Então tudo aconteceu à primeira vista. Desde o momento que eu a avistei, tão triste e solitária.
Seus olhos me encararam e eu notei que eles emergiam um certo temor.
Você foi a luz que eu encontrei no meu caminho.
Agora não há uma noite que eu olhe para a lua e não me lembre de você.
Eu não consigo mais ver um pôr-do-sol sem chorar ao lembrar dos momentos em que passamos juntos.
Sua risada e sua voz eram doces melodias para meus ouvidos, porém tudo o que me restou agora são lembranças.
Capítulo 1
Berlim, 1933
Andando pelas belas ruas de Berlim, naquele final de tarde eu voltava do Park da cidade com minha amada. Segurando sua mão delicadamente e cumprimentava a todos conhecidos que passavam a nossa volta.
--- Olhe, Hazel! Eu disse apontando para uma barraca de doces e não resisti, eu precisava ir até lá.
--- O que você está fazendo Michael? Ela falava enquanto eu a arrastava até a barraca.
Céus só de ver aqueles doces eu ficava com água na boca.
--- Venha, vamos comprar alguns doces. Eu falei todo bobo para ela e logo a vi abrir seu sorriso encantador para mim.
Assim que chegamos a barraca eu comprei alguns doces e logo voltamos nosso trajeto rumo a nossas casa.
--- Você não tem jeito não é mesmo? Ela falou me vendo se acabar ali com aqueles doces, eu realmente amava aquilo.
Eu sorri para ela e a vi cair na gargalhada.
--- O que há? Qual é a graça? Eu perguntei embasbacado sem entender o porquê de sua crise de risos.
--- Michael, está todo melado com isso! Parece uma criança! Ela falava rindo de mim e então eu também não me segurei.
Paramos em frente a uma vitrine e eu limpei minha face. Parei de observar o meu reflexo no vidro e notei as belas joías que estavam expostas naquela vitrine, eram simplesmente encantadoras.
--- E agora o que você quer? Ela perguntou me vendo observar a loja ainda pelo lado de fora.
--- Fique ai, eu já volto em um instante. Eu disse sorrindo bobo para ela, queria dar aquele colar que havia visto para Hazel.
Eu entrei na loja e logo fui atendido, escolhi o belo colar com pedras verdes que combinariam muito bem com seus olhos. Ela estava na vitrine ainda me chamando para ir embora por causa da hora, mas não sabia a surpresa que teria.
Eu peguei a pequena e delicada caixa de veludo, sai da loja e encarei Hazel me olhar brava. Estava atrasada para chegar em casa. Segurei a pequena caixa atrás de meu corpo para que ela não visse.
--- O que você tem ai Michael? Ela perguntou ainda irritada e eu ria por dentro com seu jeito.
--- Feche os olhos. Eu disse acanhado e ela meio surpresa fechou seus olhos como eu havia pedido.
Eu peguei na sua mão e a abri, depositanto em tão a caixa.
--- Posso abrir meus olhos agora? Ela perguntou abrindo um largo sorriso nos lábios e eu assenti.
Assim que ela abriu os olhos e também a pequena caixa ela se encantou com o que viu.
--- Oh Michael, é simplesmente lindo! Ela falou me abraçando e eu a tomei em meus lábios em um beijo.
Ela tirou o colar da caixa sorrindo e pediu para que eu colocasse nela. E assim eu fiz, deixando aquelas pedrinhas verdes brilharem tanto quando seus olhos agora. Ela se virou para a vitrine e lindamente se encarou observando o belo colar a combinar agora com seus olhos.
Vimos que a noite já se aproximava e então voltamos a seguir nosso rumo.
Após alguns minutos de caminhada paramos em frente a casa de Hazel. A abracei e a beijei apaixonadamente.
--- Eu te amo, Hazel. Eu sussurrei em seu ouvido enquanto dávamos um último abraço.
--- Eu te amo também, Michael. Obrigado pelo colar. É maravilhoso. Ela falou tocando o colar com a ponta dos seus dedos sorrindo para mim.
--- Hoje eu irei conversar com papai sobre nosso noivado. Amanhã trago respostas. Eu falei me despedindo dela com mais um beijo.
Eu logo comecei a correr em direção a minha casa, se não mamãe logo estranharia meu atraso.
Assim que cheguei em casa, cumprimentei mamãe com um beijo em seu rosto e acabei deixando para cumprimentar papai depois que ele saísse do seu escritório. Escritório esse que eu dificilmente entrava, a não ser que fosse algo muito sério a se falar com meu pai. No caso, hoje seria sobre meu noivado.
Subi as escadas cantarolando, pois estava ansioso para falar com ele. Fui até meu quarto para tirar os sapato que me apertavam, mas eu quase não acreditei quando vi Maria, nossa governanta, a tirar minhas roupas e coisas do armário.
--- O que está acontecendo aqui? Eu falei embasbacado e a vi se virar para mim encarando o chão.
--- Senhor Michael, sua mãe pediu para que fizesse suas malas. Ela falou ainda sem me olhar e eu me enfureci.
Que história era aquela?
Eu sai do meu quarto e desci as escadas disparadamente, ainda me esbarrei com Lauren, minha irmã mais velha, que subia ao seu quarto.
--- Mamãe, o que está havendo? Por que Maria está mexendo em minhas coisas? Eu perguntei fazendo mamãe levar um susto com meu afobamento.
--- Querido, por favor, sente-se. Ela falou me apontando o sofá e eu temi pelo que estava por vir.
Eu sentei a olhando ainda sem entender nada e logo ela começou.
--- Um mensageiro trouxe uma carta hoje cedo exigindo que os homens de cada casa fossem servir o seu país na Polônia. Ela falou sem cerimonias e eu senti meu coração afundar no peito por saber que esse dia acabava de chegar parar mim.
Sempre soube que um dia ou outro teria que servir o meu país, só não imaginava que seria agora quando eu estava em um momento mais feliz da minha vida que era me casar com a mulher que eu amo.
--- Logo agora? Agora que decidi casar com Hazel? Aquela dor de perder o meu futoro pra sempre golpeava o meu coração.
Eu nasci e cresci naquela casa, como iria me acostumar em outro país?
--- Dará tudo certo querido, você vai ver e logo logo você e Hazel estarão casados. Ela falou pegando em minhas mãos tentando me acalmar.
--- Não tenho outro escolha a não ser aceitar não é mesmo? Eu falei encarando o chão.
