ela disse, colocando a xícara em cima da bandeja. - O que está havendo, Alice? Por que aceitou aquela proposta descabida de Martin Rock?
- Pelo o que vejo, Michael te deixou a par de algumas coisas, mas acho que não de tudo, Liz... - falei, me recostando na poltrona e olhando pra ela.
- Ele me deixou a par de tudo, Alice. Eu sei sobre a viagem, sobre o clipe, sobre a mentira dele... Sei sobre isso, na verdade, eu sempre soube.
Olhei pra ela se acreditar no que estava ouvindo. Minhas mãos se fecharam em punho, enquanto eu respirava fundo.
- Então até você sabia sobre tudo?
- Sim, Alie, eu sabia... Mas não pense que compactuei com isso...
- Compactuou sim, Elizabeth, desde o momento em que você sabia de tudo e não me contou, é óbvio que você compactuou! - falei, me esforçando pra não gritar.
- Alie, por favor, me deixe falar... - ela suspirou. - Eu disse a Michael que era errado mentir daquela forma pra você, eu disse pra ele contar...
- Se você sabia que era errado, deveria ter me contado!
- Eu quis contar, mas fiquei com medo de que vocês brigassem. Decidi confiar em Michael, ele disse que assim que chegasse de vaigem iria contar pra você.
- É, mas como você viu, ele não contou.
- Sim, e você descobriu de um jeito completamente errado... - ela me olhou. - Eu entendo sua raiva e sua mágoa, Alice, mas o que você está fazendo não é justo. Não se mostra raiva e mágoa cometendo um erro.
- E que erro que eu estou cometendo? Não vejo nada de errado aqui.
- Não haja como se não tivesse fazendo nada, Alice! Aceitar fazer o musical de Martin Rock é insano, por que não enxerga isso? Você e Michael haviam combinado que você iria parar um pouco pra ele continuar, mas você não está fazendo isso.
- E o que você tem haver com isso? - perguntei antes mesmo que pudesse pensar nas palavras.
Mas eu não me arrependi. Eu estava farta de todo mundo se meter na minha vida, eu queria dar um basta naquilo, dar um basta em tudo.
Elizabeth me olhou, surpresa.
- O que?
- O que você tem haver com isso, Elizabeth? O seu amigo me enganou, me fez de boba e você ainda acha que eu tenho que cumprir o que combinamos? Ah, pelo amor de Deus! E o pior de tudo: você chega aqui achando que fazendo esse discursso irá me fazer mudar de ideia? Eu sou adulta e sei muito bem o que estou fazendo, não preciso que ninguém me diga o que devo ou não fazer.
Ficamos em silêncio, e eu pude sentir o clima tenso da sala. Elizabeth me olhava como se me esperasse dizer desculpas, mas aquilo não iria acontecer. Eu não iria me desculpar quando ela havia mentindo pra mim junto com o meu marido e ainda por cima queria vim se meter em minha vida.
- Alice... - ela murmurou, parecendo chocada. - Eu nunca a ouvi falar assim.
- Pra tudo tem um primeira vez.
- Olha, eu não vou levar nada disso em consideração porque sei que você está nervosa e...
- Eu não estou nervosa, Elizabeth e tudo isso o que eu falei não foi da boca pra fora. Preste atenção em uma coisa: eu nunca me meti na sua vida, nem na vida de ninguém. Estou cansada de que façam isso comigo, como se eu fosse uma criança que não sabe o que está fazendo.
- Mas parece que você não sabe o que está fazendo, Alice. Eu só quero ajudar você.
- Eu dispenso sua ajuda, na verdade, eu não preciso de ajuda alguma!
Ela balançou a cabeça.
- Michael está certo. Esse tal de Martin Rock está fazendo sua cabeça e isso está acontecendo mais rápido do que eu poderia imaginar.
- Não tem ninguém fazendo minha cabeça, Martin é apenas meu amigo, mas eu respondo por meus próprios atos. Eu estou cansada de ser sempre boazinha, de sempre me colocar em último lugar pra cuidar dos sentimentos dos outros. Eu estou pensando em mim pela primeira vez na vida e eu não vou parar agora!
- Isso não é pensar em si mesma, Alice, se fosse, você veria o mal que está fazendo, não só a si mesma como a seu casamento.
- Um casamento é feito de duas pessoas, Liz, então essas duas pessoas tem que cuidar e lutar juntas por coisas que querem. Se Michael não luta pelo nosso casamento, eu não posso fazê-lo sozinha.
- Michael pode está sendo orgulhoso, Alice, mas você sempre lutou para mostrar a ele que esse orgulho não o leva a nada...
- É, eu sempre lutei. - falei, a interrompendo. - Eu, eu e eu, é sempre só eu. Estou cansada de fazer as coisas sozinha para todos.
Ela suspirou e se levantou, pegando sua bolsa.
- Eu só espero, do fundo do meu coração, que você não se arrependa disso, Alie. Estou disposta a te ajudar sempre, eu não vou mais me meter aqui, mas você pode me ligar quando quiser. - ela se aproximou e deu um beijo em minha testa. - Eu amo você querida, apesar de tudo isso que está acontecendo, eu amo você.
Praga - 06 de setembro de 1996
Elizabeth chegou em casa com a voz de Alice reverberando em sua mente. Ela repetiu a conversa várias e várias vezes em sua memória e ainda não tinha conseguido achar um motivo real para Alice ter tido aquele ataque.
A forma como ela havia falado estava muito, muito longe de quem ela era realmente. Elizabeth sabia que Alice não era daquele jeito, sabia que ela jamais reclamaria de ajudar alguém, de amar alguém, mas no entanto... Alice estava diferente, como se algo estivesse dentro dela, a impulssionando a fazer todas aquelas coisas.
Apesar de saber que tudo aquilo poderia sim ser influência de Martin, Alice havia passado muito pouco tempo perto dele para está tão influenciada assim. Para ela, Alice já estava abalada emocionalmente por conta da briga com Michael e Martin se aproveitou de tudo aquilo para colocar ideias ruins na cabeça dela.
"Ideias realmente ruins..." , ela pensou, ao se lembrar do relato de Grace sobre como a patroa havia chegado em casa na noite anterior. Eram meia-noite quando Gary foi contactado para buscá-la na casa de Martin, e quando chegou as duas da manhã, Alice estava desacordada. Grace disse que havia ficado preocupada com aquilo, nunca havia visto Alice daquela forma, porém, ela sabia que aquele não era um desmaio ou algo parecido.
Alice estava bêbada. De tal forma que havia apagado antes mesmo de Gary chegar a casa de Martin. A decepção tomou conta de Elizabeth, seu coração doeu e avisou a ela que aquilo poderia piorar se todos não ajudassem Alice.
Sentando-se em sua cama e pegando o telefone, ela ligou para o quarto onde Michael estava hospedado. Ele sabia que ela iria conversar com Alice e havia dito que era pra ela ligar assim que voltasse. Depois de quatro toques, ela ouviu a voz suave de Michael ao telefone:
- Alô?
- Olá, meu bem... É Elizabeth.
- Oi, Liz... - ele sorriu. - Me diga que tem boas notícias, por favor.
Ela suspirou, sem saber por onde começar. Decidira que seria honesta com Michael e não esconderia nada dele. Assim ele poderia ajudar Alice, do mesmo que ela estava disposta a fazer.
- Eu sinto muito, Mike, mas não tenho boas notícias.
- Não? Oh Deus, Liz... Me conte o que houve, eu estava com tanta esperança!
Ela deu um sorriso triste, como se ele estivesse na frente dela, observando a compreensão em seus olhos.
- Eu sei, Mike e eu também estava com muita esperança, mas tudo caiu por Terra com a conversa que tive com Alice. Ela realmente está muito diferente, Mike. - ela fez uma pausa, pensando por onde deveria começar. - Eu cheguei a Neverland um pouco antes do meio-dia, sem avisar e Grace me disse que Alice estava dormindo...
- Alice? Dormindo até meio-dia? Impossível, Liz, ela sempre acorda antes de Prince.
- Eu sei, eu também estranhei, mas ela realmente estava dormindo. Grace me explicou o porque e... Creio que você não vai gostar, Michael, mas eu decidi contar tudo logo. Chega de mentiras entre vocês dois, foi por causa de mentiras que tudo isso começou.
- E eu quero que você me conte tudo, Liz. Me esconder as coisas vai ser ainda pior.
- Certo... Ontem a noite Alie foi a casa de Martin. Grace me disse que achava que ia ter uma festa lá, não sei ao certo e, bem... Gary a levou e foi buscá-la meia-noite. Ele chegou a Neverland com Alie desacordada...
- Desacordada?! - ele a interrompeu. - Como assim desacordada, Liz? Ela estava machucada? Se aquele filho da puta fez algo a ela... Eu juro que cancelo tudo aqui e volto para os Estados Unidos apenas para matá-lo! - ele grunhiu.
- Acalma-se, Michael. Ela não estava machucada nem nada do tipo, ela estava... - ela hesitou. - Ela estava bêbada, Michael.
- O que?! - ele gritou. - Bêbada? Impossível, Liz, Alice nem ao menos bebe pra chegar perto de ficar bêbada...
- Mas ela estava, Mike. Confesso que na hora e eu não acreditei, mas quando ela apareceu na sala... Ela estava com a cara horrível de ressaca.
- Eu não posso acreditar... - ele murmurou com a voz decepcionada.
Sua esposa estava parecendo uma desconhecida. Ele não conhecia aquela Alice.
- Eu também não, Mike. Quando ela desceu e eu disse que queria conversar com ela sobre algo sério, sua feição mudou. Ela sabia muito bem o assunto que havia me levado ali e não se preocupou em disfarçar descontentamento com isso. Eu conversei com ela do jeito de sempre, tentando entender o ponto de vista dela e explicar o que estava errado, mas ela simplesmente disse que não era pra eu me meter. Que ela sempre pensou em nós primeiro e se colocu em último lugar e agora estava começando a pensar mais em si própria e nós estamos querendo fazê-la parar com isso.
- Ela disse isso? Disse pra você não se meter?
- Sim. Ela estava furiosa e não se preocupou em ser gentil. Eu nunca esperei esse comportamento vindo dela, mas aconteceu, Mike e eu realmente estou muito preocupada. O que quer que esse tal de Martin esteja fazendo, ele está obtendo resultados e rápido.
- Não é só isso, Liz. Eu acho que Alice já queria se revoltar a muito tempo, ela apenas achou um motivo pra isso. - ele suspirou. - Eu errei em mentir, sei disso, mas não é motivo pra tudo isso que ela está fazendo, então... Eu simplesmente lavo minhas mãos, Liz, não vou ficar me preocupando com ela, porque ela é adulta e sabe muito bem o que faz. Sei que depois ela vai se arrepender. Eu só espero que ela não largue meu filho de lado por conta dessa rebeldia tardia, eu sou capaz de trazê-lo pra perto de mim mesmo estando no meio de uma turnê.
- Não, Michael, se acalme. Eu te contei tudo isso, mas não foi pra você desistir de Alice, muito pelo contrário. É pra você lutar por ela, pra mostrar a ela que estando ao nosso lado ela pode continuar a pensar em si mesma, mas sem toda essa turbulência que está causando. Escute o que eu digo a você, Mike, deixe o orgulho de lado apenas um pouco, ligue pra ela, o que ela precisa agora é de você ao lado dela, ela precisa sentir isso.
- Você acha que ela vai melhorar se eu fizer isso, Liz?
- Vamos torcer de todo o nosso coração para que ela mude, Mike...
- Certo, eu vou ligar pra ela agora. Muito obrigado por tudo, Liz.
- Eu sempre estarei aqui por vocês, Mike.
Ao desligar o telefone, Elizabeth sorriu com esperança. Ela realmente acreditava que se Michael tomasse partido da situação, tudo iria se resolver. Orava a Deus para que isso realmente acontecesse.
06 de setembro de 1996
Depois que Elizabeth foi embora eu subi e me tranquei em meu quarto, sentindo toda a raiva tomar conta de mim.
Era sempre a mesma coisa! Todos chegavam aqui e queria meter o dedo em minha vida, ditando regras sobre o que eu deveria ou não fazer, e eu simplesmente não aguentava mais! Eu queria ser mais livre... Eu queria me livrar dos problemas, de todos os problemas nem que fosse por alguns instantes.
E eu sabia como fazer aquilo.
Praga.
Michael desligou o telefone e ficou alguns segundos em silêncio, tentando resolver o que faria a seguir.
Elizabeth parecia está certa. Talvez Alice apenas precisasse de uma prova de que ele estava ali, que ficar com ele não queria dizer que ela não poderia pensar em si mesma. Ele sabia que casamento era assim, um tinha que lutar pelo outro. Amor não era como conto de fadas e ele realmente não queria deixa que seu casamento se afundasse.
Alice era a mulher da vida dele, foi a garota que largou tudo, foi para o outro lado do mundo ficar ao lado dele quando ele mais precisou, ele a amava de todo o seu coração e estava disposto a lutar por ela.
Tirando o telefone do gancho, Michael ligou para o telefone de seu quarto. Tocou cinco vezes, até que ele escutou a voz de Alice do outro lado da linha - pelo menos parecia a voz dela.
- Alô? - ela murmurou.
Ele engoliu em seco. Era a primeira vez que falava com ela desde que viajara, seu coração estava dando pulos de saudades e amor. Michael ignorou o tom de voz dela e se concentrou no que deveria falar.
- Oi, Alie... É Michael.
- Ah... - ela riu do outro lado da linha. - Hm... Michael, acho que... Que você ligou pro telefone errado. Você não deveria ligar pro número do andar de baixo? - ela perguntou.
Michael conseguiu entender o que ela falou, mas mal podia acreditar no quão enrolada estava a voz dela.
- Alice, você bebeu?
Ela riu do outro lado, gargalhou alto, fazendo Michael arregalar os olhos.
- Ah, Michael eu não acredito que você tá me ligando... O que Liz disse pra você?
- Alice, me responda: você bebeu?
Mas ela continuou a rir e falar sobre outra coisa:
- Com certeza ela deve ter dito: "Michael, Alice está louca, ela está pensando nela mesma ao invés de pensar em nós e nos colocar em primeiro lugar"...
- Porra, Alice, para com isso! - Michael gritou, perdendo a paciência que ele nem sabia que estava ao fim. - Você destrata Elizabeth daquela forma e agora fica falando essas coisas e rindo feito uma louca... - ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro. - O que deu em você?!
- Michael... - ela murmurou. - Eu estou com sono... Podemos conversar depois?
- Com sono? Ora, invente outra desculpa, Alice, Liz me disse que você dormiu até bem tarde porque chegou bêbada da casa de Martin... Você não tem vergonha? - a voz dele ficou mais baixa, e ele deixou transparecer toda a dor que havia dentro de si. - Você não pode imaginar o quanto eu estou decepcionado com você.
Mas Alice não ligou. Ela estava como na noite seguinte: chapada. Havia recorrido a sua nova "amiga" pela segunda vez e dessa vez a sensação estava melhor do que antes, visto que ela se sentia em outro mundo e não ouvia nada do que Michael falava.
- Alice, você está me ouvindo? - ele perguntou, mas apenas ouviu o suspiro dela como resposta. - Alice, fala comigo... - ele percebeu que estava falando sozinho quando outro suspiro chegou ao seu ouvido. Alice estava dormindo no outro lado da linha.
Com raiva, ele desligou o telefone e o tacou na parede. Não sabia mais o que fazer, Alice estava fora de si, era como se fosse outra pessoa.
Respirando fundo, Michael se sentou na cama e passou as mãos pelos cabelos, perguntando a si mesmo se aquele era o fim de seu casamento.
07 de setembro de 1996
Não sabia ao certo se havia falado com Michael no dia anterior ou não, quer dizer... Eu dormi pelo restante do dia e só acordei a noite com a cabeça latejando, me lembrando vagamente de ter escutado a voz de Michael.
No mínimo tudo não tinha passado de um sonho. Michael jamais me ligaria e se ligasse... Eu jamais perderia a oportunidade de ouvir sua voz de forma coerente.
Olhei no relógio e vi que já marcava nove da manhã. O show de Michael era hoje e eu poderia imaginar o quanto ele deveria está ansioso. Uma vontade de pegar o telefone e ligar pra ele tomou conta de mim, e eu até faria isso, mas era algo que não valia a pena.
Provavelmente, Michael não queria falar comigo e eu deveria apenas engoli toda aquela vontade de correr para os braços dele.
Me levantei e fui em direção ao banheiro, me sentindo mal em vários aspectos, principalmente por não vim dando atenção suficiente ao meu filho. Desde que Michael viajara eu fiquei distante e o meu peito apertava todas as vezes em que ouvia a voz de Prince ou pensava nele. Eu não deveria deixar que minha relação com Michael atrapalhasse tudo, principalmente minha relação com meu próprio filho.
Tomei um banho, sentindo minha cabeça um pouco melhor e então fui ao quarto de Prince. Ele ainda dormia no berço, estava tranquilo e sereno. O peguei em meu colo com cuidado e quando ele começou a resmungar eu apenas sussurrei em seu ouvido, sentindo-o se acalmar prontamente. Nada no mundo me deixava mais completa do que ter meu filho comigo e isso era algo que eu jamais abriria mão.
Me sentei em uma poltrona com ele em meu colo, vendo-o suspirar e voltar a dormir. Um sorriso se formou em meus lábios quando ele sorriu em meio ao sono.
- Sra. Jackson? - Grace me chamou, parada na porta do quarto de Prince. - Telefone pra senhora, é Martin Rock.
Ela se aproximou e me deu telefone, deixando o quarto logo depois.
- Olá, Martin. - falei ao telefone, ainda olhando para meu filho adormecido.
- Oi, Alie... Liguei pra saber como é que você está. Está tudo bem?
- Se eu disser que está tudo bem, estarei mentindo... Mas estou me sentindo melhor.
- Isso é realmente ótimo, querida. - ele sorriu. - Bem, eu li jornal que hoje é a estreia da nova turnê de Michael. Achei muita coincidência você marcar o primeiro dia de ensaio para justamente o dia da estreia da HIStory World Tour.
Deixei que meu primeiro sorriso sarcástico do dia rompesse de meus lábios.
- Não é coincidência alguma. Eu quis marcar no mesmo dia, Martin, porque não quero ficar em casa e pensar que Michael deve está em cima do palco, sem ao menos ligar pra mim.
Em cima do palco vestindo a calça dourada. Pensei, sentindo um leve tremor de raiva perpassar meu corpo.
- Está certa, Alie, você está totalmente certa. Eu te espero aqui, mais tarde. Não se atrase porque uma van nos levará até o local de ensaio. - ele fez uma pausa. - Até mais, Alie.
- Até mais, Martin.
Desligamos o telefone e eu beijei a testa de Prince, prometendo em pensamento que eu não iria ficar longe dele.
- Michael, cinco minutos. - disse seu assistente, fechando a porta atrás de si.
Michael se olhou no espelho mais uma vez, querendo enxergar o figurino dourado que estava vestindo, mas seus olhos não se fixaram ali. Apenas a imagem de Alice e Prince preencheram seu campo de visão.
O sorriso deles, a forma como eram parecidos, o jeito que olhavam para ele quando ele chegava em casa. O amor nos olhos de Alice, algo que sempre esteve lá e que ele nunca pensou que sentiria tanta falta quanto estava sentindo naquele momento.
Como ele a amava. A amava mais do que qualquer coisa que ele poderia imaginar. A falta que estava fazendo estava o matando lentamente e naquele momento ele sabia que trocaria tudo para ter ela e Prince ao seu lado.
Ainda se perguntava porque as coisas tinham de ser tão difíceis. Estava tudo tão bem, e então, sem aviso algum, tudo desmoronou. Obviamente ele sabia que um casamento não é feito apenas de momentos felizes, mas nunca imaginou que ficaria tanto tempo longe de Alice. Nunca pensou que qualquer outro sentimento poderia superar o amor que sentiam um pelo outro.
Será que ele tinha de lutar? Será que ele tinha de largar tudo naquele exato momento e ir até ela, de joelhos, pedindo desculpas?
Mas... Nem tudo era culpa dele. Claro que tudo começou por conta de sua mentira, mas Alice também estava bastante errada naquela história.
Será que ele tinha que... Esquecer tudo e apenas fazer como Alice fazia? Esquecer dos outros erros e ir pedir desculpas? E se ela não aceitasse e o julgasse, ou pior... E se Alice não o quisesse mais?
Eram tantas perguntas e Michael tinha muito, muito medo de descobrir as respostas.
- Michael, está na hora. - seu assistente falou, esperando por ele.
Michael suspirou e se virou, pedindo a Deus direção e discernimento para o que quer que ele tivesse que fazer para recuperar seu casamento. Estava disposto a colocar o orgulho de lado mais uma vez e esperava que dessa vez, tudo desse certo.
Martin havia fechado uma casa de show para que pudéssemos ensaiar. Eu sabia que ele estava pensando alto, mas antes de irmos para casa de show, ele fez uma pequena reunião com toda equipe, onde estava incluso o advogado, o empresário do musical e o empresário da Broadway.
Eles comunicaram que a estreia para o musical seria dia 18 de novembro, em Londres. Um vinco se formou em minha testa na mesma hora e então Martin surpreendeu a todos dizendo que o musical estreiaria no Estadio de Wembley, em Londres, depois fechariamos casas de show pela cidade, para que em dezembro retornássemos aos Estados Unidos e fizessêmos uma temporada pela Broadway, em Nova York e em Los Angeles.
Seria o primeiro musical da Broadway que não seria lançado em Nova York, e eu realmente fiquei entusiasmada com aquilo. Seria simplesmente fantástico!
Quando chegamos a casa de show, estavam lá o figurinista, mais dois coreógrafos, backvocals e uma banda inteira que estava montada no palco. Tudo aquilo estava realmente me deixando excitada para começar a ensaiar.
- Certo, pessoal, vamos começar da seguinte forma: as meninas ficam aqui com Cary, nossa coreógrafa e os meninos ficam do outro lado do palco, com Roger, nosso outro coreógrafo. Iremos dividir assim por enquanto, porque nas primeiras músicas a coreografia de vocês é diferente. Alice, venha comigo. Irei te apresentar a nossa banda e musicos e também te apresentar a Samantha e Carlos, nossos compositores.
Fui com ele até o centro do palco, e logo conheci a todos. Samantha e Carlos eram bastante gentis, e me mostraram todas as músicas que haviam escrito, enquanto Martin citava cada uma delas, dizendo o quanto elas deveriam ser sensuais e doces na hora da dança.
Era um total de 30 músicas e teríamos que escolher 10. Peguei todas as 30 comecei a ler uma por uma. Queria saber cantar todas para podermos escolher da forma correta.
Eu realmente queria que aquele musical desse certo, e lutaria por isso.
14 de setembro de 1996
Com 10 músicas escolhidas e aprendendo as coreografias, o musical estava começando a andar de verdade.
Como o musical se iniciava em novembro, estávamos correndo por conta de algumas viagens que teríamos que fazer até Londres.
No momento o mundo falava sobre a turnê de Michael. Seu primeiro show em Praga reuniu um público de 160 mil pessoas e até mesmo os tablóides que gostavam de o criticar, tiveram que abaixar a cabeça e o elogiar. Confesso que gostei muito daquilo e senti muito orgulho por Michael. Mesmo ele usando aquela calça dourada e tendo mentido pra mim, eu jamais torceria contra ele.
Ele continuava ligando lá pra casa e passara a perguntar por mim, pedindo pra falar comigo mas eu sempre recusava. Eu não queria falar com ele e perder a coragem de tudo o que estava reunindo dentro de mim. Às vezes, quando o estresse falava mais alto sobre mim, eu recorria a solução que Martin havia me apresentado. Isso estava acontecendo com frequência, mas eu simplesmente não conseguia parar e ás vezes era muito mais forte do que eu.
- Alice, você escutou o que Auguste disse? - Martin perguntou, chamando minha atenção.
Olhei em volta e vi Auguste me olhando com expectativa. Ele era nosso figurinista e estava falando sobre suas ideias de roupas, mas meus pensamentos me levaram para longe no meio da conversa.
- Oh, me perdoe, você estava dizendo sobre eu começar vestindo um macacão, não é isso?
- Sim e também... Bem, é apenas uma ideia, Alie, mas combinaria muito com todo o musical. - ele olhou para Martin e eu. - Eu sugiro que você pinte o cabelo de preto.
- O que? - perguntei, quase em um grito.
- É que seu cabelo está no tamanho ideal e não seria justo colocar uma peruca, até porque, no meio da dança tem muitos movimentos em que você joga o cabelo... Pense no quão legal seria mudar de visual, Alie. Você loira fica muito romântica, e a aura do musical é mais sensual e rebelde. Você ficaria linda de cabelo preto.
- Eu... Eu não sei, eu nunca pintei meu cabelo... - falei, passando o dedo pelas pontas de meus cabelos.
- Alie, eu te garanto que você vai ficar linda. - disse Martin. - Pense bem, é para que nosso musical saia perfeito.
O que era um cabelo de outra cor? Eu só teria de pintá-lo e mais nada, quando acabasse o musical, eu voltaria a ser loira.
- Está certo, eu pinto o cabelo. - decidi.
Auguste bateu palmas, em seu melhor estilo gay.
- Ótimo, Alice, realmente ótimo. Você tem algum cabelereiro de sua preferência? Eu conheço um dos melhores cabelereiros de Los Angeles, e tenho certeza que ele não se recusará de vir aqui fazer o seu cabelo.
- Agora? - perguntei.
Eles realmente estavam com pressa. Auguste assentiu. Eu até tinha um cabelereiro, mas era o mesmo de Liz e eu não queria ter de fazer nada com ele, porque ele sempre contava tudo pra ela. Ter Elizabeth em minha casa de novo para se meter em minha vida era o que eu menos queria naquele momento.
- Tudo bem, você pode chamá-lo.
Ele deu pulinhos e foi até o telefone. Martin se sentou ao meu lado no sofá e segurou minha mão.
- Não precisa ter medo, olha, você está na minha casa e se por acaso não gostar desse tal cabelereiro, pode correr e se esconder no meu quarto, certo? - ele disse em tom de brincadeira.
Revirei os olhos e ri, pensando que ultimamente apenas ele estava sendo meu amigo de verdade e se desdobrando para colocar um sorriso em meu rosto.
- Certo, eu irei me lembrar disso. - falei, piscando pra ele.
Assim que pisei no hall de casa, ouvi vozes vindo da sala. Eu podia ouvir os gritinhos de Prince, mas também ouvia risadas masculinas, risadas conhecidas. Com a curiosidade latente, entrei na sala e meu coração quase parou.
Michael estava ali, com Prince em seu colo. Ele estava conversando animadamente com Frenci e Mark e eles ainda não haviam me visto.
- Mama! - Prince gritou, me chamando com os braços estendidos.
Todos eles se viraram e me olharam e então arregalaram os olhos. Mark ficou de boca aberta e Michael desmanchou o sorriso que estava em seus lábios. Eu não havia entendido o porquê daquelas feições.
- Deus, Alice, o que houve com você?! - Mark perguntou alto demais.
- Como o que houve comigo? Eu estou bem. - falei, ainda querendo entender o porquê deles estarem tão assustados.
- O seu cabelo está... Diferente. - Frenci comentou.
Ah... Então era por aquilo. Sorri de lado e passei a mão por meus cabelos pretos, olhando pra eles.
- Sim, eles estão pretos! - afirmei, sorrindo. - Não estão incríveis?
- Não... - Michael respondeu. - Eles não estão incríveis, quem disse que estavam? Ah, não, não precisa responder. Martin Rock disse que estavam bonitos, não é?
Mark pegou Prince no colo e junto com Frenci, saíram discretamente da sala. Michael ainda me olhava com precisão.
- O que você está fazendo aqui? - perguntei. - Não era pra está em turnê?
- Bem, aqui é minha casa. Posso vir pra cá quando eu quiser.
- Verdade, realmente é verdade. Me desculpe por perguntar, Michael e só pra você saber, Martin disse sim que meu cabelo está bonito, mas eu estou me sentindo bonita assim. É para o musical e eu acabei gostando, é sempre bom mudar de visual de vez em quando.
- Tudo o que você faz agora é para o musical, Alice. Mas enfim... - ele limpou a garganta e se levantou, se aproximando de mim. - Meu próximo show é apenas no dia 18 e eu resolvi vir aqui para vê vocês. Você não quer falar comigo por telefone, se recusa a me falar um 'oi'. O que está acontecendo? Eu sei que estamos brigados, mas eu quero dar um basta nisso. A última vez que ouvi sua voz foi quando te liguei e você dormiu ao telefone, Alice! Dormiu, se lembra disso?
- Eu dormi? - perguntei, tentando me lembrar. - Quando foi isso?
- No dia que Liz esteve aqui... Eu te liguei a noite e você me atendeu, você estava estranha e então disse que estava com sono... Logo depois eu só escutei sua respiração no telefone. - ele suspirou e se aproximou mais, colocando a mão em meu rosto. - Por favor, Alie, vamos acabar com isso. Eu não suporto ficar brigado com você, realmente não suporto.
- E pra acabar com a nossa briga, você vai sugerir que eu largue o musical e viaje com você... - falei, tirando sua mão de meu rosto e me afastando. - Eu estou farta disso, Michael, de sempre fazer tudo o que você quer. Tudo bem, vamos fazer as pazes, mas cada um cuida da sua vida profissional do jeito que quer. Você não se mete no meu musical e eu não me meto na sua turnê.
Cruzei os braços e fiquei olhando pra ele, esperando sua resposta. Ele ficou me olhando, não sei ao certo se pensava em minha proposta ou não, porque sua expressão deixava escapar nada.
Ele balançou a cabeça e então disse:
- Eu estou tentando, Alice, realmente estou tentando salvar o nosso casamento, mas eu não consigo sozinho. Você precisa cooperar comigo, ou então enxegar que se esse musical fosse realmente tão bom assim, não deixaria a gente nessa situação. Eu sei que errei ao mentir pra você, mas tudo desmoronou de verdade quando você decidiu aceitar a proposta daquele cara.
- Desmoronou porque você não aceitou que eu seguisse com minha carreira. Porque nós combinamos tudo, Michael, mas acima de tudo combinamos que não haveria mentira entre nós. Você foi o primeiro a romper o nosso trato.
- Eu pedi desculpas! Poxa, Alice, eu implorei pra você me desculpar, mas ao invés disso você resolveu ter um ataque de adolescência tardia. Porque pra mim, é assim que está sendo a sua atitude, uma atitude de adolescente rebelde. Mas acontece que você é uma mulher de 25 anos e não uma adolescente de 15!
- Ah é, porque, o que era mesmo que eu estava fazendo quando tinha 15 anos? Oh, é mesmo, eu tinha acabado de perder minha mãe e estava estudando de manhã e trabalhando em uma lanchonete a tarde pra sustentar meu pai que estava afogado na mágoa e na bebida. E com 18 anos? Ah sim, eu estava cuidando de Mark, quando os pais dele o expulsou de casa ao saber que ele era gay. E com 22 anos, o que eu estava fazendo? Ah, eu estava largando tudo e indo viajar para o outro lado do mundo, para cuidar do meu melhor amigo quando ele mais precisou de mim.
"E quem fez o mesmo por mim? Ninguém nunca largou nada ou fez nada próximo do que eu fiz. Eu não tive adolescência porque tive que ser adulta aos 13 anos, quando perdi minha mãe e vi meu pai desmoronar. Eu tive que trabalhar, porque senão perderíamos tudo, a única coisa que tinhamos era nossa casa, mas e o resto? E comida, roupa e tudo? E amor? Eu perdi minha mãe, mas junto perdi meu pai também, até os meus 17 anos, quando ele finalmente percebeu que estava se matando e me levando junto consigo.
"Eu ajudei a meu pai, eu ajudei a Mark, eu ajudei a você, Michael... Não me arrependo, eu realmente não me arrependo, mas não venha me falar que eu estou tendo um ataque de adolescência tardia porque eu ao menos sei o que é ter adolescência, é algo que eu realmente nunca tive. Eu sou adulta o suficiente pra saber o que eu estou fazendo, pra assumir meus atos. Eu só estou cansada de lutar sozinha por tudo."
Ele ficou parado, acho que apenas absorvendo tudo o que eu disse. Minha vida entre os meus 13 e 17 anos sempre foi algo que eu apenas contei por alto para todos, apenas Mark sabia de tudo e agora Michael estava descobrindo de um jeito estranho, no meio de uma briga, mas eu me senti leve depois de ter dito tudo aquilo.
- Eu... Alie, eu realmente não sabia disso. - ele disse, me olhando. - Por que você nunca me contou?
- Porque é uma parte da minha vida que me machuca. Uma parte que eu quero apenas esquecer. Eu sempre fui feliz ao seu lado, Michael, não queria estragar tudo com momentos de tristeza.
- Você não iria estragar nada, Alie...
- Eu sempre fui forte. Eu estou me mantendo longe porque quero continuar forte, eu não quero desmoronar, eu não quero chorar porque está tudo uma droga entre nós. - falei, o interrompendo. - Eu também não quero ficar brigada com você, Michael. Eu só quero que você respeite a minha decisão.
- Está certo, Alie, está certo... - ele se aproximou e pegou em minhas mãos. - Eu vou respeitar sua decisão de fazer o musical, eu não quero mais ficar brigado com você, eu te amo, e vou te apoiar nisso. Quer dizer... Eu vou está longe, mas quando o musical ser lançado eu vou está aqui, junto de você. - ele beijou minhas duas mãos.
O sorriso que despontou em meu rosto foi o mais sincero que eu dava em dias. Meu coração estava batendo rápido demais depois de tudo aquilo que eu havia escutado, a felicidade estava voltando.
- Está falando sério?
- Claro que estou! - ele sorriu. - Nunca falei tão sério em toda a minha vida, amor.
- Oh Mike, até que enfim! - eu o abracei e o puxei pra mim, beijando seus lábios com amor. A saudade estava realmente me consumindo. - Obrigada por isso. - falei, quando finalmente deixei seus lábios.
- Então, estamos bem agora? - ele perguntou, sorrindo.
- Muito bem!
- Ótimo... Porque eu estou doido pra fazer amor com você...
Não pude deixar de gargalhar com aquilo, ele sempre era atrevido.
- Mas, Mike... Mark e Frenci estão aí e...
- Não, nada de desculpas! - ele disse, me pegando no colo e começando a subir as escadas. - Eu vou amar você com ou sem visitas aqui, esperei muito tempo por isso, amor, muito tempo...
Ele estava me sequestrando, e mesmo se não tivesse... Quem seria eu pra falar não, quando o meu marido queria fazer amor comigo? Os momentos de felicidade estavam voltando e eu queria apenas agradecer muito a Deus por causa disso.
14 de setembro de 1996
Michael olhou para Alice mais uma vez e passou a ponta dos dedos pelo rosto dela. Ele estava renegando seu cabelo preto, que estava tomando quase todo o travesseiro onde ela estava deitada.
Não parecia sua esposa. Ele estava acostumado com uma Alice de cabelos claros, que tinha a aura doce e carinhosa. Aquela mulher que estava deitada ao seu lado estava parecendo muito sombria. Não era só pela cor do cabelo, mas algo nela parecia diferente.
Um suspiro audível escapou de seus lábios. Eles haviam feito amor a menos de meia hora atrás e a entrega de Alice fora completa. Ela parecia ser a mesma enquanto estava juntos, unidos, e até mesmo depois, antes de pegar no sono. Agora, quando a calmaria tomou conta do quarto, Michael se deu conta de que algo estava acontecendo com ela.
Ele só não sabia o que era, mas estava disposto a descobrir.
Dando um beijo doce em seus lábios, Michael se levantou e tomou um banho, logo saindo do quarto. A noite já estava feita, mas como ainda era cedo, ele pegou Prince e foi para os jardins, brincar com o filho.
Vê-lo correr de um lado para o outro e apontar os dedinhos para tudo o que via o fazia um homem muito feliz. Ele podia está passando por qualquer transtorno, mas vê seu filho o dava esperança e o enchia de determinação. Era dele que ele teria de tirar força para ficar ao lado de Alice, seja o que for que estivesse acontecendo com ela.
Quando se cansou, Prince foi para o colo de Michael e se deitou. Bastou apenas ouvir a voz calma do pai para que logo estivesse dormindo. Michael ainda estava concentrado em seu filho, quando ouviu uma voz doce atrás de si.
- Oi, meu bem...
Ele se virou um pouco e viu Elizabeth se aproximando. Ela sorriu pra ele e beijou sua bochecha, logo depois beijando a testa de Prince.
- Como você está? - ela perguntou, se sentando em uma cadeira perto da dele.
- Melhor. - ele murmurou com um sorriso triste. - Quer dizer, Alie e eu fizemos as pazes e... Eu acho que dessa vez é pra valer.
Ela sorriu alegremente.
- Ah, Michael! Eu estou tão feliz por vocês. Então quer dizer que Alice desistiu dessa ideia louca de musical e vai ficar viajando com você?
- Eu queria isso. - ele falou, voltando o olhar para Prince adormecido em seu colo. - Eu realmente queria, mas isso não vai acontecer, Liz.
- Como não? Você acabou de dizer que fizeram as pazes, Michael, que agora está tudo bem...
- Sim, mas Alice continuará a fazer o musical. Na verdade, ela disse que só ficaria de bem comigo, se eu aceitasse que ela fizesse o musical. - ele suspirou e olhou pra ela. - Eu não tive escolhas, Liz. Eu tenho certeza que se eu não aceitasse que ela fizesse o musical, nunca ficaríamos bem. Eu tive que engoli toda essa história, pra poder me aproximar dela novamente.
Ele fez uma pausa e Elizabeth ficou em silêncio. Ele pensou ouvir passos se aproximando deles, mas não pôde escutar mais nada. Olhando ao redor, viu que não tinha ninguém por perto.
- E, bem... Isso tudo faz parte de um pequeno plando que criei.
- Plano? Como assim?
- Como eu disse, eu precisava aceitar toda essa merda de musical pra poder fica próximo a Alice novamente. Eu disse a ela que estava tudo bem, que eu não iria interfirir no musical, mas agora que estamos bem, eu vou ficar instigando-a até conseguir tirar essa ideia da cabeça dela. Eu vou ser romântico e ao mesmo tempo vou ficar mostrando a ela o porquê de não fazer esse musical. Eu acho que pode dar certo, Liz. Tem que dar certo, eu preciso ter minha esposa de volta. Como era antes.
Elizabeth ficou quieta por alguns minutos, estudando tudo o que Michael disse. Era realmente um bom plano. Sem brigas e confusões, ele poderia mesmo fazer com que Alice mudasse de ideia.
- Eu também acho que pode dar certo, Mike. - ela disse e passou a mão carinhosamente pelo braço dele. - Eu estou tão feliz que você tenha enxegardo que não adianta tentar combater tudo com orgulho. É assim que se deve ganhar uma luta como essa: estando ao lado de quem você ama e apontando motivos para fazê-lo mudar de ideia e não brigando ou gritando. Tenho certeza que com sua ajuda, Alice vai vê o que é melhor para vocês dois e até para ela mesma.
- Sim, Liz, eu acredito nisso. Não quero mais brigar com ela, isso só faz com que ela se afaste mais. Eu só preciso ficar fingindo por enquanto, não vou falar bem do musical, mas também não irei falar mal. Quer dizer, por hora não vou falar mal e quando eu falar, vai ser de um jeito que ela não se irrite.
- Isso mesmo, eu te dou total apoio, Mike. - ela sorriu e então olhou para os lados. - Por falar nela, onde está Alice?
Michael sorriu de lado.
- Bem, digamos que eu a cansei um pouco no começo dessa noite e agora ela está recuperando as energias.
Elizabeth olhou pra ele e então riu, ao entender o que ele queria dizer com aquilo. Eles ficaram conversando por mais algum tempo até ela ir embora. Michael colocou Prince no berço e então voltou para o seu quarto.
Alice estava sentada na cama, de costas para ele. Quando ouviu a porta sendo fechada, ela se virou e viu o sorriso dele nascendo e crescendo.
Ele se aproximou e a esperou sorrir também, mas ao invés disso, ela se levantou da cama e cruzou os braços, o encarando:
- Eu quero saber até quando você pretendia ficar me enganando, Michael.
Ele franziu o cenho, sem entender.
- O que? Do que está falando, Alie?
- Estou falando sobre você fingir aceitar que eu fizesse o musical, para depois me fazer mudar de ideia.
Michael engoliu em seco e fechou os olhos, pensando no que responder.
Alice havia escutado tudo, e ele sentia que aquilo não iria acabar bem.
14 de setembro de 1996
Nunca foi do meu feitio ficar escutando a conversa dos outros, mas quando me aproximei do jardim e vi Michael e Elizabeth conversando quase aos sussurros, eu percebi que eu deveria ficar ali, escondida e escutar até o final.
Até agora eu não sabia definir se o que eu fiz foi bom ou ruim. Poderia dizer que foi um pouco dos dois. Por um lado foi extremamente ruim. Minhas esperanças de finalmente ficar de bem com Michael ruiram no momento em que eu soube que ele estava mentindo pra mim.