A frustração me pegava de um jeito cruel.
--- Se não for, terá graves consequências você sabe quando essa ordem chega em nossas famílias devemos cumprir. E é por pouco tempo querido, logo estaremos de volta. Pense nisso como uma aventura. Ela falou forçando um sorriso e para tentar me tranquilizar, eu fingi aceitar.
Mais tarde eu conversaria com meu pai. Talvez ele resolveria essa situação e talvez não seriamos obrigados a ir. Não sei, eu lutava por uma única esperança seja lá qual for.
Eu subi até meu quarto. Notei que Maria já havia feito minhas malas e embalado todos meus pertences. Fui até minha janela e fiquei observando minha cidade iluminada e bela, para mim não existia lugar mais perfeito do que Berlim. Observava como se nunca mais a fosse ver.
Capítulo 2
Caminhei até o escritório de meu pai em passos lentos, seria a primeira vez em anos que entraria ali, pelo simples fato de que eu nunca o interrompi em seu trabalho. Sempre partir o princípio de que quando o Sr Jackson trabalha, melhor ficar fora. Ele se concentrava mais sozinho.
Mas nesse dia em especial eu precisava conversar, queria saber se havia alguma possibilidade em não irmos, talvez havia algo que eu pudesse fazer.
Eu bati na porta meio acanhando e logo a abri um pouco revelando meu rosto para que ele pudésse me deixar entrar.
--- Sim Michael. Ele falou levantando os olhos para mim por cima dos seus olhos de grau que usava pra ler.
--- Desculpa interrompê-lo só precisava conversar. Eu disse adentrando seu escritório meio acanhado, as vezes eu o temia.
--- Não se preocupe filho sente-se. Ele falou indicando um sofá que ficava dentro do escritório e logo tirou seus óculos.
--- Papai eu realmente terei que ir para a guerra? Não há nada que eu possa fazer? Eu falei demonstrando a ele minha total angústia.
--- Eu lamento Michael, sabe que um homem deve servir ao seu país e não a si mesmo. Olhe para mim. Ele falou cruzando suas mãos sobre a mesa e me encarando como fosse um de seus soldados.
--- Só não achei que fosse assim tão rápido. Eu fiz planos pai! Pedi Hazel em casamento, planejamos tantas coisas… Eu falei sentindo minha voz embargar, olhei para baixo logo voltando meus olhos para os dele.
--- Não será a vida toda Michael. Você vai ver como as coisas são diferente quando se está lá. Converse com Hazel diga à ela para esperar um ano ou um pouco mais até você se preparar para a guerra e então virá busca-la. Ele falou sorrindo assim que terminou de falar e eu não entendi o porquê daquilo.
Um ano ou mais? Eu morreria desse jeito.
--- Um ano? Falei forçando um sorriso.
--- Sim ou mais. Ele falou aquilo como se não fosse nada para ele.
--- Eu não sei pai, é muito tempo. Até me preparar para o campo de batalha, nem sei nem se voltarei. Falei com um certo pesar.
--- Ei, não fale assim filho. Onde está o Michael que eu criei? Você é um Jackson voltará mais forte que nunca e casará com a mulher de sua vida, você vai ver! Além do mais um ano passa tão rápido. Ele continuou e eu acabei respirando fundo, não queria perder a paciência com meu pai.
Tentei escutar o meu pai e fazer daquilo um meio de me fortalecer. De certo que a falta de Hazel em minha vida será dolorosa, mas eu precisava buscar forças. Afinal o que eu poderia fazer? Eu simplesmente não poderia lutar contra o estado, eu tinha que aceitar.
No dia seguinte eu fui até Hazel, infelizmente não levaria a resposta que eu queria, mas sim uma notícia que eu pensei que jamais a daria.
Hazel me esperava em um pé de pinheiro onde sempre nos encontrávamos pra namorar e conversar. Seria um local apropriado para conversármos.
--- O que houve meu amor? Parece triste. Ela falou notando a minha tristesa, e eu logo percebi de que ela usava o colar de esmeraldas que eu havia lhe dado e isso me deu esperanças, mas ao mesmo tempo me magoou por ter que deixar tudo pra trás.
--- Hazel eu tenho uma notícia não muito agradável pra lhe dar. Eu disse pegando em sua mão e nos sentamos ali naquele gramado.
--- Oh meu Deus fale logo Michael, está me assustando. É sobre nosso casamento? Ela perguntou nervosa me olhando preocupada.
--- Um mensageiro foi até em casa convocando a mim e a meu pai para a guerra. Falei percevendo seu semblante mudar, sua boca abrir em um "o".
--- Ai meu Deus, não Michael não! Ela disse logo suas lágrimas rapidamente desceram pelo seus olhos e aquilo partiu o meu coração.
--- Sabe que isso é perigoso, sabe que pode acontecer algo e... Ela disse nervosa e então eu a abracei com força, também deixando as lágrimas escorrerem.
--- Eu vou voltar logo logo, entendeu? Vou voltar e nos casaremos Hazel. Eu disse segurando sua face e colhendo todas suas lágrimas com meu polegar.
--- Depois de quanto tempo Michael? Ela perguntou se soltando de mim e me olhou com um certo rancor.
--- Talvez um ano ou mais. Eu disse ainda chateado e ela olhou ironica para mim.
--- Acha mesmo que vou esperar por tanto tempo? Você tem ideia do quando pararei a minha vida por você? Ela falou aquilo e eu não estava acreditando em suas palavras.
Talvez até seria muito egoísmo de minha parte fazer com que espere por tanto tempo por mim. Não era justo parar com sua vida pra simplesmente que eu servisse o meu país.
--- Não há nada o que fazer eu sinto muito. Eu disse vendo hazel retirar o seu colar do pescoço e colocar em minha mão.
--- Eu é que sinto muito. Ela disse se retirando e eu não fiz absolutamente nada, fiquei parado, completamente imovél sentindo a dor correr por dentro.
Uma vez me disseram que o amor seria capaz de tudo, até esperar uma vida se aquela pessoa fosse o centro dos seus pensamentos. Talvez não era assim com Hazel, talvez ela nunca me amou de fato. Isso eu nunca saberia, pois estava de malas prontas pegando o primeiro trem para Polônia e com a única certeza da minha vida. Eu iria esquecer Hazel nem que pra isso eu treinasse nos campos de batalhar até a exaustão.