Mas por outro lado, foi bom. Eu não seria enganada por ele, nem manipulada por ele. Agora eu sabia exatamente o porquê dele ter vindo com a história de fazer as pazes.
- Alie, pra começo de conversa, eu não estava querendo enganar você. Essa nunca foi a minha intenção.
- Ah não?
- Não. - ele disse, olhando atentamente pra mim. - E outra coisa... Por que você ouviu minha conversa com Elizabeth?
- Eu estava me aproximando quando escutei você falar do seu plano mirabolante de fingir que aceitou o musical, para depois me fazer mudar de ideia. Sinceramente, Michael, isso é ridículo.
- Não é ridículo, Alice, foi o único jeito que eu encontrei de fazer com que você mudasse de ideia. Por favor, não me interprete mal, eu só queria fazer você enxergar que esse musical está acabando conosco.
- Não, Michael. O que está acabando conosco é o seu egoísmo! O que custa me deixar fazer a merda do musical? Eu simplesmente não entendo o porquê de tanta implicancia.
- Não é apenas o musical, Alie. É esse Martin também. - ele se aproximou de mim e tocou meu rosto. - Ele está fazendo você mudar, Alie. E eu não quero que você mude, você é perfeita pra mim do jeito que era antes.
Ele não havia elevado a voz. Não tinha um olhar irritado ou uma expressão de raiva. Ele estava apenas falando tudo aquilo com amor.
Como ele disse a Liz que faria. Eu até poderia acreditar que tudo aquilo era verdade, se eu não tivesse escutado todo o seu plano antes.
- Isso também faz parte do seu jogo, não é? Ser romantico pra me fazer mudar de ideia. - falei, me afastando dele. - Mas eu não vou cair nisso, Michael. Eu já sei de tudo, agora eu sei muito bem o que você iria fazer comigo.
- Não faz parte, Alie, eu estou sendo sincero com você. Eu percebi que brigar não nos leva a lugar algum, por isso eu quero apenas fazer você vê que esse musical é o causador de tudo de ruim que está acontecendo conosco.
- Pois você não vai me fazer mudar de ideia, Michael. - falei, me aproximando da porta de nosso quarto. - Nós voltamos a estaca zero, e eu acho melhor continuarmos assim por enquanto. Você de um lado e eu do outro, pelo menos até você enxergar de verdade que o musical não tem nada haver com a nossa crise.
Quando abri a porta de nosso quarto, ele se aproximou de mim, tocando em meu braço. Eu não iria ceder mais, eu sempre cedia, sempre. Mas dessa vez seria diferente.
- Onde você vai?
- Dormir no quarto de hóspedes com o meu filho. - falei, tirando meu braço de sua mão. - Com licença.
Eu não dei tempo dele responder, apenas sai e fechei a porta de nosso quarto. Peguei Prince em seu quarto e fui em direção ao quarto de hóspedes, fechando a porta e me deitando ao lado de meu filho.
Eu havia pensado que essa noite seria diferente. Havia pensado que eu finalmente iria dormir ao lado do meu amor depois de longos dias sozinha, mas não foi isso que aconteceu. Eu o amava muito, mas mentira sempre iria nos afastar.
Só esperava que Michael um dia percebesse aquilo.
15 de novembro de 1996 - Dois meses depois.
- Inferno! - Michael rugiu, jogando o jornal em cima da cama.
Ele andou de um lado para o outro, tentando acalmar a respiração. A última coisa que precisava agora era que um tablóide começasse a falar dele e de Alice. Já estava ficando praticamente louco.
Estava há dois meses sem falar com Alice. Ela simplesmente o ignorava desde a última conversa em que tiveram em Neverland. Ele ligava e ela não atendia, quando dava para ir a Neverland entre as datas de um show, ela se recusava a falar com ele. E agora ela tira fotos praticamente nuas para o novo musical e os tablóides se aproveitam da situação, começando a especular sobre a relação deles.
Tudo estava um caos.
- Eu vim aqui, Michael, para tentar entender o que está acontecendo entre vocês. Eu já desconfiava que algo estava errado, visto que Alice não veio ao seu encontro para te acompanhar na turnê, mas eu nunca pensei que fosse algo tão sério. Alice se recusa a falar comigo, você sabia disso? Minha própria filha está se recusando a conversar comigo, e agora isso nos jornais... - Peter começou a andar de um lado para o outro, passando as mãos nos cabelos. - O que está acontecendo com Alice, Michael? Eu exijo saber, então, por favor, não me esconda nada.
Michael engoliu em seco. Sabia que quando Peter bateu na porta de seu quarto e entrou com um exemplar de um jornal americano em mãos, ele não tinha um assunto bom a ser tratado. Mas o sogro tinha o direito de saber o que estava acontecendo, mesmo que Michael não quisesse contar.
- É uma longa história, Peter. Uma longa e dolorosa história.
Peter olhou para Michael com os olhos arregalados e se sentou em uma poltrona.
- Temos tempo, Michael. Me conte tudo o que houve, desde o começo.
E Michael fez isso. Não omitiu uma parte sequer, contou sobre sua mentira, sobre Alice descobrir de um modo errado e todo o resto. As expressões que Peter fazia iam decaindo cada vez, mas até que Michael ficou quieto, esperando qualquer atitude do sogro.
- Então você mentiu pra Alice, eu acabei contando a verdade indiretamente e o caos começou? - Peter perguntou, vendo Michael assentir. - Mentiras, não só em um casamento mas em qualquer coisa, nunca termina bem, Michael, mas eu não vou culpar você. Alice também não está certa, se você diz que esse Martin não é um homem bom, então eu vou acreditar em você.
- E ele não é, Peter, você pode perguntar a Elizabeth, a Mark ou a Frenci, eles vão lhe dizer a mesma coisa. Acontece que Alice não vê isso, e eu estou desesperado. Ele está fazendo a cabeça dela a tal ponto que... - ele ficou quieto e fechou os olhos, fazendo uma careta. - Bem, o resultado está aí, nessa foto ridícula que ela fez.
- Nós precisamos fazer alguma coisa, Michael. Alice não pode mais ficar perto desse cara.
- Eu sei disso, mas estou de mãos atadas, Peter. Estou no meio de uma turnê, viajando de um canto para o outro e não consigo uma pausa. Quando consigo e vou para Neverland, Alice me ignora, ela não fala comigo e não quer falar com ninguém. Ela não fala direito com Liz e também se afastou de Mark e Frenci, depois que eles foram falar com ela sobre Martin. Eu não sei mais o que fazer.
Peter e Michael ficaram um tempo em silêncio, apenas pensando no que deveriam fazer sobre aquilo. Alice também estava ignorando Peter, então ele não tinha como chegar perto dela, principalmente porque estava viajando em turnê com Michael. Mas ainda havia uma coisa que ele poderia fazer.
- Se você quiser, Michael, eu chamo John Branca para me substituir aqui e vou passar um tempo em Neverland com Alice. Ela não vai recusar uma estadia pra mim, e então eu vou ficar por perto, e começar a conversar com ela, primeiro vou deixar que ela me conte as novidades sobre o musical e tudo o mais, depois eu vou começar a dar algumas indiretas sobre esse tal de Martin. Tudo o que precisamos agora é agir com calma e não ir com muita sede ao pote.
- Isso seria ótimo, Peter, realmente ótimo! - Michael disse, começando a ficar animado com a ideia. - Mas... Será que ela não vai se fechar ainda mais, quando perceber suas intenções?
- Eu creio que não. Prometo agir com cautela, ela nem vai perceber quando eu começar a falar mal de Martin... - ele sorriu um pouco. - O musical estreia daqui a três dias, pelo o que soube, Alice em Londres no dia dezessete... Você vai, não é?
- Claro. - Michael respondeu. - Depois do show de hoje a noite, o próximo é apenas no dia 21. Eu fiz algumas mudanças para poder ir na estreia desse musical... - ele revirou os olhos. - Vou ter que me segurar muito na cadeira para não ir até esse tal de Martin e acabar com a raça dele.
- Somos dois. - Peter disse, se levantando. - Tudo vai dar certo, Mike. Tenho certeza que Deus está ao nosso lado.
Michael se levantou e abraçou o sogro.
- Sim, Peter. Deus está ao nosso lado.
18 de novembro de 1996
- Alice? - Martin entrou em meu camarim, depois de bater na porta. - Dez minutos, baby... Você está pronta? Preparada? O estádio tá lotado, você precisa vê.
Olhei pra ele pelo espelho e dei um sorriso, assentindo logo em seguida. Não, eu não estava preparada. Na verdade, algo dentro de mim estava se remoendo e me deixando angustiada, como se alguma coisa fosse dar errado.
Suspirei e fechei os olhos, sentindo as mãos de Martin tocar os meus ombros e começar a fazer uma massagem.
- Eu sei, você deve está nervosa... Sabe, isso é normal. Sentir esse frio na barriga antes de uma apresentação é a melhor coisa que existe, prova que estamos prontos.
Ele estava certo. Aquilo tudo era apenas um pequeno nervosismo, algo comum... Eu ficaria bem e tudo daria certo.
- Sim, eu estou sentindo esse frio na barriga, mas tudo vai dar certo. - falei, me levantando da cadeira e sorrindo pra ele. - Tudo vai correr como o planejado.
Ele sorriu e se aproximou, pegando em minha mão.
- Com certeza, não haverá falhas. Estamos prontos. - ele apontou para a porta com a cabeça. - Agora vamos... Precisamos reunir o pessoal, porquê o show está prestes a começar.
- Uau... Isso tá cheio. - Elizabeth disse, olhando o pessoal que se aglomerava na parte debaixo.
O camarote deles ficava na parte de cima, onde tinham uma visão privilegiada de todo o palco e público. Michael estava ao lado de Elizabeth e atrás dele estavam Mark, Frenci e Peter. Todos ansiosos para que o musical começasse logo.
- Está. Eu estaria sentindo muito orgulho de Alice agora, se eu não soubesse tudo o que esse musical causou entre nós. - ele disse, com o olhar perdido no público.
- Não pense assim, sabe, no fundo temos que sentir orgulho dela. Ela é muito boa, Michael, excepcionalmente boa e sabemos disso. É por ela que esse pessoal todo está aqui, independente do que aconteceu entre vocês, pense na arte dela.
Michael apenas assentiu.
Era óbvio que ele sentia orgulho de Alice, muito orgulho, alias, mas ele não conseguai se conformar com tudo aquilo. Talvez o musical fosse mesmo bom, mas ele não iria ter o que falar depois do que visse, porque ele não iria conseguir gostar. Não estava aberto para olhar tudo em uma visão profissional, pois seu bem mais precioso estava envolvido naquilo de maneira errada.
Não era pra Alice está ali, não era para aquele musical está acontecendo. Era só naquilo que ele pensava agora.
As luzes se apagaram e os gritos do público ficou mais alto, quando apenas uma estrutura de ferro apareceu no meio do palco.
Estava começando.
Mark, Frenci e Peter se juntaram a Elizabeth e Michael e naquele momento todos ficaram em silêncio, esperando ansiosamente para que Alice aparecesse. E então, ela apareceu.
Era estrondoso. Michael pôde perceber que Alice estava confiante como sempre, o público que estava aglomerado dançava junto com ela. Ela sabia dominá-los mesmo quando estava apenas dançando e cantando.
Por diversas vezes ele percebeu Martin no meio dos dançarinos, o que o fez ficar de cara feia. Era óbvio que ele ia se aproveitar para ficar no mesmo lugar que Alice e todas as vezes ele olhava pra ela e sorria. Michael não estava gostando nada daquilo.
Quando a música acabou, alguns dançarinos saíram e Alice falou com o pessoal. Quando a banda começou a tocar, as luzes se apagaram e quando voltaram, ela não estava mais no palco.
Quando apareceu novamente, ela estava usando um short que estava mais para um pedaço de pano. Michael bufou e começou a prestar atenção. Ela estava falando que o show dela se chamava "Stripped" e isso queria dizer que seus dançarinos deveriam está a carater. Nus.
Michael não gostou nada daquilo, toda aquela ousadia dela e aquele show safado... Nada daquilo estava o agradando, muito pelo contrário, só o estava levando a crer que ele estivera certo o tempo todo: Martin queria que ela participasse algo obceno.
E ele conseguiu.
Quando a música começou, ela dançou com alguns dançarinos e Martin se aproximou dela beijando sua mão e indo para suas costas, beijando seu pescoço e a fazendo rir. Michael praguejou alto e socou o batente onde estava se apoiando. Aquilo estava o levando ao extremo, sua vontade de acabar com Martin estava falando cada vez mais alto.
- Acalme-se, querido... - Elizabeth disse ao ouvido dele.
Mas não adiantou muito. Ele percebeu que Martin havia se aproveitado muito daquilo para acariciar Alice e mexer com ela. Se continuasse assim, ao final do maldito musical, Michael não estaria mais respondendo por si.
O musical continuou, as músicas eram boas e apesar de algumas danças serem sexys demais, Martin não estava mais mexendo tanto com Alice e eles não tinham ficado sozinhos no palco em nenhum momento ou em alguma cena romântica...
Bem... Pelo menos não até aquela hora.
Tudo ficou escuro novamente e quando a voz de Alice começou a ecoar, uma telão se ascendeu no palco, com uma mulher sentada em uma cadeira.
Alice apareceu andando, arrastando uma cadeira e Michael suspirou aliviado, pensando que finalmente ela iria cantar sozinha. Mas logo sua calma se transformou em fúria e atenção, quando Martin apareceu no palco.
O modo como ele dançava e olhava para ela, seduzindo e manipulando fez com que Michael ficasse ainda mais atento. Se um olhar pudesse matar, naquele momento Martin já estaria morto. Na verdade, era mais ou menos assim que Michael queria vê-lo: morto.
Ele só esparava que ele não tocasse em Alice.
Quando os dois se aproximaram, a respiração de Michael ficou mais rápida. Parecia que ele estava correndo a horas e horas e mesmo assim sua adrenalina continuava contida. Tudo estava em alerta. Ele estava odiando tudo aquilo. Aquela música, o modo com os dois se olhavam, o modo como Martin dançava e como Alice olhava pra ele: rendida, seduzida e praticamente se rastejando.
A música falava sobre aquilo, mas ele não queria saber, só achava que tudo aquilo estava real demais. Quando Martin se afastou e desceu o zíper da calça, Michael nem mesmo ouviu o pessoal gritando, ele só olhou para Alice, para saber se ela olharia para Martin, mas tudo dentro dele se acalmou minimamente ao vê que ela olhou, mas não foi com desejo ou algo parecido.
Naquele momento ele percebeu que para ela não havia sentimentos para com Martin, tudo aquilo era apenas atuação. Não que isso fosse diminuir sua raiva ou fúria, mas ele iria dirigir aqueles sentimentos para a pessoa certa.
Quando a música acabou, mais duas vieram após e então o espetáculo acabou. Os dançarinos foram para a beirada do palco com Alice e Martin segurou sua mão, enquanto eles agradeciam ao público.
- Ele não perde uma chance de tocar na porra da minha mulher! - Michael esbravejou em voz alta.
- Mas agora acabou, Mike. Acabou. - Frenci disse se aproximando dele.
- Acabou a primeira apresentação. Ainda tem muitas por vir, Frenci... Eu estou desesperado! - Michael disse, passando as mãos pelos cabelos. - Isso foi um teste de resistência, muito difícil, na verdade.
- Sabemos o quanto foi difícil pra você, Michael, mas nem tudo está perdido. Ainda dá tempo de fazer Alice mudar de ideia e...
- Não dá mais. - Michael disse se sentando em uma cadeira e interrompendo Peter. - Alice está envolvida demais.
- E o espetáculo é bom. - Frenci disse. - Mesmo sendo de quem é, mesmo tendo acontecido tudo isso com vocês... Amanhã os jornais vão falar muito bem dessa estreia e isso vai dar mais gás neles.
Todos ficaram em silêncio. O que Frenci disse era certo, o espetáculo era ótimo, e o público havia gostado muito. Se antes estava difícil fazer Alice mudar de ideia, agora seria praticamente impossível.
- Vamos, Mike, levante-se daí... Você precisa ir até Alice e falar com ela, dar os parabéns. Não brigue com ela, mostre apenas que você veio para prestigiá-la. - Liz disse, olhando pra ele.
Michael assentiu e se levantou. Seus seguranças o escoltaram e um assistente o levou até o camarim de Alice. Parecia que ele estava vivendo a mesma coisa que há dois anos atrás, brigado com Alice e indo até o camarim dela para prestigiá-la.
Mas dessa vez tinha apenas uma coisa de diferente: tudo o que ele sabia sobre sua vida, estava prestes a mudar.
18 de novembro de 1996
Entrei no meu camarim me sentindo bem, triunfante, mas foi apenas me sentar e me olhar no espelho que eu realmente percebi.
Eu tinha feito um bom trabalho, eu tinha me entregado, dançado, cantado e havia me saído bem ao lado de todos aos outros. Mas eu não estava completa. Faltava Michael, Elizabeth, Mark, Frenci e meu pai. Faltava todos eles, que eram a minha família, que sempre me apoiaram em cada um de meus passos.
Menos nesse. Nenhum deles havia me apoiado e aquilo machucava. Pela primeira vez eu estava sentindo vontade de chorar, pela primeira vez eu estava sendo fraca, durante todo aquele tempo.
Quando eu pensei que as lágrimas iriam finalmente escorrer pelo meu rosto, a porta se abriu depois de duas batidas. Mark entrou com um sorriso no rosto, que se desmanchou assim que viu minha expressão.
- Hei... O que houve, baby? Você estava tão bem há alguns segundos atrás... - ele puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado. - O que aconteceu, Alie?
- Eu queria que todos eles estivessem aqui... - murmurei, sabendo que ele iria entender de quem eu estava falando.
- Ah, Alie... Você não deveria se lembrar deles agora. Tudo correu muito bem, e temos a festa daqui a pouco. - ele sorriu e de lado e suspirou. - Você precisa relaxar e eu tenho algo aqui que você sabe que vai te ajudar... - ele abriu uma gaveta ao seu lado e puxou dois pacotinhos com o famoso pó branco, agora tão conhecido por mim. - Que tal isso? - ele jogou a cocaína no balcão e as separou em carreiras. - Eu estou precisando de um pouco também... Por que não se junta a mim?
Algo dentro de mim nem precisou pensar. Quando pude perceber eu já estava curvada sobre o balcão, sentindo a tontura e prazer tomar conta de mim. Minha visão estava turva, mas eu consegui perceber quando Martin se levantou e ficou atrás de mim.
- Você é tão linda, Alie... - ele sussurrou, me fazendo fechar os olhos. - Tão perfeita e gostosa. - suas mãos tocaram os meus ombros, escorregando-se para os meus braços.
Mesmo estando tonta e bêbada, sem perceber muito ao meu redor, me senti mal com o seu toque.
Engoli em seco e me mexi, desconfortável.
- Acho que... Você está perto demais, Martin. Eu sou... Uma mulher casada. - falei sentindo minha língua pesar.
- Você ainda é uma mulher casada. Creio que esse casamento não vai durar muito mais. - ele sorriu de lado e apertou meu ombro. - E quando você assinar os papéis do divórcio, saiba que eu vou está aqui, para te dar todo o suporte e carinho que você precisar.
- O que? - perguntei, tentando me levantar, mas caindo miserávelmente na cadeira. - Está ficando maluco, Martin? É óbvio que meu casamento não está acabando. E eu... Não quero carinho e suporte nenhum de você, não desse jeito que você está insinuando.
- Ah não? E você quer de que jeito então, baby?
Ele começou a passear as mãos pelo meu pescoço, subindo e descendo. Eu queria me desvencilhar de seu toque, mas meu corpo não obedecia o comando de meu cérebro. Tudo estava confuso e turvo.
- Eu sempre estive aqui, Alie, sempre quis te dar carinho e cuidar de você... Eu tentei fazer isso durante esse tempo, mas não consegui. Você não deixa que eu me aproxime, que eu abrace você e toque em você. Eu te desejo, Alice, te desejei desde quando vi você se apresentar em Burlesque e agora... Bem, agora seu casamento está em crise, seu marido é um mentiroso e você não confia nele, mas você pode confiar em mim e ficar comigo. Eu jamais mentiria pra você, ou trairia você... Só existe você pra mim, Alie.
- Você está... Ficando louco, Martin, eu não quero me relacionar com você. - murmurei com dificuldade.
Pude ouvir sua risada e ele puxou meu cabelo próximo a nuca, fazendo minha cabeça ficar pra cima. Sua boca se aproximou de meu ouvido e ele sussurrou.
- Mas acontece que você não tem que querer, sua viciadinha de merda. Eu quero você, Alice, quero o seu corpo, os seus beijos... É apenas isso que eu quero. - ele empurrou minha cabeça pra frente, me fazendo gemer de dor quando soltou meus cabelos. - Anda, continua a se divertir aí, enquanto eu te dou tempo.
Eu queria falar, gritar que ele estava louco, mas apenas senti as lágrimas caírem de meus olhos enquanto minha cabeça tombava para frente, caindo sobre o balcão.
O assistente deixou Michael em frente a porta de Alice e então se afastou pedindo licença. Os seguranças se posicionaram ao lado da porta e Michael bateu duas vezes, entrando logo em seguida.
Ele pensou que veria Alice feliz e sorridente, comemorando com alguém dentro de seu camarim, mas o que ele viu cortou seu coração e o deixou desesperado.
Alice estava sentada em uma cadeira, a cabeça tombada em meio a um pó branco. Seu nariz estava sujo com esse pó e seu rosto estava com manchas pretas enquanto seus olhos vertiam algumas lágrimas.
Sua primeira reação foi correr até ela. Ele puxou sua cabeça para o seu peito e beijou sua testa.
- Alie... Alie, pelo amor de Deus, me diga o que aconteceu aqui! - ele pediu desesperado, olhando pra ela.
Mas Alice não estava ali. Ela apenas chorava e chorava, ás vezes murmurava alguma coisa, mas nada que ele conseguisse entender. Quando ia pegá-la no colo e levá-la embora dali, uma voz chamou sua atenção.
- Ah... Mas o maridinho mentiroso veio vê a esposa. Que cena comovente. - Martin riu, parado a porta que dava acesso ao banheiro do camarim.
Michael colocou a cabeça de Alice no balcão, afastada da cocaína e se levantou com fúria. Em apenas dois passos ele chegou a Martin e o pegou pelo colarinho da camisa, sacudindo-o.
- O que foi que você fez com ela, seu filho da puta? - ele gritou com raiva.
- Eu? Eu não fiz nada, foi ela quem fez. - ele sorriu. - Ela quis aliviar a tensão e eu apenas a ajudei, mostrando a ela o caminho. Mas, se hoje a sua esposa é uma viciada, a culpa não é minha. Eu disse a ela para se controlar, mas ela foi com muita sede ao pote.
Michael o apertou mais, apesar de está com o coração sangrando por sua esposa, naquele momento sua raiva falou muito mais alto. Ele se afastou minimamente e puxou o punho pra trás, levando-o para frente com força e golpeando Martin no nariz.
Sem nem mesmo dar tempo dele voltar a raciocínar, Michael deu outro soco, atingindo o mesmo lugar. O nariz de Martin jorrava sangue.
- Isso é pra você nunca mais encostar na minha mulher, nunca mais pensar em se aproximar dela, ouviu bem? Eu juro que mato você se eu souber que você apenas passou perto da sombra dela! - Michael disse baixo e em um tom duro, voltando a segurar em seu colarinho.
Martin não revidou o soco, ou as coisas que Michael disse. Ele apenas olhou para Michael, sentindo o nariz jorrar sangue. Quando Michael o largou, ele cambaleou e caiu no sofá, vendo-o pegar Alice no colo.
- Wayne! - Michael chamou o segurança, colocando a cabeça de Alice em seu pescoço. O segurança entrou e olhou para tudo aquilo. Um vestígio de susto passou por seus olhos, quando ele olhou para Alice no colo de Michael.
- O que houve, senhor? Ele fez algo contra a Sra. Jackson? - Wayne perguntou, estalando os dedos.
- Vai mandar seu segurança me bater agora, Michael? - Martin perguntou, tocando no canto da boca que havia começado a sangrar.
Michael o ignorou e se virou para Wayne.
- Peça para Luke me acompanhar até o carro e vá até o camarote onde todos estão, diga a eles que eu fui embora com Alice e peça para que me encontrem no hotel. Depois garanta que esse infeliz não torne a perturbar a minha esposa ou a qualquer um de nós.
Wayne assentiu lançando um olhar ameaçador para Martin, antes de sair com Michael.
18 de novembro de 1996
Michael olhou para Alice mais uma vez, sentindo tudo dentro de si se remoer em dor e remorço.
Ele já havia tirado a roupa dela e limpado seu rosto, enquanto beijava cada pedaço de pele que estava limpo. Ainda não conseguia acreditar que Alice - a mulher que sempre disse a ele que as drogas não era um caminho certo a seguir - tinha se envolvido com aquele tipo de coisa.
Ele poderia ter imaginado tudo, menos que ela estaria envolvida com cocaína. Ainda era difícil acreditar, mas toda hora a imagem dela chorando em meio ao pó vinha a sua mente. Ele a puxou mais para o seu peito, enquanto ela ressonava em sono profundo. Com as mãos em seus cabelos, ele queria apenas tirá-la de tudo aquilo.
Ele já estivera naquela situação, não desejava aquilo nunca pra ninguém. A culpa o matava por dentro, ele só conseguia pensar que deveria ter desconfiado de alguma coisa, qualquer coisa, mas nunca percebera aquilo. Nem ele e nem ninguém. As mudanças dela eram estranhas, mas nada que o levasse a pensar que ela estava viciada em drogas.
Apenas pensar naquilo lhe dava arrepios, mas ele sabia que aquela não era hora de se abater. Ele teria de ser forte por ela, está ao lado dela e apoiá-la. Não sabia ainda o porquê de ela está chorando quando entrou em seu camarim, mas sabia que assim que ela acordasse ela iria lhe contar. Se ela não contasse, ele - com todo o amor do mundo - iria tirar aquilo dela.
Iria tirar tudo aquilo dela.
Suspirando, ele deu um beijo na testa dela e ouviu batidas na porta de seu quarto. Não sabia quanto tempo havia se passado desde de sua chegada ao hotel, mas de certo todos ainda estavam do lado de fora, esperando por ele. Dando um beijo nos lábios de Alice, Michael se levantou e foi até a porta do quarto. Seu segurança estava do lado de fora.
- Sr. Jackson, me desculpe incomodá-lo, mas todos estão aqui fora e querem falar com o senhor. Já se passou mais de duas horas e eles estão aflitos por notícias da Sra. Jackson.
- Certo, eu já estou indo até eles. - ele disse.
O segurança assentiu e sumiu pelo corredor, enquanto Michael fechava a porta e se virava para vê Alice.
Como ele iria contar a todos que Alice estava usando drogas? Ele nem mesmo havia digerido aquilo tudo, estava se perguntando como seria capaz de dizer a todos eles. Mas eles precisavam saber porquê, agora, Alice precisaria da força de cada um deles para se reerguer.
A olhando mais uma vez, Michael saiu do quarto e pediu para que um segurança ficasse na porta, deixando ordens para caso Alice acordasse e quisesse sair do quarto, era para chamá-lo imediante. Logo depois respirou fundo e andou pelo corredor, entrando em uma sala de estar onde todos estavam sentados e aflitos.
Assim que o viram, Peter foi o primeiro a se levantar.
- E então, Michael, como está minha filha?
- Por Deus, Michael, diga que minha amiga está bem... Vocês brigaram? - Mark perguntou.
- Espere, pessoal... Deixe Michael falar. - Liz disse, olhando pra ele com preocupação. - Michael, seus olhos estão tão tristes... O que foi que houve? Não nos esconda nada, por favor.
Sem conseguir olhar pra eles muito tempo antes de desabar, Michael se virou de costas e se apoiou na mesa de madeira que estava atrás de si. Ao lado de Alice ele conseguiu conter a represa de emoções que estava prestes a estourar, mas longe dela ele não tinha mais porque se conter. Assim que se apoiou na mesa, as lágrimas caíam por seus olhos e seus soluços tomaram conta de toda a sala, deixando todos ainda mais aflitos.
Queriam saber o porque do choro, mas também não queriam interromper aquele momento dele. Michael chorava e só conseguia pensar que ele não queria perder sua esposa, não queria perder uma das pessoas mais importantes da sua vida. Aquela mulher que o segurou nos ombros quando ele precisou, que largou tudo por ele, que lhe deu um filho... A pessoa que ele mais amava no mundo inteiro.
Se ele a perdesse... Simplesmente não teria mais pelo o que lutar, a não ser por seu filho. Mas ele não conseguia se vê sozinho ao lado de Prince. Sem Alice ao seu lado, tudo perdia a cor.
Elizabeth se aproximou dele devagar e passou a mão por suas costas, tentando ver seu rosto em meio as lágrimas, mas não conseguiu.
- Mike... Nos diga o que está acontecendo, querido. Nós queremos ajudar vocês dois, tudo isso está acabando conosco, meu anjo.
Michael fungou e olhou para frente, sentindo seus olhos marejarem mais uma vez.
- Alice está viciada em drogas. - ele disse em voz alta, lutando para não tampar os ouvidos ao escutar a própria voz pronunciando aquelas palavras.
Elizabeth se afastou dele e olhou ao redor com cara de espanto. Ela queria saber se estava ficando louca e escutando coisas, ou se Michael havia mesmo dito aquilo. Todos estavam com a mesma expressão que a dela e Michael abaixou a cabeça, sentindo os ombros balançarem por conta do choro.
- Você disse... Drogas? - Peter perguntou.
Michael respirou fundo e se virou, vendo todos olharem para ele com atenção. Ele balançou a cabeça e limpou as lágrimas.
- Sim, eu disse drogas. - ele disse tentando nivelar a voz embargada. - Eu encontrei Alice no camarim e... Ela estava tão... Eu não consigo explicar. - ele fez uma pausa, balançou a cabeça e então continuou. - Eu nunca pensei que Alice estivesse se envonvendo com uma coisa dessas, nunca sequer imaginei e tudo isso faz com que eu me sinta ainda culpado. Se eu estivesse lá ao lado dela, se eu não tivesse sido tão egoísta, talvez isso não estivesse acontecendo. Se eu não tivesse mentido, nada disso estaria acontecendo!
Todos viram quando ele se sentou na poltrona e tampou o rosto com as mãos. Queriam falar, mas naquele momento nada seria suficiente pra mudar tudo. Palavra alguma ajudaria em alguma coisa.
- Como que você soube que ela está... Viciada, Michael? - Mark perguntou olhando pra ele.
- Eu entrei no camarim e Alice estava com a cabeça encostada no balcão, ela chorava em meio a um pó branco. - ele engoliu em seco. - Cocaína. Mas isso não é tudo... - ele disse, olhando pra eles. - Martin estava no camarim com ela e deixou bem claro que foi ela que apresentou aquelas porcarias a minha mulher. Eu só posso imaginar o prazer que eu sentiria ao matar aquele desgraçado!
- Michael, por favor. Raiva não vai te levar a nada.
- Ah, vai sim, Liz. - Michael disse com raiva, se levantando e começando a andar de um lado a outro na sala. - Aquele filho da puta fez com que a minha esposa se viciasse em cocaína! Cocaína, vocês tem noção disso? Alice sempre foi contra as drogas, ela que... Me ajudou a enxergar que isso não nos leva a nada e então... Ela caiu nisso também.
- Nós temos que fazer alguma coisa, Michael. Eu não posso perder a minha filha, nós precisamos salvá-la! - Peter disse em desespero.
- E nós iremos, Peter. Eu já pensei em tudo... - Michael disse olhando a todos eles com atenção. - Mas pra isso eu preciso da ajuda de cada um de vocês.
- Nós estaremos ao lado de vocês, Michael. Você sabe disso. - Frenci disse. - No que você pensou?
- Primeiramente eu vou pausar minha turnê. Só irei voltar depois que Alice estiver inteiramente bem novamente. E também vou me encontrar com Martin e fazer com que ele cancele o musical, nem que pra isso eu tenha que pagar tudo: recisão de contrato, salário do pessoal e tudo o mais... - ele fez um pausa e então continuou. - E eu vou precisar que vocês estejam ao meu lado, porque... Alice sempre fez tudo por nós, e foi ela quem caiu agora. Precisamos mostrar a ela que ela não está sozinha, nós estamos aqui por ela, pelo bem dela e ela precisa sentir isso. Eu sei o quanto isso é importante quando estamos passando por um momento delicado. - a voz dele embargou. - Ela precisa sentir que queremos o bem dela e que a amamos.
Peter limpou as lágrimas e olhou para Michael.
- Nós vamos está aqui, Michael. Vamos trazer nossa Alice de volta. Eu quero minha filha de volta.
Michael assentiu e olhou para todos. Sabia que poderia contar com cada um deles.
19 de novembro de 1996
Já estava amanhecendo quando Michael percebeu que Alice estava quase acordando. Ele estava deitado ao seu lado, mexendo em seus cabelos, quando ela abriu olhos e o olhou. Primeiramente, parecia que ela não estava vendo-o ali, que ela estava olhando através dele, logo depois ela o observou bem e o olhou confusa. Michael lhe deu um sorriso terno, sabendo que agora era hora de encarar tudo de frente - com toda a delicadeza do mundo.
-Oi... - ele murmurou pra mim, passando a ponta dos dedos por meu rosto.
Olhei para ele por um instante, parecendo ainda assimilar o que ele estava falando. Michael esperou completamente paciente, e pude perceber que ele estava me deixando absorver todo o amor que ele estava querendo me passar.
- Oi... - sussurrei alguns minutos depois, desviando o olhar do dele.
Eu estava... Constrangida. Não queria olhar para Michael; também não queria que olhasse pra mim. Não queria que ele me visse fraca, não queria que ele soubesse de tudo o que estava acontecendo comigo, nem que sentisse pena de mim.
Senti minha garganta se fechar, mas só quando seus braços me prenderam contra seu peito, que eu percebi que estava chorando escandalosamente. Meus soluços eram altos, mas pareciam que não estavam saindo de mim. Era como se eu estivesse observando a cena do lado de fora do meu corpo.
Tudo estava muito confuso.
- Amor... Eu estou com você agora e tudo vai ficar bem, eu prometo... - ele sussurrou em meu ouvido, passando a mão por meus cabelos.
- Eu sinto muito, Mike... Eu sinto muito, muito...
Eu queria pedir desculpas por tudo - pelo musical, por ter brigado com ele, por ter confiado em Martin e por ter me envolvido com todas aquelas coisas.
Eu era uma imbecil, estava colocando a perder o meu casamento, eu poderia está perdendo o meu marido, o único homem em que eu sabia que podia confiar... Parecia que eu tinha esquecido de tudo aquilo.
Aquela pessoa não era eu. Simplesmente não conseguia me reconhecer.
- A culpa não é sua, Alie... Por favor, não pense assim...
- É minha sim, Mike - falei, saindo dos braços dele e me sentando na cama. Eu queria me enrolar como uma bola e chorar até o fim, a dor era enorme e eu sabia que tinha que suporta-la sozinha. - Eu fui uma idiota e... Estou com tanta vergonha...
- Hei, olha pra mim - ele puxou meu rosto pra ele e só continuou quando teve a certeza de que estava olhando em seus olhos. - Você lembra, que há dois anos atrás você largou tudo e deu a volta ao mundo só pra ficar ao meu lado?
- Sim... Mas o que isso tem haver, Mike?
- Você não quis saber sobre nada, só sentiu a necessidade de ir até a mim e ficar comigo, é assim que me sinto sobre você. Não importa o que aconteceu, não importa se brigamos e nem as palavras ditas... Ninguém precisa suportar nada sozinho, e você não está sozinha. Eu estou aqui e sempre estarei, porque eu amo você mais do que qualquer coisa no mundo inteiro. Entende isso? Eu te amo e nunca, nunca, vou te deixar sozinha.
O amor dele... Aquelas palavras... Aquele era o meu marido, o homem que eu sempre amei, o homem que eu quase perdi por causa de uma besteira.
- Eu te amo tanto, Mike... - falei, olhando pra ele e sentindo mais lágrimas inundarem meus olhos.
- Eu te amo muito mais. Da mesma forma que você me ajudou em tudo, eu vou te ajudar em tudo, sempre.
Assenti e virei meu rosto para o lado. Eu não me lembrava de muita coisa, mas eu sabia que depois que Martin disse todas aquelas coisas, ele entrou no camarim. Ele havia me visto perto daquelas coisas...
- Eu não sou uma viciada, ta? - falei, completamente na defensiva. - Eu... Tenho o total controle sobre isso, se eu quiser parar agora eu vou parar. Não pense que... Eu sou uma dependente daquela coisa.
Ele ficou alguns segundos em silêncio; tempo o suficiente para que eu me virasse e o encarasse. Ele tinha uma expressão hesitante no rosto.
- Olha... Ninguém está falando que você é isso, certo? Mas, seria bom você se consultar com o médico que eu me consultei quando usava os remédios... Sem compromisso, ta?
- Mas eu não sou viciada, Mike! Não quero que pense assim sobre mim!
- Eu não estou pensando nada, amor... Olha... Você não precisa falar nada sobre isso, não agora. - ele murmurou.
Mas eu via... Bem ali, nos olhos dele, o quanto ele estava acreditando que sim: eu era uma viciada. Mas eu não era. Olhei ao redor e me levantei, passando as mãos por meus cabelos.
Eu estava louca para soltar farpas, mesmo sabendo que ele não merecia, era algo que estava realmente ficando sem controle dentro de mim. Eu não tinha domínio sobre mim mesma. Não naquele momento.
- Não me confunda com você, Michael! Você era viciado, eu não sou! Há uma diferença muito grande entre nós dois!
Ele fechou os olhos e respirou fundo, falando depois de alguns minutos.
- Eu entendo que você esteja um pouco temperamental, Alie... E eu não vou levar em consideração tudo o que você acabou de dizer, certo? - ele se levantou e veio até a mim. - Eu só quero cuidar de você, amor... Apenas isso.
- Eu não preciso de cuidados, Michael. Você precisava, mas eu não preciso... Já disse pra parar de insinuar que eu preciso de ajuda médica ou qualquer merda do tipo, eu não sou uma porra de uma viciada, eu tenho total controle sobre meus atos!
- Ah, você tem? - ele perguntou se afastando e cruzando os braços. - Engraçado, Alice, muito engraçado, porque... Quando eu cheguei no seu camarim, você estava com a cabeça tombada no balcão e com a porra do nariz cheio de pó! E isso é porque você tem o total controle de seus atos, quando na verdade, é apenas uma porrra de uma viciada sim! - ele gritou pra mim.
Certo... Eu não estava preparada pra isso. Na verdade, eu não estava preparada pra nada, nem pra julgamentos, nem pra lamentações. Ouvir aquilo de Michael foi como se tivessem tacado ácido em cima de mim. Doeu como algo físico.
- Droga, Alie... Eu não quis dizer isso, eu... - ele murmurou, tentando se aproximar de mim.
Eu dei um passo pra trás. Não... Ele não estava errado. Eu estava. Sempre estive, desde o começo de tudo.
- Está tudo bem, Mike... Você está certo. - murmurei, dando de ombros e sentindo vontade de chorar novamente. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo e com minhas emoções. - Eu quero ficar um pouco sozinha, agora.
- Não, Alie... - ele chegou perto de mim e pegou em meu rosto. Seus olhos estavam amorosos novamente. - Me perdoe, eu não deveria ter dito nada daquilo... Eu fui um idiota, amor.
- Michael, está tudo bem, ok? Eu só preciso ficar sozinha. - falei, me esticando na ponta dos pés e plantando um beijo calmo em seus lábios.
Quando me afastei, ele me olhou de uma forma derrotada e eu me virei, entrando no banheiro. Eu não queria vê pena nos olhos dele e nem nos olhos de ninguém, mas eu sabia que era só aquilo que eu consigiria, porque eu era um ser digno de pena.
Eu ao menos conseguia controlar minhas emoções. Eu era uma... Viciada, eu sabia que era, mas não queria admitir. Admitir fazia com que doesse ainda mais, eu tinha nojo de mim mesma, por tudo o que eu era agora. Eu tinha acabado comigo mesma e sabia que aquilo não tinha sido culpa de ninguém, era apenas minha culpa.
19 de novembro de 1996
Assim que Alice se trancou no banheiro, Michael saiu do quarto, querendo gritar.
Ele tinha sido um idiota ao falar tudo aquilo pra ela, mas... Ele simplesmente não sabia o que fazer naquela situação. Tinha perdido a cabeça, quando na verdade ele sabia que tinha de ser ela a perder a cabeça, pois ela estava passando por uma situação difícil.
Mas ele também estava, não era?
Entrou no elevador se despistando dos seguranças e foi direto para a sala exclusiva para ele, dentro do bar do hotel. Não sabia o que fazer; estava desesperado por uma solução, e precisava relaxar. Se sentou na única mesa que havia dentro da luxuosa sala e pediu uma dose de whisky.