Capítulo 3
Eu ainda não conseguia acreditar que estava a caminho da guerra. Não era aquilo que eu havia planejado para meu futuro. O que mais doía em mim agora era saber o quão sem esperança Hazel me deixou, tudo por culpa dessa ordem.
Será que eu acharia uma mulher melhor do que Hazel? Eu não tinha certeza, mas eu tinha que tirá-la da minha cabeça ou ficaria maluco.
Assim que descemos do trem fomos abordado por uma pequena comitiva de soldados que nos levariam até nossa nova casa.
--- O que há Michael? Parece pensativo. Lauren falou tentando puxar assunto, mas eu não estava afim.
--- Não é nada. Eu disse sem olhá-la observando o caminho que passava rapidamente pela janela.
--- É a Hazel não é? Oh ta tristinho por causa da Hazel. Ela falou tocando meu queixo e eu me irritei com ela.
--- Pare Lauren! Por favor. Eu disse irritado e notei que todos me olharam abismados.
O caminho inteiro eu tive que ficar escutando Lauren fazer suas perguntas para mamãe e papai, enquanto eu ficava pensando agora o que realmente faríamos lá.
Cerca de uma hora depois estávamos adentrando os portões de nossa nova casa. Era um lugar incomum do ambiente em que eu costumava estar. Não havia mais nenhuma casa ali próximo, a não ser a nossa é claro. O bom disso tudo é que não teríamos incomodos com vizinhos novos, ou qualquer esse tipo de coisa. Peguei minhas coisas do carro sem esperar por ninguém e segui ao lugar onde seria meu quarto.
A casa era simples, pequena e com poucos cômodos. Cercada por muros altos e árvores. Tinha apenas dois andares, enquanto nossa casa em Berlim tinha mais de três. Para minha “sorte” meu quarto ficaria em frente ao de Lauren o que quase não me daria privacidade alguma. Eu depositei minha mala sobre a cama, tirei meus sapados e fiquei parado ali observando aquele quarto com as mãos na cintura.
--- Querido, teremos um jantar as 8, por favor não se atrase. Minha mãe disse abrindo a porta e me vendo ali agora sentado na cama.
--- Está bem. Eu falei sorrindo e a vi logo sair dali me deixando novamente sozinho.
Eu me arrumei em meu mais perfeito terno e desci como um verdadeiro cavalheiro ao lado de Lauren. Fizemos nossos cumprimentos e logo nos sentamos a mesa com os demais.
Acabei tirando algumas de minhas dúvidas sobre nossos treinamentos com as perguntas que alguns tenentes faziam para meu pai. Eu jamais abriria minha boca num momento tão especial como aquele, sabia que uma palavra errada e eu já seria castigado por meu pai, não importava a idade que eu tivesse.
O que eu mais acha estranho ali eram os empregados, eles jamais nos olhavam nos olhos, jamais nos dirigiam uma palavra e nunca sorriam. Tinham um semblante de humildade e até mesmo abatido as vezes. O senhor que estava ali a nos servir era realmente muito estranho, mas eu acabei deixando aquilo de lado quando senti o sono me bater.
--- Bom, eu vou encerrando por aqui. Muito obrigado a todos, tenham uma boa noite. Eu falei me levantando com cuidado e saindo dali após cumprimentar todos.
No dia seguinte eu levantaria as quatro da manhã o que não seria nada fácil.
Eu logo troquei aquele terno chique por um simples pijama e meias confortáveis. Eu liguei a luz do meu quarto e pela primeira vez notei de que havia uma pequena janela ali, curioso eu fui até ela.
Era tão alta que até para eu mesmo alcançar tive que ficar na ponta de meus pés. Eu podia ver tudo o que acontecia do outro lado do muro e das enormes árvores. Um lugar cheio de cabanas que daqui pareciam de miniatura e poucas pessoas andavam por lá, todos estavam vestidos iguais. Eu não enxergava muito pela pouca iluminação do lugar.
Não tinha árvores daquele lado, eram só casinhas, terra e aquelas pessoas. Talvez aquele lugar seria onde nós treinaríamos.
Eu logo decidi me deitar, senão ficaria muito tarde e na manhã seguinte eu teria que levantar cedo.
Eu mal deitei naquela cama e fechei os olhos e o dia já havia chegado. Me levantei e notei que estava atrasado, a comição dos soldados sairiam logo logo e eu ainda estava desarrumado.
Tomei meu banho rapidamente, arrumei meus cabelos e coloquei aquele uniforme. Vestido daquele jeito eu me lembrava das vezes que via papai chegar em casa do seu trabalho quando eu era criança. Ele nunca tirava aquela roupa e eu me intrigava sobre o motivo daquilo.
--- Querido? Está pronto? Irá se atrasar! Mamãe disse batendo na porta do banheiro enquanto eu passava meu perfume.
Desci as escadas correndo e peguei uma maçã para comer no caminho. Não tinha mais tempo para o café.
Todos estavam ali apenas me aguardando, parecia que eu era o único que estava sendo “acompanhado” do pai naquela guerra. Eu não liguei para isso, meu pai era homem de respeito e de valor para todos, nunca haveria ninguém para ousar de falar dele.
O treinamento foi alguns quilômetros longe de minha casa. Cansativo e cheio de regras que eu não entendia o porquê, porém acabei gostando daquela rotina que se começava em minha vida. Sem Hazel e sem preocupações, ela deveria estar lamentando agora por ter sido rude comigo daquele jeito e eu estava ali apenas a esquecendo aos poucos.
--- Como foi o treinamento, criança? Mamãe falou chegando na porta de meu quarto e já me viu vestido com outra roupa, após chegar do treinamento e agora eu colocava meus sapatos. Que por sinal eram bem mais confortáveis que aquelas botas.
--- Ótimo. Eu falei me levantando e a olhando com um sorriso nos lábios.
--- Vai sair? Ela perguntou me vendo se olhar no espelho, e eu pensei “para onde eu iria?”.
--- Vou caminhar um pouco, ainda tenho um pouco de energia. Falei dando um beijo em sua testa e desci as escadas.
Peguei algumas frutas e sai para caminhar e também “explorar” o outro lado do meu quintal. Só havia mata para trás daquela casa.
Estava caminhando a mais de dez minutos, até que encontrei uma enorme cerca e então decidi seguí-la para ver até aonde ela iria. Foram quase duas horas seguindo a tal cerca até eu avistar seu fim. Pude notar que ali também tinham aquelas casinhas que eu via de minha janela. E agora eu podia ver o quão grande elas eram daqui.