O líquido desceu rasgando sua garganta - não era acostumado a beber, a não ser socialmente, mas foi uma sensação boa. Ele queria que aquele ardor o fizesse acordar, que aquela quentura em sua garganta fizesse uma conexão com seu cérebro e o mesmo se clareasse com boas ideias.
Mas o máximo que conseguiu foi ficar bêbado com a quarta dose.
Estava com a cabeça tombada sobre a mesa, sentindo tudo rodar. Era bom está naquele estágio pré-anestesiado; isso fazia com que a realidade ficasse um pouco mais distante.
- Mike! - Mark o chamou, se sentando na cadeira a frente. - Cara, levanta essa cabeça. O que está fazendo?
Michael levantou a cabeça com certo esforço e olhei pra Mark, que estava sentando a sua frente com os braços cruzados.
- O que estou fazendo? - Michael respondeu, com a voz arrastada. - Estou tentando achar uma solução pra toda essa... Porra que está acontecendo na minha vida.
- Ah sim... Tentando achar uma solução em uma garrafa de whisky? Michael, pelo amor de Deus! Você não pode se entregar dessa forma, Alice precisa de você... Você mesmo disse isso pra gente!
- Mas eu não consigo lidar com isso, Mark! Hoje eu estava sendo amoroso, mas aí a raiva me tomou e eu joguei na cara dela e que ela é uma viciada. Tem noção disso? Eu vi... Dor nos olhos dela, eu sou um idiota que não sabe como lidar com a minha mulher viciada em drogas! - ele disse em voz alta, batendo na mesa.
- Nenhum de nós sabemos como lidar com isso, Mike. Mas iremos achar um jeito, sempre tem um jeito. E isso - ele apontou pra garrafa de whisky em cima da mesa - não é o que vai nos ajudar. Você precisa se levantar daí, tomar um banho frio e ficar ao lado de Alice, como todos nós também iremos fazer. - Mark se levantou e estendeu a mão pra ele. - Vamos?
Michael suspirou e se levantou com a ajuda de Mark. Voltaram ao andar deles e Michael tomou um banho em outra suíte, se sentindo muito mais lúcido depois que a água fria entrou em contato com seu corpo. Se sentindo preparado, saiu da suíte vázia e foi para sua, batendo na porta.
Não houve resposta.
Entrando devagar, Michael viu o quarto vázio e a porta do banheiro aberta. Sentiu seu coração falhar uma batida quando entrou no banheiro e constatou:
Alice não estava lá.
20 de novembro de 1996
Martin estava sentando no sofá, olhando fixamente para a cadeira em frente a mesa de anti-sala de seu quarto de hotel.
Olhando fixamente para Alice, que cheirava desesperadamente.
Ele estava quebrado; o segurança de Michael tinha sido bastante claro ao dizer para que ele mantivesse distância de Alice e deu uma pequena amostra do que aconteceria à ele, caso ousasse fazer o contrário. Mas... O que ele podia fazer?
Estava com um nariz quebrado e a boca com um corte horrível, além de ter um corte no supercílio. Apesar de orgulhoso por vê em todos os jornais que seu musical era sensacional, pela primeira vez na vida, estava arrependido de ter tido uma ideia. E ele sabia que aquele musical não iria pra frente. Michael jamais deixaria.
E entãos, ás duas horas da tarde, ele escutou sua campanhia tocar. Ao abrir a porta, ele ficou olhando para sua visita durante alguns segundos, até que Alice entrou sem ser convidada e implorou para que ele lhe desse cocaína.
Uma pequena vingança não faria nada mal...
Ele pediu para que ela se sentasse e entã foi pegar o que ela tanto queria, ele viu seus olhos brilharem e fazia dez minutos que ela estava lá, sentada e cheirando quase tudo que ele havia lhe oferecido.
- Chega, Alice. Pode se levantar e cair fora do meu apartamento. - ele disse se levantando do sofá e indo até Alice.
Alice demorou um tempo para assimilar o que ele havia lhe dito. Aquele estado de dormência era maravilhoso para ela.
- O que... Por que? - ela perguntou, levantando a cabeça.
- Porque sim, não quero uma drogada dormindo no meu apartamento. Dê o fora daqui e não volte nunca mais.
- Mas... Martin, eu preciso! A minha vida está um inferno e... A culpa é sua, sabia?! - ela disse com a voz enrolada, olhando pra ele.
- Minha? - ele riu. - Eu não te obriguei a enfiar a cara no pó, Alice, você fez isso por vontade própria. - ele a pegou pelo braço e a levantou. - Agora vá embora daqui, antes que o seu maridinho venha à sua procura e termine de estragar a minha cara!
Quando ele largou seu braço, Alice se segurou na mesa para não ir ao chão. Sentia tudo rodando e seus olhos estavam embaçados.
- Acho que... Eu não vou conseguir dirigir... - ela disse com a voz arrastada.
Martin revirou os olhos e abriu a porta do quarto onde estava hospedado.
- Isso não é um problema meu, Alice. Vá embora.
Ela assentiu e se virou, andando e cambaleando ao mesmo tempo. Quando saiu do quarto de Martin, ouviu a porta ser fechada com força atrás de si. Sabia que deveria está horrível; a última vez que se olhou no espelho o seu cabelo estava desgrenhado e sua maquiagem, borrada. Mas aquilo realmete não importava pra ela - a sensação de torpor estava a consumindo e ela queria aproveitar cada minuto disso.
Ao sair do elevador, ela demorou mais minutos do que o normal para achar seu carro.
Olhando ao redor e com a visão turva, conseguiu enxergar apenas alguns borrões mal iluminados dentro do estacionamento. Ligando o carro, ela virou o volante desajeitadamente para o lado e saiu de sua vaga. Com dificuldade conseguiu sair do estacionamento e a luz branca da cidade cegou seus olhos por longos segundos.
Londres estava impetuosamente chuvosa com a chegada do inverno, o asfalto estava escorregadio e a frente poderia vê a neblina da tarde começar a se formar. Mas Alice não viu nada daquilo.
Sua cabeça estava um turbilhão de emoções e a droga ainda fazia o seu efeito dentro dela. Alice se perguntava porque sua vida estava tão errada daquela forma, quando tudo o que já fizera fora só o bem para todos que ela conhecia.
Ela nunca foi o tipo de garota má ou algo, ela sempre ajudou a seus familiares e amigos, sempre amou intensamente e era isso que recebia em troca? Ser uma viciada em drogas?
Um tanto quanto injusto, ela pensava enquanto começava a rir em meio as lágrimas que a deixavam sua visão ainda mais embaçada do que já estava. Ela queria Michael, queria seu abraço, queria confiar nele. Queria o cheiro de seu filho perto dela; a voz doce de Elizabeth; o carinho de Mark; os conselhos de seu pai.
Será mesmo que havia perdido tudo? E se tivesse, como poderia sobreviver?
Um desespero latente bateu dentro dela, quando sua mente lhe mostrou a imagem de uma mulher velha, com a cara enfiada em pó, em meio a um lugar sujo e completamente sozinha. Era ela ali.
Não... Ela não podia deixar que algo como aquilo acontecesse!
- Eu não vou deixar! - ela gritou para si mesma dentro do carro, perdendo o total controle da direção ao bater a cabeça com força no volante.
Ela escutou a buzina alta e seu reflexo debilitado conseguiu enxergar a luz branca invadindo o carro.
O resto foi apenas giros, gritos, buzinas, dor e a escuridão.
20 de novembro de 1996
Michael andava de um lado para o outro no meio de sua suíte, enquanto todos falavam ao seu redor. Peter estava ao telefone com Bill Bray, que estava rodando a cidade com alguns seguranças a busca de Alice; Elizabeth tentava fazer Michael parar de andar e Mark e Frenci falavam frenéticamente com alguns amigos que moravam em Londres.
Todos estavam desesperados atrás de Alice e ainda não tinham notícia alguma sobre seu paradeiro.
- Vocês acham que ela pode ter ido atrás de Martin pra... Buscar mais drogas? - Mark perguntou quando desligou o telefone.
Michael se virou pra ele e engoliu em seco. Aquela era uma grande possibilidade, mesmo que ele não quisesse acreditar nela.
- Será? - ele perguntou olhando pra todos.
- Pode ser que sim, Michael. - Elizabeth disse. - Eu não quero acreditar nisso, mas pode ser que sim. Sabemos disso.
- Então eu vou até o apartamento dele! Juro por Deus que acabo com ele se ele ao menos pensou em dar drogas pra Alice! - Michael disse com raiva, andando em direção a porta de sua suíte.
- Espera! - Peter pediu, tirando o telefone da orelha. Ele estava pálido. - Liguem a televisão.
- O que? Por Deus, Peter, a minha esposa sumiu e você quer que eu assista televisão? Não tenho tempo pra isso!
Peter apenas saiu andando pela suíte e chegou a televisão, ligando-a e colocando-a em um canal que passava um jornal local. A primeira coisa que todos viram foi uma imagem vista do alto, um helicóptero sobrevoava uma estrada onde um acidente havia acontecido. Quando puxaram o zoom, a imagem ficou mais nítida e puderam vê a parte da frente de um caminhão toda destruída e um carro preto com a lataria toda amassada, quase irreconhecível.
- Deus... Que coisa horrível! - Frenci murmurou, atordoado.
- Realmente horrível. Que Deus proteja as pessoas que sofreram esse acidente. - Michael disse sem desviar os olhos da televisão.
- Que Deus proteja minha filha. - Peter murmurou, se sentando no sofá e começando a chorar alto.
Todos o olharam atônitos.
- O que quer dizer com isso, Peter? - Mark perguntou chegando perto dele.
Ao ver que Peter não iria responder, Mark pegou o controle da televisão e aumentou até que a voz da jornalista ficou audível para todos.
"Alice Jackson acaba de sofrer um acidente na principal avenida de Londres. Testemunhas disseram que ela estava em alta velocidade e invadiu a pista contrária, colidindo com um caminhão. Seu carro capotou três vezes e seu corpo foi arremessado para fora. Não temos maiores informações, mas tudo indica que seu estado de saúde é grave."
- Não... - Michael sussurrou, ouvindo a voz de Alice em sua mente.
"- Eu morria, Michael...
- O que? Como assim morria, amor?
- Eu sofri um acidente de carro... Eu fui arremessada contra o para-brisa e cai no asfalto... Tudo doia, Mike e então parou de repente. Eu sei que eu morri ali, eu sinto isso! "
- Não... Não! - ele gritou. - Isso é mentira, a mídia está inventando, é uma mentira! Alice não sofreu um acidente, ela... Ela não pode ter sofrido um acidente.
- Michael, se acalme, olha... Talvez o caso dela nem seja tão grave assim, você sabe que esses jornais sensacionalistas gostam de aumentar tudo. - Liz disse segurando o choro.
- Eu preciso ir até ela, eu preciso vê-la...
- Antes de tudo, precisamos saber em que hospital ela está. - Mark disse. - Que Deus queira que não tenha acontecido nada grave!
Peter fungou e se levantou, olhando pra todos.
- É Alice sim, Bill Bray me disse por telefone e me mandou colocar na TV. Ele disse que estão a levando para o London Hospital. Acho melhor irmos pra lá.
Com o coração pesado, Michael pediu para que seus seguranças arrumassem dois carros e os levassem para o hospital. Naquele momento o mundo todo já sabia do acidente e mesmo com vários fãs aglomerados em frente ao hotel e um punhado em frente ao hospital, não foi o bastante para acalmar Michael. A voz de Alice narrando o acidente de seu sonho ainda estava em sua cabeça e o que ele mais temia naquele momento era que acontecesse o mesmo que ela citou...
Não queria nem pensar naquela possibilidade. De mãos dadas com Elizabeth, Michael entrou no hospital por uma passagem secreta, sendo levados por seus seguranças até uma sala de espera reservada.
Segundos depois um enfermeiro entrou e olhou para todos eles com pesar nos olhos.
- Como minha esposa está? - Michael perguntou se levantando da cadeira.
- Eu não tenho muitas informações, Sr. Jackson, apenas que... A Sra. Jackson fora arremessada para fora do carro e tinhas muitas escoriações, nesse momento está na mesa de cirurgia e assim que tudo for terminado, o médico responsável por ela virá até os senhores.
- E quanto tempo essa... Essa cirurgia vai demorar? - Mark perguntou.
- Eu não sei dizer, senhor. Dependendo do caso dela, pode ser rápida ou demorada. Se eu tiver qualquer informação, eu venho até os senhores... Com licença. - ele disse olhando para todos por última vez e então saindo da sala.
Elizabeth se levantou e estendeu as mãos, olhando para todos na pequena sala de espera. Mesmo com as lágrimas descendo, ela tentou dar um sorriso otimista.
- Venham aqui e vamos orar. Deus é o único que pode nos ouvir, nos acalentar e nos ajudar em um momento como esse, queridos e saibam: ele sempre está ao nosso lado.
Michael foi o primeiro a ir até ela e pegar sua mão, logo depois foram Mark, Peter e Frenci. Eles formaram um pequeno círculo e oraram em silêncio, cada um pedindo apenas uma coisa:
Que Alice saísse daquela sã e salva.
20 de novembro de 1996
Três horas e meia havia se passado e todos estavam aflitos a procura de notícia. Não havia muito o que ser dito em um momento como aquele, então todos permaniciam em silêncio, apenas o barulho baixo da TV era escutado na sala. Michael estava sentado em uma das primeiras poltronas, tinha os joelhos curvados e apoiava a cabeça em cima deles. Já tinha perdido a conta de quantas vezes já havia chorado naquele meio tempo.
- Sabe o que mais me machuca, Liz... - ele murmurou para Elizabeth, que estava sentada ao seu lado. - É que eu sei que se Alice está aqui agora, a culpa é toda minha. Eu só consigo pensar que se eu não tivesse mentido sobre o clipe, não estaríamos aqui. A minha mentira nos trouxe até aqui.
- Querido... Sabemos que mentir nunca é uma opção correta a seguir, mas você não pode se culpa por isso. Você não tem culpa de tudo isso. Não estou dizendo que é inocente, mas também não é de todo o culpado, Alice também tem um pouco de culpa. - ela passou a mão pelo braço dele. - Essa não é a hora de se culpar e sim de está ao lado de Alice. Deixe o passado para trás e fique preso ao presente. Alice precisará muito de cada um de nós.
Ele balançou a cabeça e algumas de suas lágrimas cairam.
- Ela sonhou com esse acidente, Liz.
- Como?
- No dia que brigamos por conta do figurino do show, ela teve um pesadelo e acordou chorando. Eu fiquei desesperado porque eu nunca a vi tão assustada daquela maneira. - ele fez uma pausa para conter o choro e logo depois continuou. - Ela disse que estava dirigindo na chuva, o carro invadia a pista contrária, ela batia em um caminhão e era arremeçada pra fora do carro. Ela me disse que morria ali. - ele abaixou as pernas e se virou pra Elizabeth, pegando em suas mãos. - Você pode entender como estou me sentindo? Tudo o que ela sonhou aconteceu, Liz, ela sofreu um acidente estamos aqui. Mas ela não pode morrer, eu não suportaria perdê-la Liz, eu simplesmente não saberia o que fazer! Eu a amo tanto, simplesmente não posso ficar sem ela!
- Oh meu Deus, Michael, eu nem sei o que te dizer... - Elizabeth murmurou. - Vamos ter pensamentos positivos, meu bem, esse acidente não terá o mesmo desfecho que o sonho dela.
- Não pode ter, Liz. Eu não sou capaz de viver sem ela, sem o seu amor e seu carinho, eu não vou conseguir. Eu a amo demais.
- Nada de mal irá acontecer, Michael... - ela disse com a voz embargada no final. - Vamos ter fé.
Michael assentiu olhando mais uma vez para o relógio preso a parede. Quanto mais os segundos passavam, mas angustiado ele ficava. Quando a sala caiu em silêncio novamente, todos os ouviram três batidas na porta. Um segundo depois um homem vestido com um jaleco branco entrou na sala de espera.
Todos se levataram.
- O senhor é...? - Peter indagou, olhando para o homem.
- Sou Andrew Robson, médico responsável pelo caso de Alice Jackson.
- Graças à Deus que o senhor chegou... Como minha esposa está?
- O caso de Alice é complicado, Sr. Jackson. Ela teve muitas escoriações e como foi arremessada para fora do carro, o impacto fez com que ela batasse a cabeça com muita força. Ela teve traumatismo craniano, uma rachadura um pouco mais grossa do que um fio de cabelo e uma ruptura na bacia, fazendo com que perdesse bastante sangue. Nós usamos o sangue que tínhamos em estoque e, nesse momento, ela está em coma. Infelizmente eu não posso dizer quando ela irá acordar.
Todos murmuraram e se entreolharam. Ouvir tudo aquilo fez com que ficassem mais aflitos.
- Também tem mais uma coisa. - o médico disse, chamando a atenção deles. - No exame de sangue de Alice deu que ela tinha drogas no organismo. Não podemos afirmar nada, mas tudo nos leva a crer que ela usou essa droga pouco antes de dirigir.
Bem... Tudo estava explicado agora. Não precisava de mais nada para saberem onde Alice tinha ido e o que estava fazendo. Mas naquele momento nem mesmo a decepção conseguiu superar a dor e o medo que sentiam.
- Mas ela ainda corre perigo de vida? - Mark perguntou.
- Sim. O caso dela é bastante delicado, mas estamos fazendo o possível para que ela saia ilesa e sem sequelas.
- Eu posso vê-la? - Michael perguntou, olhando para o médico.
- Sim, mas ela está no CTI, então temos pouco tempo.
Elizabeth passou a mão pelo ombro de Michael, lhe passando força e logo depois o vendo sair. O médico levou Michael até o décimo quinto andar, entrando em uma sala onde colocou a roupa apropriada. Quando chegaram a porta do quarto de Alice, o médico disse que ele tinha dez minutos. Michael assentiu e entrou devagar, ouvindo o barulho dos batimentos do coração de Alice, que eram monitorados por uma maquina.
Vê-la foi difícil. Seu coração se apertou ao observar a imagem de sua esposa deitada naquela cama, com um tubo em seu nariz e fios conectados ao seu corpo. Seu rosto estava arranhado e havia hematomas roxos em seus braços e pernas.
Ele se aproximou e passou a mão devagar por seus cabelos, sentindo as mechas macias pelo pano da luva que cobria sua mão. Era difícil conter as lágrimas, a culpa, a dor... Todos aqueles sentimentos juntos que se transformavam em um só. Ele queria trocar de lugar com ela, se pudesse daria a sua vida para que ela não estivesse ali.
- Eu sinto tanto por isso, meu amor... - ele disse ao ouvido dela. - Você não imagina como estou arrependido de tudo o que fiz, a minha mentira nos trouxe aqui e tudo o que eu mais queria agora era trocar de lugar com você. Por favor, Alie, por favor.... Seja forte, não vá embora, eu não suportaria... Eu te amo tanto, tanto, eu não posso viver sem você, meu amor, eu não posso. Você não pode ir...
Sem mais força para falar, Michael encostou a cabeça na barriga dela e deixou que as lágrimas caíssem, enquanto ele soluçava alto e se entregava a dor.
Nada no mundo inteiro já tinha lhe causado tanta dor e desespero. Alice era sua vida e ele simplesmente não podia perdê-la, nunca.
15 de dezembro de 1996
Quatro dias depois do acidente, Michael pediu para que Alice fosse transferida para os EUA. Andrew - médico responsável pelo seu caso - não quis deixar, porém Michael queria voltar ao seu país; ele vivia mais dentro do hospital do que no próprio hotel e o problema era justamente esse: voltar ao hotel. Ele queria sua casa, onde podia ficar sossegado com seu filho, perto das coisas de Alice.
Quando finalmente conseguiu a transferência, o jato fretado que Peter havia arrumado tinha se tornado um pequeno hospital. Toda a aparelhagem e mais uma pequena equipe de enfermeiros e Andrew foram no jatinho com Michael, Prince e sua babá. Outro jatinho levaria Peter, Mark, Frenci e Elizabeth.
Agora - dia 15 de dezembro de 1996 - Michael via o dia amanhecer pela janela do hospital, enquanto Alice estava deitada ao seu lado. Todos os dias ela fazia tumografia, mas nenhum exame apresentava algo diferente do exame do dia anterior. Isso angustiava a todos cada vez mais. Michael não consegui se conter e esperar...
- Don't walk away... See I just can't find the right thing to say. I tried but all my pain gets in the way. Tell me what I have to do so you'll stay. Should I get down on my knees and pray...
Michael começou a cantar a música que havia feito há alguns dias atrás. Era um apelo silêncioso para que Alice não fosse embora, aquela música era pra ela, ele tinha esperanças de que ela iria ouvir aquilo e iria voltar. Ela precisava voltar pra ele.
Virando-se para cama dela, ele pegou em sua mão e se aproximou de seu ouvido. Seu maior desejo naquele momento era de se deitar ao lado dela e sussurrar em seu ouvido aquele clamor, para que ela não o deixasse. Mas como não podia fazer isso, ele apenas aproximou seu rosto do dela e começou a cantar:
- I close my eyes... Just to try and see you smile one more time. But it's been so long now all I do is cry...
Aquela voz doce estava tão longe e tão perto ao mesmo tempo, que tudo o que eu queria fazer era apenas... Me aconchegar nela, depois de um longo tempo fora de casa.
Eu conhecia muito bem aquela voz, cada timbre fazia algo florescer e crescer dentro de mim, tudo o que eu queria fazer era me jogar nela, me jogar em Michael, mas algo estava me obrigando a abrir os olhos.
Não foi algo fácil. A luz florescente pareceu queimar meus olhos e eu os fechei com força, ficando cega por vários segundos depois de abrí-los novamente. Uma mão grande segurava a minha e soluços misturados a doce canção eram sussurrados em meus ouvidos.
- How can I begin again. How am I to understand. When there's nothing left to do but walk away...
Mas soluços. E a mão apertou a minha um pouco mais forte.
- Por favor, Alie, não vá embora, por favor...
Michael! Era ele, era óbvio que era ele... Mesmo aquela voz sendo sussurrada, em meio a soluços, eu sempre iria reconhecer. Uma pessoa sempre sabe quando está... Em casa. Michael era minha casa.
- Eu não vou a lugar nenhum, Michael. - sussurrei para ele, apertando sua mão.
Eu queria vê-lo, mas sua cabeça estava enterrada em meu pescoço, me impedindo de virar minha cabeça para olhá-lo. Seus soluços cessaram e por um momento eu achei que ele tinha parado de respirar e entrado e em choque. Ele levantou a cabeça rapidamente me olhou com os olhos vermelhos e marejados. Suas bochechas estavam molhadas pelas suas lágrimas.
- Alie... - ele sussurrou me olhando sem piscar. Acho que ele não estava acreditando que eu estava ali.
- Eu estou aqui Michael. - murmurei, sentindo meus olhos se umedecerem. - E eu não vou a lugar nenhum.
- Eu... Oh meu Deus, Alie, eu não acredito! - ele sorriu e passou as mãos pelo meu rosto com rapidez. - Você voltou! Você voltou pra mim, meu amor... Eu te amo tanto.
Eu ia falar que o amava também, mas não tive chance. Antes mesmo que eu pudesse abrir a boca, Michael colou seus lábios aos meus e me beijou. Era como se eu tivesse me encontrado depois de ficar anos e anos perdida. E talvez eu tivesse mesmo perdida.
Quando se separou de mim, Michael apertou um botão ao lado da cama.
- Logo o médico vai vim aqui te ver... - ele me olhou. - Você não sabe como eu estou feliz agora, Alice. Essas últimas semanas foram as piores da minha vida.
- Eu... Eu sinto muito, Michael, eu não me lembro de muita coisa, mas eu sei que tudo foi culpa minha e eu sinto muito, muito...
Ele colocou dois dedos em minha boca, me fazendo parar de falar.
- Não... Apenas esqueça de tudo isso, Alie. Apenas esqueça. - ele sorriu. - Eu te amo tanto.
- Eu te amo muito, muito mais Michael.
É... Eu tinha voltado pra casa.
20 de janeiro de 1997
Muita coisa havia mudado na minha vida em um curto período de tempo. Eu me lembro que em um dia eu era uma esposa dedicada e amorosa, que cuidava com todo o carinho do esposo e do filho e em outro dia, eu era apenas uma doida que estava metendo os pés pelas mãos, jogando fora tudo o que construira ao lado do homem que amava.
Mas isso tinha acabado. Olhei pela janela do carro e me despedi mentalmente de todo o campo verde e florido que estava ficando pra trás. Aquela paisagem me acompanhou durante todo o mês em que eu fiquei internada na clínica de reabilitação para dependentes químicos. De acordo com os médicos, agora eu estava limpa e tinha que me cuidar para nunca mais cair em tentação.
E eu realmente não iria cair. Agora eu tinha a consciência de que eu era dependente. Ao contrário do que Martin havia me dito, nem tudo nós temos controle e isso é uma dessas coisas. Sempre soube que drogas não era um caminho a seguir, mas todos nós cometemos erros. Mas temos que aprender com eles também e eu aprendi.
Agora, o que eu mais queria era encontrar Michael e meu filho. A saudade me corroía todas as vezes que eu me lembrava de Prince. Eu tinha sido uma péssima mãe na época em que mergulhei de cabeça naquilo tudo e eu queria muito recuperar o tempo perdido, só agradecia a Deus pro Prince ser apenas uma criança e não entender nada daquilo.
Apenas mais meia hora no carro e eu já via a residência de Frenci na se aproximando. Ele e Mark estavam fazendo uma festa de boa-vinda pra mim e disseram que eu tinha que ir direto pra lá. Outra coisa que me deixou bastante emocionada, foi saber que nenhum de meus amigos estavam magoados comigo. Eu sabia que tinha errado bastante com eles, mas no final, eles também estiveram ao meu lado, como sempre. Erámos uma grande família.
E sempre seríamos.
- Está gostando? - Michael sussurrou em meu ouvido, enquanto me puxava para mais perto dele.
Sorri. Eu havia chegado e não tinha tido tempo de fazer nada. Mark, Frenci, meu pai e e Elisabeth praticamente pularam em cima de mim para me abraçar e conversar. Agora que eles haviam me dado uma "folga", Michael me puxou para o sofá e se sentou ao meu lado, enquanto eu segurava Prince em meu colo.
- Eu estou amando. - falei, olhando pra ele e sorrindo. - Adoro quando estamos reunidos, você sabe disso.
- Sim, eu sei. - ele sorriu e passou a mão por meus cabelos. - Sabe, agora sim você voltou a ser a minha Alice.
Aquilo me fez rir ainda mais. Eu sabia que Michael não havia gostado quando eu pintei meus cabelos e naquela época, eu levei aquilo para um lado ofensivo. Hoje eu tinha vontade de rir. Uma das primeiras coisas que fiz quando sai do hospital, foi descolorir meu cabelo e voltar a ser loira e agora, Michael estava deixando bem claro que aquela cor sim era o que o agradava.
- Eu sempre fui sua, Mike, sempre fui... - murmurei, enconstando minha cabeça em seu peito e segurando Prince, que estava adormecido, com mais força em meus braços.
Ele estava ainda mais bonito e crescido, com o vocabulário um pouco mais extenso do que da última vez que havia o visto. Logo todos sentaram-se perto de nós e a sala ficou cheia com o som de nossas vozes. Quando a noite estava caindo, Frenci olhou pra mim e piscou, saindo da poltrona e se sentando no piano, de frente para nós. Pedi para Elizabeth segurar Prince e me levantei, ouvindo todos se calarem ao redor de mim. Michael me olhou com uma expressão interrogativa e eu apenas sorri pra ele, chegando perto do piano.
- Acho que vocês vão aprontar... - Mark disse, olhando para Frenci e eu.
- Talvez, querido... - Frenci disse, sorrindo. - Alice tem uma surpresa.
- Sim, eu tenho... - falei, olhando para todos. - Há duas semanas atrás eu pedi para que Frenci fosse até a clínica. Eu precisava muito conversar com ele e ele resolveu me ajudar um pouco...
Nós nos olhamos e sorrimos mais uma vez.
- É que... Bem, teve um dia na minha vida que eu tive o prazer de conhecer um cara incrível. - falei, pousando meu olhar em Michael. - E esse cara conseguiu ganhar meu coração com apenas algumas palavras e olhares, ele me ganhou completamente e continua me ganhando até hoje. Enfrentamos muita coisa pra ficarmos juntos e agora, enfrentamos mais coisas para permanecermos juntos. Ele nunca desistiu de mim, e como um dia eu fiz, ele largou tudo pra ficar comigo. Ele é o homem da minha vida.
Olhei para Frenci e assenti, começando a ouvir o som melodioso do piano.
Quando a música terminou, eu vi os olhos de Michael cheios de lágrimas, um sorriso enorme se abrindo em seu rosto, enquanto ele se levantava e vinha até a mim. Demorou apenas alguns segundos para que seus braços estivessem ao meu redor, me abraçando com força, enquanto eu ouvia todos baterem palmas.
- Alie... Essa foi a coisa mais linda que eu já ouvi na minha vida... - ele murmurou em meu ouvido. - Eu amo você.
- Mike... Tudo aquilo que eu cantei é verdade. Eu amo você e estou voltando pra você, sendo a mesma Alice que sempre fui. Eu te amo muito mais.
Ele me olhou com os olhos brilhando de paixão e se aproximou, me beijando com todo o amor que sentíamos. Me mostrando que exatamente tudo seria como era antes.
Toda nossa vida havia voltado ao normal, meu casamento havia voltado a ser como era antes, meu relacionamento com meus amigos e com meu pai também. Michael havia retornado a turnê e agora, Prince e eu íamos atrás dele em todos os shows, até eu descobri que estava grávida.
Fora uma surpresa. Logicamente não havíamos planejado isso, mas sabíamos que nosso segundo bebê era um presente de Deus, era Ele nos avisando que dessa vez seríamos felizes de verdade e que nada mais nos afastaria.
Paris nasceu no dia 20 de outubro, logo após um show de Michael, em Paris. Sabíamos que ela poderia nascer a qualquer momento, mas a turnê de Michael estava finalmente acabando e eu não o deixei interrompê-la mais uma vez. Nossa filha nasceu linda e saudável e agora éramos uma família completa.
Observando-os agora e relembrando a minha vida, eu tive a certeza de que eu passaria por tudo de novo se fosse para tê-los comigo. Minha família era a coisa mais importante que existia na minha vida e dessa vez nada iria me afastar dela.
Passar por toda a tempestade me fez perceber o real sentindo da palavra "amor". Amar não é só está ao lado nos momentos felizes, amar é cuidar, é proteger, é suportar tudo o que possa acontecer. Eu suportei tudo por Michael; ele suportou tudo por mim, isso é amor.
Como eu sempre soube, ele é o homem em que eu posso confiar, sempre acreditei em nós e para sempre estarei completamente presa à ele, ao amor da minha vida, Michael Jackson.
Ele sorriu de lado.
- Pode apostar que sim... Ele é o amor da minha vida! - ele sorriu. - Agora venha, tem uma mesa reservada para vocês dois.
Após nos mostrar onde era nossa mesa, Mark sumiu entre os convidados, dizendo que iria procurar por Frenci e trazê-lo até nós. Frenci estava completando quarenta e cinco anos e Mark disse que quatro décadas e meia deveria ser comemorada em grande estilo. Com o aval do aniversariante, ele se programou e planejou tudo, fazendo uma grande festa na casa deles.
De longe avistamos Elizabeth com um braço enlaçando ao de Mark e o outro ao de Frenci. Eles se aproximaram de nós e eu me levantei para dar um abraço apertado em um dos meus mais queridos amigos.
- Oh Frenci... Parabéns, baby! Que Deus o abençoe muito, viu? - falei, beijando cada uma de suas mãos.
Ele sorriu pra mim e beijou minha testa.
- Que Ele nos abençoe, Alie. Obrigada por ter vindo, querida.
- E você achou que eu não viria? Ora essa... - sorrimos.
Falei com Elizabeth enquanto Michael falava com Frenci. Logo eles desapareceram de novo e Liz se sentou a nossa mesa, um sorriso de orelha a orelha.
- Ok, Liz. Pode dizer o motivo desse sorriso agora... - Michael disse, bebendo um pouco de seu drink.
Ela riu.
- Eu estou muito feliz. - ela disse. - Começando por Frenci e Mark finalmente mostrarem ao mundo o amor lindo que sentem um pelo outro. Estou muito feliz por vocês dois, pela família linda que formaram... - ela nos olhou e sorriu pra nós. - E por fim, estou muito feliz por mim mesma. Por todos vocês estarem realizados.
Ela ainda sorria e seus olhos brilhavam de alegria, o que me fez ficar emocionada. Ela sempre foi como uma mãe e cuidava de cada um de nós como tal. Estiquei meu braço na mesa e peguei em sua mão.
- Oh Liz... Você é um anjo. Obrigada por tudo de bom que traz para nossas vidas.
- Isso mesmo, Liz. Você sabe o quanto ajudou cada um de nós. Agradecemos a Deus todos os dias por ter alguém como você junto a nós. - Michael disse, sorrindo pra ela.
- Oh, seus bobos... Obrigada, mas vamos parar com isso, ok? Estamos em uma festa e daqui a pouco eu estarei chorando aqui... - ela disse, passando a ponta dos dedos perto dos olhos.
Um garçom se aproximou de nós e enquanto nos servia algumas bebidas, um homem de terno parou em nossa mesa, ao meu lado. Ele sorriu pra mim e arqueou uma sobrancelha:
- Acho que ainda não fomos devidamente apresentados... - ele disse esticando uma mão pra mim. - Me chamo Martin Rock, sou produtor e ator de musicais.
Confesso que não estava nem um pouco interessada em ser devidamente apresentada aquele rapaz. Ele não era confiável, eu poderia sentir. Mas mesmo assim, parti pra educação, que era algo que sempre carregava comigo.
Coloquei minha mão em cima da dele, pensando em apertá-la levemente e logo puxá-la de volta, mas ele me surpreendeu levando minha mão até seus lábios e plantando um beijo cálido ali. Senti Michael passar o braço em minha cintura, quase que para marcar território.
- Alice Jackson. - falei, puxando minha mão de volta.
- Claro que sim. Você é ainda mais bonita de perto, Alice... Posso te chamar assim não é mesmo?
- Não. Você não pode chamá-la assim. - Michael disse ao meu lado. - Ela é uma mulher casada e acho que a boa educação faria com que você a chamasse de Sra. Jackson.
- Ok, então... Sra. Jackson. - ele sorriu de lado. - Por falar em educação, me perdoem... Fui um completo mal educado. - se virando para Liz, ele pegou sua mão e a beijou. - É um prazer conhecê-la, Sra. Taylor.
- É um prazer conhecê-lo, Sr. Rock. - Liz disse, olhando profundamente pra ele.
Se virando para Michael, ele estendeu a mão e depois de alguns segundos, Michael a apertou.
- É um prazer conhecê-lo também, Sr. Jackson. - ele disse e Michael apenas balançou a cabeça. Se virando pra mim, ele tirou um cartão de seu bolso e me entregou. - Este é o meu cartão, e eu realmente gostaria de me reunir com a senhora em uma reunião, para conversarmos sobre a possibilidade de um musical. Um musical que estou escrevendo apenas para você.
Peguei seu cartão e vi seu nome e dois números de contatos impressos nele. Para não soar muito desinteressada, coloquei o cartão em minha bolsa e então o olhei.
- Muito obrigada pela proposta, Sr. Rock, mas eu não posso fazer nenhum musical agora. Motivos particulares.
Ele arqueou uma sobrancelha, me olhando fixamente.
- Tudo sempre pode mudar. E eu espero que mude. - ele sorriu de lado. - Eu espero sua ligação, Sra. Jackson.
Me olhando mais uma vez, ele deu a volta e saiu de perto de nossa mesa. Ouvi Michael bufando ao meu lado e me virei pra ele, segurando em sua mão.
- Hei, não precisa ficar nervoso ou com raiva... Ele já foi embora.
- Como não ficar com raiva, Alie? O cara estava quase te comendo com os olhos! E ainda por cima é abusado! - ele disse, emburrado.
- Ora, baby... Esse é o preço a se pagar quando se tem uma esposa bonita. Sempre haverá caras em cima dela, interessados por ela. Uns são mais comedidos, outro mais explícitos, como esse tal de Martin Rock. - Liz disse, olhando para nós por cima do canudo de seu coquetel.
- Mas eu não quero que nenhum deles a olhe e você, Alice, vai pegar esse cartão e vai rasgá-lo, queimá-lo, não sei! Mas não o quero com você!
- Certo, eu vou jogar fora, seu ciumento... - falei, sorrindo e então peguei seu rosto em minhas mãos. - Não precisa se preocupar, ok?
Ele travou o maxilar e então se aproximou de mim, beijando minha boca lentamente. Quando se afastou de mim, pude vê que ele ainda continuava emburrado, mas eu realmente não deixaria que aquilo arruínasse nossa noite. Liz pediu licença, dizendo que eu iria conversar com um amigo e assim que ela saiu, eu me virei pra Michael, pegando em sua mão.
- Venha dançar comigo, hm? - perguntei olhando pra ele com carinho.
Ele me olhou e sorriu de lado, arqueando uma sobrancelha.
- Isso está errado, o correto seria: - ele limpou a garganta, se levantou e esticou sua mão para mim, quase como um príncipe. Meu príncipe. - Aceitaria dançar comigo, senhorita?
- É Sra. Jackson. Sou uma mulher casada, não é correto ficar dançando com moços no meio de uma festa. - falei, entrando em um personagem qualquer, como ele estava fazendo.
Uma expressão safada perpassou em seu rosto, enquanto seus lábios se curvavam em um sorriso presunçoso e malicioso.
- Ele não precisa ficar sabendo, Sra. Jackson. Sou muito bom em guardar segredos. - ele piscou.
- Sendo assim... - coloquei minha mão em cima da dele e me levantei. - Eu aceito dançar, senhor.
Me conduzindo até a pista de dança quase vázia, Michael apoiou uma mão em minhas costas, deixando-a subir e descer, quase chegando a minha bunda. Olhei pra ele, me sentindo a mulher mais feliz do mundo por tê-lo ao meu lado, como meu marido, meu amigo, meu amante.
Ele era, realmente, uma das melhores coisas que Deus já havia me dado e eu agradeceria a Ele todos os dias, por ter posto Michael em minha vida.
Capitulo 5
A festa estava quase vázia, quando Michael e eu fomos nos despedir de Mark e Frenci. Eles estavam perto da saída e um homem vestido de terno estava de costas para nós, falando com eles.
Quando nos aproximamos, reconheci quem era o tal homem. Martin Rock. Creio que Michael também havia o reconhecido, pois ele ficou tenso ao meu lado, mas apenas olhei pra ele e apertei um pouco sua mão, dizendo com o olhar que não era para ele se preocupar com aquilo.
Mark veio até Michael e eu e me abraçou com força. Pude vê quando Martin se virou e me olhou atentamente, comprimindo um pouco os olhos enquanto me analisava. Assim que Mark me soltou, Michael se colocou ao meu lado, enlaçando minha cintura com seu braço.
- Sra. Jackson... - Martin disse me olhando e passando a língua pelos lábios. Aquele gesto me deixou enojada. - Espero que pense em minha proposta. Por favor, não me decepcione.
- Minha esposa não tem muito o que pensar. Como ela mesmo disse: ela não pode aceitar sua proposta e não irá aceitar.
Ele riu um pouco e colocou o copo vázio de uísque em cima de uma mesa que estava atrás dele.
- Bem, Alice pode ser sua esposa e eu tenho que ser obrigado a chamá-la de "Sra. Jackson", mas isso não quer dizer que você responde por dela. Creio que ela tem capacidade de responder por si mesma.
- Sim, eu tenho. - me apressei a falar, antes que Michael pudesse abrir a boca mais uma vez. - E eu não vou aceitar sua proposta.
- Por causa de seu marido? Baby, não deixe que a carreira dele atrapalhe a sua... - ele sorriu.
Michael respirou fundo e mais rápido do que meu reflexo pudesse capitar, ele se aproximou de Martin, pegando-o pelo colarinho de seu terno.
- Michael, pelo amor de Deus! - falei, tentando sua chamar sua atenção, mas não fui atendida.
A expressão dele não era nada amigável. Mark, Frenci e eu nos aproximamos dele, mas qualquer coisa que dissessemos seria em vão.
A ira já havia o tomado.
- Você, garoto, não é porra nenhuma pra chamar a minha mulher de "baby"! Ouviu bem? Nunca, jamais, a trate dessa forma de novo, ou algo pior do que um colarinho amassado pode acontecer a você! - ele gritou.
Martin não fez nada além de rir e então Michael o largou. Frenci chamou um segurança que acompanhou Martin para fora de sua casa e Michael chegou perto de mim.
- Vamos embora, Alice. - virando-se para Mark e Frenci, Michael os olhou com desculpa nos olhos. - Eu sinto muito por isso, mas o amigo de vocês realmente passou de todos os limites! Eu me controlei a festa inteira com a forma que ele havia tratado Alice quando foi se apresentar, e também com os olhares que ele dirigiu a ela durante toda a noite.
- Não, Michael, nós é quem pedimos desculpas. Nunca pensamos que Martin poderia se comportar dessa maneira terrível. Quando decidimos chamá-lo pra festa, não contávamos com isso, apesar de ele ser pouco confiável, é um bom colega de profissão e pensei que se comportaria bem. Vocês deveriam ter falado comigo assim que ele destratou Alice, eu teria expulsado-o na hora! - disse Frenci. - Eu estou tão envergonhado... Me perdoem.
- Eu também estou. Baby, eu sinto muito... - Mark disse pegando em minhas mãos e as beijando.
- Está tudo bem, vocês não precisam se desculpar, não foi culpa de vocês. A festa foi maravilhosa, nós amamos tudo. Isso que aconteceu foi apenas algo sem importância, nada irá apagar a maravilha que foi essa noite. - eu disse.
Me aproximei deles com um sorriso e abracei os dois ao mesmo tempo, sendo abraçada, de volta.
- Eu amo vocês, certo? E vocês estavam divinos nessa festa, deveriam fazer mais disso, Michael e eu iriamos adorar! - falei, me afastando e ficando ao lado de Michael, pegando em sua mão.
Ele ainda estava nervoso, eu podia sentir. A única coisa que ele queria era ir embora logo, estava praticamente escrito em sua testa.
- Oh, nós iremos fazer sim, e pode ter certeza que eu vou selecionar especificamente quem entrará nessa festa. - Frenci disse. - Mas uma vez, nos perdoem por isso.
- Está tudo bem, Frenci. Não precisa se preocupar. - Michael disse, forçando um sorriso e se aproximando deles, apertando a mão de cada um. - Apesar do contratempo, a festa estava maravilhosa.
- Obrigado, Mike. Eu espero vê vocês em breve, antes da turnê começar. - Mark sorriu amigavelmente.
- É só ir a nossa casa, sabem que Neverland sempre estará aberta pra vocês. - Michael disse.
- Está certo, marcaremos um dia, pode deixar. Vão com Deus e deem um beijo em Prince por nós.
Após nos despedirmos, Michael e eu fomos até a garagem, onde Gary nos esperava com o carro. Ele abriu a porta da limousine para nós e minutos depois o carro começou a circular. Com a janela que dava acesso a Gary fechada, me aproximei de Michael e passei meus braços por cima de seu ombro, olhando para seu maxilar tenso.
- Você vai mesmo ficar com essa cara feia? - perguntei.
- Você quer que eu fique como, Alice? - ele bufou e passou a mão pelo rosto. - Eu estou furioso! Só não bati naquele infeliz por respeito a você, a Mark e Frenci, se não a cara dele estaria com um belo estrago agora.
- Ele é só isso, Mike: um infeliz. E não merece ter sua atenção. - falei, puxando seu rosto pra mim e fazendo com que ele me olhasse. - Lembra quando eu fui ao banheiro antes de irmos embora?
Ele franziu o cenho por um instante e então me olhou com cautela.
- Lembro. Não me diga que... - ele travou o maxilar e respirou fundo. - Não me diga que aquele infeliz foi atrás de você no banheiro, Alice?
Olhei pra ele e reprimi uma risada, com medo dele me interpretar mal. Balancei a cabeça, negando. Ele relaxou visívelmente.
- Então o que foi?
- Eu tirei minha calcinha... - sussurrei olhando em seus olhos e levantando meu vestido até chegar perto de onde ele poderia vê minha calcinha, se ela estivesse lá. - A tirei porque tenho alguns planos... A viajem até nossa casa é bem longa. Achei que poderíamos nos divertir um pouco...
Ele me olhou parecendo um pouco surpreso e então mordeu o lábio inferior, descendo o olhar até minha intimidade parcialmente exposta pra ele. Ainda olhando pra 'ela', ele começou a passear a ponta dos dedos por minha coxa, subindo e descendo.
- Você acha que podemos fazer isso? - ele perguntou, a voz começando a ficar rouca. Seu tom de voz mais íntimo, o tom de voz que apenas eu tinha o direito de ouvir.
- Eu tenho certeza... Mas não depende apenas de mim... - murmurei, me aproximando dele e começando a passar meus lábios pelo seu maxilar até chegar a sua orelha. - Depende de você também. - sussurrei em seu ouvido, mordendo o lóbulo de sua orelha logo em seguida.
Pude sentir seu sorriso e quando mordi sua orelha de novo, ele separou minhas pernas com rapidez, subindo seus dedos até tocarem meu clitóris, onde ele começou a acariciar com destreza. Com a mão livre, ele puxou meu rosto para perto do seu e me beijou com pressa, sua língua vasculhando minha boca com paixão.
Estávamos com pressa, na verdade, eu estava. Ainda sentindo os dedos de Michael em mim, começando a entrar e sair pela minha abertura apertada, desabotoei sua camisa rapidamente, logo me dirigindo a sua calça. Ele sorriu e olhou para baixo, enquanto me via tirando seu membro ereto de dentro da cueca.
- Adoro te vê com pressa... Toda safada desse jeito. Eu fico louco com isso, Alice. - ele disse enfiando dois dedos dentro de mim com mais força.
Um gemido alto escapou de meus lábios e eu não consegui ter vergonha depois que o coloquei pra fora, na verdade, ele foi apenas o primeiro. Michael se aproximou de mim e beijou minha boca novamente, enquanto eu começava a tocá-lo, sentindo-o pulsar pra mim.
Mas eu não queria só aquilo, eu queria mais. Tirando minha mão de seu membro, eu o empurrei de leve e tirei sua mão do meio de minhas pernas. Me sentei em seu colo, de frente pra ele e olhei em seus olhos, passando a ponta de minha língua em seus lábios entreabertos. Ele gemeu baixinho e agarrou minha bunda com as duas mãos, me impulsionando pra cima e tentando entrar em mim, mas eu não deixei.
- Antes disso eu preciso fazer uma coisa, amor... - murmurei beijando seu pescoço. - Eu preciso ter você em minha boca.
Ele gemeu e respirou fundo, jogando a cabeça pra trás quando eu circundei seu mamilo com minha língua. Desci por sua barriga, beijando e mordendo cada parte e me ajoelhei a sua frente, vendo seu membro chegar na altura do umbigo, teso e ereto pra mim.
Michael me olhou com o lábio inferior preso entre os dentes. Passei a língua pelos lábios e peguei seu membro em minhas mãos, tocando-o com rapidez antes de colocá-lo em minha boca. Michael gemeu e tocou em minha cabeça, prendendo meus cabelos em suas mãos.
- Isso, baby... Leve-o até fundo, vai... Quero senti-lo na sua garganta, Alie. - ele disse entre gemidos, começando a controlar meus movimentos.
Atendendo a seu pedido, deixei que seu membro deslizasse até chegar em minha garganta, e então ele deu um impulso forte, empurrando-o enquanto eu levantava a minha cabeça. Seus gemidos ecoaram pelo carro enquanto eu o prendia em meus lábios, sugando-o com força, sentindo seu sabor agridoce e sua espessura grossa.
Quando ele jogou a cabeça pra trás, e murmurou meu nome, eu sabia que seu orgasmo estava próximo, então parrei aos poucos, sentindo-o pulsar com força em minha boca. Ele me olhou e me puxou pra cima, me colocando sentada em seu colo enquanto descia o zíper do meu vestido. Eu mesma abaixei as alças e ele sorriu ao vê meus seios expostos.
- Não me canso de olhá-los... De tocá-los. - ele disse, prendendo meu mamilo entre seu dedo indicador e o polegar, fazendo um arrepio parar em meu clitóris. Sua boca se aproximou do outro seio, e ele passou a língua por meu mamilo teso. - O gosto deles são incríveis, baby... São tão lindos, você é toda linda e só minha.
- Só sua! - gemi quando ele sugou meu seio com força enquanto apertava minha bunda com a mesma pressão. Tudo dentro de mim pedia, exigia, que ele estivesse dentro de mim.
Peguei seu membro em minhas mãos, e o coloquei na entrada da minha intimidade. Michael me olhou com meu seio em sua boca e então levou as mãos a minha cintura, me abaixando de uma só vez, entrando em mim com força. Um grito alto saiu de minha garganta e eu poderia ter chegado ao orgasmo apenas com aquele impacto.
Todo o meu ser vibrou e com a ajuda de Michael, comecei a me mover em cima dele, sentindo-o lá dentro de mim, abrindo espaço, me tocando no fundo com toda a força. Michael impulsionava o quadril pra cima, enquanto eu descia de encontro a ele, nossos movimentos eram perfeitos enquanto nosso olhar não se desgrudava um do outro.
Por mais safados que sejamos, por mais que meia dúzia de palavras sujas saíssem de nossas bocas em momentos como aquele, eu tinha a plena convicção de que sim, era amor que fazíamos, porque palavras sujas não seria capaz realmente se 'sujar' todo o nosso momento. O amor vinha de dentro, e trasbordava em nossos olhos e em nossos corpos da forma mais sublime.
Michael espalmou as mãos em minha bunda e em um gesto rápido, me colocou deitada no banco de couro, colocando uma de minhas pernas no encosto do sofá e a outra dobrada no banco, fazendo meu pé quase encostar no chão. Eu estava completamente aberta, e ele se acomodou ali no meio, deitando-se por cima de mim e olhando para baixo, entrando em mim lentamente, gemendo ao vê seu membro entrar em mim.
Ele começou a aumentar a velocidade, e tudo dentro de mim tremia, anunciando que meu orgasmo seria forte demais. Coloquei minhas mãos em seus ombros, arranhando-o por cima da camisa e ele desceu a cabeça, beijando meu pescoço e indo cada vez mais rápido. Seu nome começou a sair cada vez mais rápido por entre meus lábios e então eu gritei em seu nome, sentindo tudo dentro de mim se apertar, enquanto um dos orgasmos mais arrebatadores de minha vida explodia dentro de mim, um atrás do outro, não me dando chance de raciocinar ou parar.
Michael gemeu alto, e eu senti meu baixo ventre oscilar com suas investidas constantes. Meu corpo já estava exausto, mas eu ainda estava excitada mesmo depois de ter gozado não sei quantas vezes, uma atrás da outra. Sua mão foi pra minha cintura, e ele me olhou, metendo fundo e forte.
- Sim, amor... Você vai gozar de novo, gostoso, forte e comigo. - ele rugiu, suado.
Um sorriso se formou em meus lábios e ele mordeu meu lábio inferior, pulsando dentro de mim, indo no fundo, buscando mais um orgasmo meu. Precisou apenas mais uma investida, indo naquele ponto e eu gozei de novo, sentindo-o explodir dentro de mim com toda a força, me fazendo perder a linha de raciocínio novamente.
Capitulo 6
Michael caiu em cima de mim, enquanto eu descia minha perna do encosto do sofá, sentindo o mundo voltar a girar. O som de nossas respirações se misturava ao barulho da música que tocava dentro do carro.
Sorri com aquilo. Eu nem mesmo me lembrava de está tocando música no carro, na verdade, eu não me lembrava de nada, exceto que eu havia acabado de fazer amor com o meu marido dentro da limousine.
Senti os beijos de Michael em meus pescoço e então ele levantou a cabeça, me olhando com um sorriso bobo e satisfeito nos lábios.
- Eu amo você, garota que adora me impressionar...
Não pude conter minha risada e ele riu junto comigo, se levantando e se sentando a minha frente. Eu continuei deitada, vendo-o abotoar sua calça e sua camisa, tentando ficar apresentável novamente, mesmo sabendo que não conseguiria. Quando ele terminou, seu olhar encontrou o meu e ele acariciou meus pés, colocando-os em cima de suas pernas.
- Você não sabe o quanto está sexy desse jeito. Eu poderia ficar durante horas e horas apenas olhando pra você.
- Eu duvido muito que conseguiria ficar só olhando... - murmurei passando meus pés por cima de seu membro coberto pela calça.
Ele riu.
- Realmente, mas se você continuar a fazer isso, vou ter que mandar Gary dá uma volta por toda Los Angeles. Não saíremos desse carro nem tão cedo, sua danada! - ele me olhou. - Onde está sua calcinha, acho que você precisa se ajeitar...
- Sim, eu preciso... - falei, me sentando ao seu lado. Ele chegou perto de mim e ajeitou a parte de cima de meu vestido, fechando o zíper em minhas costas. Eu apenas abaixei a parte de baixo e prendi meu cabelo em um coque alto. O penteado já estava todo desfeito. - Não sei com que cara eu vou encarar Gary... Será que ele ouviu?
- Bem, eu creio que sim, já que a rádio está ligada. Não estava antes de começarmos... - ele riu. - E você vai encará-lo com a cara de uma mulher que teve vários orgasmos com o homem que ama. Um homem muito bom de cama, na verdade... - ele disse, parecendo refletir sériamente sobre o assunto.
- Oh sim... E como seria essa cara?
Ele me olhou e sorriu.
- Essa aqui... - ele murmurou passando os dedos por meu rosto. - Essa sua cara sexy e corada.
- Você é um tarado, Michael Jackson! - falei, empurrando para o lado.
Ele me puxou e gargalhou.
- Mas foi você quem me atacou, não se esqueça disso, Alice Jackson! Eu fui uma vítima aqui!
- Claro que foi... Uma vítima que me tacou no banco daquele jeito? Ótima vítima, senhor... - falei, sorrindo. - Sem contar que ninguém vai acreditar em você. Eu sou a mulher da história...
Ele me olhou de lado, prendendo o riso.
- É... Ninguém vai acreditar que minha esposa tímida aos olhos de todos, foi capaz de tirar a calcinha no banheiro de uma festa, pra depois me atacar no carro. - ele riu e então me olhou. - Você é muito espertinha, Sra. Jackson.
- Eu faço o que posso... - falei, piscando pra ele.
Michael chegou perto de mim e passou os braços pela minha cintura, me puxando mais pra perto. Quando olhamos pela janela, vimos que estávamos nos portões de Neverland.
- Mas adorei a surpresa, na verdade, foi a melhor parte da noite. Se eu soubesse, nem demoraria tanto tempo para vir embora. - ele sorriu. - E nem pense que acabamos por aqui, ainda quero está dentro de você essa noite, baby.
- E eu mal posso esperar por isso!
Ele riu e me beijou, enquanto sentíamos o carro parar.
- Sr. Jackson? Chegamos. - Gary disse.
Michael se distânciou um pouco de mim e então se virou pra frente.
- Ok, Gary. Já iremos sair... Você pode se recolher agora, certo? Boa noite.
- Tudo bem. Boa noite.
- Boa noite, Gary... - falei, tentando fazer com que me voz não soasse tão envergonhada.
Quando estávamos sozinhos no carro, Michael se permitiu soltar uma risada alta.
- Você faz as coisas e depois não aguenta as consequências, né? Me agradeça, se não, ia ter que encarar o Gary. - ele disse, rindo.
Olhei pra ele de lado, tentando ficar séria, mas só consegui por pouco tempo.
- Como se você não tivesse pensando em si mesmo também, quando pediu para ele sair antes de nós... - falei, rindo. - Vamos subir agora?
- Está certo, querida... - ele sorriu e me deu um beijo antes de abrir a porta do carro.
Tudo estava extremamente bem em nossas vidas. E eu esperava que continuasse assim por muito, muito tempo.
Capitulo 7
31 de agosto de 1996
- E então, querida, como foi o aniversário de casamento no dia 28 e o aniversário de de Michael no dia seguinte? Eu sinto muito por não poder está aqui para comemorar com vocês... - meu pai falou, tomando um pouco de seu vinho.
Ele havia acabado de chegar de viagem, e havia me chamado para almoçar com ele, o que foi muito bom. Eu estava com saudades de meu pai, e ele também estava com muitas saudades de nós, visto que não tinha largado Prince nem por um segundo depois que nós chegamos a sua casa.
Passar a manhã com ele foi ótimo e agora que Prince estava tirando uma soneca, havíamos nos reunidos para almoçar.
- Foi ótimo. Fizemos apenas uma pequena reunião com amigos mais próximos e alguns irmãos de Michael pra comemorar as duas coisas juntas, visto que a mãe dele não comemora aniversários por conta de sua religião. Sobre nosso aniversário de casamento, não podemos viajar por causa da turnê e provavelmente não poderemos viajar ano que vem, mas Michael prometeu que irá compensar isso... - falei sorrind um pouco e colocando minha taça na mesa. - Mas sentimos muito a sua falta por lá, pai.
- Oh, querida... - ele sorriu e acariciou minha mão por cima da mesa. - Eu fiz de tudo para ir, mas as reuniões em Nova York não terminavam nunca. Só consegui ser liberado ontem a tarde. Esse escritório em Nova York está me atolando, é muita burocracia. Estou pensando seriamente jogar tudo pro alto!
- O que senhor já deveria ter feito a muito tempo... Você sabe que eu nunca concordei com essa ideia de você começar a trabalhar nesse escritório, trabalhar para Michael já é o suficiente para você, papai. Sabe que não precisava disso.
Ele suspirou.
- Eu sei, querida, mas não queria ficar preso a Michael, não por ele ser meu genro ou algo parecido, mas porque eu queria me mover, entende?
- Mas do que o senhor se move viajando pra cima e pra baixo por causa de Michael? - perguntei, sorrindo levemente.
Ele riu.
- Tudo bem, Sra. Jackson, está totalmente certa. Vou fazer isso, pedirei demissão desse escritório em Nova York, principalmente agora, que Michael começará uma nova turnê. Tenho que está livre de compromissos, caso ele precise de mim.
Sorri pra ele e levei minha mão a sua, segurando-a com carinho por cima da mesa.
- Obrigada, papai, não por causa de Michael, mas por causa do senhor mesmo. Ficar cheio de coisas para fazer nem sempre é bom.
- Você, como sempre, cuidando de mim... - ele sorriu e então me olhou, indicando que iria mudar de assunto. - Confesso que estou muito curioso para saber o resultado da viagem de Michael ao Arizona, no final do mês passado.
Olhei pra ele confusa, sem saber de onde ele havia tirado aquilo.
- Ao Arizona? Não, pai, Michael viajou para Londres no final do mês passado... Não houve nenhuma viajem ao Arizona.
Ele pousou o grafo no prato e me olhou com o semblante confuso.
- Claro que houve, querida... Michael viajou ao Arizona no final do mês passado, para gravar seu novo clipe. In The Closet, se não me engano... Eu fui com ele, mas tive que voltar no dia seguinte a Nova York por causa do escritório.
Fiquei em silêncio durante alguns segundos, tentando puxar na minha mente alguma conversa minha e de Michael, onde ele me falava que iria viajar ao Arizona, para gravar um vídeoclipe. Nada veio a minha cabeça, porque simplesmente não havia acontecido conversa alguma.
Eu nunca soube dessa viagem, nem de vídeoclipe algum.
- Você não sabia, Alie? - meu pai perguntou, me tirando de meus pensamentos.
- Ah, hm... Sim, é claro que eu sabia, pai, apenas me confundi. - menti, forçando um sorriso. - Você sabe, Michael viaja tanto... Não me lembrava dessa viagem em especial.
Era realmente melhor não falar a verdade para meu pai. Ele não era a melhor pessoa a saber que meu marido havia mentido pra mim.
- Ah sim... - ele me olhou. - É um clipe bastante sensual, Michael deixou isso claro pra você, não é mesmo? Seria realmente muito desagradável que isso a pegasse de surpresa.
- Oh sim, claro que eu sabia... - falei, tentando não cerrar meus dentes na frente dele. Com uma expressão serena, voltei a falar: - Mas, o senhor viu toda a gravação? Também estou curiosa, Michael não quis falar sobre tudo, ele, hm... Me disse que não queria estragar a surpresa do vídeo.
Dando mais um gole em seu vinho, ele me olhou.
- Eu não vi toda a gravação, como disse, eu só fiquei no primeiro dia. Mas pelo o que eu pude vê, é algo bastante ousado. Confesso que fiquei pensando se você estava totalmente de acordo com aquilo. Naomi Campbell é uma mulher muito sexy e pelo o que pude perceber, o clipe vai ficar bastante quente.
Realmente foi um grande esforço para que o vinho que estava em minha boca não saísse de lá, ou que meus olhos não se esbugalhassem tanto e saíssem das órbitas. Naomi Campbell? Eu havia escutado direito?
Ela era... Simplesmente linda e só a ideia de que Michael havia feito um clipe sensual com ela, me dava naúseas.
- Ah sim... - murmurei, sem saber mais o que dizer.
Meu pai abriu a boca para falar novamente, mas o choro de Prince o interrompeu. Eu nunca fiquei tão agradecida por meu filho acordar no meio de uma conversa. Pedindo licença para meu pai, saí da mesa e fui em direção ao seu quarto.
Prince estava sentado no meio da cama de casal, cercado por vários travesseiros. Quando me viu, ele levantou os braços e chamou mamãe do jeito fofo que só ele conseguia. O peguei no colo e sequei suas lágrimas, desejando, por um momento, ter de novo a idade dele e não ter que enfrentar o mundo dos adultos ou sentir a imensa raiva que estava sentindo de Michael naquele momento.
Eu não sabia o motivo que levou Michael a mentir, ou talvez eu soubesse e não quisesse acreditar. Apenas a ideia de saber que ele havia inventado uma história para acobertar outra, me deu vontade de vomitar. Eu odiava mentiras, odiava mesmo e ele sabia disso.
Eu só esperava que ele tivesse uma boa explicação para toda aquela história.
Capitulo 8
31 de agosto de 1996
Já estava quase anoitecendo quando Michael chegou em casa. Ele havia passado o dia fora por conta de reuniões, e por isso não havia ido almoçar comigo e meu pai. O que realmente me deixou agradecida. Talvez, se ele estivesse lá, eu não conseguiria esconder sua mentira de meu pai, quando ele tocasse no assunto de sua viagem e seu videoclipe.
Prince estava dormindo no andar de cima, e eu estava na biblioteca, tentando ler um livro e tirar toda aquela história da minha mente, mas eu simplesmente não conseguia. Tudo aquilo estava me atormentando e eu estava ponto de explodir!
Não fui ao encontro de Michael como normalmente fazia quando ele chegava. Ao invés disso, fiquei na biblioteca esperando que ele perguntasse a alguma das empregadas onde eu estava e viesse até a mim. Seria bom ter aquela conversa em um lugar fechado. Ninguém precisava saber que eu era uma esposa enganada.
Levou apenas alguns minutos até eu escutasse seus passos pelo corredor. Logo as batidas na porta da biblioteca foram ouvidas e ele abriu um pouco a porta.
- Hei... Posso entrar? - perguntou, sorrindo.
Aquele sorriso... Eu queria matá-lo por está sorrindo e provavelmente com a consciência limpa depois de ter mentido pra mim!
- Claro. - falei, tentando soar um pouco amigável.
Ele entrou e foi até a mim. Se curvou um pouco no sofá e me beijou nos lábios. Eu retribui até ele querer aprofundar o beijo. Não conseguiria ir tão longe com minha falsidade e deixar que minha língua entrasse em sua boca.
Ele se afastou estranhando um pouco e então se sentou ao meu lado.
- E então, como foi o almoço com seu pai? Conseguiu persuadí-lo a pedir demissão? - ele perguntou, sorrindo maliciosamente pra mim.
- Sim. - falei. Ele levantou uma sobrancelha, esperando que eu continuasse a falar. - Conversamos sobre várias coisas, realmente, vários assuntos... Principalmente sobre a sua viagem ao Arizona.
Vi quando ele engoliu em seco e seus olhos se arregalaram tanto, que eu pensei que fossem saltar das órbitas. Eu continuava olhando pra ele, esperando que ele falasse alguma coisa, qualquer coisa! Mas ele continuava naquele silêncio infeliz.
- Eu ainda estou esperando você falar alguma coisa, Michael...
- Calma, Alie... O que, realmente, o seu pai disse pra você?
- Nada demais... Quer dizer, apenas o que o meu marido deveria ter me dito. Que você viajou ao Arizona no final do mês passado e que estava gravando um clipe muito sensual com a Naomi Campbell. - falei, me levantando do sofá.
Eu realmente não conseguia ficar sentada ao lado dele.
Ouvi seu suspiro atrás de mim e me virei, vendo que ele estava com o rosto escondido nas mãos. Depois de esfregar os olhos, ele me olhou.
- Alie, eu ia contar pra você...
- Ah, ia? Quando? Quando o mundo todo visse a estréia do seu novo videoclipe? Eu sinceramente pensei que sendo sua esposa, eu teria algum crédito e saberia dos seus planos, Michael!
- Alice, por favor, se acalma e me deixa explicar! - ele disse, olhando pra mim.
- Certo, Michael, eu vou ficar parada aqui - falei, me encostando na mesa de madeira, ficando frente a frente com ele. - e vou escutar sua explicação.
Cruzei meus braços e fiquei olhando pra ele, esperando que ele me falasse algo que realmente explicasse o porquê de suas mentiras.
- Eu menti, Alie...
- Oh, não me diga! - o cortei, usando todo o sarcasmo que estava dentro da minha mente.
Ele me olhou com o semblante sério.
- Você vai me deixar falar ou não? - ele perguntou. Ao receber meu silêncio como resposta, ele continuou: - Eu ia te contar, Alie, mas na hora... Na hora eu resolvi que seria melhor não. Você tinha feito um escândalo sobre uma calça, o que faria se eu te contasse como seria o clipe? Você simplesmente enloqueceria e não deixaria.
- Certamente e obviamente, eu não deixaria.
- E eu sabia disso, por isso resolvi não contar. Na hora de falar que iria viajar, eu disse que iria para Londres, ao invés de ir para o Arizona.
- Porém, Michael, você não decidiu fazer um clipe de uma hora pra outra. Com certeza isso já estava sendo planejado há algum tempo, tempo suficiente pra você me contar. Que porra você estava na cabeça na hora que decidiu mentir pra mim?!
Ele bufou.
- Eu sei que eu errei, Alice, mas tá vendo como você está reagindo? Eu não queria enfrentar isso antes de gravar o clipe.
- "Isso", é uma esposa que descobriu que o marido mentiu pra ela, Michael, "isso", é o que você está me causando! - gritei, começando a andar de um lado para o outro. - Meu pai disse que o clipe é sensual, que vocês dançam e se tocam... Eu simplesmente não posso acreditar que meu marido estava se esfregando com uma mulher na frente das câmeras, e o pior, pelas minhas costas!
Ele revirou os olhos e passou as mãos pelos cabelos.
- Alice, por favor, pare de fazer uma tempestade em um copo d'água! O clipe é sensual sim, eu danço com a Naomi, mas isso não quer dizer que eu transo com ela! Não é uma traição!
- Mentira é quase uma traição, Michael! - falei. - Você fala que eu estou fazendo uma tempestade em um copo d'água, mas como você se sentiria se eu tivesse mentido pra você, falando que iria pra não sei onde, sendo que eu estava indo gravar um clipe sensual com outro homem? Com certeza você não estaria nem um pouco calmo.
- Não seja burra, Alice, seu trabalho é diferente do meu.
Me virei pra ele, sentindo meu sangue começar a ferver ainda mais dentro das veias. Eu estava com muita raiva e ele não estava ajudando em nada para aquilo tudo passar.
- Ah, é verdade... Você é um cantor que tem que ficar usando calça apertada pras fãs verem o tamanho do que você carrega no meio das pernas, e tem que ficar gravando um clipe safado pra elas verem o quanto você pode ser sensual, ou o quanto você deve ser bom de cama! - gritei, perdendo a paciência que eu ainda achava que tinha.
Ele me olhou com o senho franzido de raiva e se levantou e indo até a mim, colocando as mãos em meus ombros.
- Alice, para com isso! - ele gritou, olhando pra mim. - Para já com isso, ouviu bem? Você está passando dos limites!
- Ah, eu estou passando dos limites? Pode ter certeza, meu querido, que você ainda não me viu passar dos limites! - gritei de volta e o empurrei. - E tira as mãos de mim! Eu não consigo suportar a ideia de que você tocou em outra mulher do jeito que meu pai descreveu e depois vem colocando essas mãos em mim!
- Então agora eu não posso mais tocar em você? É isso que está querendo dizer, Alice? - ele perguntou, me olhando.
- Você mentiu pra mim, me enganou, gravou um clipe sensual com outra mulher, e ainda está perguntando se pode tocar em mim? - perguntei, balançando a cabeça e deixando um riso sem humor escapasse por minha garganta. - Acho que, se pra gravar um clipe, você pôde tocar nela... Então pode continuar a tocar nela, Michael! Você não precisou me contar nada, não é mesmo? Então também não deve precisar tocar em mim.
Ele franziu o cenho e também riu, incrédulo.
- Eu simplesmente não acredito no que eu acabei de ouvir, Alice... Eu vou fingir que não ouvi isso, está bem?
- Foda-se! - falei, vendo ele me olhar com surpresa. - Já que você já escondeu as coisas de mim uma vez... Não precisa mais se dá ao trabalho de contar as coisas que vai fazer de agora em diante.
Olhando pra ele mais uma vez, me dirigi a porta, ouvindo a voz dele atrás de mim.
- Alice, nós ainda não terminamos de conversar, mas eu juro por Deus que se você sair por essa porta, eu não vou atrás de você para terminarmos isso e ficarmos de bem. Não vou ceder a isso, não vou mesmo!
Eu poderia ficar, eu realmente poderia ficar para terminarmos aquela conversa toda, mas ele não merecia aquilo. Depois de tudo o que ele havia feito e dito, ele não merecia mesmo que eu ficasse ali para terminar aquilo. Muito menos para ficarmos bem.
Sem me dá ao trabalho de responder, sai da biblioteca e o deixei sozinho. Eu queria socar alguma, gritar e quebrar tudo o que eu via pela frente, mas não fiz isso. Subi e fui para o meu quarto, batendo a porta com toda a força que eu tinha. Lá dentro, eu olhei em volta e tudo aquilo só me remetia a Michael e eu juntos, fazendo amor e sorrindo, o que me deu nauseas.
Ele era um mentiroso, havia me enganado e pelo visto não estava nem um pouco arrependido. Se ele ao menos estivesse arrependido, eu poderia pensar e repensar em tudo, mas ele não estava, então eu também não tinha que pensar em nada.
Me jogando na poltrona ao lado da cama, respirei fundo, mordi o lábio, mas nada tirava toda aquela raiva de mim. Olhei em volta do meu quarto mais uma vez, tentando fazer com que minha mente parasse de criar imagens de Michael acariciando Naomi, e então eu vi.
O cartão de Martin estava em cima da escrivaninha, do meu lado da cama. Eu o tirei da bolsa para jogar fora, mas tinha esquecido... Sem pensar duas vezes, peguei o cartão e tirei o telefone do gancho, discando os números. Foram apenas três toques e então eu ouvi sua voz do outro lado da linha:
- Martin Rock.
Meu coração pulou rápido no peito e antes que ele pudesse fazer outra coisa, minha mente trabalhou mais rápido:
- Martin, sou eu... Alice Jackson, você está disposto a me encontrar, agora?
Capitulo 9
31 de agosto de 1996
Me olhei no espelho mais uma vez, conferindo se o vestido preto básico que eu havia colocado não estava exagerado demais. Ao perceber que eu estava bem, peguei minha bolsa e sai do quarto.
Estava descendo as escadas, torcendo pra não topar com Michael, quando sua voz no correndo da sala. Ele estava falando com Grace, nossa governanta, mas estava de costas pra mim. Ele realmente não iria perceber que eu estava ali, mas Grace fez o favor de desviar os olhos dele e me olhar. Foi apenas questão de segundos até ele se virar e olhar pra mim.
- Obrigada, Grace, era só isso... - ele disse ainda olhando pra mim.
Grace murmurou algo e então saiu de nossa presença. Eu queria ir embora logo, mas o olhar de Michael estava me prendendo ali. Depois de alguns segundos em silêncio ele começou a falar:
- Onde você vai?
Minha vontade foi de rir, na verdade, eu até poderia rir mas decidi que essa atitude infantil simplesmente não me levaria a nada. Então, olhando pra ele, apenas tomei um pouco da atitude que ele havia tomado comigo.
- Não me lembro de você ter me dado satisfação de alguma coisa... Como por exemplo, sobre sua viagem e seu clipe... - comentei.
Ele me olhou, cerrando o maxilar e respirando fundo.
- Eu só fiz uma pergunta, Alice.
- E eu respondi a sua pergunta, Michael.
- Não respondeu, Alice. Vamos tentar mais uma vez, certo? - ele pigarreou, como se tivesse falando com uma criança. - Onde você vai?
- Vamos falar em um palavreado mais chulo, certo? - perguntei lentamente também. - Não te interessa.
Ele bufou alto e passou a mão pelos cabelos.
- Eu estou realmente puto com isso, Alice! - falou, começando a me olhar. - Tem como você parar? Você quer que eu faça o que? Que eu me ajoelhe aos seus pés e peça perdão porque menti?
- Seria bom... Mas no momento eu tenho que sair, querido, quem saber quando eu voltar, hm?
- Para com esse tom sarcástico! - ele gritou. - Isso está me irritando!
- Sua mentira também me irritou, pode apostar nisso! - falei, começando a andar em direção a porta. - Você pode dar mamadeira a Prince? Ele mama daqui a uma hora, certo? Boa noite, Michael.
Eu o escutei me chamando, mas não iria mais perder tempo tendo com ele uma conversa que não nos levaria a lugar algum. Agradeci a Gary por ele ter preparado um carro pra mim e me sentei no banco do motorista, me preparando para dirigir até o centro de Los Angeles.
----
Quando Martin atendeu o telefone e escutou a voz de Alice do outro lado da linha, ele pensou que estivesse delirando.
Apesar de achar que era somente uma questão de tempo até ela lhe ligar, os dias foram passando e quando um mês se fez completo, ele já tinha perdido um pouco da esperança que nutria dentro dele.
Até porque... Alice era casada com Michael Jackson, o maior artista de todos os tempos, se ela quisesse não precisaria mais trabalhar pelo resto da vida. Mas ele era ousado e muito, muito chato quando queria alguma coisa e principalmente, não costumava desistir tão facilmente assim.
Ainda mais quando se falava em Alice. Ele era fascinado por ela, aquela loira sexy que ele teve o prazer de vê rebolando e cantando na estreia de "Burlesque" e de outro musical - não tão sensual quanto primeiro - mas mesmo assim fascinante que ela havia feito.
Ele a queria para o musical que estava escrevendo, na verdade, um musical feito só pra ela, completamente pensado nela. E a queria muito mais para si. Talvez seria um pouco difícil tirá-la de seu marido, mas nada para Martin Rock era impossível.
Alice, com toda a certeza, também não seria.
----
Uma hora e meia depois eu estava estacionamento do prédio de Martin. Meu coração pulou no peito novamente ao pensar nele, dessa vez me deixando entender que não concordava com a minha atitude.
Mas o meu coração sempre foi mole demais, sempre amou muito mais aos outros do que a mim mesma, então... Dessa vez eu não iria ligar pra ele. Já estava ali e não iria embora até falar com Martin.
Na verdade, eu não sabia muito bem o que estava fazendo ali, muito menos o que eu iria falar. Mas eu tinha certeza que ele tinha muito a dizer, visto que ficou tão animado ao telefonado.
Por um momento, me deixei pensar no que Michael faria se soubesse que eu estava ali. Creio que eu não gostaria nem um pouco, na verdade, ele odiaria saber, mas ele não estava em condições de gostar ou não de algo. Ele tinha simplesmente que aceitar aquilo, da mesma formar que achava que eu tinha que aceitar sobre sua mentira e aquele clipe ridículo que ele havia feito.
Sai do carro e olhei em volta, vendo que o estacionamento estava vazio, o que me fez ficar mais tranquila. A última coisa que eu queria era ser reconhecida por alguém. Fui em direção ao elevador e em poucos minutos estava no décimo quinto andar. Assim que as portas se abriram, fui em direção ao número do apartamento de Martin e apertei a campanhia.
Escutei alguns passos do lado de dentro apartamento, então a porta de abriu. Martin apareceu vestindo uma calça jeans e uma camisa branca, que constratava com sua pele morena.
- Olá, Sra. Jackson... - ele sorriu. - Por favor, entre.
Ele chegou para o lado e indicou o interior do apartamento com a o rosto. Um sorriso pendia nos cantos de seus lábios. Entrei e ele fechou a porta atrás de mim, logo indicando para que eu me sentasse.
- Primeiramente, pode me chamar de Alice. - falei, me sentando no sofá.
- Ah sim... Pensei que nunca chegaríamos nessa fase de te chamar pelo primeiro nome. - ele riu. - Você aceitar beber alguma coisa? Água, refrigerante, vinho...?
- Vinho está ótimo.
Ele assentiu e sumiu pelo corredor, minutos depois voltando com uma garrafa de vinho e duas taças.
- Por falar nisso, pode me chamar de Martin. Eu realmente odeio ser chamado de senhor, parece que sou um velho. - ele falou, enchendo as taças.
- Mas você está bem longe de ser um velho... - comentei, vendo-o me olhar com uma sobrancelha arqueada. - Quer dizer, é bobagem você pensar dessa forma.
- Pode ser... - ele riu e me deu uma taça. - Confesso que fiquei bastante surpreso com a sua ligação. Já havia perdido as esperanças de que você fosse entar em contato comigo.
- Eu realmente não iria... Mas aí eu vi seu cartão em cima da mesa e resolvi ligar. - falei, dando de ombros. - Na verdade, eu quero saber que musical é esse que você está escrevendo pra mim.
- Você disse que não faria o musical...
- Não estou dizendo que vou fazer. - falei. Ele me olhou um pouco surpreso e eu fiquei envergonhada com a forma como falei. - Me desculpe, não quis falar desse jeito.
- Está tudo bem... - ele bebeu um pouco e me olhou por cima da taça, como se tivesse me analisando. - Certo, Alice, posso não te conhecer muito bem, mas sei reconhecer quando uma pessoa está com problemas... O que houve com você?
Confesso que sua pergunta me pegou um pouco desprevenida. Quer dizer... Ele realmente não me conhecia, mas parecia saber que eu não estava bem.
- Nada demais, apenas uma briga de casal. - comentei, olhando pra minha taça de vinho.
- Ah... Você e Michael brigaram? - ele perguntou e eu apenas assenti. - Por isso que você está aqui? No meio da briga decidiu não obedecer mais as ordens dele? - ele sorriu de lado.
- Ao contrário do que você pensa, Martin, Michael não me obrigou a não aceitar sua proposta de fazer o musical. Foi uma coisa que nós dois decidimos. Ele entrará em turnê daqui a alguns dias e eu vou ficar com o nosso filho e ás vezes viajar com ele. Um precisa parar um pouco pro outro continuar, nossas carreiras são assim, não tem jeito.
- Isso é o que você pensa. Sua carreira não impede a dele, é a dele que está impedindo a sua, Alice. Você está se privando de trabalhar porque a carreira dele pede isso a você.
Balancei a cabeça, rindo um pouco, mesmo sem sentir vontade de rir.
- Você não está entendendo. Eu tenho um filho de um ano e meio que é muito agarrado a nós dois. Ele já não terá Michael por perto por causa da turnê, eu simplesmente não posso me prender a nada agora , senão ele ficaria sem a mãe também.
- Então, me desculpe se eu estiver soando grosseiro, mas... O que você está fazendo aqui?
O que eu estava fazendo ali? Nem eu mesma sabia responder aquela pergunta pra mim, quanto mais pra ele.
- Eu não sei. Eu apenas vi seu cartão e senti vontade de ligar...
- Porque está curiosa para saber o que estou escrevendo...
- Sim, eu estou curiosa. E até agora você não me respondeu.
Ele sorriu um pouco e encheu mais a sua taça, logo depois enchendo mais da minha.
- Seria um musical bastante diferente. Você não seria uma personagem, seria a estrela principal. No seu segundo musical, eu li em uma pergunta em um jornal que me intrigou... Estava escrito: "Como seria Alice Jackson fazendo um show de verdade e não um musical?" e isso ficou martelando em minha cabeça. Então... Eu simplesmente pensei em fazer um musical onde você seria Alice, a cantora de um show e não a artista fazendo um personagem em um musical romântico.
- Hm... Deixa eu vê se entendi, você está me propondo fazer um musical que representa um show de verdade? - ele assentiu. - E como seria isso?
- Um show de verdade, Alice, com banda, dançarinos e tudo que tem direito.
- Vai ser sensual? - perguntei, realmente interessada naquilo.
Uma vingança pessoal para Michael cairia muito bem agora.
- Com certeza, o nome é "Stripped". Já pode imaginar o que significa, não é mesmo? - ele sorriu de lado. - Você é linda, Alice, e muito, muito sexy, sem contar que sua voz é perfeita. Realmente seria o musical do ano, mas você não pode fazê-lo... - ele deu de ombros com o semblante decepcionado.
- Talvez eu possa fazer.
Ele sorriu de lado, se curvando um pouco na poltrona para ficar mais perto de mim.
- Está falando sério?
- Sim, estou falando muito sério. Eu adoraria fazer esse musical e quero fazer.
- Então está pensando em mudar de ideia quanto o seu acordo com Michael?