Comecei a me aproximar mais e mais, até notar uma silhueta ali. Fui andando ainda até aquilo criar forma. Confesso que levei um susto quando notei aquela pessoa ali. Estava do outro lado da cerca sentada no chão o encarando. Vestia um calças e camiseta de listras azuis e brancas. Me aproximei e assim que aquela pessoa viu minha sombra me encarou amedrontada.
Capítulo 4
Aquele olhar tão intenso para mim, amendrontados, mas profundos. Eu mergulhava naquele mar azul de mistérios e intensidade que nunca havia visto antes. Ela estava bastante assustada, parecia até um bicho quando é perdido da mãe. Ela voltou a abaixar sua cabeça e ficou ali em me olhar.
--- Olá. Eu falei vendo o quão bela ela era.
Ela tinha um belo par de olhos azuis e cabelos bastante escuros arrumados em uma longa trança.
--- Meu nome é Michael. Eu falei novamente estendendo minha mão para o lado dela da cerca, mas ela nada fez.
--- O meu é Agnes. Ela disse ainda sem me olhar e notei que não iria apertar a minha mão então a abaixei.
--- Agnes? Bonito nome. Sou novo aqui, cheguei ontem da Alemanha. Não estou muito acostumado com esse lugar, mas espero que isso mude logo, se não eu piro. Mora muito tempo aqui? Eu falei rindo e ela tentou fazer o mesmo, mas muito timidamente.
--- Desde que nasci. Foi o que ela disse apenas e eu assenti.
--- Bom espero que possamos ser amigos, queria conhecer os lugares daqui. Pode me mostrar? Eu perguntei me sentando no chão e ela enfim me olhou.
--- Gostaria, mas infelizmente não posso sair daqui… Ela disse baixinho e eu não entendi.
--- Por quê? Eu perguntei a vendo se levantar e sacudir a poeira de sua roupa.
--- Eu preciso ir, minha família me espera não posso me afastar muito. Ela falou me olhando se levantar perante ela do outro lado da cerca, é claro.
Agnes era apenas uma menina tímida e medrosa, talvez porque não me conhece direito, mas notei o quanto era simpática, e eu adoraria conhecê-la melhor, quem sabe nos tornamos grande amigos.
--- Você mora ali? Eu falei apontando para o vilarejo bem a nossa frente onde havia luzes de casinhas por todo lado, pareciam muito com as casinhas que eu via pela janela de meu quarto.
--- Sim. Disse somente e começava a se afastar.
--- Tudo bem Agnes, espero poder vê-la mais vezes. Eu falei a vendo já um pouco longe.
-Eu sempre venho aqui todas os finais de tarde. Ela disse agora abrindo um pequeno sorriso para mim.
--- Estarei aqui amanhã. Eu falei a observando até desaparecer do meu campo de visão.
Eu notei que já começava anoitecer então logo voltei para casa.
Já eram cinco horas da manhã e eu já estava no campo de treinamento com todos formando cinco filheiras com dez homens e o General nos instruindo.
Eu não gostava daquilo, sinceramente não era pra mim, mas eu não poderia fazer nada a não ser aceitar e servir o meu país. Talvez um dia eu me acostumaria e seria um grande soldado como o meu pai quem sabe, talvez.
--- Irão lutar até o fim?! O General gritava em alto e bom tom.
--- Sim senhor! Gritávamos juntos em uníssono.
--- Não irão fraquejar?! Continuava gritando caminhando de um lado para o outro.
--- Não senhor! Respondiamos sérios, parados como uma estátua.
--- Qual é o nosso lema? Ele gritava andando em nossa frente enquanto nós ficávamos de cabeça erguia eretos.
--- Avistar o inimigo, capturar o inimigo, matar o inimigo! Falávamos sempre sérios.
Matar o inimigo. Talvez morrer pelo inimigo e falhar com nossa missão em proteger o nosso país. A verdade era que no campo de batalha tudo pode acontecer, e eu me sentia com medo desse pensamento.
--- Michael na minha sala. O General me chamava no vestiário enquanto eu terminava de amarrar as minhas botas.
--- Sim senhor. Falei o vendo em pé ali em minha frente.
Caminhei em passos lentos até chegar em seu escrítorio, ele já sentava em sua poltrona. Recebi um sinal para me sentar a sua frente.
--- Michael meu rapaz, não vejo muita motivação em seus olhos. Ele falou me olhando sério e eu me ajeitei na cadeira sentindo um incomodo por essa percepção.
--- Não estou acostumado é só isso. Cidade nova, ainda estou me adaptando. Eu falei uma desculpa boba, não queria falar que na verdade eu não queria estar ali.
--- Parece que não é só isso. Ele continuava me analisando e eu me incomodava ainda mais.
--- Não queria estar aqui, essa é a verdade. Eu disse encarando minhas mãos e depois tornei meu olhar para o seu.
--- Servir seu país não estava em seus planos não é? Ele disse me olhando com suas mãos cruzadas sobre a mesa.
--- Não, não estava. Eu disse baixinho, pois sabia que homens que temiam ir à guerra eram considerados fracos ou covardes. O que não era o meu caso, pois eu não queria estar ali porque sabia que eu não tinha nascido para essas coisas.
--- Mas agora que estar aqui precisa lutar, servir o seu país é algo grandioso para um homem. Não quer ser igual o seu pai? Ele perguntou ainda me olhando nos olhos.
--- Sabe… sempre admirei muito meu pai, porém acredito que essa inspiração que tenho de quem eu sou realmente não veio dele. Apenas o admiro, não me inspiro nele. Eu falei notando ele arregalar seus olhos e talvez até desacreditar do que eu dizia.
--- Rapaz, acho que você não sabe a importância que seu pai tem para nós. Acho que você não o conhece bem. Ele falou me deixando embasbacado com aquilo.
Eu sabia quem meu pai era! Eu sabia o quão importante ele havia se tornado para o nosso país, só que isso não o fazia uma pessoa na qual eu devia me inspirar. Ele era o herói da Alemanha, não o herói do filho dele.
Capítulo 5
Mais um dia de treinamento se passava, assim que cheguei em casa tomei meu banho, me arrumei peguei um lanche e sai para minha caminhada de final de tarde.
Aquela caminhada cansativa começou a me dar fome então decidi pegar uma fruta e comer. Assim que cheguei próximo a cerca eu a vi. Estava no mesmo lugar, sentada no chão e encarava suas mãos de cabeça baixa.