- Já mudei de ideia, Martin. - falei, cruzando as pernas e me sentando melhor na poltrona. Olhei pra ele e tomei um gole do meu vinho. - Eu quero que você me entregue, por escrito, detalhes sobre tudo o que acontecerá nesse musical/show.
Ele riu.
- Certo, eu entregarei. Ah, não sei se já mencionei, mas tenho um grupo de dançarinos perfeito. Eu sou o coreógrafo e também farei parte do musical. Todas as cenas em que você precisa dançar com algum homem, eu serei esse homem. - ele sorriu de lado. - Confesso que será bastante interessante.
- Ah, com certeza, vai ser bem interessante... - murmurei - Quero conhecer seu grupo de dançarinos e pode avisá-los: Alice Jackson fará parte desse musical.
- Então... Que brindemos a isso, Alice.
Sorrindo, ele chegou perto de mim e bateu sua taça levemente na minha, fazendo o barulho do vidro ecoar por todo o apartamento.
Capitulo 10
31 de agosto de 1996
Passava um pouco das onze e meia quando estacionei o carro dentro de Neverland. Gary veio em minha direção, me dando boa noite e dizendo que iria guardar o carro e eu respirei fundo, tentando tomar coragem para entrar em casa e encarar Michael.
A noite com Martin foi agradável, ao contrário do que eu pensava, ele não era um mau caráter. Me tratou com cordialidade enquanto eu estava em sua casa e passamos a noite tomando vinho e conversando sobre o musical. A ideia dele era ótima e eu realmente havia gostado muito de tudo aquilo. Esperava mesmo que desse tudo certo.
Entrei em casa e o hall estava parcialmente escuro, apenas a luz da sala iluminava a entrada. Pude escutar a voz de Michael, acho que ele falava ao telefone mas não consegui identificar com quem. Quando apareci na entrada da sala, ele me olhou e respirou fundo, passando a mão pelos cabelos.
- Não se preocupe, Mark, ela acabou de chegar aqui. - ele disse, me olhando. - É, eu também estou muito curioso pra saber onde ela estava, obrigado por me atender e me desculpe por ter ligado tão tarde. - ele ficou em silêncio por alguns segundos. - Certo, eu digo isso a ela. Até mais, Mark.
Ele colocou o telefone no gancho e me olhou, como se estivesse esperando uma explicação.
- Por que ligou pra Mark?
- O que é que você acha? Porra, Alice, você sabe que horas são? Quase meia-noite, você saiu de casa ás seis horas! Tem noção do que passou pela minha cabeça? - ele falou alto, olhando pra mim com os olhos flamejantes de raiva. - Liguei pra Deus e o mundo, tentando descobrir onde você estava, e simplesmente não te encontrei! Liguei pra Elizabeth, pra Mark, até para o seu pai, todos estavam preocupados.
- Uma bobagem se preocupar desse jeito, eu estou bem, sou adulta e sei me cuidar, Michael. Não precisava perturbar nenhum deles. - falei em um tom tranquilo.
- E onde você estava?
- Isso não tem importância, eu já estou em casa, não é mesmo? Então pronto, não precisa mais se preocupar com nada. - falei, dando um sorriso forçado. - Agora eu vou subir, o dia hoje foi um pouco estressante.
Fui em direção as escadas e senti Michael andando atrás de mim, me seguindo. Ele ainda queria falar alguma coisa, eu sentia, mas eu não estava disposta a ouvir.
Não quando nada do que ele dissesse resolveria nossa situação.
Fui em direção ao quarto de Prince, vendo que ele já estava dormindo tranquilo em seu berço. Olhar pra ele fazia com que me fúria se acalmasse um pouco. Eu o amava de todo o meu coração e fica perto dele, ver seu sorriso sempre seria minha paz. Dei um beijo em sua cabeça e sussurrei que o amava, antes de me virar para Michael:
- Você deu a mamadeira dele?
- Claro que sim, Alice, ao contrário do que você possa está pensando, eu sei cuidar do meu filho.
- Que bom que você sabe fazer isso, já que compartilhar as coisas com a sua esposa você não sabe muito bem. - falei.
Dei mais um beijo em Prince e passei por ele, saindo do quarto e indo em direção ao nosso. Foi apenas questão de minutos até que ele abrisse a porta do nosso quarto.
- Você não vai mesmo me dizer onde estava? - ele perguntou, se sentando em nossa cama e ficando frente a frente comigo.
- Já disse, Michael: isso não tem importância. - falei, começando a tirar meus brincos.
Seu suspiro cansado chegou aos meus ouvidos, e vi de relance quando ele passou as mãos pelos cabelos com força.
- Eu sinto muito, Alie, realmente sinto muito por ter mentido pra você. Eu sei que não foi o certo a se fazer, mas eu não queria brigar com você. Eu iria te contar, só estava esperando um momento bom pra isso.
- E quando seria esse momento? - perguntei, esperando que ele me respondesse. Alguns segundos se passaram e ele continuou em silêncio. - Não teria momento, Michael, provavelmente eu iria descobrir quando ligasse a TV e visse meu marido se esfregando com Naomi Campbell. Com certeza não é uma maneira muito legal de se descobrir uma coisa dessas.
- Eu iria contar antes do clipe ser lançado, Alice. Eu só não sabia quando, mas eu ia. Não era pra você descobrir desse jeito...
- Mentira tem perna curta, Michael, um ditado antigo mas muito certo. Você não me contou com medo de uma briga, eu descobri de outra forma e brigamos do mesmo jeito. No final, não adiantou nada você ter me escondido.
Ele ficou em silêncio e eu me ocupei de tirar meu cordão, sem querer olhar pra ele. Ele estava se desculpando, estava tentando, mas não estava surtindo efeito em mim. Nada conseguia dissipar o sentimento de ter seu marido a enganando e mentindo da forma como ele fez comigo.
- É o meu trabalho, Alie. É só um clipe. Eu gravei e pronto, não tenho contato com Naomi ou nada parecido, por favor, entenda isso. Eu não te traí.
- A questão não é essa, Michael. É muito mais do que você ter gravado um clipe com ela, não é só isso. Você mentiu pra mim, disse que iria para Londres e ficaria lá por uma semana por causa de reuniões, quando na verdade foi pro Arizona gravar um clipe. Eu estou me sentindo enganada.
Ele se levantou e foi em minha direção, parando atrás de mim. Sua respiração tocava em meu ombro, enquanto ele me olhava pelo espelho da cômoda e colocava meu cabelo para o lado. Eu não queria que ele me tocasse, mas eu sempre fui fraca demais quando ele vinha com carinhos pra cima de mim.
- Por favor, Alie... Eu amo você e estou realmente muito arrependido por ter mentido, acabei de aprender que isso não foi certo e jamais mentirei pra você novamente. - ele beijou meu ombro e subiu até minha nuca, passando as mãos pela minha barriga. - Me perdoa, amor? Vamos ficar bem de novo, vamos viajar daqui a dois dias, não quero está brigado com você.
Ele molhou os lábios com a língua e os passou em minha nuca novamente, começando a pressionar minha bunda com seu quadril, me deixando sentir seu membro começar a ter uma ereção. Mordi o lábio e senti minha respiração ficar mais curta, quase se dissipando quando ele tocou meus seios por cima do meu vestido.
Eu estava tentando, realmente estava tentando trazer de volta minha linha de raciocínio, mas estava praticamente impossível com Michael atrás de mim, me tocando e me seduzindo.
- Michael... - eu tentei continuar nossa conversa, mas seu nome saiu como um gemido.
Um gemido que ele não perdeu.
Senti seu sorriso safado em minha pele e suas mãos desceram pela lateral do meu corpo, parando na barra do meu vestido e o levantando até minha cintura, deixando minha calcinha exposta pra ele. Começando a beijar meu pescoço, ele aproveitou que meu vestido era tomara-que-caia e o abaixou, revelando meus seios e os olhando pelo espelho.
Eu já estava perdida, qualquer atitude que eu deveria tomar simplesmente não chegou ao meu cérebro. Eu só conseguia pensar nas carícias de Michael e em seu pênis que estava cutucando minha bunda, me deixando muito quente no meio das pernas.
- Eu quero tanto você, Alie... Tanto... - ele sussurrou em meu ouvido, levando uma mão ao meu seio e outra ao meio de minhas pernas.
Um gemido alto escapou de meus lábios quando ele adentrou a mão em minha calcinha e me tocou, começando rodiar meu clitóris sensível, me dando aquele prazer tão conhecido. Foi apenas questão de segundos até que ele tirasse minha calcinha e abrisse o zíper de sua calça, me fazendo sentir seu membro ereto em minha bunda, a glande molhada se encostando em minha pele.
Abri um pouco mais minhas pernas e apertei os lados da cômoda com força, deixando seu nome escapar alto pelos meus lábios quando ele me penetrou devagar. Me olhando pelo espelo, Michael passou a língua pelo meu pescoço, começando a se mover mais forte em mim. Uma de sua mãos voltou ao meio de minhas pernas, começando a tocar em meu clitóris novamente enquanto a outra segurava minha cintura, me mantendo no lugar.
Era impossível não gemer, sentindo-o dentro de mim, não tão fundo, mas mesmo assim me tocando onde me dava prazer, saindo rápido e entrando ainda mais rápido. Eu já sentia meu orgasmo próximo e Michael também sentia, pois ele começou a me tocar e meter mais rápido, gemendo em meu ouvido e dizendo o quanto era gostoso está dentro de mim.
Segurando a cômoda com mais força, senti tudo começar a girar ao meu redor, quando meu orgasmo me atingiu em cheio. Michael gemeu alto em meu ouvido, apertando minha cintura com as duas mãos e metendo até o fundo quando ele gozou forte dentro de mim.
Nossas respirações estavam ofegantes e Michael sorriu me olhando, começando a beijar meus ombros. Não consegui sorrir, na verdade, nem mesmo consegui manter meus olhos nele, quando minha boca processou em voz alta o que minha mente ditava naquele momento.
- Eu não vou viajar com você, Michael.
Capitulo 11
31 de agosto de 1996
Ele parou o que estava fazendo e me olhou pelo espelho com as sobrancelhas franzidas.
- O que?
Respirei fundo, ainda sentindo-o dentro de mim. Ainda pulsávamos pelo orgasmo recente, mas eu tinha que parar de me concentrar naquilo e sim no que tinha que dizer. Não poderia mais ser fraca.
- Eu não vou viajar com você, Michael. - repeti.
Ele estava imóvel, como se o que eu falei tivesse saído em outra língua e ele ainda não tivesse conseguido entender o o que eu queria dizer.
- Como... Como assim, Alice? Como não vai viajar comigo? A turnê começa no dia sete de setembro e havíamos combinado que viajaríamos juntos no dia dois. Você quer ir depois, é isso?
- Eu não vou nem com você e nem depois, Michael.
- Por que?
- Porque eu me encontrei com Martin Rock hoje a noite e decidi que vou fazer o musical que ele está escrevendo pra mim. - falei de uma só vez.
Ele saiu de dentro de mim bruscamente, me deixando apenas um vázio lá dentro. Vi pelo espelho ele se arrumar e subir o zíper da calça. Quando terminou, ele olhou em meus olhos.
- Você está brincando, não é? - ele perguntou com a voz rouca de raiva.
Respirei fundo, pressionando os lábios antes de voltar a falar:
- Não, eu não...
Eu tentei terminar, mas Michael me pegou pelos ombros bruscamente e me virou de uma só vez, começando a me sacudir rapidamente.
- Diz pra mim que você está brincando, Alice! - ele gritou com raiva, me olhando furiosamente.
- Não, eu não estou! E pare de me sacudir assim! - falei, tirando as mãos dele de meus ombros.
Me afastando dele, comecei ajeitar o meu vestido, enquanto o via começar a andar de um lado para o outro. Ele estava com muita raiva e confesso que vê-lo com ao menos metade da raiva que eu estava sentindo era gratificante pra mim.
- Eu simplesmente não posso acreditar que você saiu de casa pra se encontrar com aquele filho da puta! Você ficou louca?
- Não. - falei, terminando de subir meu vestido e tampar meus seios. - Eu não estou louca, Michael, eu apenas senti vontade de ir até ele e ouvir sobre o musical que ele estava escrevendo pra mim e digo pra você: é simplesmente magnífico.
- Oh, pelo amor de Deus... - ele gritou, sarcástico. - Você não deve ter noção do que está dizendo, não é, Alice? E eu pensando que você tinha saído de casa pra se encontrar com um de nossos amigos e chorar no colo deles! Mas não, você foi se encontrar com aquele imbecíl que estava dando em cima de você na festa de Frenci! O que deu em você?!
- Michael, eu estou há alguns passos você, será que pode parar de gritar?
- Não, eu não posso! Acabei de descobrir que minha mulher acaba de brigar comigo e vai afogar suas mágoas no colo de outro cara. De um cara que ela ao menos conhece! Porra, Alice, eu estou morrendo de raiva!
- Ótimo, Michael, porque eu também estou morrendo de raiva ao saber que meu marido mentiu pra mim!
- Não me venha com esse asssunto de novo, Alice. Não use isso como um pretexto pra ir se encontrar com aquele filho da puta. A verdade é que você queria apenas um motivo pra ir até ele, não é? Pode admitir, Alice!
- É claro que não! Eu apenas vi o cartão dele em cima da mesa de cabeceira e resolvi ligar. Foi apenas isso, eu não fui afogar minhas mágoas com ele, eu apenas liguei e perguntei se ele poderia me encontrar, porque eu comecei a ficar curiosa com o que ele poderia está escrevendo pra mim.
Ele riu sem humor e parou de andar pelo quarto, parando de frente pra mim.
- E o que ele escreveu pra você? Um musical que precise de uma cama, onde vocês dois vão está transando pro público ver? Porque esse é o tipo de coisa que ele certamente escreveria pra você!
- Não foi nada disso que ele escreveu, mas mesmo se fosse, Michael... Não estaria nada longe do que provavelmente você gravou para o seu clipe! - falei olhando pra ele com raiva.
- Ah, então se ele escrevesse algo do tipo você aceitaria?
- É claro que não, eu não aceitaria porque não sou esse tipo de mulher e porque, ao contrário de você, eu respeito o nosso casamento! - gritei.
- Eu não posso acreditar... Então a culpa agora é do meu trabalho? Só por causa de um clipe você arma um escândalo, se faz de vítima, vai encontrar com o filho da puta que deu em cima de você na minha frente e por conta de uma vingancinha, aceita fazer o musical que ele está escrevendo? - ele bateu palmas, olhando pra mim. - Parabéns, Alice, você é uma mulher e tanto com essas atitudes!
- A vida é minha, o trabalho é meu e eu não vou me privar disso por sua causa. Você pode até pensar que é por causa de uma vingança, mas a verdade é que Martin disse algo muito certo hoje: a sua carreira está tentando impedir a minha, mas eu não vou deixar isso acontecer, Michael.
Ele ficou em silêncio, apenas olhando pra mim como se não reconhecesse quem estava a sua frente. Balançando a cabeça, ele suspirou e se afastou.
- Precisou apenas de algumas horas ao lado desse cara, pra ele conseguir fazer a sua cabeça. Sinceramente, Alice, se é assim que você pensa sobre o meu trabalho e sobre nós dois... - ele se calou e respirou fundo. - Eu não posso fazer mais nada.
Dito isso ele foi até a porta de nosso quarto e girou a maçaneta. Quando pôs um pé pra fora do quarto ele se virou pra mim:
- Só espero que você não se arrependa dessa escolha.
Me olhando uma última vez, ele virou as costas e bateu a porta atrás de si.
Capitulo 12
02 de setembro de 1996
- Hei, meu amor... Preste atenção. - Michael disse com Prince no colo. Nosso bebê sorria pra ele, sem entender nada sobre o mundo dos adultos, o que eu agradecia aos céus. - O papai vai ter que viajar agora e dessa vez eu vou ficar mais tempo longe de casa do que eu fico normalmente, mas eu prometo ligar todos os dias para falar com você, certo? Eu te amo muito, muito e vou morrer de saudades...
Meu coração e minha garganta se apertaram de tal forma que eu não consegui mais ficar ali no quarto de Prince e presenciar aquela cena. Saí de fininho do quarto, sentindo várias lágrimas brotar em meus olhos.
Durante esse dois dias Michael e eu ficamos o máximo possível longe um do outro. Ele ficou dormindo no quarto de hóspedes e durante o dia, quando não tinha reunião, ele ficava ao lado de Prince, simplesmente me ignorando. Eu também não queria dá o braço a torcer. Ele se achava certo no meio de toda aquela história, mas ele não estava certo.
Mas agora... Agora ele estava indo embora para fazer sua turnê e eu percebi que ficaria longe dele por muito tempo. Não estava preparada para aquilo e vê-lo ir embora sem me despedir de verdade estava me matando por dentro. Obviamente eu ainda estava muito magoada com Michael, mas eu o amava demais, sempre amei e sempre amarei, e isso é um sentimento que ás vezes supera outros como raiva e mágoa.
Mas eu já havia me magoado tantas vezes e que dessa vez... Dessa vez eu não conseguia simplesmente me colocar de lado e pensar nos outros. Eu sempre fiz isso durante toda minha vida, e estava cansada de sempre me colocar em último lugar. Dessa vez eu não correria atrás de Michael, eu queria que ele viesse até a mim.
Estava na sala sentada no sofá quando ouvi os passos de Michael na escada. Ele parou no último degrau e me olhou.
- Cuide bem de Prince, certo? Vê se pelo menos essa parte do nosso acordo você pode cumprir. - ele disse com o tom frio qual se dirigia a mim durante o tempo em que estivemos brigados.
Fechei meus olhos e contei até dez. Eu tinha sido forte até agora, não havia deramado uma lágrima sequer e dessa vez não seria diferente. Não seria fraca, não na frente dele.
- Pode ter certeza que eu vou cuidar de Prince, Michael. Ele é meu filho também, se você se esqueceu disso. - falei, abrindo meus olhos e olhando pra ele.
- Ótimo, era só isso que eu queria falar pra você. - falou.
Me olhando mais uma vez, ele colocou o chapéu que estava em sua mão na cabeça e foi em direção a porta.
- Michael? - o chamei, me arrpenedendo logo em seguida.
Eu queria ir até lá e abraçá-lo. Pedir desculpas mesmo sem a culpa ser totalmente minha e dizer que eu iria com ele, que eu ia esquecer suas mentiras e que cumpriria nosso trato, mas não fiz isso. Eu não ia ceder tão facilmente.
Ele me olhou com uma sobrancelha arqueada, tentando esconder um pouco da esperança que vi em seus olhos.
- Só... Se cuida, certo? Não esqueça de se cuidar e de se alimentar. - falei, pois foi a única coisa que passou pela minha mente.
Sua feição de esperança se transformou na mesma cara séria que ele estava antes.
- Pode deixar, Alice. - ele assentiu. - Tchau.
- Tchau... - murmurei, vendo-o sair de casa.
Eu senti algo se fechando dentro de mim no momento em que o carro que levava Michael passou pelos portões de Neverland. Eu não contemplei o sol, nem as árvores e flores, na verdade, eu não vi nada a minha volta enquanto um sentimento de raiva tomava conta de mim.
Raiva por Michael não ter tido a capacidade de me olhar de forma digna durante o tempo em que estivemos brigados, raiva por perceber que ele não parecia nem um pouco disposto a tentar se desculpar comigo. Raiva por saber que ele tinha ido embora e não tinha tido sequer a intensão de me dar um abraço.
Se ele achava que poderia fazer tudo isso e eu não poderia fazer nada parecido, ele realmente estava muito enganado. Eu tinha coragem e vontade o suficiente pra seguir minha vida e minha carreira, assim como ele também tinha, então... Minha consideração por ele havia acabado no exato momento em que ele fez com que minha raiva ficasse acima de todos os sentimentos bons que havia dentro de mim.
-----
Praga - 03 de setembro de 1996
Já havia passado duas horas que Michael estava rolando de um lado para o outro na cama e não havia conseguido dormir.
Na verdade, ele não dormia bem por duas noites seguidas. As duas noites em que ele ficou no quarto de hospedes na sua casa e não em seu quarto. Dormir sem Alice sempre foi algo difícil pra Michael. Ele já estava acostumado com o cheiro dela, com a presença dela, com a cabeça dela encostada em seu peito durante toda a noite. E agora ele não tinha mais aquilo.
Ele ainda estava tentando entender o que tinha dado errado naquela semana. Eles não brigavam desde o episódio de seu figurino, estavam bem como sempre estiveram, e então, de repente, tudo desabou.
Obviamente ele sabia que tinha errado com o fato de mentir para Alice, mas ele nunca imaginou que ela ficaria tão enfurecida. Ele mentiu justamente pra evitar uma briga, mas ele se arrependia mais pelo fato de fazer com que ela se enfurecesse daquela maneira, do que pela própria mentira.
Porém, pra ele, nada justificava o fato dela ter procurado Martin Rock e de ter decidido, de uma hora pra outra, fazer o musical que ele estava escrevendo. Só de pensar no nome dele a raiva e o ódio corria por suas veias. Jurara a si mesmo que se o visse em qualquer lugar, o faria ir para o hospital em estado de coma, de tanto que bateria nele. A raiva o estava deixando completamente cedo e insano e ele até que estava gostando daquilo.
Pensar em seu filho o deixava morrendo de saudades, pensar em Alice o deixava melancólico, mas pensar em Alice e Martin juntos o deixava furioso! Nada nunca o deixou naquele estado.
Ainda pensando em tudo o que estava acontecendo em sua vida, o telefone o tirou de seus devaneios. Uma esperança se ascendeu em seu peito, ao pensar em atender o telefone e ouvir a voz amorosa de Alice, pedindo desculpas e dizendo que iria encontrá-lo em Praga, mas ao invés disso foi outra voz amorosa que invadiu seus ouvidos:
- Olá Michael, meu bem... Como foi a viagem? - Elizabeth perguntou.
Michael impediu um suspiro de decepção sair de seus lábios e então respondeu com a voz equilibrada:
- Foi bem, Liz.
- E como está Alice e Prince? O pequeno não estranhou ficar tanto tempo no avião?
Dessa vez foi impossível conter o suspiro que estava preso.
- Eles não viram, Liz...
- Como não? Você havia me dito que eles iriam viajar com você, Mike... O que foi que houve, meu bem?
- Tudo desandou, Liz... Alice descobriu sobre a minha viagem ao Arizona e você já pode imaginar como foi.
- Oh, Mike... - ela suspirou. - Eu te disse que era errado mentir pra Alice daquela forma, mas você não quis me escutar. Como ela descobriu?
- Peter disse a ela. Eles almoçaram juntos há três dias atrás e ele acabou falando tudo. - ele passou a mão livre pelo rosto. - E eu nem posso culpá-lo, ele não sabia da mentira, ele achou que Alice soubesse de tudo.
- Oh Deus... A reação dela foi tão ruim assim, Michael?
- Ela ficou furiosa, Liz, de uma forma que eu nunca vi. Ela estava com raiva do clipe, da forma como Peter disse que seria, mas estava com ainda mais raiva da mentira. Nunca pensei que ela fosse ter uma reação tão ruim. Mas não foi isso que a impediu de viajar comigo... - ele disse, começando a sentir a amargura no tom de voz.
- Não? Então... O que foi? Não consigo pensar em outro motivo, Mike.
- Quando terminamos de brigar, Alice se trancou no quarto e logo depois saiu. Você se lembra disso, não é? Lembra que eu te liguei naquela noite?
- Claro que sim, Michael. Você estava desesperado ao telefone. Mas o que foi que aconteceu depois disso? Onde Alice estava, afinal?
Ele soltou um risinho sem humor, algo que fez Elizabeth sentir que algo de muito ruim havia acontecido.
- Ela tinha ido ao encontro de Martin Rock, Liz.
Elizabeth abriu e fechou a boca duas vezes, sem saber o que dizer. Simpelsmente não conseguia imaginar que Alice tinha ido se encontrar com Martin Rock, ainda mais depois de um briga com Michael.
- Como assim, Michael? Você tem certeza?
- Infelizmente sim, Liz, eu tenho certeza. Ela chegou em casa eram quase meia-noite e então fomos para o quarto, discutimos mais um pouco e eu decidi que eu devia pedir desculpas, coisa que não havia feito até aquele momento. Eu me desculpei, reconheci que tinha errado, mas ela continuava irredutível, então... Eu confesso que poderia ser arriscado, mas eu parti pra sedução, Liz. - ele disse, sentindo-se envergonhado, mas confortável ao contar aquilo para Elizabeth. - Nós fizemos amor e eu pensei que estava tudo resolvido ali, eu vi amor nos olhos dela enquanto estávamos juntos, mas assim que acabamos... Ela nem me olhou, Liz, ela apenas disse que não iria viajar comigo porque iria fazer o musical que Martin estava escrevendo.
- O que?! - o grito de Elizabeth saiu antes que ela pudesse evitar. - Oh meu Deus, Michael, isso é sério?
- É... Isso é sério. - ele cerrou o punho. - Eu estou com tanta raiva disso, Liz, ela me disse tanta coisa! Foi capaz de dizer que tinha mesmo que fazer o tal musical, porque a minha carreira estava atrapalhando a dela, você tem noção disso? De como eu me senti?
- Michael, eu simplesmente não consigo acreditar... - ela murmurou. - Querido, eu acho que Alice estava apenas com raiva na hora em que aceitou essa proposta, mas ela vai pensar melhor, na verdade, eu vou fazer com que ela pense melhor. Eu vou conversar com ela, Mike, e você vai ver que ela vai mudar de ideia.
- Será que ela vai mudar de ideia, Liz? Eu não tenho muita certeza disso...
- Ela vai sim, Mike, eu vou conversar com ela. Confie em mim, ok? - ela sorriu. - Eu vou desligar agora, esse fuso horário é doido e nem faço ideia da hora que está aí, me perdoe se liguei muito tarde, querido, mas eu queria muito saber como você está. Fica bem, certo? Logo Alice e Prince estarão ao seu lado.
Michael sorriu, se sentindo mais tranquilo.
- Ok, Liz, se conseguir isso eu vou ser ainda mais grato a você do que já sou.
- Oh meu bem, eu amo você e faço de tudo para que fique bem.
- Eu também amo você, Liz.
Eles se despediram e Michael desligou o telefone, voltando a se deitar na cama. Fez uma pequena prece a Deus, pedindo para que Elizabeth conseguisse fazer Alice mudar de ideia. Com o coração cheio de esperanças, ele finalmente conseguiu dormir.
Capitulo 13
05 de setembro de 1996
- Mary... Tome conta de Prince pra mim, eu vou sair agora e devou chegar tarde, certo? - falei, com Prince em meu colo. Ele sorria pra mim e gritava sua versão de "mamãe" pra brincar comigo.
- Certo, Sra. Jackson. - ela disse em seu tom amigável.
Dei vários beijos em Prince e sorri pra ele, vendo o quanto ele estava lindo e crescido.
- Hei, garotão, comporte-se na ausência da mamãe, certo? - perguntei, colocando-o no chão, vendo-o andar atrás de um brinquedo.
Mary chegou perto dele e logo eles começarão a brincar juntos. Dei apenas mais uma olhada em meu filho e sai de seu quarto, descendo as escadas. Iria para o apartamento de Martin conhecer toda a sua equipe de dançarinos. Estava realmente empolgada com aquilo, sem Michael por perto Neverland era muito parada e eu estava começando a me sentir solitária.
Michael... Eu não havia falado com ele desde que ele fora embora. Ele ligava apenas para saber de Prince e falava ou com Grace ou com Mary, nem ao menos perguntava por mim, o que só me mostrou que ele não estava sentindo minha falta. No final, eu percebi que mesmo se eu viajasse, seria como dá última vez: eu seria apenas um peso morto no meio de tudo aquilo.
Entrei no carro e Gary se posicionou em seu lugar, dando partida. Minha mente estava tão atribulada pensando em Michael e em nossa briga, que eu ao menos percebi que havíamos chegado ao prédio de Martin. Gary abriu a porta pra mim e eu agradeci, dizendo que ligaria pra ele quando quisesse ir embora.
A música que vinha dentro do apartamento de Martin estava tomando conta de todo o corredor. Apertei a campanhia duas vezes e fiquei com medo de que a música o impedisse de ouvir, mas logo a porta foi aberta e Martin sorriu.
- Olá, baby... Entre, por favor. - ele disse, dando espaço pra mim passar.
Quando entrei no apartamento, vi que ele estava falando sério que tinha um grande grupo de dançarinos. O apartamento estava cheio de pessoas, tantas que eu ainda não tinha conseguido destinguir se haviam mais mulheres ou homens.
- Hei, pessoal! - Martin chamou a atenção deles, colocando uma mão em minhas costas e ficando ao meu lado. - Pablo, você pode abaixar o som, por favor? - um homem loiro assentiu e abaixou o som. O apartamento ficou quase em silêncio. - Então, pessoal... A estrela da noite chegou!
- Até que enfim! Oh meu Deus, você é ainda mais linda pessoalmente! - disse uma menina sorridente, chegando perto de mim e me abraçando com força.
A abracei também e sorri, ainda a ouvindo dizer o quanto eu era bonita. Foi impossível conter que a vermelhidão chegasse ao meu rosto.
- Okay, Becky, espere! Você terá muito tempo pra tietar Alice, contenha-se! - Martin disse, rindo pra ela.
Becky me soltou e olhou pra Martin.
- Olha aqui, Martin, eu sou fã dessa mulher desde Burlesque, você não vai me conter agora! - ela disse pra e então se virou pra mim, sorrindo. - Aliás, eu me chamo Rebecca, mas todos me chamam de Becky.
- É um prazer conhecer você, Becky. Fico muito feliz que aprecie meu trabalho... - falei, sorrindo pra ela.
- Eu amo o seu trabalho e o que você faz! Um dia eu vou ser como você, garota... - ela piscou.
- Certo, Becky, é o suficiente por hora, ok? - Martin disse. - Venha, eu vou te apresentar a todo o pessoal.
Certamente eu já havia perdido a conta de quantos rostos havia visto, mas estava sendo divertido. Todos eram muito simpáticos e me trataram muito bem, me interando nos assuntos e puxando um pouco o meu "saco". Eu apenas fiz de tudo pra mostrar que era como eles e não era porque tinha sucesso e era casada com um homem de sucesso, que eu tinha que ser tratada de forma diferente.
Eu já me sentia um pouco tonta com a bebida e também estava começando a ficar melancólica. Álcool nunca foi o meu forte e eu realmente não estava acostumada a ficar bêbada. Enquanto ouvia o pessoal conversar, comecei a me desligar um pouco de tudo, pensando no que Michael deveria está fazendo.
Provavelmente era dia em Praga, e eu queria saber se ele estava sentindo a minha falta, porque, eu estava sentindo muito a falta dele, mesmo sem deixar isso transparecer.
- Hei, Alie... - Martin me chamou, sentando-se ao meu lado. - O que houve? Você ficou calada de repente...
- Não é nada... - falei olhando para meu copo de marguerita que estava vázio. - Eu apenas estou me sentindo um pouco melancólica...
- Ah sim, eu posso entender... Por conta de Michael, não é?
Eu apenas assenti, sem querer falar sobre aquilo realmente. Eu não queria chorar na frente de todo mundo e era isso que iria acontecer se eu começasse a falar de Michael.
- Alie, eu realmente não gosto de te vê assim... - ele colocou a mão por cima da minha. - Eu queria tanto que você ficasse melhor, se sentisse melhor. Não deixe que Michael a deixe triste assim.
- Não é algo que ele ou eu podemos controlar, Martin. Eu o amo e não estou acostumada a ficar longe dele por tanto tempo, principalmente brigada com ele.
- Mas será que ele está desse jeito que você está, Alice? Talvez ele esteja muito bem, e você está aqui, sofrendo por conta dele. - ele suspirou. - Venha comigo, eu quero que você relaxe e aproveite nossa pequena reunião de verdade. Sei como conseguir isso.
Ele se levantou e estendeu a mão pra mim. Meu olhar ficou parado em sua mão aberta, ainda tentando assimilar o que ele disse. Talvez Martin tivesse razão... Talvez Michael não estivesse ligando pra mim, enquanto eu estava deprimida por conta dele.
Peguei a mão de Martin e me levantei. Ele segurou minha mão e me levou por um corredor até chegarmos em uma sala que tinha sido feita de escritório. Assim que entramos ele fechou a a porta e apontou para a cadeira que estava em frente a mesa. Fui até lá e me sentei, observando-o dar a volta e começar a mexer em algumas gavetas. Quando achou o que queria, veio até a mim e se sentou ao meu lado.
- Promete não se assustar, Alie? Isso que eu vou te dar agora não é nada demais, é apenas algo que vai te ajudar a superar seus problemas e curtir um pouco mais a vida.
Olhei pra ele e sorri de lado, reprimindo uma risada sem humor.
- E existe um remédio pra isso, Martin?
- Isso aqui não cura, mas ajuda... Muito, na verdade.
- E o que seria "isso"? - perguntei, começando a ficar curiosa.
Ele abriu a mão direita e me deixou vê três pacotinhos transparente cheios de um pó branco. Olhei direito tentando reconhecer o que poderia ser aquilo, mas nada me veio a mente.
- Não reconhece? - ele sorriu de lado e abriu um deles, jogando todo o pó na mesa.
Com um estilete fino, ele separou o pó em carreiras com uma habilidade impressionante. Ao vê o pó ficar separado em várias fileiras finas e longas, o reconhecimento chegou ao meu cérebro, me deixando assustada.
- Isso é cocaína. - murmurei, ainda olhando para as carreiras de pó a minha frente.
- Sim... Mas eu costumo chamá-las de 'amigas'. - ele disse.
- Como droga pode ser "amiga" de alguém, Martin?
- Querida, não é assim... Preste atenção, você precisa saber usá-la da forma correta. Obviamente você não vai fazer uso dela todos os dias, durante vinte e quatro horas, isso sim faz mal, mas usá-la apenas para desestressar, se livrar dos problemas, isso é uma ajuda.
- E você usa isso pra se livrar dos problemas? - perguntei de forma sarcástica.
- Sim. - ele disse, balançando a cabeça. - E está vendo? Eu estou bem até hoje, não sou um víciado ou algo do tipo, Alie. Você tem o total domínio da sua mente, lembre-se sempre disso, quando você quiser parar é só ordenar o seu cérebro e pronto, você vai parar.
Fiquei em silêncio, apenas escutando o que ele estava dizendo. Era um absurdo, eu nunca me imaginei usando aquele tipo de coisa.
- Preste atenção, baby... - ele puxou meu queixo para olhá-lo. - Eu jamais daria algo pra você que não lhe fizesse bem. Acima de tudo, Alie, você é minha amiga e eu gosto muito de você. Isso aqui é apenas para você se esquecer um pouco dos problemas... Apenas prove, certo? Prove e se você não gostar, nunca mais precisa usar.
- Eu... Eu não posso, Martin. Isso é errado.
- Não é, Alice. Confie em mim.
Eu não deveria confiar nele, meu coração pedia para não confiar nele, mas o que ele estava me prometendo... Me livrar de todos os meus problemas era o que eu mais precisava agora, era tudo o que eu queria e eu estava disposta a fazer qualquer coisa para obter aquilo.
- Como se faz? - perguntei.
- Pra usar? - ele perguntou e eu assenti. - Sempre soube que você era o tipo de mulher corajosa, Alie. É muito fácil. Você tem apenas que tampar uma das narinas e se aproximar... Da nossa 'amiga', - ele sorriu. - Você vai respirar pela outra narina e a nossa 'amiga' vai junto, então você solta a outra narina, joga a cabeça pra trás e funga. É apenas isso.
Mordi o lábio, sem saber ao certo como prosseguir. Ele me olhou e sorriu de lado.
- Eu vou amostrar a você, certo?
Assenti e ele tampou a narina esquerda, se aproximando da mesa. Respirando rápido, quase toda a primeira carreira de pó foi pra dentro dele e então ele jogou a cabeça pra trás, fungando algumas vezes. Logo depois me olhou, passando a mão pelas narinas.
- Viu? É simples, baby e eu sei que você consegue.
Olhando pra ele mais uma vez, tampei minha narina esquerda e me aproximei da mesa. Senti quando ele segurou meus cabelos e eu até pensei em protestar, mas respirei inconscientemente e o todo o pó entrou em meu nariz, me pegando de surpresa. Senti um pouco de cócegas em dentro de meu nariz e Martin puxou minha cabeça pra trás delicadamente. Comecei a fungar porque eu realmente senti necessidade daquilo, parecia que o pó ainda estava em minha narina.
Rapidamente uma sensação de tontura, prazer e esquecimento tomou conta de todo o meu cérebro, algo que me deu vontade sorrir.
- Parece que alguém gostou do resultado... - ouvi Martin dizer, enquanto eu continuava de olhos fechados, apreciando tudo aquilo. - Não é bom?
- É sim... - murmurei. - É muito bom, parece que... Que eu estou flutuando, sei lá!
Ele riu e eu ri também, levantando minha cabeça e olhando pra ele.
- Eu quero mais disso, garoto! Eu gostei.
- Então, tome mais um pouco, baby...
Ele aproximou a próxima carreira e eu usei de novo, e depois de novo, até começar a sentir a ponta dos meus dedos dos pés ficarem dormente. Era impossível explicar a sensação, eu apenas sentia vontade de rir e se eu fechasse os olhos, o prazer do entorpecimento tomava conta de mim. Tudo era bom demais.
- Agora chega, mocinha, nossa 'amiga' já te ajudou muito por hoje!
- Ah não... Só mais... Um pouquinho, Martin... - pedi, sentindo minha língua pesada e minha cabeça girar muito, como se não conseguisse parar no lugar.
- Nada disso... Eu vou colocar um pouco dela na sua bolsa e vou chamar seu motorista, a senhora precisa ir pra casa descansar.
- Mas agora eu quero aproveitar a festa...
- Eu faço outra festa pra você, querida, não se preocupe, certo? - senti meu corpo ser erguido e forcei os olhos para vê o que estava acontecendo. Martin havia me pego no colo e logo depois senti algo fofo abaixo de mim. - Fique deitada aqui no sofá, eu já volto. Nem tente sair daí, apesar de eu achar que você não vai conseguir de qualquer forma...
Ouvi seus passos se afastarem e o silêncio tomou conta de todo o escritório. Minha mente continuava a girar e girar até que a escuridão me tomou completamente.
Capitulo 14
06 de setembro de 1996
Tentei abrir os olhos e assim que consegui os fechei novamente. A luz havia acabado de massacrar minha mente. Sentia tudo queimando de um modo que nunca senti em toda a minha vida. Ainda de olhos fechados, tentei me lembrar da última coisa que eu havia feito.
Quando a cena de Martin e eu dentro de seu escritório chegou a mim, eu dei um pulo, começando a olhar em volta. Eu estava em meu quarto, ainda com a roupa da festa. Apesar da luz ainda me incomodar bastante e minha cabeça está ponto de explodir, eu queria entender o que havia acontecido.
"Eu vou colocar um pouco dela na sua bolsa e vou chamar seu motorista, a senhora precisa ir pra casa descansar."
Um pouco dela... Um pouco da 'amiga'! Olhei em volta e vi minha bolsa em cima da mesa de cabeceira. A abri rapidamente, jogando tudo que havia dentro dela em cima da cama e vi dois pacotes com pó branco cair rapidamente. Meu coração deu um baque, enquanto minhas mãos iam a minha cabeça.
Eu havia usado cocaína! E se aquilo era um efeito colateral que ela dava, eu nunca mais iria usá-la! Eu ao menos me lembrava de como havia chegado em casa... Na verdade, eu havia apagado no sofá de Martin. Tudo estava muito confuso, mas eu me lembrava muito bem da sensação que aquela coisinha havia me dado. A sensação do prazer, do entorpecimento... Era quase palpável e tudo dentro de mim implorava para sentir aquilo novamente.
- Não, Alice! Você tem o controle de sua mente e isso aqui é... Só para caso de emergência! - falei comigo mesma, colocando tudo dentro da bolsa. A última coisa que eu queria era que alguém visse cocaína em cima da minha cama.
Passei a mão pelos meus cabelos e passei o olho no relógio, levando um susto ao perceber que já passavam de uma da tarde. Me levantei com cuidado, sentindo tudo ainda rodar um pouco e então fui em direção ao banheiro.
Um banho frio certamente faria com que tudo aquilo acabasse logo.
-----
Estava terminando de descer as escadas quando ouvi os gritinhos de felicidade de Prince. Um sorriso veio ao meu rosto e terminei de descer tudo correndo, querendo vê-lo logo.
Ao chegar na sala, vi Prince em pé na frente de Elizabeth, ela estava concentrada mostrando a ele um brinquedo. Os dois ainda não haviam percebido minha presença e eu fiquei apenas me perguntando porque Liz estava ali e ninguém tinha ido me chamar.
- Olá... - falei, sorrindo e entrando na sala.
Prince se virou e sorriu pra mim, balançando os braços.
- Mama... - ele gritou sua versão de "mamãe" rindo. O peguei no colo e o enchi de beijos, me sentando em uma poltrona de frente para Liz.