--- Olá. Falei me sentando e a vi me olhar com um pequeno sorriso nos lábios.
--- Olá. Ela respondeu somente, notou que eu comia algo e ficou sem jeito.
--- Você está com fome? Quer? Eu perguntei mostrando um pedaço do bolo que peguei, pois sabia que no meio do caminho as vezes sentia fome e como não comi a ofereci.
--- Essa é uma pergunta que você nunca precisa fazer. Ela falou pegando o pegaço de bolo da minha mão timidamente e eu sorri.
Eu a vi comer aquilo tão depressa que jurava que iria se afogar com um pedaço do bolo.
--- Ei não coma tão depressa, pode se afogar. Eu disse a vendo agora lamber seus dedos e novamente voltar a olhar para o chão.
--- Tenho certeza que se for pra morrer eu jamais morrerei por estar comendo. Ela falou sem me olhar e se eu estivesse do seu lado da cerca eu ergueria sua face e a faria me olhar sempre nos olhos.
--- Então… você é polonesa? Eu a interroguei após alguns minutos de silêncio.
--- Sou… com muito orgulho. Ela disse me demonstrando algo que eu não entendi naquele momento.
--- O que você faz ai? Eu disse novamente quebrando aquele silêncio que ficava entre nós.
--- Nada. As vezes faço alguns serviços. Acredito que aí do seu lado é muito melhor. Ela falou agora erguendo sua cabeça e eu me encantei mais uma vez com sua beleza.
--- Sempre morou aqui? Perguntei e a vi me olhar pensativa, algo havia mexido com ela nessa pergunta.
--- Não… desculpe eu tenho que ir. Ela falou quando escutou um apito soar e correu até um carrinho de mão e sai com ele até sumir.
--- Tchau, Agnes. Eu sussurrei a vendo correr tão longe.
Por que ela teve que sair correndo após o apito? Por que nunca me olhava nos olhos? As vezes podia sentir que tinha um certo tipo de receio… ou até ódio de mim. E eu iria entender o porquê daquilo tudo.
Me levantei, sacudi minha roupa e voltei meu caminho. Quando cheguei em casa mamãe não dava sinal de vida, papai deveria estar no seu escritório como sempre e lá estava ela Lauren e o tenente Ruan.
--- Onde estava? Ela perguntou me olhando dos pés a cabeça.
--- Estava caminhando. Eu falei sem olhá-la.
--- Não é um frouxo esse meu irmão Ruan? Caminhando, coisa de mulherzinha. Quase chorou para não vir para cá. Ela falou debochada para o tenente Ruan tocando seu peito, aff eu odiava aquela cara. E as vezes minha irmã também.
Eu deixei eles de lado e subi para meu quarto. Fui direto para minha janela, e comecei a observar a lua que se fazia presente. Agradeci a Deus por mais um dia de viva e olhei para as casinhas lá embaixo. Algumas pessoas andavam carregando coisas e tinham outros que pareciam as dizer onde colocar aquilo.
Fiquei alguns minutos ali observando. Notei que alguns deles marchavam até que entraram em uma das casinhas, que parecia ser bem maior do que as outras e então eu não os via mais.
Capítulo 6
--- Eu nem sei porque você vem até aqui. Agnes falou quando me viu chegar ali.
Estava sentada no mesmo lugar de sempre. Como eu sabia que ela estaria com fome então decidi levar uma mochila com algumas coisas para que ela pudesse comer.
--- Gosto de você, sei que podemos nos tornar grandes amigos. Eu falei lhe dando a mochila e a vi abrir e sorrir quando viu aqueles lanches que eu havia levado.
--- É perigoso você ficar aqui. Está arriscando sua vida. Ela disse pegando o sanduíche e o devorando em poucas mordidas.
Ela comia tão apressada que eu até me admirava, será que do lado dela não tinha comida?
--- Então disse que veio da Alemanha, o que faz aqui? Ela perguntou pegando o suco e dando um longo gole que acabou tomando tudo de uma vez.
--- Estou no treinamento, é próximo daqui. Se quiser um dia posso levar você lá para nos ver. Eu falei a vendo soltar um riso alto e eu não entendi.
Eu notei que em todas as visitas que eu a fiz ela sempre estava usando aquela roupa listrada e eu queria saber porque.
--- Sabe… não tenho nada contra, mas por que você sempre usa essa roupa? Eu perguntei meio sem geito e a vi levantar sua cabeça e me olhar.
--- Levaram nossas roupas e então temos que usar essas. Ela falou me olhando enquanto desenhava algo no chão.
--- Quem? E por que tem esses números? Eu perguntei novamente sem jeito e ela então olhou o número que estava em sua camiseta e notei que seus olhos encheram de água.
--- Os soldados. Todos nós temos esses números. Ela falou mostrando aqueles números para mim segurando sua camiseta.
--- Nós? Como assim? Perguntei enfatizando o “nós” e ela soltou sua camiseta e parecia pensar uma forma de me dizer aquilo.
--- Os poloneses e judeus. Ela falou baixinho.
--- Por que os soldados fariam isso? Eu a interroguei novamente, não sabendo se ela queria responder, mas eu estava indo em frente.
--- Somos prisioneiros… Michael, não estamos aqui porque queremos. Usamos essa roupas porque somos obrigados. Estamos aqui para fazer favores e depois morrer! Ela falou me olhando nos olhos e seus olhos exalavam raiva.
--- Você está enganada, Agnes. Os soldados não fariam isso com as pessoas inocentes. Guerreiam apenas com os outros soldados inimigos. Não fariam isso, tenho certeza. Eu falei a desmintindo, pois eu não queria acreditar naquilo que ela dizia.
--- Você não vai entender, é um deles! Nem sei o que você faz aqui. Não nascemos para ser amigos, por favor, me deixe em paz. Ela falou se levantando e ficando de costas para mim.
--- Por favor Agnes, olhe para mim. Eu não faria mal algum a vocês, e acredito que nenhum soldado também faria isso. Por que obrigariam todos os poloneses a trabalhar presos aqui? Eu a interroguei olhando para ela que ainda estava de costas para mim.
--- Talvez você seja diferente, mas ainda assim é um deles. Por favor, vá embora. Eu sou proibida de conversar ou olhar diretamente nos olhos de um de vocês. Vá embora. Ela continuava sem me olhar e eu sem a compreender.
Qual seria o motivo de sermos adversários?