- Oi meu amor... Você estava fazendo bagunça com sua madrinha, é? - perguntei, vendo-o sorrir. - Como você está, Liz? Por que ninguém me avisou que você estava aqui?
- Eu estou bem, querida... Grace havia lhe chamado, mas você estava dormindo e eu decidi esperar por você.
Senti meu rosto ficar quente enquanto me sentia envergonhada.
- Me perdoe, Liz... Eu abusei do sono hoje. Não venho dormido muito bem nas últimas noites... - falei, dando uma desculpa, apesar da minha falta de sono ser uma verdade.
- Não se preocupe, meu bem... Prince me fez companhia durante esse tempo, brincamos muito juntos. - ela sorriu. - Eu vim aqui porque queria saber como você estava e também pra conversar com você, Alice.
Seu tom se tornou mais sério na última frase e eu logo soube qual era o assunto que ela queria tratar comigo.
- Certo... - murmurei, me virando para Prince. - Meu amor, que tal ir com a tia Mary vê desenhos, hm?
Ele olhou pra mim e gritou, saindo do meu colo e indo até a babá. Pegando a mão dela, os dois sairam da sala, enquanto Grace entrava com uma bandeja. Quando ela saiu, me virei para Elizabeth.
- Pronto, Liz... Estamos a sós agora.
Ela tomou um pouco do seu chá e me olhou por cima da xícara.
- Você já sabe sobre o que vim conversar, não é mesmo, Alice?
- Tenho uma vaga ideia... - falei, tentando fazer de tudo pra não soar sarcástica.
Aquela famosa raiva e aquele famoso sarcasmo estava começando a subir por minhas veias, e era algo que eu não estava conseguindo evitar.
- Ótimo, assim não preciso dar voltas pra onde chegar onde eu quero. - ela disse, colocando a xícara em cima da bandeja. - O que está havendo, Alice? Por que aceitou aquela proposta descabida de Martin Rock?
- Pelo o que vejo, Michael te deixou a par de algumas coisas, mas acho que não de tudo, Liz... - falei, me recostando na poltrona e olhando pra ela.
- Ele me deixou a par de tudo, Alice. Eu sei sobre a viagem, sobre o clipe, sobre a mentira dele... Sei sobre isso, na verdade, eu sempre soube.
Olhei pra ela se acreditar no que estava ouvindo. Minhas mãos se fecharam em punho, enquanto eu respirava fundo.
- Então até você sabia sobre tudo?
- Sim, Alie, eu sabia... Mas não pense que compactuei com isso...
- Compactuou sim, Elizabeth, desde o momento em que você sabia de tudo e não me contou, é óbvio que você compactuou! - falei, me esforçando pra não gritar.
- Alie, por favor, me deixe falar... - ela suspirou. - Eu disse a Michael que era errado mentir daquela forma pra você, eu disse pra ele contar...
- Se você sabia que era errado, deveria ter me contado!
- Eu quis contar, mas fiquei com medo de que vocês brigassem. Decidi confiar em Michael, ele disse que assim que chegasse de vaigem iria contar pra você.
- É, mas como você viu, ele não contou.
- Sim, e você descobriu de um jeito completamente errado... - ela me olhou. - Eu entendo sua raiva e sua mágoa, Alice, mas o que você está fazendo não é justo. Não se mostra raiva e mágoa cometendo um erro.
- E que erro que eu estou cometendo? Não vejo nada de errado aqui.
- Não haja como se não tivesse fazendo nada, Alice! Aceitar fazer o musical de Martin Rock é insano, por que não enxerga isso? Você e Michael haviam combinado que você iria parar um pouco pra ele continuar, mas você não está fazendo isso.
- E o que você tem haver com isso? - perguntei antes mesmo que pudesse pensar nas palavras.
Mas eu não me arrependi. Eu estava farta de todo mundo se meter na minha vida, eu queria dar um basta naquilo, dar um basta em tudo.
Elizabeth me olhou, surpresa.
- O que?
- O que você tem haver com isso, Elizabeth? O seu amigo me enganou, me fez de boba e você ainda acha que eu tenho que cumprir o que combinamos? Ah, pelo amor de Deus! E o pior de tudo: você chega aqui achando que fazendo esse discursso irá me fazer mudar de ideia? Eu sou adulta e sei muito bem o que estou fazendo, não preciso que ninguém me diga o que devo ou não fazer.
Ficamos em silêncio, e eu pude sentir o clima tenso da sala. Elizabeth me olhava como se me esperasse dizer desculpas, mas aquilo não iria acontecer. Eu não iria me desculpar quando ela havia mentindo pra mim junto com o meu marido e ainda por cima queria vim se meter em minha vida.
- Alice... - ela murmurou, parecendo chocada. - Eu nunca a ouvi falar assim.
- Pra tudo tem um primeira vez.
- Olha, eu não vou levar nada disso em consideração porque sei que você está nervosa e...
- Eu não estou nervosa, Elizabeth e tudo isso o que eu falei não foi da boca pra fora. Preste atenção em uma coisa: eu nunca me meti na sua vida, nem na vida de ninguém. Estou cansada de que façam isso comigo, como se eu fosse uma criança que não sabe o que está fazendo.
- Mas parece que você não sabe o que está fazendo, Alice. Eu só quero ajudar você.
- Eu dispenso sua ajuda, na verdade, eu não preciso de ajuda alguma!
Ela balançou a cabeça.
- Michael está certo. Esse tal de Martin Rock está fazendo sua cabeça e isso está acontecendo mais rápido do que eu poderia imaginar.
- Não tem ninguém fazendo minha cabeça, Martin é apenas meu amigo, mas eu respondo por meus próprios atos. Eu estou cansada de ser sempre boazinha, de sempre me colocar em último lugar pra cuidar dos sentimentos dos outros. Eu estou pensando em mim pela primeira vez na vida e eu não vou parar agora!
- Isso não é pensar em si mesma, Alice, se fosse, você veria o mal que está fazendo, não só a si mesma como a seu casamento.
- Um casamento é feito de duas pessoas, Liz, então essas duas pessoas tem que cuidar e lutar juntas por coisas que querem. Se Michael não luta pelo nosso casamento, eu não posso fazê-lo sozinha.
- Michael pode está sendo orgulhoso, Alice, mas você sempre lutou para mostrar a ele que esse orgulho não o leva a nada...
- É, eu sempre lutei. - falei, a interrompendo. - Eu, eu e eu, é sempre só eu. Estou cansada de fazer as coisas sozinha para todos.
Ela suspirou e se levantou, pegando sua bolsa.
- Eu só espero, do fundo do meu coração, que você não se arrependa disso, Alie. Estou disposta a te ajudar sempre, eu não vou mais me meter aqui, mas você pode me ligar quando quiser. - ela se aproximou e deu um beijo em minha testa. - Eu amo você querida, apesar de tudo isso que está acontecendo, eu amo você.
Capitulo 15
Praga - 06 de setembro de 1996
Elizabeth chegou em casa com a voz de Alice reverberando em sua mente. Ela repetiu a conversa várias e várias vezes em sua memória e ainda não tinha conseguido achar um motivo real para Alice ter tido aquele ataque.
A forma como ela havia falado estava muito, muito longe de quem ela era realmente. Elizabeth sabia que Alice não era daquele jeito, sabia que ela jamais reclamaria de ajudar alguém, de amar alguém, mas no entanto... Alice estava diferente, como se algo estivesse dentro dela, a impulssionando a fazer todas aquelas coisas.
Apesar de saber que tudo aquilo poderia sim ser influência de Martin, Alice havia passado muito pouco tempo perto dele para está tão influenciada assim. Para ela, Alice já estava abalada emocionalmente por conta da briga com Michael e Martin se aproveitou de tudo aquilo para colocar ideias ruins na cabeça dela.
"Ideias realmente ruins..." , ela pensou, ao se lembrar do relato de Grace sobre como a patroa havia chegado em casa na noite anterior. Eram meia-noite quando Gary foi contactado para buscá-la na casa de Martin, e quando chegou as duas da manhã, Alice estava desacordada. Grace disse que havia ficado preocupada com aquilo, nunca havia visto Alice daquela forma, porém, ela sabia que aquele não era um desmaio ou algo parecido.
Alice estava bêbada. De tal forma que havia apagado antes mesmo de Gary chegar a casa de Martin. A decepção tomou conta de Elizabeth, seu coração doeu e avisou a ela que aquilo poderia piorar se todos não ajudassem Alice.
Sentando-se em sua cama e pegando o telefone, ela ligou para o quarto onde Michael estava hospedado. Ele sabia que ela iria conversar com Alice e havia dito que era pra ela ligar assim que voltasse. Depois de quatro toques, ela ouviu a voz suave de Michael ao telefone:
- Alô?
- Olá, meu bem... É Elizabeth.
- Oi, Liz... - ele sorriu. - Me diga que tem boas notícias, por favor.
Ela suspirou, sem saber por onde começar. Decidira que seria honesta com Michael e não esconderia nada dele. Assim ele poderia ajudar Alice, do mesmo que ela estava disposta a fazer.
- Eu sinto muito, Mike, mas não tenho boas notícias.
- Não? Oh Deus, Liz... Me conte o que houve, eu estava com tanta esperança!
Ela deu um sorriso triste, como se ele estivesse na frente dela, observando a compreensão em seus olhos.
- Eu sei, Mike e eu também estava com muita esperança, mas tudo caiu por Terra com a conversa que tive com Alice. Ela realmente está muito diferente, Mike. - ela fez uma pausa, pensando por onde deveria começar. - Eu cheguei a Neverland um pouco antes do meio-dia, sem avisar e Grace me disse que Alice estava dormindo...
- Alice? Dormindo até meio-dia? Impossível, Liz, ela sempre acorda antes de Prince.
- Eu sei, eu também estranhei, mas ela realmente estava dormindo. Grace me explicou o porque e... Creio que você não vai gostar, Michael, mas eu decidi contar tudo logo. Chega de mentiras entre vocês dois, foi por causa de mentiras que tudo isso começou.
- E eu quero que você me conte tudo, Liz. Me esconder as coisas vai ser ainda pior.
- Certo... Ontem a noite Alie foi a casa de Martin. Grace me disse que achava que ia ter uma festa lá, não sei ao certo e, bem... Gary a levou e foi buscá-la meia-noite. Ele chegou a Neverland com Alie desacordada...
- Desacordada?! - ele a interrompeu. - Como assim desacordada, Liz? Ela estava machucada? Se aquele filho da puta fez algo a ela... Eu juro que cancelo tudo aqui e volto para os Estados Unidos apenas para matá-lo! - ele grunhiu.
- Acalma-se, Michael. Ela não estava machucada nem nada do tipo, ela estava... - ela hesitou. - Ela estava bêbada, Michael.
- O que?! - ele gritou. - Bêbada? Impossível, Liz, Alice nem ao menos bebe pra chegar perto de ficar bêbada...
- Mas ela estava, Mike. Confesso que na hora e eu não acreditei, mas quando ela apareceu na sala... Ela estava com a cara horrível de ressaca.
- Eu não posso acreditar... - ele murmurou com a voz decepcionada.
Sua esposa estava parecendo uma desconhecida. Ele não conhecia aquela Alice.
- Eu também não, Mike. Quando ela desceu e eu disse que queria conversar com ela sobre algo sério, sua feição mudou. Ela sabia muito bem o assunto que havia me levado ali e não se preocupou em disfarçar descontentamento com isso. Eu conversei com ela do jeito de sempre, tentando entender o ponto de vista dela e explicar o que estava errado, mas ela simplesmente disse que não era pra eu me meter. Que ela sempre pensou em nós primeiro e se colocu em último lugar e agora estava começando a pensar mais em si própria e nós estamos querendo fazê-la parar com isso.
- Ela disse isso? Disse pra você não se meter?
- Sim. Ela estava furiosa e não se preocupou em ser gentil. Eu nunca esperei esse comportamento vindo dela, mas aconteceu, Mike e eu realmente estou muito preocupada. O que quer que esse tal de Martin esteja fazendo, ele está obtendo resultados e rápido.
- Não é só isso, Liz. Eu acho que Alice já queria se revoltar a muito tempo, ela apenas achou um motivo pra isso. - ele suspirou. - Eu errei em mentir, sei disso, mas não é motivo pra tudo isso que ela está fazendo, então... Eu simplesmente lavo minhas mãos, Liz, não vou ficar me preocupando com ela, porque ela é adulta e sabe muito bem o que faz. Sei que depois ela vai se arrepender. Eu só espero que ela não largue meu filho de lado por conta dessa rebeldia tardia, eu sou capaz de trazê-lo pra perto de mim mesmo estando no meio de uma turnê.
- Não, Michael, se acalme. Eu te contei tudo isso, mas não foi pra você desistir de Alice, muito pelo contrário. É pra você lutar por ela, pra mostrar a ela que estando ao nosso lado ela pode continuar a pensar em si mesma, mas sem toda essa turbulência que está causando. Escute o que eu digo a você, Mike, deixe o orgulho de lado apenas um pouco, ligue pra ela, o que ela precisa agora é de você ao lado dela, ela precisa sentir isso.
- Você acha que ela vai melhorar se eu fizer isso, Liz?
- Vamos torcer de todo o nosso coração para que ela mude, Mike...
- Certo, eu vou ligar pra ela agora. Muito obrigado por tudo, Liz.
- Eu sempre estarei aqui por vocês, Mike.
Ao desligar o telefone, Elizabeth sorriu com esperança. Ela realmente acreditava que se Michael tomasse partido da situação, tudo iria se resolver. Orava a Deus para que isso realmente acontecesse.
Capitulo 16
06 de setembro de 1996
Depois que Elizabeth foi embora eu subi e me tranquei em meu quarto, sentindo toda a raiva tomar conta de mim.
Era sempre a mesma coisa! Todos chegavam aqui e queria meter o dedo em minha vida, ditando regras sobre o que eu deveria ou não fazer, e eu simplesmente não aguentava mais! Eu queria ser mais livre... Eu queria me livrar dos problemas, de todos os problemas nem que fosse por alguns instantes.
E eu sabia como fazer aquilo.
----
Praga.
Michael desligou o telefone e ficou alguns segundos em silêncio, tentando resolver o que faria a seguir.
Elizabeth parecia está certa. Talvez Alice apenas precisasse de uma prova de que ele estava ali, que ficar com ele não queria dizer que ela não poderia pensar em si mesma. Ele sabia que casamento era assim, um tinha que lutar pelo outro. Amor não era como conto de fadas e ele realmente não queria deixa que seu casamento se afundasse.
Alice era a mulher da vida dele, foi a garota que largou tudo, foi para o outro lado do mundo ficar ao lado dele quando ele mais precisou, ele a amava de todo o seu coração e estava disposto a lutar por ela.
Tirando o telefone do gancho, Michael ligou para o telefone de seu quarto. Tocou cinco vezes, até que ele escutou a voz de Alice do outro lado da linha - pelo menos parecia a voz dela.
- Alô? - ela murmurou.
Ele engoliu em seco. Era a primeira vez que falava com ela desde que viajara, seu coração estava dando pulos de saudades e amor. Michael ignorou o tom de voz dela e se concentrou no que deveria falar.
- Oi, Alie... É Michael.
- Ah... - ela riu do outro lado da linha. - Hm... Michael, acho que... Que você ligou pro telefone errado. Você não deveria ligar pro número do andar de baixo? - ela perguntou.
Michael conseguiu entender o que ela falou, mas mal podia acreditar no quão enrolada estava a voz dela.
- Alice, você bebeu?
Ela riu do outro lado, gargalhou alto, fazendo Michael arregalar os olhos.
- Ah, Michael eu não acredito que você tá me ligando... O que Liz disse pra você?
- Alice, me responda: você bebeu?
Mas ela continuou a rir e falar sobre outra coisa:
- Com certeza ela deve ter dito: "Michael, Alice está louca, ela está pensando nela mesma ao invés de pensar em nós e nos colocar em primeiro lugar"...
- Porra, Alice, para com isso! - Michael gritou, perdendo a paciência que ele nem sabia que estava ao fim. - Você destrata Elizabeth daquela forma e agora fica falando essas coisas e rindo feito uma louca... - ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro. - O que deu em você?!
- Michael... - ela murmurou. - Eu estou com sono... Podemos conversar depois?
- Com sono? Ora, invente outra desculpa, Alice, Liz me disse que você dormiu até bem tarde porque chegou bêbada da casa de Martin... Você não tem vergonha? - a voz dele ficou mais baixa, e ele deixou transparecer toda a dor que havia dentro de si. - Você não pode imaginar o quanto eu estou decepcionado com você.
Mas Alice não ligou. Ela estava como na noite seguinte: chapada. Havia recorrido a sua nova "amiga" pela segunda vez e dessa vez a sensação estava melhor do que antes, visto que ela se sentia em outro mundo e não ouvia nada do que Michael falava.
- Alice, você está me ouvindo? - ele perguntou, mas apenas ouviu o suspiro dela como resposta. - Alice, fala comigo... - ele percebeu que estava falando sozinho quando outro suspiro chegou ao seu ouvido. Alice estava dormindo no outro lado da linha.
Com raiva, ele desligou o telefone e o tacou na parede. Não sabia mais o que fazer, Alice estava fora de si, era como se fosse outra pessoa.
Respirando fundo, Michael se sentou na cama e passou as mãos pelos cabelos, perguntando a si mesmo se aquele era o fim de seu casamento.
Capitulo 17
07 de setembro de 1996
Não sabia ao certo se havia falado com Michael no dia anterior ou não, quer dizer... Eu dormi pelo restante do dia e só acordei a noite com a cabeça latejando, me lembrando vagamente de ter escutado a voz de Michael.
No mínimo tudo não tinha passado de um sonho. Michael jamais me ligaria e se ligasse... Eu jamais perderia a oportunidade de ouvir sua voz de forma coerente.
Olhei no relógio e vi que já marcava nove da manhã. O show de Michael era hoje e eu poderia imaginar o quanto ele deveria está ansioso. Uma vontade de pegar o telefone e ligar pra ele tomou conta de mim, e eu até faria isso, mas era algo que não valia a pena.
Provavelmente, Michael não queria falar comigo e eu deveria apenas engoli toda aquela vontade de correr para os braços dele.
Me levantei e fui em direção ao banheiro, me sentindo mal em vários aspectos, principalmente por não vim dando atenção suficiente ao meu filho. Desde que Michael viajara eu fiquei distante e o meu peito apertava todas as vezes em que ouvia a voz de Prince ou pensava nele. Eu não deveria deixar que minha relação com Michael atrapalhasse tudo, principalmente minha relação com meu próprio filho.
Tomei um banho, sentindo minha cabeça um pouco melhor e então fui ao quarto de Prince. Ele ainda dormia no berço, estava tranquilo e sereno. O peguei em meu colo com cuidado e quando ele começou a resmungar eu apenas sussurrei em seu ouvido, sentindo-o se acalmar prontamente. Nada no mundo me deixava mais completa do que ter meu filho comigo e isso era algo que eu jamais abriria mão.
Me sentei em uma poltrona com ele em meu colo, vendo-o suspirar e voltar a dormir. Um sorriso se formou em meus lábios quando ele sorriu em meio ao sono.
- Sra. Jackson? - Grace me chamou, parada na porta do quarto de Prince. - Telefone pra senhora, é Martin Rock.
Ela se aproximou e me deu telefone, deixando o quarto logo depois.
- Olá, Martin. - falei ao telefone, ainda olhando para meu filho adormecido.
- Oi, Alie... Liguei pra saber como é que você está. Está tudo bem?
- Se eu disser que está tudo bem, estarei mentindo... Mas estou me sentindo melhor.
- Isso é realmente ótimo, querida. - ele sorriu. - Bem, eu li jornal que hoje é a estreia da nova turnê de Michael. Achei muita coincidência você marcar o primeiro dia de ensaio para justamente o dia da estreia da HIStory World Tour.
Deixei que meu primeiro sorriso sarcástico do dia rompesse de meus lábios.
- Não é coincidência alguma. Eu quis marcar no mesmo dia, Martin, porque não quero ficar em casa e pensar que Michael deve está em cima do palco, sem ao menos ligar pra mim.
Em cima do palco vestindo a calça dourada. Pensei, sentindo um leve tremor de raiva perpassar meu corpo.
- Está certa, Alie, você está totalmente certa. Eu te espero aqui, mais tarde. Não se atrase porque uma van nos levará até o local de ensaio. - ele fez uma pausa. - Até mais, Alie.
- Até mais, Martin.
Desligamos o telefone e eu beijei a testa de Prince, prometendo em pensamento que eu não iria ficar longe dele.
----
- Michael, cinco minutos. - disse seu assistente, fechando a porta atrás de si.
Michael se olhou no espelho mais uma vez, querendo enxergar o figurino dourado que estava vestindo, mas seus olhos não se fixaram ali. Apenas a imagem de Alice e Prince preencheram seu campo de visão.
O sorriso deles, a forma como eram parecidos, o jeito que olhavam para ele quando ele chegava em casa. O amor nos olhos de Alice, algo que sempre esteve lá e que ele nunca pensou que sentiria tanta falta quanto estava sentindo naquele momento.
Como ele a amava. A amava mais do que qualquer coisa que ele poderia imaginar. A falta que estava fazendo estava o matando lentamente e naquele momento ele sabia que trocaria tudo para ter ela e Prince ao seu lado.
Ainda se perguntava porque as coisas tinham de ser tão difíceis. Estava tudo tão bem, e então, sem aviso algum, tudo desmoronou. Obviamente ele sabia que um casamento não é feito apenas de momentos felizes, mas nunca imaginou que ficaria tanto tempo longe de Alice. Nunca pensou que qualquer outro sentimento poderia superar o amor que sentiam um pelo outro.
Será que ele tinha de lutar? Será que ele tinha de largar tudo naquele exato momento e ir até ela, de joelhos, pedindo desculpas?
Mas... Nem tudo era culpa dele. Claro que tudo começou por conta de sua mentira, mas Alice também estava bastante errada naquela história.
Será que ele tinha que... Esquecer tudo e apenas fazer como Alice fazia? Esquecer dos outros erros e ir pedir desculpas? E se ela não aceitasse e o julgasse, ou pior... E se Alice não o quisesse mais?
Eram tantas perguntas e Michael tinha muito, muito medo de descobrir as respostas.
- Michael, está na hora. - seu assistente falou, esperando por ele.
Michael suspirou e se virou, pedindo a Deus direção e discernimento para o que quer que ele tivesse que fazer para recuperar seu casamento. Estava disposto a colocar o orgulho de lado mais uma vez e esperava que dessa vez, tudo desse certo.
----
Martin havia fechado uma casa de show para que pudéssemos ensaiar. Eu sabia que ele estava pensando alto, mas antes de irmos para casa de show, ele fez uma pequena reunião com toda equipe, onde estava incluso o advogado, o empresário do musical e o empresário da Broadway.
Eles comunicaram que a estreia para o musical seria dia 18 de novembro, em Londres. Um vinco se formou em minha testa na mesma hora e então Martin surpreendeu a todos dizendo que o musical estreiaria no Estadio de Wembley, em Londres, depois fechariamos casas de show pela cidade, para que em dezembro retornássemos aos Estados Unidos e fizessêmos uma temporada pela Broadway, em Nova York e em Los Angeles.
Seria o primeiro musical da Broadway que não seria lançado em Nova York, e eu realmente fiquei entusiasmada com aquilo. Seria simplesmente fantástico!
Quando chegamos a casa de show, estavam lá o figurinista, mais dois coreógrafos, backvocals e uma banda inteira que estava montada no palco. Tudo aquilo estava realmente me deixando excitada para começar a ensaiar.
- Certo, pessoal, vamos começar da seguinte forma: as meninas ficam aqui com Cary, nossa coreógrafa e os meninos ficam do outro lado do palco, com Roger, nosso outro coreógrafo. Iremos dividir assim por enquanto, porque nas primeiras músicas a coreografia de vocês é diferente. Alice, venha comigo. Irei te apresentar a nossa banda e musicos e também te apresentar a Samantha e Carlos, nossos compositores.
Fui com ele até o centro do palco, e logo conheci a todos. Samantha e Carlos eram bastante gentis, e me mostraram todas as músicas que haviam escrito, enquanto Martin citava cada uma delas, dizendo o quanto elas deveriam ser sensuais e doces na hora da dança.
Era um total de 30 músicas e teríamos que escolher 10. Peguei todas as 30 comecei a ler uma por uma. Queria saber cantar todas para podermos escolher da forma correta.
Eu realmente queria que aquele musical desse certo, e lutaria por isso.
Capitulo 18
14 de setembro de 1996
Com 10 músicas escolhidas e aprendendo as coreografias, o musical estava começando a andar de verdade.
Como o musical se iniciava em novembro, estávamos correndo por conta de algumas viagens que teríamos que fazer até Londres.
No momento o mundo falava sobre a turnê de Michael. Seu primeiro show em Praga reuniu um público de 160 mil pessoas e até mesmo os tablóides que gostavam de o criticar, tiveram que abaixar a cabeça e o elogiar. Confesso que gostei muito daquilo e senti muito orgulho por Michael. Mesmo ele usando aquela calça dourada e tendo mentido pra mim, eu jamais torceria contra ele.
Ele continuava ligando lá pra casa e passara a perguntar por mim, pedindo pra falar comigo mas eu sempre recusava. Eu não queria falar com ele e perder a coragem de tudo o que estava reunindo dentro de mim. Às vezes, quando o estresse falava mais alto sobre mim, eu recorria a solução que Martin havia me apresentado. Isso estava acontecendo com frequência, mas eu simplesmente não conseguia parar e ás vezes era muito mais forte do que eu.
- Alice, você escutou o que Auguste disse? - Martin perguntou, chamando minha atenção.
Olhei em volta e vi Auguste me olhando com expectativa. Ele era nosso figurinista e estava falando sobre suas ideias de roupas, mas meus pensamentos me levaram para longe no meio da conversa.
- Oh, me perdoe, você estava dizendo sobre eu começar vestindo um macacão, não é isso?
- Sim e também... Bem, é apenas uma ideia, Alie, mas combinaria muito com todo o musical. - ele olhou para Martin e eu. - Eu sugiro que você pinte o cabelo de preto.
- O que? - perguntei, quase em um grito.
- É que seu cabelo está no tamanho ideal e não seria justo colocar uma peruca, até porque, no meio da dança tem muitos movimentos em que você joga o cabelo... Pense no quão legal seria mudar de visual, Alie. Você loira fica muito romântica, e a aura do musical é mais sensual e rebelde. Você ficaria linda de cabelo preto.
- Eu... Eu não sei, eu nunca pintei meu cabelo... - falei, passando o dedo pelas pontas de meus cabelos.
- Alie, eu te garanto que você vai ficar linda. - disse Martin. - Pense bem, é para que nosso musical saia perfeito.
O que era um cabelo de outra cor? Eu só teria de pintá-lo e mais nada, quando acabasse o musical, eu voltaria a ser loira.
- Está certo, eu pinto o cabelo. - decidi.
Auguste bateu palmas, em seu melhor estilo gay.
- Ótimo, Alice, realmente ótimo. Você tem algum cabelereiro de sua preferência? Eu conheço um dos melhores cabelereiros de Los Angeles, e tenho certeza que ele não se recusará de vir aqui fazer o seu cabelo.
- Agora? - perguntei.
Eles realmente estavam com pressa. Auguste assentiu. Eu até tinha um cabelereiro, mas era o mesmo de Liz e eu não queria ter de fazer nada com ele, porque ele sempre contava tudo pra ela. Ter Elizabeth em minha casa de novo para se meter em minha vida era o que eu menos queria naquele momento.
- Tudo bem, você pode chamá-lo.
Ele deu pulinhos e foi até o telefone. Martin se sentou ao meu lado no sofá e segurou minha mão.
- Não precisa ter medo, olha, você está na minha casa e se por acaso não gostar desse tal cabelereiro, pode correr e se esconder no meu quarto, certo? - ele disse em tom de brincadeira.
Revirei os olhos e ri, pensando que ultimamente apenas ele estava sendo meu amigo de verdade e se desdobrando para colocar um sorriso em meu rosto.
- Certo, eu irei me lembrar disso. - falei, piscando pra ele.
----
Assim que pisei no hall de casa, ouvi vozes vindo da sala. Eu podia ouvir os gritinhos de Prince, mas também ouvia risadas masculinas, risadas conhecidas. Com a curiosidade latente, entrei na sala e meu coração quase parou.
Michael estava ali, com Prince em seu colo. Ele estava conversando animadamente com Frenci e Mark e eles ainda não haviam me visto.
- Mama! - Prince gritou, me chamando com os braços estendidos.
Todos eles se viraram e me olharam e então arregalaram os olhos. Mark ficou de boca aberta e Michael desmanchou o sorriso que estava em seus lábios. Eu não havia entendido o porquê daquelas feições.
- Deus, Alice, o que houve com você?! - Mark perguntou alto demais.
- Como o que houve comigo? Eu estou bem. - falei, ainda querendo entender o porquê deles estarem tão assustados.
- O seu cabelo está... Diferente. - Frenci comentou.
Ah... Então era por aquilo. Sorri de lado e passei a mão por meus cabelos pretos, olhando pra eles.
- Sim, eles estão pretos! - afirmei, sorrindo. - Não estão incríveis?
- Não... - Michael respondeu. - Eles não estão incríveis, quem disse que estavam? Ah, não, não precisa responder. Martin Rock disse que estavam bonitos, não é?
Mark pegou Prince no colo e junto com Frenci, saíram discretamente da sala. Michael ainda me olhava com precisão.
- O que você está fazendo aqui? - perguntei. - Não era pra está em turnê?
- Bem, aqui é minha casa. Posso vir pra cá quando eu quiser.
- Verdade, realmente é verdade. Me desculpe por perguntar, Michael e só pra você saber, Martin disse sim que meu cabelo está bonito, mas eu estou me sentindo bonita assim. É para o musical e eu acabei gostando, é sempre bom mudar de visual de vez em quando.
- Tudo o que você faz agora é para o musical, Alice. Mas enfim... - ele limpou a garganta e se levantou, se aproximando de mim. - Meu próximo show é apenas no dia 18 e eu resolvi vir aqui para vê vocês. Você não quer falar comigo por telefone, se recusa a me falar um 'oi'. O que está acontecendo? Eu sei que estamos brigados, mas eu quero dar um basta nisso. A última vez que ouvi sua voz foi quando te liguei e você dormiu ao telefone, Alice! Dormiu, se lembra disso?
- Eu dormi? - perguntei, tentando me lembrar. - Quando foi isso?
- No dia que Liz esteve aqui... Eu te liguei a noite e você me atendeu, você estava estranha e então disse que estava com sono... Logo depois eu só escutei sua respiração no telefone. - ele suspirou e se aproximou mais, colocando a mão em meu rosto. - Por favor, Alie, vamos acabar com isso. Eu não suporto ficar brigado com você, realmente não suporto.
- E pra acabar com a nossa briga, você vai sugerir que eu largue o musical e viaje com você... - falei, tirando sua mão de meu rosto e me afastando. - Eu estou farta disso, Michael, de sempre fazer tudo o que você quer. Tudo bem, vamos fazer as pazes, mas cada um cuida da sua vida profissional do jeito que quer. Você não se mete no meu musical e eu não me meto na sua turnê.
Cruzei os braços e fiquei olhando pra ele, esperando sua resposta. Ele ficou me olhando, não sei ao certo se pensava em minha proposta ou não, porque sua expressão deixava escapar nada.
Ele balançou a cabeça e então disse:
- Eu estou tentando, Alice, realmente estou tentando salvar o nosso casamento, mas eu não consigo sozinho. Você precisa cooperar comigo, ou então enxegar que se esse musical fosse realmente tão bom assim, não deixaria a gente nessa situação. Eu sei que errei ao mentir pra você, mas tudo desmoronou de verdade quando você decidiu aceitar a proposta daquele cara.
- Desmoronou porque você não aceitou que eu seguisse com minha carreira. Porque nós combinamos tudo, Michael, mas acima de tudo combinamos que não haveria mentira entre nós. Você foi o primeiro a romper o nosso trato.
- Eu pedi desculpas! Poxa, Alice, eu implorei pra você me desculpar, mas ao invés disso você resolveu ter um ataque de adolescência tardia. Porque pra mim, é assim que está sendo a sua atitude, uma atitude de adolescente rebelde. Mas acontece que você é uma mulher de 25 anos e não uma adolescente de 15!
- Ah é, porque, o que era mesmo que eu estava fazendo quando tinha 15 anos? Oh, é mesmo, eu tinha acabado de perder minha mãe e estava estudando de manhã e trabalhando em uma lanchonete a tarde pra sustentar meu pai que estava afogado na mágoa e na bebida. E com 18 anos? Ah sim, eu estava cuidando de Mark, quando os pais dele o expulsou de casa ao saber que ele era gay. E com 22 anos, o que eu estava fazendo? Ah, eu estava largando tudo e indo viajar para o outro lado do mundo, para cuidar do meu melhor amigo quando ele mais precisou de mim.
"E quem fez o mesmo por mim? Ninguém nunca largou nada ou fez nada próximo do que eu fiz. Eu não tive adolescência porque tive que ser adulta aos 13 anos, quando perdi minha mãe e vi meu pai desmoronar. Eu tive que trabalhar, porque senão perderíamos tudo, a única coisa que tinhamos era nossa casa, mas e o resto? E comida, roupa e tudo? E amor? Eu perdi minha mãe, mas junto perdi meu pai também, até os meus 17 anos, quando ele finalmente percebeu que estava se matando e me levando junto consigo.
"Eu ajudei a meu pai, eu ajudei a Mark, eu ajudei a você, Michael... Não me arrependo, eu realmente não me arrependo, mas não venha me falar que eu estou tendo um ataque de adolescência tardia porque eu ao menos sei o que é ter adolescência, é algo que eu realmente nunca tive. Eu sou adulta o suficiente pra saber o que eu estou fazendo, pra assumir meus atos. Eu só estou cansada de lutar sozinha por tudo."
Ele ficou parado, acho que apenas absorvendo tudo o que eu disse. Minha vida entre os meus 13 e 17 anos sempre foi algo que eu apenas contei por alto para todos, apenas Mark sabia de tudo e agora Michael estava descobrindo de um jeito estranho, no meio de uma briga, mas eu me senti leve depois de ter dito tudo aquilo.
- Eu... Alie, eu realmente não sabia disso. - ele disse, me olhando. - Por que você nunca me contou?
- Porque é uma parte da minha vida que me machuca. Uma parte que eu quero apenas esquecer. Eu sempre fui feliz ao seu lado, Michael, não queria estragar tudo com momentos de tristeza.
- Você não iria estragar nada, Alie...
- Eu sempre fui forte. Eu estou me mantendo longe porque quero continuar forte, eu não quero desmoronar, eu não quero chorar porque está tudo uma droga entre nós. - falei, o interrompendo. - Eu também não quero ficar brigada com você, Michael. Eu só quero que você respeite a minha decisão.
- Está certo, Alie, está certo... - ele se aproximou e pegou em minhas mãos. - Eu vou respeitar sua decisão de fazer o musical, eu não quero mais ficar brigado com você, eu te amo, e vou te apoiar nisso. Quer dizer... Eu vou está longe, mas quando o musical ser lançado eu vou está aqui, junto de você. - ele beijou minhas duas mãos.
O sorriso que despontou em meu rosto foi o mais sincero que eu dava em dias. Meu coração estava batendo rápido demais depois de tudo aquilo que eu havia escutado, a felicidade estava voltando.
- Está falando sério?
- Claro que estou! - ele sorriu. - Nunca falei tão sério em toda a minha vida, amor.
- Oh Mike, até que enfim! - eu o abracei e o puxei pra mim, beijando seus lábios com amor. A saudade estava realmente me consumindo. - Obrigada por isso. - falei, quando finalmente deixei seus lábios.
- Então, estamos bem agora? - ele perguntou, sorrindo.
- Muito bem!
- Ótimo... Porque eu estou doido pra fazer amor com você...
Não pude deixar de gargalhar com aquilo, ele sempre era atrevido.
- Mas, Mike... Mark e Frenci estão aí e...
- Não, nada de desculpas! - ele disse, me pegando no colo e começando a subir as escadas. - Eu vou amar você com ou sem visitas aqui, esperei muito tempo por isso, amor, muito tempo...
Ele estava me sequestrando, e mesmo se não tivesse... Quem seria eu pra falar não, quando o meu marido queria fazer amor comigo? Os momentos de felicidade estavam voltando e eu queria apenas agradecer muito a Deus por causa disso.
Capitulo 19
14 de setembro de 1996
Michael olhou para Alice mais uma vez e passou a ponta dos dedos pelo rosto dela. Ele estava renegando seu cabelo preto, que estava tomando quase todo o travesseiro onde ela estava deitada.
Não parecia sua esposa. Ele estava acostumado com uma Alice de cabelos claros, que tinha a aura doce e carinhosa. Aquela mulher que estava deitada ao seu lado estava parecendo muito sombria. Não era só pela cor do cabelo, mas algo nela parecia diferente.
Um suspiro audível escapou de seus lábios. Eles haviam feito amor a menos de meia hora atrás e a entrega de Alice fora completa. Ela parecia ser a mesma enquanto estava juntos, unidos, e até mesmo depois, antes de pegar no sono. Agora, quando a calmaria tomou conta do quarto, Michael se deu conta de que algo estava acontecendo com ela.
Ele só não sabia o que era, mas estava disposto a descobrir.
Dando um beijo doce em seus lábios, Michael se levantou e tomou um banho, logo saindo do quarto. A noite já estava feita, mas como ainda era cedo, ele pegou Prince e foi para os jardins, brincar com o filho.
Vê-lo correr de um lado para o outro e apontar os dedinhos para tudo o que via o fazia um homem muito feliz. Ele podia está passando por qualquer transtorno, mas vê seu filho o dava esperança e o enchia de determinação. Era dele que ele teria de tirar força para ficar ao lado de Alice, seja o que for que estivesse acontecendo com ela.
Quando se cansou, Prince foi para o colo de Michael e se deitou. Bastou apenas ouvir a voz calma do pai para que logo estivesse dormindo. Michael ainda estava concentrado em seu filho, quando ouviu uma voz doce atrás de si.
- Oi, meu bem...
Ele se virou um pouco e viu Elizabeth se aproximando. Ela sorriu pra ele e beijou sua bochecha, logo depois beijando a testa de Prince.
- Como você está? - ela perguntou, se sentando em uma cadeira perto da dele.
- Melhor. - ele murmurou com um sorriso triste. - Quer dizer, Alie e eu fizemos as pazes e... Eu acho que dessa vez é pra valer.
Ela sorriu alegremente.
- Ah, Michael! Eu estou tão feliz por vocês. Então quer dizer que Alice desistiu dessa ideia louca de musical e vai ficar viajando com você?
- Eu queria isso. - ele falou, voltando o olhar para Prince adormecido em seu colo. - Eu realmente queria, mas isso não vai acontecer, Liz.
- Como não? Você acabou de dizer que fizeram as pazes, Michael, que agora está tudo bem...
- Sim, mas Alice continuará a fazer o musical. Na verdade, ela disse que só ficaria de bem comigo, se eu aceitasse que ela fizesse o musical. - ele suspirou e olhou pra ela. - Eu não tive escolhas, Liz. Eu tenho certeza que se eu não aceitasse que ela fizesse o musical, nunca ficaríamos bem. Eu tive que engoli toda essa história, pra poder me aproximar dela novamente.
Ele fez uma pausa e Elizabeth ficou em silêncio. Ele pensou ouvir passos se aproximando deles, mas não pôde escutar mais nada. Olhando ao redor, viu que não tinha ninguém por perto.
- E, bem... Isso tudo faz parte de um pequeno plando que criei.
- Plano? Como assim?
- Como eu disse, eu precisava aceitar toda essa merda de musical pra poder fica próximo a Alice novamente. Eu disse a ela que estava tudo bem, que eu não iria interfirir no musical, mas agora que estamos bem, eu vou ficar instigando-a até conseguir tirar essa ideia da cabeça dela. Eu vou ser romântico e ao mesmo tempo vou ficar mostrando a ela o porquê de não fazer esse musical. Eu acho que pode dar certo, Liz. Tem que dar certo, eu preciso ter minha esposa de volta. Como era antes.
Elizabeth ficou quieta por alguns minutos, estudando tudo o que Michael disse. Era realmente um bom plano. Sem brigas e confusões, ele poderia mesmo fazer com que Alice mudasse de ideia.
- Eu também acho que pode dar certo, Mike. - ela disse e passou a mão carinhosamente pelo braço dele. - Eu estou tão feliz que você tenha enxegardo que não adianta tentar combater tudo com orgulho. É assim que se deve ganhar uma luta como essa: estando ao lado de quem você ama e apontando motivos para fazê-lo mudar de ideia e não brigando ou gritando. Tenho certeza que com sua ajuda, Alice vai vê o que é melhor para vocês dois e até para ela mesma.
- Sim, Liz, eu acredito nisso. Não quero mais brigar com ela, isso só faz com que ela se afaste mais. Eu só preciso ficar fingindo por enquanto, não vou falar bem do musical, mas também não irei falar mal. Quer dizer, por hora não vou falar mal e quando eu falar, vai ser de um jeito que ela não se irrite.
- Isso mesmo, eu te dou total apoio, Mike. - ela sorriu e então olhou para os lados. - Por falar nela, onde está Alice?
Michael sorriu de lado.
- Bem, digamos que eu a cansei um pouco no começo dessa noite e agora ela está recuperando as energias.
Elizabeth olhou pra ele e então riu, ao entender o que ele queria dizer com aquilo. Eles ficaram conversando por mais algum tempo até ela ir embora. Michael colocou Prince no berço e então voltou para o seu quarto.
Alice estava sentada na cama, de costas para ele. Quando ouviu a porta sendo fechada, ela se virou e viu o sorriso dele nascendo e crescendo.
Ele se aproximou e a esperou sorrir também, mas ao invés disso, ela se levantou da cama e cruzou os braços, o encarando:
- Eu quero saber até quando você pretendia ficar me enganando, Michael.
Ele franziu o cenho, sem entender.
- O que? Do que está falando, Alie?
- Estou falando sobre você fingir aceitar que eu fizesse o musical, para depois me fazer mudar de ideia.
Michael engoliu em seco e fechou os olhos, pensando no que responder.
Alice havia escutado tudo, e ele sentia que aquilo não iria acabar bem.
Capitulo 20
14 de setembro de 1996
Nunca foi do meu feitio ficar escutando a conversa dos outros, mas quando me aproximei do jardim e vi Michael e Elizabeth conversando quase aos sussurros, eu percebi que eu deveria ficar ali, escondida e escutar até o final.
Até agora eu não sabia definir se o que eu fiz foi bom ou ruim. Poderia dizer que foi um pouco dos dois. Por um lado foi extremamente ruim. Minhas esperanças de finalmente ficar de bem com Michael ruiram no momento em que eu soube que ele estava mentindo pra mim.
Mas por outro lado, foi bom. Eu não seria enganada por ele, nem manipulada por ele. Agora eu sabia exatamente o porquê dele ter vindo com a história de fazer as pazes.
- Alie, pra começo de conversa, eu não estava querendo enganar você. Essa nunca foi a minha intenção.
- Ah não?
- Não. - ele disse, olhando atentamente pra mim. - E outra coisa... Por que você ouviu minha conversa com Elizabeth?
- Eu estava me aproximando quando escutei você falar do seu plano mirabolante de fingir que aceitou o musical, para depois me fazer mudar de ideia. Sinceramente, Michael, isso é ridículo.
- Não é ridículo, Alice, foi o único jeito que eu encontrei de fazer com que você mudasse de ideia. Por favor, não me interprete mal, eu só queria fazer você enxergar que esse musical está acabando conosco.
- Não, Michael. O que está acabando conosco é o seu egoísmo! O que custa me deixar fazer a merda do musical? Eu simplesmente não entendo o porquê de tanta implicancia.
- Não é apenas o musical, Alie. É esse Martin também. - ele se aproximou de mim e tocou meu rosto. - Ele está fazendo você mudar, Alie. E eu não quero que você mude, você é perfeita pra mim do jeito que era antes.
Ele não havia elevado a voz. Não tinha um olhar irritado ou uma expressão de raiva. Ele estava apenas falando tudo aquilo com amor.
Como ele disse a Liz que faria. Eu até poderia acreditar que tudo aquilo era verdade, se eu não tivesse escutado todo o seu plano antes.
- Isso também faz parte do seu jogo, não é? Ser romantico pra me fazer mudar de ideia. - falei, me afastando dele. - Mas eu não vou cair nisso, Michael. Eu já sei de tudo, agora eu sei muito bem o que você iria fazer comigo.
- Não faz parte, Alie, eu estou sendo sincero com você. Eu percebi que brigar não nos leva a lugar algum, por isso eu quero apenas fazer você vê que esse musical é o causador de tudo de ruim que está acontecendo conosco.
- Pois você não vai me fazer mudar de ideia, Michael. - falei, me aproximando da porta de nosso quarto. - Nós voltamos a estaca zero, e eu acho melhor continuarmos assim por enquanto. Você de um lado e eu do outro, pelo menos até você enxergar de verdade que o musical não tem nada haver com a nossa crise.
Quando abri a porta de nosso quarto, ele se aproximou de mim, tocando em meu braço. Eu não iria ceder mais, eu sempre cedia, sempre. Mas dessa vez seria diferente.
- Onde você vai?
- Dormir no quarto de hóspedes com o meu filho. - falei, tirando meu braço de sua mão. - Com licença.
Eu não dei tempo dele responder, apenas sai e fechei a porta de nosso quarto. Peguei Prince em seu quarto e fui em direção ao quarto de hóspedes, fechando a porta e me deitando ao lado de meu filho.
Eu havia pensado que essa noite seria diferente. Havia pensado que eu finalmente iria dormir ao lado do meu amor depois de longos dias sozinha, mas não foi isso que aconteceu. Eu o amava muito, mas mentira sempre iria nos afastar.
Só esperava que Michael um dia percebesse aquilo.
-----
15 de novembro de 1996 - Dois meses depois.
"Alice de um lado... Michael de outro."
"Um
dos casais mais conhecidos por conta de seu amor e romantismo estão
praticamente afastados. De um lado, um Michael extremamente sensual
chama a atenção para o seu novo albúm, "HIStory". Com o lançamento do
novo clipe do albúm, "In The Closet", Michael se mostra um homem quente e
sexy, ao lado de "Naomi Campbell, onde protagonizam cenas sensuais no
novo curta do cantor.
Do outro lado, uma nova Alice. Prestes a estrelar um novo musical, uma Alice sexy e sensual entra em cena. Para divulgar "Stripped", musical que será lançado no dia 18 de novembro, em Londres, Alice posou - semi-nua - para as lentes de Luke Marco, um famoso fotografo argentino.
Será que o famoso casal está mesmo passando por uma crise? Jackson em turnê mundial e Alice em um novo musical... Será que sobra tempo para o amor que existia entre eles? O que nos dá a entender, é que parece que o casamento desandou e que o casal agora está competindo sobre "quem faz o trabalho mais sexy de todos os tempos". "
Do outro lado, uma nova Alice. Prestes a estrelar um novo musical, uma Alice sexy e sensual entra em cena. Para divulgar "Stripped", musical que será lançado no dia 18 de novembro, em Londres, Alice posou - semi-nua - para as lentes de Luke Marco, um famoso fotografo argentino.
Será que o famoso casal está mesmo passando por uma crise? Jackson em turnê mundial e Alice em um novo musical... Será que sobra tempo para o amor que existia entre eles? O que nos dá a entender, é que parece que o casamento desandou e que o casal agora está competindo sobre "quem faz o trabalho mais sexy de todos os tempos". "
- Inferno! - Michael rugiu, jogando o jornal em cima da cama.
Ele andou de um lado para o outro, tentando acalmar a respiração. A última coisa que precisava agora era que um tablóide começasse a falar dele e de Alice. Já estava ficando praticamente louco.
Estava há dois meses sem falar com Alice. Ela simplesmente o ignorava desde a última conversa em que tiveram em Neverland. Ele ligava e ela não atendia, quando dava para ir a Neverland entre as datas de um show, ela se recusava a falar com ele. E agora ela tira fotos praticamente nuas para o novo musical e os tablóides se aproveitam da situação, começando a especular sobre a relação deles.
Tudo estava um caos.
- Eu vim aqui, Michael, para tentar entender o que está acontecendo entre vocês. Eu já desconfiava que algo estava errado, visto que Alice não veio ao seu encontro para te acompanhar na turnê, mas eu nunca pensei que fosse algo tão sério. Alice se recusa a falar comigo, você sabia disso? Minha própria filha está se recusando a conversar comigo, e agora isso nos jornais... - Peter começou a andar de um lado para o outro, passando as mãos nos cabelos. - O que está acontecendo com Alice, Michael? Eu exijo saber, então, por favor, não me esconda nada.
Michael engoliu em seco. Sabia que quando Peter bateu na porta de seu quarto e entrou com um exemplar de um jornal americano em mãos, ele não tinha um assunto bom a ser tratado. Mas o sogro tinha o direito de saber o que estava acontecendo, mesmo que Michael não quisesse contar.
- É uma longa história, Peter. Uma longa e dolorosa história.
Peter olhou para Michael com os olhos arregalados e se sentou em uma poltrona.
- Temos tempo, Michael. Me conte tudo o que houve, desde o começo.
E Michael fez isso. Não omitiu uma parte sequer, contou sobre sua mentira, sobre Alice descobrir de um modo errado e todo o resto. As expressões que Peter fazia iam decaindo cada vez, mas até que Michael ficou quieto, esperando qualquer atitude do sogro.
- Então você mentiu pra Alice, eu acabei contando a verdade indiretamente e o caos começou? - Peter perguntou, vendo Michael assentir. - Mentiras, não só em um casamento mas em qualquer coisa, nunca termina bem, Michael, mas eu não vou culpar você. Alice também não está certa, se você diz que esse Martin não é um homem bom, então eu vou acreditar em você.
- E ele não é, Peter, você pode perguntar a Elizabeth, a Mark ou a Frenci, eles vão lhe dizer a mesma coisa. Acontece que Alice não vê isso, e eu estou desesperado. Ele está fazendo a cabeça dela a tal ponto que... - ele ficou quieto e fechou os olhos, fazendo uma careta. - Bem, o resultado está aí, nessa foto ridícula que ela fez.
- Nós precisamos fazer alguma coisa, Michael. Alice não pode mais ficar perto desse cara.
- Eu sei disso, mas estou de mãos atadas, Peter. Estou no meio de uma turnê, viajando de um canto para o outro e não consigo uma pausa. Quando consigo e vou para Neverland, Alice me ignora, ela não fala comigo e não quer falar com ninguém. Ela não fala direito com Liz e também se afastou de Mark e Frenci, depois que eles foram falar com ela sobre Martin. Eu não sei mais o que fazer.
Peter e Michael ficaram um tempo em silêncio, apenas pensando no que deveriam fazer sobre aquilo. Alice também estava ignorando Peter, então ele não tinha como chegar perto dela, principalmente porque estava viajando em turnê com Michael. Mas ainda havia uma coisa que ele poderia fazer.
- Se você quiser, Michael, eu chamo John Branca para me substituir aqui e vou passar um tempo em Neverland com Alice. Ela não vai recusar uma estadia pra mim, e então eu vou ficar por perto, e começar a conversar com ela, primeiro vou deixar que ela me conte as novidades sobre o musical e tudo o mais, depois eu vou começar a dar algumas indiretas sobre esse tal de Martin. Tudo o que precisamos agora é agir com calma e não ir com muita sede ao pote.
- Isso seria ótimo, Peter, realmente ótimo! - Michael disse, começando a ficar animado com a ideia. - Mas... Será que ela não vai se fechar ainda mais, quando perceber suas intenções?
- Eu creio que não. Prometo agir com cautela, ela nem vai perceber quando eu começar a falar mal de Martin... - ele sorriu um pouco. - O musical estreia daqui a três dias, pelo o que soube, Alice em Londres no dia dezessete... Você vai, não é?
- Claro. - Michael respondeu. - Depois do show de hoje a noite, o próximo é apenas no dia 21. Eu fiz algumas mudanças para poder ir na estreia desse musical... - ele revirou os olhos. - Vou ter que me segurar muito na cadeira para não ir até esse tal de Martin e acabar com a raça dele.
- Somos dois. - Peter disse, se levantando. - Tudo vai dar certo, Mike. Tenho certeza que Deus está ao nosso lado.
Michael se levantou e abraçou o sogro.
- Sim, Peter. Deus está ao nosso lado.
Capitulo 21
18 de novembro de 1996
- Alice? - Martin entrou em meu camarim, depois de bater na porta. - Dez minutos, baby... Você está pronta? Preparada? O estádio tá lotado, você precisa vê.
Olhei pra ele pelo espelho e dei um sorriso, assentindo logo em seguida. Não, eu não estava preparada. Na verdade, algo dentro de mim estava se remoendo e me deixando angustiada, como se alguma coisa fosse dar errado.
Suspirei e fechei os olhos, sentindo as mãos de Martin tocar os meus ombros e começar a fazer uma massagem.
- Eu sei, você deve está nervosa... Sabe, isso é normal. Sentir esse frio na barriga antes de uma apresentação é a melhor coisa que existe, prova que estamos prontos.
Ele estava certo. Aquilo tudo era apenas um pequeno nervosismo, algo comum... Eu ficaria bem e tudo daria certo.
- Sim, eu estou sentindo esse frio na barriga, mas tudo vai dar certo. - falei, me levantando da cadeira e sorrindo pra ele. - Tudo vai correr como o planejado.
Ele sorriu e se aproximou, pegando em minha mão.
- Com certeza, não haverá falhas. Estamos prontos. - ele apontou para a porta com a cabeça. - Agora vamos... Precisamos reunir o pessoal, porquê o show está prestes a começar.
-------
- Uau... Isso tá cheio. - Elizabeth disse, olhando o pessoal que se aglomerava na parte debaixo.
O camarote deles ficava na parte de cima, onde tinham uma visão privilegiada de todo o palco e público. Michael estava ao lado de Elizabeth e atrás dele estavam Mark, Frenci e Peter. Todos ansiosos para que o musical começasse logo.
- Está. Eu estaria sentindo muito orgulho de Alice agora, se eu não soubesse tudo o que esse musical causou entre nós. - ele disse, com o olhar perdido no público.
- Não pense assim, sabe, no fundo temos que sentir orgulho dela. Ela é muito boa, Michael, excepcionalmente boa e sabemos disso. É por ela que esse pessoal todo está aqui, independente do que aconteceu entre vocês, pense na arte dela.
Michael apenas assentiu.
Era óbvio que ele sentia orgulho de Alice, muito orgulho, alias, mas ele não conseguai se conformar com tudo aquilo. Talvez o musical fosse mesmo bom, mas ele não iria ter o que falar depois do que visse, porque ele não iria conseguir gostar. Não estava aberto para olhar tudo em uma visão profissional, pois seu bem mais precioso estava envolvido naquilo de maneira errada.
Não era pra Alice está ali, não era para aquele musical está acontecendo. Era só naquilo que ele pensava agora.
As luzes se apagaram e os gritos do público ficou mais alto, quando apenas uma estrutura de ferro apareceu no meio do palco.
Estava começando.
Mark, Frenci e Peter se juntaram a Elizabeth e Michael e naquele momento todos ficaram em silêncio, esperando ansiosamente para que Alice aparecesse. E então, ela apareceu.
Era estrondoso. Michael pôde perceber que Alice estava confiante como sempre, o público que estava aglomerado dançava junto com ela. Ela sabia dominá-los mesmo quando estava apenas dançando e cantando.
Por diversas vezes ele percebeu Martin no meio dos dançarinos, o que o fez ficar de cara feia. Era óbvio que ele ia se aproveitar para ficar no mesmo lugar que Alice e todas as vezes ele olhava pra ela e sorria. Michael não estava gostando nada daquilo.
Quando a música acabou, alguns dançarinos saíram e Alice falou com o pessoal. Quando a banda começou a tocar, as luzes se apagaram e quando voltaram, ela não estava mais no palco.
Quando apareceu novamente, ela estava usando um short que estava mais para um pedaço de pano. Michael bufou e começou a prestar atenção. Ela estava falando que o show dela se chamava "Stripped" e isso queria dizer que seus dançarinos deveriam está a carater. Nus.
Michael não gostou nada daquilo, toda aquela ousadia dela e aquele show safado... Nada daquilo estava o agradando, muito pelo contrário, só o estava levando a crer que ele estivera certo o tempo todo: Martin queria que ela participasse algo obceno.
E ele conseguiu.
Quando a música começou, ela dançou com alguns dançarinos e Martin se aproximou dela beijando sua mão e indo para suas costas, beijando seu pescoço e a fazendo rir. Michael praguejou alto e socou o batente onde estava se apoiando. Aquilo estava o levando ao extremo, sua vontade de acabar com Martin estava falando cada vez mais alto.
- Acalme-se, querido... - Elizabeth disse ao ouvido dele.
Mas não adiantou muito. Ele percebeu que Martin havia se aproveitado muito daquilo para acariciar Alice e mexer com ela. Se continuasse assim, ao final do maldito musical, Michael não estaria mais respondendo por si.
O musical continuou, as músicas eram boas e apesar de algumas danças serem sexys demais, Martin não estava mais mexendo tanto com Alice e eles não tinham ficado sozinhos no palco em nenhum momento ou em alguma cena romântica...
Bem... Pelo menos não até aquela hora.
Tudo ficou escuro novamente e quando a voz de Alice começou a ecoar, uma telão se ascendeu no palco, com uma mulher sentada em uma cadeira.
Alice apareceu andando, arrastando uma cadeira e Michael suspirou aliviado, pensando que finalmente ela iria cantar sozinha. Mas logo sua calma se transformou em fúria e atenção, quando Martin apareceu no palco.
O modo como ele dançava e olhava para ela, seduzindo e manipulando fez com que Michael ficasse ainda mais atento. Se um olhar pudesse matar, naquele momento Martin já estaria morto. Na verdade, era mais ou menos assim que Michael queria vê-lo: morto.
Ele só esparava que ele não tocasse em Alice.
Quando os dois se aproximaram, a respiração de Michael ficou mais rápida. Parecia que ele estava correndo a horas e horas e mesmo assim sua adrenalina continuava contida. Tudo estava em alerta. Ele estava odiando tudo aquilo. Aquela música, o modo com os dois se olhavam, o modo como Martin dançava e como Alice olhava pra ele: rendida, seduzida e praticamente se rastejando.
A música falava sobre aquilo, mas ele não queria saber, só achava que tudo aquilo estava real demais. Quando Martin se afastou e desceu o zíper da calça, Michael nem mesmo ouviu o pessoal gritando, ele só olhou para Alice, para saber se ela olharia para Martin, mas tudo dentro dele se acalmou minimamente ao vê que ela olhou, mas não foi com desejo ou algo parecido.
Naquele momento ele percebeu que para ela não havia sentimentos para com Martin, tudo aquilo era apenas atuação. Não que isso fosse diminuir sua raiva ou fúria, mas ele iria dirigir aqueles sentimentos para a pessoa certa.
Quando a música acabou, mais duas vieram após e então o espetáculo acabou. Os dançarinos foram para a beirada do palco com Alice e Martin segurou sua mão, enquanto eles agradeciam ao público.
- Ele não perde uma chance de tocar na porra da minha mulher! - Michael esbravejou em voz alta.
- Mas agora acabou, Mike. Acabou. - Frenci disse se aproximando dele.
- Acabou a primeira apresentação. Ainda tem muitas por vir, Frenci... Eu estou desesperado! - Michael disse, passando as mãos pelos cabelos. - Isso foi um teste de resistência, muito difícil, na verdade.
- Sabemos o quanto foi difícil pra você, Michael, mas nem tudo está perdido. Ainda dá tempo de fazer Alice mudar de ideia e...
- Não dá mais. - Michael disse se sentando em uma cadeira e interrompendo Peter. - Alice está envolvida demais.
- E o espetáculo é bom. - Frenci disse. - Mesmo sendo de quem é, mesmo tendo acontecido tudo isso com vocês... Amanhã os jornais vão falar muito bem dessa estreia e isso vai dar mais gás neles.
Todos ficaram em silêncio. O que Frenci disse era certo, o espetáculo era ótimo, e o público havia gostado muito. Se antes estava difícil fazer Alice mudar de ideia, agora seria praticamente impossível.
- Vamos, Mike, levante-se daí... Você precisa ir até Alice e falar com ela, dar os parabéns. Não brigue com ela, mostre apenas que você veio para prestigiá-la. - Liz disse, olhando pra ele.
Michael assentiu e se levantou. Seus seguranças o escoltaram e um assistente o levou até o camarim de Alice. Parecia que ele estava vivendo a mesma coisa que há dois anos atrás, brigado com Alice e indo até o camarim dela para prestigiá-la.
Mas dessa vez tinha apenas uma coisa de diferente: tudo o que ele sabia sobre sua vida, estava prestes a mudar.
Capitulo 22
18 de novembro de 1996
Entrei no meu camarim me sentindo bem, triunfante, mas foi apenas me sentar e me olhar no espelho que eu realmente percebi.
Eu tinha feito um bom trabalho, eu tinha me entregado, dançado, cantado e havia me saído bem ao lado de todos aos outros. Mas eu não estava completa. Faltava Michael, Elizabeth, Mark, Frenci e meu pai. Faltava todos eles, que eram a minha família, que sempre me apoiaram em cada um de meus passos.
Menos nesse. Nenhum deles havia me apoiado e aquilo machucava. Pela primeira vez eu estava sentindo vontade de chorar, pela primeira vez eu estava sendo fraca, durante todo aquele tempo.
Quando eu pensei que as lágrimas iriam finalmente escorrer pelo meu rosto, a porta se abriu depois de duas batidas. Mark entrou com um sorriso no rosto, que se desmanchou assim que viu minha expressão.
- Hei... O que houve, baby? Você estava tão bem há alguns segundos atrás... - ele puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado. - O que aconteceu, Alie?
- Eu queria que todos eles estivessem aqui... - murmurei, sabendo que ele iria entender de quem eu estava falando.
- Ah, Alie... Você não deveria se lembrar deles agora. Tudo correu muito bem, e temos a festa daqui a pouco. - ele sorriu e de lado e suspirou. - Você precisa relaxar e eu tenho algo aqui que você sabe que vai te ajudar... - ele abriu uma gaveta ao seu lado e puxou dois pacotinhos com o famoso pó branco, agora tão conhecido por mim. - Que tal isso? - ele jogou a cocaína no balcão e as separou em carreiras. - Eu estou precisando de um pouco também... Por que não se junta a mim?
Algo dentro de mim nem precisou pensar. Quando pude perceber eu já estava curvada sobre o balcão, sentindo a tontura e prazer tomar conta de mim. Minha visão estava turva, mas eu consegui perceber quando Martin se levantou e ficou atrás de mim.
- Você é tão linda, Alie... - ele sussurrou, me fazendo fechar os olhos. - Tão perfeita e gostosa. - suas mãos tocaram os meus ombros, escorregando-se para os meus braços.
Mesmo estando tonta e bêbada, sem perceber muito ao meu redor, me senti mal com o seu toque.
Engoli em seco e me mexi, desconfortável.
- Acho que... Você está perto demais, Martin. Eu sou... Uma mulher casada. - falei sentindo minha língua pesar.
- Você ainda é uma mulher casada. Creio que esse casamento não vai durar muito mais. - ele sorriu de lado e apertou meu ombro. - E quando você assinar os papéis do divórcio, saiba que eu vou está aqui, para te dar todo o suporte e carinho que você precisar.
- O que? - perguntei, tentando me levantar, mas caindo miserávelmente na cadeira. - Está ficando maluco, Martin? É óbvio que meu casamento não está acabando. E eu... Não quero carinho e suporte nenhum de você, não desse jeito que você está insinuando.
- Ah não? E você quer de que jeito então, baby?
Ele começou a passear as mãos pelo meu pescoço, subindo e descendo. Eu queria me desvencilhar de seu toque, mas meu corpo não obedecia o comando de meu cérebro. Tudo estava confuso e turvo.
- Eu sempre estive aqui, Alie, sempre quis te dar carinho e cuidar de você... Eu tentei fazer isso durante esse tempo, mas não consegui. Você não deixa que eu me aproxime, que eu abrace você e toque em você. Eu te desejo, Alice, te desejei desde quando vi você se apresentar em Burlesque e agora... Bem, agora seu casamento está em crise, seu marido é um mentiroso e você não confia nele, mas você pode confiar em mim e ficar comigo. Eu jamais mentiria pra você, ou trairia você... Só existe você pra mim, Alie.
- Você está... Ficando louco, Martin, eu não quero me relacionar com você. - murmurei com dificuldade.
Pude ouvir sua risada e ele puxou meu cabelo próximo a nuca, fazendo minha cabeça ficar pra cima. Sua boca se aproximou de meu ouvido e ele sussurrou.
- Mas acontece que você não tem que querer, sua viciadinha de merda. Eu quero você, Alice, quero o seu corpo, os seus beijos... É apenas isso que eu quero. - ele empurrou minha cabeça pra frente, me fazendo gemer de dor quando soltou meus cabelos. - Anda, continua a se divertir aí, enquanto eu te dou tempo.
Eu queria falar, gritar que ele estava louco, mas apenas senti as lágrimas caírem de meus olhos enquanto minha cabeça tombava para frente, caindo sobre o balcão.
-----
O assistente deixou Michael em frente a porta de Alice e então se afastou pedindo licença. Os seguranças se posicionaram ao lado da porta e Michael bateu duas vezes, entrando logo em seguida.
Ele pensou que veria Alice feliz e sorridente, comemorando com alguém dentro de seu camarim, mas o que ele viu cortou seu coração e o deixou desesperado.
Alice estava sentada em uma cadeira, a cabeça tombada em meio a um pó branco. Seu nariz estava sujo com esse pó e seu rosto estava com manchas pretas enquanto seus olhos vertiam algumas lágrimas.
Sua primeira reação foi correr até ela. Ele puxou sua cabeça para o seu peito e beijou sua testa.
- Alie... Alie, pelo amor de Deus, me diga o que aconteceu aqui! - ele pediu desesperado, olhando pra ela.
Mas Alice não estava ali. Ela apenas chorava e chorava, ás vezes murmurava alguma coisa, mas nada que ele conseguisse entender. Quando ia pegá-la no colo e levá-la embora dali, uma voz chamou sua atenção.
- Ah... Mas o maridinho mentiroso veio vê a esposa. Que cena comovente. - Martin riu, parado a porta que dava acesso ao banheiro do camarim.
Michael colocou a cabeça de Alice no balcão, afastada da cocaína e se levantou com fúria. Em apenas dois passos ele chegou a Martin e o pegou pelo colarinho da camisa, sacudindo-o.
- O que foi que você fez com ela, seu filho da puta? - ele gritou com raiva.
- Eu? Eu não fiz nada, foi ela quem fez. - ele sorriu. - Ela quis aliviar a tensão e eu apenas a ajudei, mostrando a ela o caminho. Mas, se hoje a sua esposa é uma viciada, a culpa não é minha. Eu disse a ela para se controlar, mas ela foi com muita sede ao pote.
Michael o apertou mais, apesar de está com o coração sangrando por sua esposa, naquele momento sua raiva falou muito mais alto. Ele se afastou minimamente e puxou o punho pra trás, levando-o para frente com força e golpeando Martin no nariz.
Sem nem mesmo dar tempo dele voltar a raciocínar, Michael deu outro soco, atingindo o mesmo lugar. O nariz de Martin jorrava sangue.
- Isso é pra você nunca mais encostar na minha mulher, nunca mais pensar em se aproximar dela, ouviu bem? Eu juro que mato você se eu souber que você apenas passou perto da sombra dela! - Michael disse baixo e em um tom duro, voltando a segurar em seu colarinho.
Martin não revidou o soco, ou as coisas que Michael disse. Ele apenas olhou para Michael, sentindo o nariz jorrar sangue. Quando Michael o largou, ele cambaleou e caiu no sofá, vendo-o pegar Alice no colo.
- Wayne! - Michael chamou o segurança, colocando a cabeça de Alice em seu pescoço. O segurança entrou e olhou para tudo aquilo. Um vestígio de susto passou por seus olhos, quando ele olhou para Alice no colo de Michael.
- O que houve, senhor? Ele fez algo contra a Sra. Jackson? - Wayne perguntou, estalando os dedos.
- Vai mandar seu segurança me bater agora, Michael? - Martin perguntou, tocando no canto da boca que havia começado a sangrar.
Michael o ignorou e se virou para Wayne.
- Peça para Luke me acompanhar até o carro e vá até o camarote onde todos estão, diga a eles que eu fui embora com Alice e peça para que me encontrem no hotel. Depois garanta que esse infeliz não torne a perturbar a minha esposa ou a qualquer um de nós.
Wayne assentiu lançando um olhar ameaçador para Martin, antes de sair com Michael.
Capitulo 23
18 de novembro de 1996
Michael olhou para Alice mais uma vez, sentindo tudo dentro de si se remoer em dor e remorço.
Ele já havia tirado a roupa dela e limpado seu rosto, enquanto beijava cada pedaço de pele que estava limpo. Ainda não conseguia acreditar que Alice - a mulher que sempre disse a ele que as drogas não era um caminho certo a seguir - tinha se envolvido com aquele tipo de coisa.
Ele poderia ter imaginado tudo, menos que ela estaria envolvida com cocaína. Ainda era difícil acreditar, mas toda hora a imagem dela chorando em meio ao pó vinha a sua mente. Ele a puxou mais para o seu peito, enquanto ela ressonava em sono profundo. Com as mãos em seus cabelos, ele queria apenas tirá-la de tudo aquilo.
Ele já estivera naquela situação, não desejava aquilo nunca pra ninguém. A culpa o matava por dentro, ele só conseguia pensar que deveria ter desconfiado de alguma coisa, qualquer coisa, mas nunca percebera aquilo. Nem ele e nem ninguém. As mudanças dela eram estranhas, mas nada que o levasse a pensar que ela estava viciada em drogas.
Apenas pensar naquilo lhe dava arrepios, mas ele sabia que aquela não era hora de se abater. Ele teria de ser forte por ela, está ao lado dela e apoiá-la. Não sabia ainda o porquê de ela está chorando quando entrou em seu camarim, mas sabia que assim que ela acordasse ela iria lhe contar. Se ela não contasse, ele - com todo o amor do mundo - iria tirar aquilo dela.
Iria tirar tudo aquilo dela.
Suspirando, ele deu um beijo na testa dela e ouviu batidas na porta de seu quarto. Não sabia quanto tempo havia se passado desde de sua chegada ao hotel, mas de certo todos ainda estavam do lado de fora, esperando por ele. Dando um beijo nos lábios de Alice, Michael se levantou e foi até a porta do quarto. Seu segurança estava do lado de fora.
- Sr. Jackson, me desculpe incomodá-lo, mas todos estão aqui fora e querem falar com o senhor. Já se passou mais de duas horas e eles estão aflitos por notícias da Sra. Jackson.
- Certo, eu já estou indo até eles. - ele disse.
O segurança assentiu e sumiu pelo corredor, enquanto Michael fechava a porta e se virava para vê Alice.
Como ele iria contar a todos que Alice estava usando drogas? Ele nem mesmo havia digerido aquilo tudo, estava se perguntando como seria capaz de dizer a todos eles. Mas eles precisavam saber porquê, agora, Alice precisaria da força de cada um deles para se reerguer.
A olhando mais uma vez, Michael saiu do quarto e pediu para que um segurança ficasse na porta, deixando ordens para caso Alice acordasse e quisesse sair do quarto, era para chamá-lo imediante. Logo depois respirou fundo e andou pelo corredor, entrando em uma sala de estar onde todos estavam sentados e aflitos.
Assim que o viram, Peter foi o primeiro a se levantar.
- E então, Michael, como está minha filha?
- Por Deus, Michael, diga que minha amiga está bem... Vocês brigaram? - Mark perguntou.
- Espere, pessoal... Deixe Michael falar. - Liz disse, olhando pra ele com preocupação. - Michael, seus olhos estão tão tristes... O que foi que houve? Não nos esconda nada, por favor.
Sem conseguir olhar pra eles muito tempo antes de desabar, Michael se virou de costas e se apoiou na mesa de madeira que estava atrás de si. Ao lado de Alice ele conseguiu conter a represa de emoções que estava prestes a estourar, mas longe dela ele não tinha mais porque se conter. Assim que se apoiou na mesa, as lágrimas caíam por seus olhos e seus soluços tomaram conta de toda a sala, deixando todos ainda mais aflitos.
Queriam saber o porque do choro, mas também não queriam interromper aquele momento dele. Michael chorava e só conseguia pensar que ele não queria perder sua esposa, não queria perder uma das pessoas mais importantes da sua vida. Aquela mulher que o segurou nos ombros quando ele precisou, que largou tudo por ele, que lhe deu um filho... A pessoa que ele mais amava no mundo inteiro.
Se ele a perdesse... Simplesmente não teria mais pelo o que lutar, a não ser por seu filho. Mas ele não conseguia se vê sozinho ao lado de Prince. Sem Alice ao seu lado, tudo perdia a cor.
Elizabeth se aproximou dele devagar e passou a mão por suas costas, tentando ver seu rosto em meio as lágrimas, mas não conseguiu.
- Mike... Nos diga o que está acontecendo, querido. Nós queremos ajudar vocês dois, tudo isso está acabando conosco, meu anjo.
Michael fungou e olhou para frente, sentindo seus olhos marejarem mais uma vez.
- Alice está viciada em drogas. - ele disse em voz alta, lutando para não tampar os ouvidos ao escutar a própria voz pronunciando aquelas palavras.
Elizabeth se afastou dele e olhou ao redor com cara de espanto. Ela queria saber se estava ficando louca e escutando coisas, ou se Michael havia mesmo dito aquilo. Todos estavam com a mesma expressão que a dela e Michael abaixou a cabeça, sentindo os ombros balançarem por conta do choro.
- Você disse... Drogas? - Peter perguntou.
Michael respirou fundo e se virou, vendo todos olharem para ele com atenção. Ele balançou a cabeça e limpou as lágrimas.
- Sim, eu disse drogas. - ele disse tentando nivelar a voz embargada. - Eu encontrei Alice no camarim e... Ela estava tão... Eu não consigo explicar. - ele fez uma pausa, balançou a cabeça e então continuou. - Eu nunca pensei que Alice estivesse se envonvendo com uma coisa dessas, nunca sequer imaginei e tudo isso faz com que eu me sinta ainda culpado. Se eu estivesse lá ao lado dela, se eu não tivesse sido tão egoísta, talvez isso não estivesse acontecendo. Se eu não tivesse mentido, nada disso estaria acontecendo!
Todos viram quando ele se sentou na poltrona e tampou o rosto com as mãos. Queriam falar, mas naquele momento nada seria suficiente pra mudar tudo. Palavra alguma ajudaria em alguma coisa.
- Como que você soube que ela está... Viciada, Michael? - Mark perguntou olhando pra ele.
- Eu entrei no camarim e Alice estava com a cabeça encostada no balcão, ela chorava em meio a um pó branco. - ele engoliu em seco. - Cocaína. Mas isso não é tudo... - ele disse, olhando pra eles. - Martin estava no camarim com ela e deixou bem claro que foi ela que apresentou aquelas porcarias a minha mulher. Eu só posso imaginar o prazer que eu sentiria ao matar aquele desgraçado!
- Michael, por favor. Raiva não vai te levar a nada.
- Ah, vai sim, Liz. - Michael disse com raiva, se levantando e começando a andar de um lado a outro na sala. - Aquele filho da puta fez com que a minha esposa se viciasse em cocaína! Cocaína, vocês tem noção disso? Alice sempre foi contra as drogas, ela que... Me ajudou a enxergar que isso não nos leva a nada e então... Ela caiu nisso também.
- Nós temos que fazer alguma coisa, Michael. Eu não posso perder a minha filha, nós precisamos salvá-la! - Peter disse em desespero.
- E nós iremos, Peter. Eu já pensei em tudo... - Michael disse olhando a todos eles com atenção. - Mas pra isso eu preciso da ajuda de cada um de vocês.
- Nós estaremos ao lado de vocês, Michael. Você sabe disso. - Frenci disse. - No que você pensou?
- Primeiramente eu vou pausar minha turnê. Só irei voltar depois que Alice estiver inteiramente bem novamente. E também vou me encontrar com Martin e fazer com que ele cancele o musical, nem que pra isso eu tenha que pagar tudo: recisão de contrato, salário do pessoal e tudo o mais... - ele fez um pausa e então continuou. - E eu vou precisar que vocês estejam ao meu lado, porque... Alice sempre fez tudo por nós, e foi ela quem caiu agora. Precisamos mostrar a ela que ela não está sozinha, nós estamos aqui por ela, pelo bem dela e ela precisa sentir isso. Eu sei o quanto isso é importante quando estamos passando por um momento delicado. - a voz dele embargou. - Ela precisa sentir que queremos o bem dela e que a amamos.
Peter limpou as lágrimas e olhou para Michael.
- Nós vamos está aqui, Michael. Vamos trazer nossa Alice de volta. Eu quero minha filha de volta.
Michael assentiu e olhou para todos. Sabia que poderia contar com cada um deles.
Capitulo 24
19 de novembro de 1996
Já estava amanhecendo quando Michael percebeu que Alice estava quase acordando. Ele estava deitado ao seu lado, mexendo em seus cabelos, quando ela abriu olhos e o olhou. Primeiramente, parecia que ela não estava vendo-o ali, que ela estava olhando através dele, logo depois ela o observou bem e o olhou confusa. Michael lhe deu um sorriso terno, sabendo que agora era hora de encarar tudo de frente - com toda a delicadeza do mundo.
------
-Oi... - ele murmurou pra mim, passando a ponta dos dedos por meu rosto.
Olhei para ele por um instante, parecendo ainda assimilar o que ele estava falando. Michael esperou completamente paciente, e pude perceber que ele estava me deixando absorver todo o amor que ele estava querendo me passar.
- Oi... - sussurrei alguns minutos depois, desviando o olhar do dele.
Eu estava... Constrangida. Não queria olhar para Michael; também não queria que olhasse pra mim. Não queria que ele me visse fraca, não queria que ele soubesse de tudo o que estava acontecendo comigo, nem que sentisse pena de mim.
Senti minha garganta se fechar, mas só quando seus braços me prenderam contra seu peito, que eu percebi que estava chorando escandalosamente. Meus soluços eram altos, mas pareciam que não estavam saindo de mim. Era como se eu estivesse observando a cena do lado de fora do meu corpo.
Tudo estava muito confuso.
- Amor... Eu estou com você agora e tudo vai ficar bem, eu prometo... - ele sussurrou em meu ouvido, passando a mão por meus cabelos.
- Eu sinto muito, Mike... Eu sinto muito, muito...
Eu queria pedir desculpas por tudo - pelo musical, por ter brigado com ele, por ter confiado em Martin e por ter me envolvido com todas aquelas coisas.
Eu era uma imbecil, estava colocando a perder o meu casamento, eu poderia está perdendo o meu marido, o único homem em que eu sabia que podia confiar... Parecia que eu tinha esquecido de tudo aquilo.
Aquela pessoa não era eu. Simplesmente não conseguia me reconhecer.
- A culpa não é sua, Alie... Por favor, não pense assim...
- É minha sim, Mike - falei, saindo dos braços dele e me sentando na cama. Eu queria me enrolar como uma bola e chorar até o fim, a dor era enorme e eu sabia que tinha que suporta-la sozinha. - Eu fui uma idiota e... Estou com tanta vergonha...
- Hei, olha pra mim - ele puxou meu rosto pra ele e só continuou quando teve a certeza de que estava olhando em seus olhos. - Você lembra, que há dois anos atrás você largou tudo e deu a volta ao mundo só pra ficar ao meu lado?
- Sim... Mas o que isso tem haver, Mike?
- Você não quis saber sobre nada, só sentiu a necessidade de ir até a mim e ficar comigo, é assim que me sinto sobre você. Não importa o que aconteceu, não importa se brigamos e nem as palavras ditas... Ninguém precisa suportar nada sozinho, e você não está sozinha. Eu estou aqui e sempre estarei, porque eu amo você mais do que qualquer coisa no mundo inteiro. Entende isso? Eu te amo e nunca, nunca, vou te deixar sozinha.
O amor dele... Aquelas palavras... Aquele era o meu marido, o homem que eu sempre amei, o homem que eu quase perdi por causa de uma besteira.
- Eu te amo tanto, Mike... - falei, olhando pra ele e sentindo mais lágrimas inundarem meus olhos.
- Eu te amo muito mais. Da mesma forma que você me ajudou em tudo, eu vou te ajudar em tudo, sempre.
Assenti e virei meu rosto para o lado. Eu não me lembrava de muita coisa, mas eu sabia que depois que Martin disse todas aquelas coisas, ele entrou no camarim. Ele havia me visto perto daquelas coisas...
- Eu não sou uma viciada, ta? - falei, completamente na defensiva. - Eu... Tenho o total controle sobre isso, se eu quiser parar agora eu vou parar. Não pense que... Eu sou uma dependente daquela coisa.
Ele ficou alguns segundos em silêncio; tempo o suficiente para que eu me virasse e o encarasse. Ele tinha uma expressão hesitante no rosto.
- Olha... Ninguém está falando que você é isso, certo? Mas, seria bom você se consultar com o médico que eu me consultei quando usava os remédios... Sem compromisso, ta?
- Mas eu não sou viciada, Mike! Não quero que pense assim sobre mim!
- Eu não estou pensando nada, amor... Olha... Você não precisa falar nada sobre isso, não agora. - ele murmurou.
Mas eu via... Bem ali, nos olhos dele, o quanto ele estava acreditando que sim: eu era uma viciada. Mas eu não era. Olhei ao redor e me levantei, passando as mãos por meus cabelos.