--- Agnes, eu posso estar enganado. Mas meu pai não faria nada disso que está falando. Eu não entendo. Por que fala isso? Eu perguntei pegando a bolsa que estava no chão e a fechei.
--- Porque somos rivais, somos inimigos, entendeu? Não nascemos para ser amigos um do outro. Por favor, peço que vá embora. Não aumente mais meu sofrimento. Me deixe morrer em paz aqui. Ela falou alto e com sua voz embargada e não se virou para mim.
--- Me desculpe. Eu estarei aqui sempre que precisar. No mesmo horário a esperar por você. Eu falei me levantando e pegando a mochila.
Sai dali a passos lentos e com a cabeça baixa, pensativo. Eu a mostraria que não era como ela pensava. Eu ia mostrar a ela que eu era diferente e não tinha motivo para sermos inimigos.
Capítulo 7
Naquela manhã a primeira coisa que fiz depois de me arrumar para ir para meu treinamento, foi olhar pela janela do meu quarto e ver aquelas pessoas do outro lado da cerca.
Agora eu conseguia diferenciar os soldados dos prisioneiros como dizia Agnes.
--- Ei bobão, vai se atrasar para o treinamento. O que tanto vê ai? Lauren falou entrando em meu quarto e eu me assustei.
--- Nada… apenas gosto de observar o nascer do sol aqui de minha janela. Eu falei saindo da janela e a fechando, porém ela foi até lá e a abriu.
--- Eles são estranhos não é mesmo? Ela falou em um tom debochado olhando pela janela com cerca dificuldade por causa de sua estatura baixa.
--- Quem? Eu perguntei me virando para ela e ela me encarou sem jeito.
--- Deixa para lá. Ela disse sorrindo sem graça e passou por mim tocou meu queixo e desceu as escadas.
Eu bufei e logo desci também. Hoje o treinamento seria um pouco melhor do que os outros. Aprenderíamos a pilotar os aviões.
Eu fiquei de boca aberta quando os vi de perto, pareciam tão pequenos nas fotos que apareciam nos jornais, mas ali, perante nós eram enormes e muito mais belos. Nós nos preparamos para entrar e cada um junto com o seu instrutor pode sobrevoar todo aquele lugar.
Pude ver minha casa que agora parecia minuscula, e todos lá embaixo do outro lado da cerca. Realmente os pontinhos brancos se destacavam muito mais do que os soldados. Mas eu sabia que Agnes estava errada, meu pai não seria capaz de fazer o que ela dizia.
Assim que o treinamento acabou voltei para casa. Me arrumei, peguei minha mochila coloquei algo para Agnes comer e segui meu caminho.
--- Michael? Escutei ela falar meu nome e erguer sua cabeça quando me viu em pé ali na sua frente.
--- Agnes, está aqui! Eu falei me sentando no chão e pegando uma pequena garrafa de água para beber.
--- Pensei que não viria. Ela falou pegando a mochila quando a passei pela cerca.
--- Eu lhe falei que poderíamos ser amigos, não importa qual nossa patría. Seremos amigos. Só isso. Eu falei a vendo abrir a mochila e sorrir com o que via lá.
--- Obrigado por trazer esses lanches. Mostra o quão diferente deles você é. Não sei porque faz tudo isso por mim. Ela falou pegando algumas frutas e as devorou.
--- Se não quiser comer tudo agora irei entender, pode levar algo para comer depois. Eu falei a vendo me devolver a mochila com algumas coisas dentro e a vi sorrir quando escutou o que eu disse.
--- Se não se importa… Ela falou rindo e pegou tudo o que tinha dentro da mochila.
Eu fiquei a observando guardar aquilo dentro de sua camiseta.
--- Como foi seu dia? Perguntei olhando em seus belos olhos.
--- O de sempre, chato e tedioso. E o seu? Ela perguntou fazendo cara desanimada e depois sorriu.
--- Foi bom. Estamos aprendendo a pilotar os aviões, gostaria de levá-la um dia para nos ver. Iria gostar. Eu disse a olhando com um sorriso nos lábios e ela também mantia o seu sorriso no rosto.
--- Oh acredito que não. Ela falou meio chateada e olhou para o chão.
--- Agnes, nunca me contou como chegou até aqui. Gostaria de saber se não a incomodasse. Eu falei a observando encarar o chão.
--- Oh não, irei lhe contar, estávamos em casa aquela manhã, quando escutamos barulhos e estouros. Quando olhamos por nossas janelas o bairro estava sendo tomado por soldados com seus carros, motos e suas armas potentes. Todos tivemos nossas casas invadidas e maior parte delas quebradas. Nos levaram presos até um caminhão no qual tivemos que viajar cerca de horas. Ficamos em presos durante alguns dias em um pequeno cômodo. Eram mais de 12 poloneses lá, sem comida ou água. Nos colocaram em um único vagão de trem e assim que saimos do trem viemos até aqui de caminhão. Era horrível. Brigávamos pela falta de comida e pela desorganização no lugar, mas nada podíamos fazer. Ela falou com lágrimas descendo por sua face.
Eu acabei até me sentindo meio culpado por ter perguntado à ela aquilo, mas eu ainda tinha minhas dúvidas.
Capítulo 8
Eu não estava acreditando que aquilo que ela falava era o trabalho de meu pai. Ele era um homem tão respeitado e elogiado por todos que eu não podia acreditar. Ele era homem de guerra, não destruidor da humanidade.
--- Não acredito que eles tenham feito isso. Veja estou treinando para ser soldado, mas não nos ensinam e nem nos mostram esse tipo de coisa. Todos soldados que conheço são dignos de respeito e tem muito bom caráter. Eu falei a vendo me olhar com aquele belo par de olhos azuis que me transmitiam tristeza e carência.
--- Não existem soldados bons como você pensa, Michael. É jovem demais para entender o que acontece por trás das coisas. Seu pai nem todos os outros são o que você pensa. Bom, como já disse você é alemão e não vai entender. Me admiro até estar conversando comigo. Ela disse abaixando sua cabeça e novamente encarava o chão.
--- Você pode até estar certa, mas meu pai não faz esse tipo de coisa. Tenho certeza. Eu falei a olhando brincar com uma pequena pedra nas mãos.
--- É o apito, eu preciso ir. Ela falou quando o apito soou novamente e se levantou rapidamente sacudindo sua roupa.
--- Foi bom conversar com você. Boa noite, Agnes. Eu falei também me levantando e peguei a mochila em minhas mãos.
--- Boa noite, Michael. Ela falou correndo já longe e abanou a mão para mim.
Eu sorri e assim que ela sumiu completamente eu voltei meu caminho. Aquela noite tinha chegado mais depressa e então eu quase não enxergava o caminho.
Eu estava quase chegando perto de casa quando vi que teria que arranjar outro caminho para passar, pois Lauren estava com o tal tenente Ruan, e desconfiaria se me visse chegar aquelas horas. Então eu decidi passar por uma pequena janela, mas eu ficaria trancado se tentasse passar.
A única escolha que tive foi dar um soco na janela e arrebentar minha mão.
--- Ai droga! Eu falei pulando do outro lado e segurando minha mão que doia.
Notei que eu não estava sozinho naquele lugar, foi então que vi que o senhor que sempre costumava nos servi nas refeições ali.
--- O que há rapaz? Ele perguntou me vendo ali assustado segurando minha mão ensanguentada.
--- Cortei minha mão. Eu falei o mostrando e fazendo uma careta pela dor.
--- Venha! Ele falou enrolando um pano em minha mão e me pediu para que eu o seguisse.
Eu o segui em silêncio nem prestando muito atenção aonde estávamos passando, até que notei que chegamos na cozinha de minha casa.
--- Sente-se. Ele falou tirando uma cesta cheia de legumes de um banquinho.
--- O que vai fazer? Perguntei ainda o olhando com medo segurando o pano.
--- Curativos. Ela falou vindo já com uma pequena caixa com objetos de primeiros socorros.
--- Talvez eu precise de alguns pontos. Eu falei vendo ele limpar minha mão enquanto eu resmungava da pequena ardência que se fazia.
--- São cortes pequenos, não vai precisar. Ele disse logo terminando de limpar e enrolando minha mão em uma faixa.
--- Como sabe? Você não é médico, é? Apenas nos serve na mesa. Eu disse vendo ele guardar as coisas de volta na caixa e a guardar.
--- Claro que sou médico. Estudei muitos anos. Ele falou lavando suas mãos, pegou uma faca e a cesca que estava no banquinho e começou a descascar aqueles legumes.
--- Que? Você médico? Então o que faz aqui? Por favor, me conte outra. Eu falei debochando dele e vi que ele levou a sério então mudei minha postura.
Eu acabei percebendo que ele usava o mesmo tipo de roupa que Agnes, aquela com listras brancas e azuis. Sua pele meio acinzentada e seus olhos claros também me lembraram a ela. Quando eu iria perguntá-lo o porquê de estar ali minha mãe acabou chegando.
--- Michael? O que faz aqui? Ela perguntou me vendo ali sentando a observar aquele homem descascar os legumes.
--- Cortei minha mão… este bom homem me ajudou. Eu falei sorrindo para ele, mas ele não me olhava, estava de cabeça baixa.
--- Como? Deixe me ver isto. Ela falou pegando minha mão delicadamente e eu mostrei o curativo que ele havia feito.
--- Cortei hoje… é… no treinamento. Ele fez um curativo, agor anão sinto mais dores. Eu falei gaguejando, pois não poderia dizer a ela que eu tive que quebrar uma janela.
--- Está bem. Não conte nada ao seu pai. Se ele perguntar diga que eu que fiz. Obrigado. Ela falou me arrastando para fora da cozinha e logo agradeceu o homem que nada disse.
Eu acabei ficando pensativo com aquilo, será que Agnes tinha razão sobre meu pai? Aquele homem era polones eu tinha certeza daquilo e estava ali a trabalho. Será que aquilo que ela me dizia era realmente verdade?
Capítulo 9
Estava lendo um livro em meu quarto aquela noite quando meu pai entrou, sempre usando aquele uniforme e agora num momento onde estávamos só nós dois eu o vi sorrir.
--- Filho, como estão os treinamentos? Ele perguntou se sentando na beira da cama me olhando.
--- Ótimos, em breve estarei voando sozinho. Eu disse marcando a página do livro e me sentei ao seu lado.
--- Me orgulho muito de você. Um dia eu o quero ver vestindo essas mesmas roupas que eu. Quero ver você ser aplaudido por uma multidão e ser considerado o melhor, por favor Michael, me dê um dia esse orgulho. Ele disse me olhando com um sorriso no rosto e seus olhos pareciam felizes diante de mim.
O olhando desse jeito agora eu me lembrava de Agnes, eu queria perguntar ao meu pai se aquilo era verdade. Queria escutar de sua própria boca. Eu sempre quis me tornar um homem com a mesma dignidade de meu pai, mas não do jeito que Agnes falava.
--- Pai… o que são aqueles… aquelas pessoas que vivem… Eu falei baixinho e decidi não terminar a frase.
--- Diga filho. Ele falou tocando meu ombro e me olhando agora sério.
--- Não é nada. Pai, acho que Lauren deve estar tendo um caso com o tenente Ruan. Eu disse mudando de assunto, não queria parecer ignorante diante dele.
--- Ele não é o tipo de homem para Lauren. Lauren irá se casar com um homem da cidade. Ele falou parecendo temer algo e eu não entendia, parecia voltar ao seu passado e mudar algo.
Ele se levantou da cama e deu uma volta pelo quarto, e acabou notando a janela.
--- Você já os viu? Ele falou indo até a janela e observando o que acontecia lá embaixo.
--- Quem? Eu perguntei indo até ele.
--- Os soldados. Daqui alguns meses estará trabalhando como eles. Ele falou olhando para o outro lado do enorme muro.
Como assim eu trabalharia como eles? Eu estava ali para ir á guerra, não para cuidar de prisioneiros ou sei lá o que eram.
--- Filho, logo desça para o jantar. Ele falou saindo da janela e foi a passos lentos até a porta enquanto eu ficava hipnotizado ali observando.
--- Ok… Eu disse baixinho saindo da janela e a fechei.
Naquela noite eu não consegui dormir. Eu pensava em tudo o que Agnes já tinha me dito até ali, eu não entendia o porque de tudo aquilo. Era injustiça? Era guerra? Discriminação? O que era aquilo realmente?
Eu começaria a entender com o tempo, o que não demorou muito…
Capítulo 10
Era mais uma manhã de treinamento, dessa vez nós voaríamos sozinhos.