Eu estava louca para soltar farpas, mesmo sabendo que ele não merecia, era algo que estava realmente ficando sem controle dentro de mim. Eu não tinha domínio sobre mim mesma. Não naquele momento.
- Não me confunda com você, Michael! Você era viciado, eu não sou! Há uma diferença muito grande entre nós dois!
Ele fechou os olhos e respirou fundo, falando depois de alguns minutos.
- Eu entendo que você esteja um pouco temperamental, Alie... E eu não vou levar em consideração tudo o que você acabou de dizer, certo? - ele se levantou e veio até a mim. - Eu só quero cuidar de você, amor... Apenas isso.
- Eu não preciso de cuidados, Michael. Você precisava, mas eu não preciso... Já disse pra parar de insinuar que eu preciso de ajuda médica ou qualquer merda do tipo, eu não sou uma porra de uma viciada, eu tenho total controle sobre meus atos!
- Ah, você tem? - ele perguntou se afastando e cruzando os braços. - Engraçado, Alice, muito engraçado, porque... Quando eu cheguei no seu camarim, você estava com a cabeça tombada no balcão e com a porra do nariz cheio de pó! E isso é porque você tem o total controle de seus atos, quando na verdade, é apenas uma porrra de uma viciada sim! - ele gritou pra mim.
Certo... Eu não estava preparada pra isso. Na verdade, eu não estava preparada pra nada, nem pra julgamentos, nem pra lamentações. Ouvir aquilo de Michael foi como se tivessem tacado ácido em cima de mim. Doeu como algo físico.
- Droga, Alie... Eu não quis dizer isso, eu... - ele murmurou, tentando se aproximar de mim.
Eu dei um passo pra trás. Não... Ele não estava errado. Eu estava. Sempre estive, desde o começo de tudo.
- Está tudo bem, Mike... Você está certo. - murmurei, dando de ombros e sentindo vontade de chorar novamente. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo e com minhas emoções. - Eu quero ficar um pouco sozinha, agora.
- Não, Alie... - ele chegou perto de mim e pegou em meu rosto. Seus olhos estavam amorosos novamente. - Me perdoe, eu não deveria ter dito nada daquilo... Eu fui um idiota, amor.
- Michael, está tudo bem, ok? Eu só preciso ficar sozinha. - falei, me esticando na ponta dos pés e plantando um beijo calmo em seus lábios.
Quando me afastei, ele me olhou de uma forma derrotada e eu me virei, entrando no banheiro. Eu não queria vê pena nos olhos dele e nem nos olhos de ninguém, mas eu sabia que era só aquilo que eu consigiria, porque eu era um ser digno de pena.
Eu ao menos conseguia controlar minhas emoções. Eu era uma... Viciada, eu sabia que era, mas não queria admitir. Admitir fazia com que doesse ainda mais, eu tinha nojo de mim mesma, por tudo o que eu era agora. Eu tinha acabado comigo mesma e sabia que aquilo não tinha sido culpa de ninguém, era apenas minha culpa.
Capitulo 25
19 de novembro de 1996
Assim que Alice se trancou no banheiro, Michael saiu do quarto, querendo gritar.
Ele tinha sido um idiota ao falar tudo aquilo pra ela, mas... Ele simplesmente não sabia o que fazer naquela situação. Tinha perdido a cabeça, quando na verdade ele sabia que tinha de ser ela a perder a cabeça, pois ela estava passando por uma situação difícil.
Mas ele também estava, não era?
Entrou no elevador se despistando dos seguranças e foi direto para a sala exclusiva para ele, dentro do bar do hotel. Não sabia o que fazer; estava desesperado por uma solução, e precisava relaxar. Se sentou na única mesa que havia dentro da luxuosa sala e pediu uma dose de whisky.
O líquido desceu rasgando sua garganta - não era acostumado a beber, a não ser socialmente, mas foi uma sensação boa. Ele queria que aquele ardor o fizesse acordar, que aquela quentura em sua garganta fizesse uma conexão com seu cérebro e o mesmo se clareasse com boas ideias.
Mas o máximo que conseguiu foi ficar bêbado com a quarta dose.
Estava com a cabeça tombada sobre a mesa, sentindo tudo rodar. Era bom está naquele estágio pré-anestesiado; isso fazia com que a realidade ficasse um pouco mais distante.
- Mike! - Mark o chamou, se sentando na cadeira a frente. - Cara, levanta essa cabeça. O que está fazendo?
Michael levantou a cabeça com certo esforço e olhei pra Mark, que estava sentando a sua frente com os braços cruzados.
- O que estou fazendo? - Michael respondeu, com a voz arrastada. - Estou tentando achar uma solução pra toda essa... Porra que está acontecendo na minha vida.
- Ah sim... Tentando achar uma solução em uma garrafa de whisky? Michael, pelo amor de Deus! Você não pode se entregar dessa forma, Alice precisa de você... Você mesmo disse isso pra gente!
- Mas eu não consigo lidar com isso, Mark! Hoje eu estava sendo amoroso, mas aí a raiva me tomou e eu joguei na cara dela e que ela é uma viciada. Tem noção disso? Eu vi... Dor nos olhos dela, eu sou um idiota que não sabe como lidar com a minha mulher viciada em drogas! - ele disse em voz alta, batendo na mesa.
- Nenhum de nós sabemos como lidar com isso, Mike. Mas iremos achar um jeito, sempre tem um jeito. E isso - ele apontou pra garrafa de whisky em cima da mesa - não é o que vai nos ajudar. Você precisa se levantar daí, tomar um banho frio e ficar ao lado de Alice, como todos nós também iremos fazer. - Mark se levantou e estendeu a mão pra ele. - Vamos?
Michael suspirou e se levantou com a ajuda de Mark. Voltaram ao andar deles e Michael tomou um banho em outra suíte, se sentindo muito mais lúcido depois que a água fria entrou em contato com seu corpo. Se sentindo preparado, saiu da suíte vázia e foi para sua, batendo na porta.
Não houve resposta.
Entrando devagar, Michael viu o quarto vázio e a porta do banheiro aberta. Sentiu seu coração falhar uma batida quando entrou no banheiro e constatou:
Alice não estava lá.
Capitulo 26
20 de novembro de 1996
Martin estava sentando no sofá, olhando fixamente para a cadeira em frente a mesa de anti-sala de seu quarto de hotel.
Olhando fixamente para Alice, que cheirava desesperadamente.
Ele estava quebrado; o segurança de Michael tinha sido bastante claro ao dizer para que ele mantivesse distância de Alice e deu uma pequena amostra do que aconteceria à ele, caso ousasse fazer o contrário. Mas... O que ele podia fazer?
Estava com um nariz quebrado e a boca com um corte horrível, além de ter um corte no supercílio. Apesar de orgulhoso por vê em todos os jornais que seu musical era sensacional, pela primeira vez na vida, estava arrependido de ter tido uma ideia. E ele sabia que aquele musical não iria pra frente. Michael jamais deixaria.
E entãos, ás duas horas da tarde, ele escutou sua campanhia tocar. Ao abrir a porta, ele ficou olhando para sua visita durante alguns segundos, até que Alice entrou sem ser convidada e implorou para que ele lhe desse cocaína.
Uma pequena vingança não faria nada mal...
Ele pediu para que ela se sentasse e entã foi pegar o que ela tanto queria, ele viu seus olhos brilharem e fazia dez minutos que ela estava lá, sentada e cheirando quase tudo que ele havia lhe oferecido.
- Chega, Alice. Pode se levantar e cair fora do meu apartamento. - ele disse se levantando do sofá e indo até Alice.
Alice demorou um tempo para assimilar o que ele havia lhe dito. Aquele estado de dormência era maravilhoso para ela.
- O que... Por que? - ela perguntou, levantando a cabeça.
- Porque sim, não quero uma drogada dormindo no meu apartamento. Dê o fora daqui e não volte nunca mais.
- Mas... Martin, eu preciso! A minha vida está um inferno e... A culpa é sua, sabia?! - ela disse com a voz enrolada, olhando pra ele.
- Minha? - ele riu. - Eu não te obriguei a enfiar a cara no pó, Alice, você fez isso por vontade própria. - ele a pegou pelo braço e a levantou. - Agora vá embora daqui, antes que o seu maridinho venha à sua procura e termine de estragar a minha cara!
Quando ele largou seu braço, Alice se segurou na mesa para não ir ao chão. Sentia tudo rodando e seus olhos estavam embaçados.
- Acho que... Eu não vou conseguir dirigir... - ela disse com a voz arrastada.
Martin revirou os olhos e abriu a porta do quarto onde estava hospedado.
- Isso não é um problema meu, Alice. Vá embora.
Ela assentiu e se virou, andando e cambaleando ao mesmo tempo. Quando saiu do quarto de Martin, ouviu a porta ser fechada com força atrás de si. Sabia que deveria está horrível; a última vez que se olhou no espelho o seu cabelo estava desgrenhado e sua maquiagem, borrada. Mas aquilo realmete não importava pra ela - a sensação de torpor estava a consumindo e ela queria aproveitar cada minuto disso.
Ao sair do elevador, ela demorou mais minutos do que o normal para achar seu carro.
Olhando ao redor e com a visão turva, conseguiu enxergar apenas alguns borrões mal iluminados dentro do estacionamento. Ligando o carro, ela virou o volante desajeitadamente para o lado e saiu de sua vaga. Com dificuldade conseguiu sair do estacionamento e a luz branca da cidade cegou seus olhos por longos segundos.
Londres estava impetuosamente chuvosa com a chegada do inverno, o asfalto estava escorregadio e a frente poderia vê a neblina da tarde começar a se formar. Mas Alice não viu nada daquilo.
Sua cabeça estava um turbilhão de emoções e a droga ainda fazia o seu efeito dentro dela. Alice se perguntava porque sua vida estava tão errada daquela forma, quando tudo o que já fizera fora só o bem para todos que ela conhecia.
Ela nunca foi o tipo de garota má ou algo, ela sempre ajudou a seus familiares e amigos, sempre amou intensamente e era isso que recebia em troca? Ser uma viciada em drogas?
Um tanto quanto injusto, ela pensava enquanto começava a rir em meio as lágrimas que a deixavam sua visão ainda mais embaçada do que já estava. Ela queria Michael, queria seu abraço, queria confiar nele. Queria o cheiro de seu filho perto dela; a voz doce de Elizabeth; o carinho de Mark; os conselhos de seu pai.
Será mesmo que havia perdido tudo? E se tivesse, como poderia sobreviver?
Um desespero latente bateu dentro dela, quando sua mente lhe mostrou a imagem de uma mulher velha, com a cara enfiada em pó, em meio a um lugar sujo e completamente sozinha. Era ela ali.
Não... Ela não podia deixar que algo como aquilo acontecesse!
- Eu não vou deixar! - ela gritou para si mesma dentro do carro, perdendo o total controle da direção ao bater a cabeça com força no volante.
Ela escutou a buzina alta e seu reflexo debilitado conseguiu enxergar a luz branca invadindo o carro.
O resto foi apenas giros, gritos, buzinas, dor e a escuridão.
Capitulo 27
20 de novembro de 1996
Michael andava de um lado para o outro no meio de sua suíte, enquanto todos falavam ao seu redor. Peter estava ao telefone com Bill Bray, que estava rodando a cidade com alguns seguranças a busca de Alice; Elizabeth tentava fazer Michael parar de andar e Mark e Frenci falavam frenéticamente com alguns amigos que moravam em Londres.
Todos estavam desesperados atrás de Alice e ainda não tinham notícia alguma sobre seu paradeiro.
- Vocês acham que ela pode ter ido atrás de Martin pra... Buscar mais drogas? - Mark perguntou quando desligou o telefone.
Michael se virou pra ele e engoliu em seco. Aquela era uma grande possibilidade, mesmo que ele não quisesse acreditar nela.
- Será? - ele perguntou olhando pra todos.
- Pode ser que sim, Michael. - Elizabeth disse. - Eu não quero acreditar nisso, mas pode ser que sim. Sabemos disso.
- Então eu vou até o apartamento dele! Juro por Deus que acabo com ele se ele ao menos pensou em dar drogas pra Alice! - Michael disse com raiva, andando em direção a porta de sua suíte.
- Espera! - Peter pediu, tirando o telefone da orelha. Ele estava pálido. - Liguem a televisão.
- O que? Por Deus, Peter, a minha esposa sumiu e você quer que eu assista televisão? Não tenho tempo pra isso!
Peter apenas saiu andando pela suíte e chegou a televisão, ligando-a e colocando-a em um canal que passava um jornal local. A primeira coisa que todos viram foi uma imagem vista do alto, um helicóptero sobrevoava uma estrada onde um acidente havia acontecido. Quando puxaram o zoom, a imagem ficou mais nítida e puderam vê a parte da frente de um caminhão toda destruída e um carro preto com a lataria toda amassada, quase irreconhecível.
- Deus... Que coisa horrível! - Frenci murmurou, atordoado.
- Realmente horrível. Que Deus proteja as pessoas que sofreram esse acidente. - Michael disse sem desviar os olhos da televisão.
- Que Deus proteja minha filha. - Peter murmurou, se sentando no sofá e começando a chorar alto.
Todos o olharam atônitos.
- O que quer dizer com isso, Peter? - Mark perguntou chegando perto dele.
Ao ver que Peter não iria responder, Mark pegou o controle da televisão e aumentou até que a voz da jornalista ficou audível para todos.
"Alice Jackson acaba de sofrer um acidente na principal avenida de Londres. Testemunhas disseram que ela estava em alta velocidade e invadiu a pista contrária, colidindo com um caminhão. Seu carro capotou três vezes e seu corpo foi arremessado para fora. Não temos maiores informações, mas tudo indica que seu estado de saúde é grave."
- Não... - Michael sussurrou, ouvindo a voz de Alice em sua mente.
"- Eu morria, Michael...
- O que? Como assim morria, amor?
- Eu sofri um acidente de carro... Eu fui arremessada contra o para-brisa e cai no asfalto... Tudo doia, Mike e então parou de repente. Eu sei que eu morri ali, eu sinto isso! "
- Não... Não! - ele gritou. - Isso é mentira, a mídia está inventando, é uma mentira! Alice não sofreu um acidente, ela... Ela não pode ter sofrido um acidente.
- Michael, se acalme, olha... Talvez o caso dela nem seja tão grave assim, você sabe que esses jornais sensacionalistas gostam de aumentar tudo. - Liz disse segurando o choro.
- Eu preciso ir até ela, eu preciso vê-la...
- Antes de tudo, precisamos saber em que hospital ela está. - Mark disse. - Que Deus queira que não tenha acontecido nada grave!
Peter fungou e se levantou, olhando pra todos.
- É Alice sim, Bill Bray me disse por telefone e me mandou colocar na TV. Ele disse que estão a levando para o London Hospital. Acho melhor irmos pra lá.
Com o coração pesado, Michael pediu para que seus seguranças arrumassem dois carros e os levassem para o hospital. Naquele momento o mundo todo já sabia do acidente e mesmo com vários fãs aglomerados em frente ao hotel e um punhado em frente ao hospital, não foi o bastante para acalmar Michael. A voz de Alice narrando o acidente de seu sonho ainda estava em sua cabeça e o que ele mais temia naquele momento era que acontecesse o mesmo que ela citou...
Não queria nem pensar naquela possibilidade. De mãos dadas com Elizabeth, Michael entrou no hospital por uma passagem secreta, sendo levados por seus seguranças até uma sala de espera reservada.
Segundos depois um enfermeiro entrou e olhou para todos eles com pesar nos olhos.
- Como minha esposa está? - Michael perguntou se levantando da cadeira.
- Eu não tenho muitas informações, Sr. Jackson, apenas que... A Sra. Jackson fora arremessada para fora do carro e tinhas muitas escoriações, nesse momento está na mesa de cirurgia e assim que tudo for terminado, o médico responsável por ela virá até os senhores.
- E quanto tempo essa... Essa cirurgia vai demorar? - Mark perguntou.
- Eu não sei dizer, senhor. Dependendo do caso dela, pode ser rápida ou demorada. Se eu tiver qualquer informação, eu venho até os senhores... Com licença. - ele disse olhando para todos por última vez e então saindo da sala.
Elizabeth se levantou e estendeu as mãos, olhando para todos na pequena sala de espera. Mesmo com as lágrimas descendo, ela tentou dar um sorriso otimista.
- Venham aqui e vamos orar. Deus é o único que pode nos ouvir, nos acalentar e nos ajudar em um momento como esse, queridos e saibam: ele sempre está ao nosso lado.
Michael foi o primeiro a ir até ela e pegar sua mão, logo depois foram Mark, Peter e Frenci. Eles formaram um pequeno círculo e oraram em silêncio, cada um pedindo apenas uma coisa:
Que Alice saísse daquela sã e salva.
Capitulo 28
20 de novembro de 1996
Três horas e meia havia se passado e todos estavam aflitos a procura de notícia. Não havia muito o que ser dito em um momento como aquele, então todos permaniciam em silêncio, apenas o barulho baixo da TV era escutado na sala. Michael estava sentado em uma das primeiras poltronas, tinha os joelhos curvados e apoiava a cabeça em cima deles. Já tinha perdido a conta de quantas vezes já havia chorado naquele meio tempo.
- Sabe o que mais me machuca, Liz... - ele murmurou para Elizabeth, que estava sentada ao seu lado. - É que eu sei que se Alice está aqui agora, a culpa é toda minha. Eu só consigo pensar que se eu não tivesse mentido sobre o clipe, não estaríamos aqui. A minha mentira nos trouxe até aqui.
- Querido... Sabemos que mentir nunca é uma opção correta a seguir, mas você não pode se culpa por isso. Você não tem culpa de tudo isso. Não estou dizendo que é inocente, mas também não é de todo o culpado, Alice também tem um pouco de culpa. - ela passou a mão pelo braço dele. - Essa não é a hora de se culpar e sim de está ao lado de Alice. Deixe o passado para trás e fique preso ao presente. Alice precisará muito de cada um de nós.
Ele balançou a cabeça e algumas de suas lágrimas cairam.
- Ela sonhou com esse acidente, Liz.
- Como?
- No dia que brigamos por conta do figurino do show, ela teve um pesadelo e acordou chorando. Eu fiquei desesperado porque eu nunca a vi tão assustada daquela maneira. - ele fez uma pausa para conter o choro e logo depois continuou. - Ela disse que estava dirigindo na chuva, o carro invadia a pista contrária, ela batia em um caminhão e era arremeçada pra fora do carro. Ela me disse que morria ali. - ele abaixou as pernas e se virou pra Elizabeth, pegando em suas mãos. - Você pode entender como estou me sentindo? Tudo o que ela sonhou aconteceu, Liz, ela sofreu um acidente estamos aqui. Mas ela não pode morrer, eu não suportaria perdê-la Liz, eu simplesmente não saberia o que fazer! Eu a amo tanto, simplesmente não posso ficar sem ela!
- Oh meu Deus, Michael, eu nem sei o que te dizer... - Elizabeth murmurou. - Vamos ter pensamentos positivos, meu bem, esse acidente não terá o mesmo desfecho que o sonho dela.
- Não pode ter, Liz. Eu não sou capaz de viver sem ela, sem o seu amor e seu carinho, eu não vou conseguir. Eu a amo demais.
- Nada de mal irá acontecer, Michael... - ela disse com a voz embargada no final. - Vamos ter fé.
Michael assentiu olhando mais uma vez para o relógio preso a parede. Quanto mais os segundos passavam, mas angustiado ele ficava. Quando a sala caiu em silêncio novamente, todos os ouviram três batidas na porta. Um segundo depois um homem vestido com um jaleco branco entrou na sala de espera.
Todos se levataram.
- O senhor é...? - Peter indagou, olhando para o homem.
- Sou Andrew Robson, médico responsável pelo caso de Alice Jackson.
- Graças à Deus que o senhor chegou... Como minha esposa está?
- O caso de Alice é complicado, Sr. Jackson. Ela teve muitas escoriações e como foi arremessada para fora do carro, o impacto fez com que ela batasse a cabeça com muita força. Ela teve traumatismo craniano, uma rachadura um pouco mais grossa do que um fio de cabelo e uma ruptura na bacia, fazendo com que perdesse bastante sangue. Nós usamos o sangue que tínhamos em estoque e, nesse momento, ela está em coma. Infelizmente eu não posso dizer quando ela irá acordar.
Todos murmuraram e se entreolharam. Ouvir tudo aquilo fez com que ficassem mais aflitos.
- Também tem mais uma coisa. - o médico disse, chamando a atenção deles. - No exame de sangue de Alice deu que ela tinha drogas no organismo. Não podemos afirmar nada, mas tudo nos leva a crer que ela usou essa droga pouco antes de dirigir.
Bem... Tudo estava explicado agora. Não precisava de mais nada para saberem onde Alice tinha ido e o que estava fazendo. Mas naquele momento nem mesmo a decepção conseguiu superar a dor e o medo que sentiam.
- Mas ela ainda corre perigo de vida? - Mark perguntou.
- Sim. O caso dela é bastante delicado, mas estamos fazendo o possível para que ela saia ilesa e sem sequelas.
- Eu posso vê-la? - Michael perguntou, olhando para o médico.
- Sim, mas ela está no CTI, então temos pouco tempo.
Elizabeth passou a mão pelo ombro de Michael, lhe passando força e logo depois o vendo sair. O médico levou Michael até o décimo quinto andar, entrando em uma sala onde colocou a roupa apropriada. Quando chegaram a porta do quarto de Alice, o médico disse que ele tinha dez minutos. Michael assentiu e entrou devagar, ouvindo o barulho dos batimentos do coração de Alice, que eram monitorados por uma maquina.
Vê-la foi difícil. Seu coração se apertou ao observar a imagem de sua esposa deitada naquela cama, com um tubo em seu nariz e fios conectados ao seu corpo. Seu rosto estava arranhado e havia hematomas roxos em seus braços e pernas.
Ele se aproximou e passou a mão devagar por seus cabelos, sentindo as mechas macias pelo pano da luva que cobria sua mão. Era difícil conter as lágrimas, a culpa, a dor... Todos aqueles sentimentos juntos que se transformavam em um só. Ele queria trocar de lugar com ela, se pudesse daria a sua vida para que ela não estivesse ali.
- Eu sinto tanto por isso, meu amor... - ele disse ao ouvido dela. - Você não imagina como estou arrependido de tudo o que fiz, a minha mentira nos trouxe aqui e tudo o que eu mais queria agora era trocar de lugar com você. Por favor, Alie, por favor.... Seja forte, não vá embora, eu não suportaria... Eu te amo tanto, tanto, eu não posso viver sem você, meu amor, eu não posso. Você não pode ir...
Sem mais força para falar, Michael encostou a cabeça na barriga dela e deixou que as lágrimas caíssem, enquanto ele soluçava alto e se entregava a dor.
Nada no mundo inteiro já tinha lhe causado tanta dor e desespero. Alice era sua vida e ele simplesmente não podia perdê-la, nunca.
Capitulo 29
15 de dezembro de 1996
Quatro dias depois do acidente, Michael pediu para que Alice fosse transferida para os EUA. Andrew - médico responsável pelo seu caso - não quis deixar, porém Michael queria voltar ao seu país; ele vivia mais dentro do hospital do que no próprio hotel e o problema era justamente esse: voltar ao hotel. Ele queria sua casa, onde podia ficar sossegado com seu filho, perto das coisas de Alice.
Quando finalmente conseguiu a transferência, o jato fretado que Peter havia arrumado tinha se tornado um pequeno hospital. Toda a aparelhagem e mais uma pequena equipe de enfermeiros e Andrew foram no jatinho com Michael, Prince e sua babá. Outro jatinho levaria Peter, Mark, Frenci e Elizabeth.
Agora - dia 15 de dezembro de 1996 - Michael via o dia amanhecer pela janela do hospital, enquanto Alice estava deitada ao seu lado. Todos os dias ela fazia tumografia, mas nenhum exame apresentava algo diferente do exame do dia anterior. Isso angustiava a todos cada vez mais. Michael não consegui se conter e esperar...
- Don't walk away... See I just can't find the right thing to say. I tried but all my pain gets in the way. Tell me what I have to do so you'll stay. Should I get down on my knees and pray...
Michael começou a cantar a música que havia feito há alguns dias atrás. Era um apelo silêncioso para que Alice não fosse embora, aquela música era pra ela, ele tinha esperanças de que ela iria ouvir aquilo e iria voltar. Ela precisava voltar pra ele.
Virando-se para cama dela, ele pegou em sua mão e se aproximou de seu ouvido. Seu maior desejo naquele momento era de se deitar ao lado dela e sussurrar em seu ouvido aquele clamor, para que ela não o deixasse. Mas como não podia fazer isso, ele apenas aproximou seu rosto do dela e começou a cantar:
-----
- I close my eyes... Just to try and see you smile one more time. But it's been so long now all I do is cry...
Aquela voz doce estava tão longe e tão perto ao mesmo tempo, que tudo o que eu queria fazer era apenas... Me aconchegar nela, depois de um longo tempo fora de casa.
Eu conhecia muito bem aquela voz, cada timbre fazia algo florescer e crescer dentro de mim, tudo o que eu queria fazer era me jogar nela, me jogar em Michael, mas algo estava me obrigando a abrir os olhos.
Não foi algo fácil. A luz florescente pareceu queimar meus olhos e eu os fechei com força, ficando cega por vários segundos depois de abrí-los novamente. Uma mão grande segurava a minha e soluços misturados a doce canção eram sussurrados em meus ouvidos.
- How can I begin again. How am I to understand. When there's nothing left to do but walk away...
Mas soluços. E a mão apertou a minha um pouco mais forte.
- Por favor, Alie, não vá embora, por favor...
Michael! Era ele, era óbvio que era ele... Mesmo aquela voz sendo sussurrada, em meio a soluços, eu sempre iria reconhecer. Uma pessoa sempre sabe quando está... Em casa. Michael era minha casa.
- Eu não vou a lugar nenhum, Michael. - sussurrei para ele, apertando sua mão.
Eu queria vê-lo, mas sua cabeça estava enterrada em meu pescoço, me impedindo de virar minha cabeça para olhá-lo. Seus soluços cessaram e por um momento eu achei que ele tinha parado de respirar e entrado e em choque. Ele levantou a cabeça rapidamente me olhou com os olhos vermelhos e marejados. Suas bochechas estavam molhadas pelas suas lágrimas.
- Alie... - ele sussurrou me olhando sem piscar. Acho que ele não estava acreditando que eu estava ali.
- Eu estou aqui Michael. - murmurei, sentindo meus olhos se umedecerem. - E eu não vou a lugar nenhum.
- Eu... Oh meu Deus, Alie, eu não acredito! - ele sorriu e passou as mãos pelo meu rosto com rapidez. - Você voltou! Você voltou pra mim, meu amor... Eu te amo tanto.
Eu ia falar que o amava também, mas não tive chance. Antes mesmo que eu pudesse abrir a boca, Michael colou seus lábios aos meus e me beijou. Era como se eu tivesse me encontrado depois de ficar anos e anos perdida. E talvez eu tivesse mesmo perdida.
Quando se separou de mim, Michael apertou um botão ao lado da cama.
- Logo o médico vai vim aqui te ver... - ele me olhou. - Você não sabe como eu estou feliz agora, Alice. Essas últimas semanas foram as piores da minha vida.
- Eu... Eu sinto muito, Michael, eu não me lembro de muita coisa, mas eu sei que tudo foi culpa minha e eu sinto muito, muito...
Ele colocou dois dedos em minha boca, me fazendo parar de falar.
- Não... Apenas esqueça de tudo isso, Alie. Apenas esqueça. - ele sorriu. - Eu te amo tanto.
- Eu te amo muito, muito mais Michael.
É... Eu tinha voltado pra casa.
Capitulo 30
20 de janeiro de 1997
Muita coisa havia mudado na minha vida em um curto período de tempo. Eu me lembro que em um dia eu era uma esposa dedicada e amorosa, que cuidava com todo o carinho do esposo e do filho e em outro dia, eu era apenas uma doida que estava metendo os pés pelas mãos, jogando fora tudo o que construira ao lado do homem que amava.
Mas isso tinha acabado. Olhei pela janela do carro e me despedi mentalmente de todo o campo verde e florido que estava ficando pra trás. Aquela paisagem me acompanhou durante todo o mês em que eu fiquei internada na clínica de reabilitação para dependentes químicos. De acordo com os médicos, agora eu estava limpa e tinha que me cuidar para nunca mais cair em tentação.
E eu realmente não iria cair. Agora eu tinha a consciência de que eu era dependente. Ao contrário do que Martin havia me dito, nem tudo nós temos controle e isso é uma dessas coisas. Sempre soube que drogas não era um caminho a seguir, mas todos nós cometemos erros. Mas temos que aprender com eles também e eu aprendi.
Agora, o que eu mais queria era encontrar Michael e meu filho. A saudade me corroía todas as vezes que eu me lembrava de Prince. Eu tinha sido uma péssima mãe na época em que mergulhei de cabeça naquilo tudo e eu queria muito recuperar o tempo perdido, só agradecia a Deus pro Prince ser apenas uma criança e não entender nada daquilo.
Apenas mais meia hora no carro e eu já via a residência de Frenci na se aproximando. Ele e Mark estavam fazendo uma festa de boa-vinda pra mim e disseram que eu tinha que ir direto pra lá. Outra coisa que me deixou bastante emocionada, foi saber que nenhum de meus amigos estavam magoados comigo. Eu sabia que tinha errado bastante com eles, mas no final, eles também estiveram ao meu lado, como sempre. Erámos uma grande família.
E sempre seríamos.
****
- Está gostando? - Michael sussurrou em meu ouvido, enquanto me puxava para mais perto dele.
Sorri. Eu havia chegado e não tinha tido tempo de fazer nada. Mark, Frenci, meu pai e e Elisabeth praticamente pularam em cima de mim para me abraçar e conversar. Agora que eles haviam me dado uma "folga", Michael me puxou para o sofá e se sentou ao meu lado, enquanto eu segurava Prince em meu colo.
- Eu estou amando. - falei, olhando pra ele e sorrindo. - Adoro quando estamos reunidos, você sabe disso.
- Sim, eu sei. - ele sorriu e passou a mão por meus cabelos. - Sabe, agora sim você voltou a ser a minha Alice.
Aquilo me fez rir ainda mais. Eu sabia que Michael não havia gostado quando eu pintei meus cabelos e naquela época, eu levei aquilo para um lado ofensivo. Hoje eu tinha vontade de rir. Uma das primeiras coisas que fiz quando sai do hospital, foi descolorir meu cabelo e voltar a ser loira e agora, Michael estava deixando bem claro que aquela cor sim era o que o agradava.
- Eu sempre fui sua, Mike, sempre fui... - murmurei, enconstando minha cabeça em seu peito e segurando Prince, que estava adormecido, com mais força em meus braços.
Ele estava ainda mais bonito e crescido, com o vocabulário um pouco mais extenso do que da última vez que havia o visto. Logo todos sentaram-se perto de nós e a sala ficou cheia com o som de nossas vozes. Quando a noite estava caindo, Frenci olhou pra mim e piscou, saindo da poltrona e se sentando no piano, de frente para nós. Pedi para Elizabeth segurar Prince e me levantei, ouvindo todos se calarem ao redor de mim. Michael me olhou com uma expressão interrogativa e eu apenas sorri pra ele, chegando perto do piano.
- Acho que vocês vão aprontar... - Mark disse, olhando para Frenci e eu.
- Talvez, querido... - Frenci disse, sorrindo. - Alice tem uma surpresa.
- Sim, eu tenho... - falei, olhando para todos. - Há duas semanas atrás eu pedi para que Frenci fosse até a clínica. Eu precisava muito conversar com ele e ele resolveu me ajudar um pouco...
Nós nos olhamos e sorrimos mais uma vez.
- É que... Bem, teve um dia na minha vida que eu tive o prazer de conhecer um cara incrível. - falei, pousando meu olhar em Michael. - E esse cara conseguiu ganhar meu coração com apenas algumas palavras e olhares, ele me ganhou completamente e continua me ganhando até hoje. Enfrentamos muita coisa pra ficarmos juntos e agora, enfrentamos mais coisas para permanecermos juntos. Ele nunca desistiu de mim, e como um dia eu fiz, ele largou tudo pra ficar comigo. Ele é o homem da minha vida.
Olhei para Frenci e assenti, começando a ouvir o som melodioso do piano.
Quando estou perdida na chuva
Nos teus olhos sei
Que vou encontrar a luz para iluminar o meu caminho
Quando tenho medo de ficar para trás
Quando o meu mundo está a enlouquecer
Consegues torná-lo normal
(Sim)
E quando estou pra baixo você está lá
Para me ajudar a levantar
Estás lá sempre para me dar tudo que tem
Para um abrigo da tempestade
Para um amigo
para me mater quente e protegida
Eu volto para você
Para ter força e aguentar
Para ter a vontade de continuar
Pois tudo o que você faz
Para tudo o que é verdade
Eu volto para você
Quando perco a vontade de vencer
Basta chamá-lo e consigo alcançar o céu novamente
Posso fazer tudo
Porque o teu amor é espantoso
Porque o teu amor inspira-me
E quando preciso de um amigo
você está sempre do meu lado
Me dando esperança guiando-me pela noite
Para um abrigo da tempestade
Para um amigo
Para um amigo, por um amor
Eu volto para você
para me mater quente e protegida
Eu volto para você
Para ter força e ser forte
Para ter a vontade de continuar
Pois tudo o que você faz
Eu volto para você
Para os braços que me protegeram Da chuva que cai
Para a verdade que nunca mudará
Para alguém em quem me apoiar
Para um coração em quem posso confiar
Para aquele com quem posso ir ter
Para um abrigo da tempestade
Para um amigo, por um amor
(para me mater quente e protegida, yea, eu volto a você)
para me mater quente e protegida
Eu volto para você
Para ter força e ser forte
Para ter a vontade de continuar
Pois tudo o que você faz
Para tudo o que é verdade
Pois tudo o que você faz
Para tudo o que é verdade
Eu volto para você
Nos teus olhos sei
Que vou encontrar a luz para iluminar o meu caminho
Quando tenho medo de ficar para trás
Quando o meu mundo está a enlouquecer
Consegues torná-lo normal
(Sim)
E quando estou pra baixo você está lá
Para me ajudar a levantar
Estás lá sempre para me dar tudo que tem
Para um abrigo da tempestade
Para um amigo
para me mater quente e protegida
Eu volto para você
Para ter força e aguentar
Para ter a vontade de continuar
Pois tudo o que você faz
Para tudo o que é verdade
Eu volto para você
Quando perco a vontade de vencer
Basta chamá-lo e consigo alcançar o céu novamente
Posso fazer tudo
Porque o teu amor é espantoso
Porque o teu amor inspira-me
E quando preciso de um amigo
você está sempre do meu lado
Me dando esperança guiando-me pela noite
Para um abrigo da tempestade
Para um amigo
Para um amigo, por um amor
Eu volto para você
para me mater quente e protegida
Eu volto para você
Para ter força e ser forte
Para ter a vontade de continuar
Pois tudo o que você faz
Eu volto para você
Para os braços que me protegeram Da chuva que cai
Para a verdade que nunca mudará
Para alguém em quem me apoiar
Para um coração em quem posso confiar
Para aquele com quem posso ir ter
Para um abrigo da tempestade
Para um amigo, por um amor
(para me mater quente e protegida, yea, eu volto a você)
para me mater quente e protegida
Eu volto para você
Para ter força e ser forte
Para ter a vontade de continuar
Pois tudo o que você faz
Para tudo o que é verdade
Pois tudo o que você faz
Para tudo o que é verdade
Eu volto para você
Quando a música terminou, eu vi os olhos de Michael cheios de lágrimas, um sorriso enorme se abrindo em seu rosto, enquanto ele se levantava e vinha até a mim. Demorou apenas alguns segundos para que seus braços estivessem ao meu redor, me abraçando com força, enquanto eu ouvia todos baterem palmas.
- Alie... Essa foi a coisa mais linda que eu já ouvi na minha vida... - ele murmurou em meu ouvido. - Eu amo você.
- Mike... Tudo aquilo que eu cantei é verdade. Eu amo você e estou voltando pra você, sendo a mesma Alice que sempre fui. Eu te amo muito mais.
Ele me olhou com os olhos brilhando de paixão e se aproximou, me beijando com todo o amor que sentíamos. Me mostrando que exatamente tudo seria como era antes.
Epílogo
Toda nossa vida havia voltado ao normal, meu casamento havia voltado a ser como era antes, meu relacionamento com meus amigos e com meu pai também. Michael havia retornado a turnê e agora, Prince e eu íamos atrás dele em todos os shows, até eu descobri que estava grávida.
Fora uma surpresa. Logicamente não havíamos planejado isso, mas sabíamos que nosso segundo bebê era um presente de Deus, era Ele nos avisando que dessa vez seríamos felizes de verdade e que nada mais nos afastaria.
Paris nasceu no dia 20 de outubro, logo após um show de Michael, em Paris. Sabíamos que ela poderia nascer a qualquer momento, mas a turnê de Michael estava finalmente acabando e eu não o deixei interrompê-la mais uma vez. Nossa filha nasceu linda e saudável e agora éramos uma família completa.
Observando-os agora e relembrando a minha vida, eu tive a certeza de que eu passaria por tudo de novo se fosse para tê-los comigo. Minha família era a coisa mais importante que existia na minha vida e dessa vez nada iria me afastar dela.
Passar por toda a tempestade me fez perceber o real sentindo da palavra "amor". Amar não é só está ao lado nos momentos felizes, amar é cuidar, é proteger, é suportar tudo o que possa acontecer. Eu suportei tudo por Michael; ele suportou tudo por mim, isso é amor.
Como eu sempre soube, ele é o homem em que eu posso confiar, sempre acreditei em nós e para sempre estarei completamente presa à ele, ao amor da minha vida, Michael Jackson.
Cade a Historia ? Aqui so tem a sinopse :'(
ResponderExcluirOlá Mikaele Bem-vindo(a) , bem só está a sinopse só hoje é que colocamos no blog, como na 1º temporada vai ser a própria autora a postar e não a nossa equipa.
ExcluirÉ sempre avisado quando tem cap. novos aqui por comentários e na nossa page no fb, por mim eu colocava já alguns cap. mas é a própria autora que vai postar esta história, fica ao critério dela, quando quer postar, não sei se vai ter hoje a estreia mas acho que sim.
Comprimentos e obg por escolher o nosso blog.
#Dona Mikaela Sofia Jackson
Ta bom mt obrigada pela atencao
ResponderExcluirPostado o começo, meninas!
ResponderExcluirEspero que gostem e que continuem comigo.
Beijos <3
Nossa, eu estou apaixonada pela história <3
ResponderExcluirPor favor, não demore com a continuação, estou ansiosa para ler mais.
Está de parabéns moça =]
Concordo cm a Belle n demore a postar adorei a historia e encantadora e viciante
ResponderExcluirPf posta a continuacao hj por favor
ResponderExcluirTem de esperar, não sou eu que a estou a postar, é a Tamires. obg por acompanhar :)
ExcluirOk obrigada de qulquer jeito
ResponderExcluirAtualizado, meninas.
ResponderExcluirBeijos <3
nao tem capitulos novos? to louca pra ler mais ;)
ResponderExcluirOi amores, tenho uma notícia para voces, boa e má... Bem a má é que a autora Tamires me veio falar que não pode continuar a postar por não estar em casa ... MAS pode não ser ela, mas isso não importa, o que interessa é que seja postada, por isso, aqui está a boa, vai continuar agora a fic , vou ser eu a postar e vai ser um bocadinho mais pois faz tempo que não é atualizada. Obrigado :D
ResponderExcluirAmoooooooooooo ... <3
ResponderExcluirActualizada :D Boa Leitura !
ResponderExcluiractualida meninas , boa leitura
ResponderExcluirestou louca pra ler mais, continue please ;)
ResponderExcluirContinuaaaaaaaa ;)
ResponderExcluirMeninas... Quero pedir desculpas por não ter terminado de postar a história, mas Mikaela fez isso por mim.
ResponderExcluirA história chegou ao fim e quero agradecer a cada uma de vocês por estarem comigo desde a primeira temporada, isso é muito importante pra mim.
Obrigada, mil vezes!
Espero vocês em minhas outras histórias que estão sendo postadas aqui no blog, viu?
Beijos <3
Ameiiiii,siimplesmente me apaixonei pela historia!
ResponderExcluirMais que pena que acabou :-/
A autora esta de Parabéns!!!
Super linda essa historia !ameiiiii <3
ResponderExcluirParabéns as autoras ;)
Que história linda...
ResponderExcluirNao shippo o Michael com a Christina Aguilera,mas ela arrasou nessa história,sem contar que a voz dela e maravilhosa.
Parabéns para a autora!! :)
Amei demais
ResponderExcluirEu não shiopo o Michael com a Christina mais você fez a história ficar interessante,romântica e picante.E ao mesmo tempo passando uma linda mensagem para todos nós espero que tenha menos tragédia por favor menos tragédia na próxima por que eu chorei demais aqui tá moça kkkkk.