--- Antes de vocês voarem. Quero que cada um faça um símbolo no seu avião. Esse símbolo vai representar vocês durante todo o treinamento. Ele falou enquanto alguns soldados carregavam algumas latas de tintas até nossos aviões.
Eu notei que muitos deles faziam uma estrela muito diferente, e a mesma que tinha no uniforme de meu pai. Muito conhecida por suástica.
Alguns outros assim como eu fizeram outros símbolos, e o que eu desenhei em meu avião foi o número da roupa de Agnes e o símbolo que também tinha em sua roupa.
Depois de quase uma hora ali desenhando em nossos aviões ele permitiu que nós entrássemos. E ligássemos os aviões.
--- Estão preparados? Já! Gritou dando um sinal e assim todos demos partida.
Olhei para meu lado e lá estava o tenente Ruan que apenas passeava com minha irmã. Ela o abraçava com força e tinha um belo sorriso no rosto.
Os olhando daquela forma até senti uma ponta de inveja. Eu queria estar aquela hora com Agnes e mostrá-la como era belo ver as coisas daqui de cima. Talvez um dia nós teríamos a oportunidade de ser como eles dois eram agora. Um dia ainda voaríamos juntos entre as nuvens livres de tudos e de todos.
--- Hey garotão, cuidado! O tenente Ruan falou debochado apontando para algo em minha frente.
Quase morri de susto quando vi que um de meus colegas vinha em minha frente, minha sorte foi que rapidamente eu mudei de direção e assim nada aconteceu.
--- Você foi ligeiro, carinha. Ruan falou rindo de mim e apotando para mim enquanto eu o olhava com cara sarcástica.
--- Oh Ruan, como você é mal. Lauren falou toda boba segurando nele e batendo em suas costas.
Eu estava começando a criar nojo deles.
…
--- Hey seu bobo, o que está fazendo? Agnes sorriu quando me viu chegar próximo da cerca com minha mochila e uma bola de basquete.
--- Achei que podíamos nos divertir um pouco. Já que você não pode sair dai… iremos jogar assim que você fizer seu lanche. Eu falei entregando a bolsa a ela e ela sorria, parecia feliz, e eu até via um brilho nos seus olhos.
--- Sabe que não podemos fazer isso aqui, Michael… Ela falou meio triste, mas eu iria a convencer.
--- Ah Agnes, vamos lá. Por favor, não custa tentar não é mesmo? Eu disse fazendo uma cara triste e a vi me olhar de boca aberta e então se convenceu de que ou ela jogava ou eu não a deixaria em paz.
Ela abriu a mochila e pegou o que tinha ali dentro, então como sempre fazia comeu tão depressa que quase nem a vi mastigar aquilo direito.
--- Está pronta? Eu falei segurando a bola com as duas mãos e a vi se levantar e erguer as mangas de seu “pijama listrado”.
--- Sim. Ela falou sorrindo e erguendo agora as mãos.
Eu joguei a bola e ela agarrou firme sorrindo. Jogou para mim e eu deixei a bola escapar, então tive que ir atrás.
--- Você é bobo sabia? Ela falava enquanto nós jogávamos e eu me sentia feliz por conseguir arrancar alguns risos dela. Sabendo o quão triste e sofrida era sua vida.
Eu mostrei a língua para ela e ela dava risada alta, o que agora pareciam doces canções para mim.
Capítulo 11
Naquele final de tarde quando cheguei lá notei que Agnes estava novamente com a cabeça baixa, olhando para o chão, mesmo notando minha presença ali ela se recusou a me olhar.
--- Olá, Agnes. Trouxe algo diferente para o seu lanche hoje, acho que vai gostar. Eu falei me sentando no chão e me intristeci quando vi que ela não tinha nenhuma reação.
Continuava de cabeça baixa encarando o chão.
--- O que há com você? Eu perguntei a olhando enquanto eu abria a mochila para pegar seu lanche.
--- Não quero falar com você hoje. Por favor, vá embora. Foi a primeira coisa que disse, sua voz estava embargada.
--- Não vou embora até me dizer o que aconteceu! Eu falei persistente.
Depois de longos minutos de silêncio ela decidiu me responder. Tirou o boné que usava e ergueu seu rosto. Ela estava careca, sim careca! E seu rosto estava banhado por lágrimas.
--- O que aconteceu com seu cabelo? Eu perguntei de boca aberta e a vi abaixar sua cabeça novamente.
--- Os soldados cortaram… de todos nós. Ela disse colocando de volta seu boné que por sinal era do mesmo tecido e cor de sua roupa.
--- Mas… mas por que? Eu perguntei ainda sem acreditar, agora eu estava começando a entender um pouco da injustiça que aquele povo estava sofrendo.
--- Por causa dos piolhos, pois dormimos todos juntos. Ela falou passando a mão em sua face limpando aquelas lágrimas que a molhavam.
Eu só queria estar agora do lado dela, poder abraçá-la, colher todas as suas lágrimas e dizer que tudo ficaria bem, mas com aquela enorme cerca de arames fortes eu jamais poderia fazer algo.
--- Eu sinto muito. Eu queria poder abraçá-la agora. Eu falei vendo que as minhas lágrimas também já enchiam meus olhos e eu me segurei para não chorar em sua frente.
--- Fuja daqui Michael, fuja desse lugar. Você não merece ficar aqui, não merecia nem ser da mesma patría que esses… esses… você é tão diferente. Por que todos não são puros e humildes como você? Ela perguntou chorando e me olhando.
Eu queria fazer ela esquecer aquela situação. Esperei que se acalmasse e então eu entreguei o lanche para ela.
--- Me desculpe se tiver algumas pela metade, realmente são muito boas. Eu falei a fazendo rir quando pegou o saco de papel onde estavam as panquecas.
--- Uma mordida ou duas não fará muita diferença. Ela disse sorrindo parecendo já ter esquecido de sua dor agora.
Assim que ela terminou de comer nós conversamos sobre como era nossas vidas antes de estarmos ali. Não lhe falei sobre Hazel, o que eu até acabei me esquecendo agora, pois Hazel era a última coisa que eu tinha em minha mente agora. E eu até agradecia por isso.
Eu me despedi de Agnes e falei que estaria ali no outro dia.
Quando estava chegando em casa infelizmente eu não vi que o tenente Ruan e Lauren estavam ali, e eles acabaram me pegando de surpresa voltando de minha caminhada.
--- Opa opa, de onde está vindo senhor Michael? Eu escutei Lauren chamar minha atenção e eu até levei um susto.
--- Estou vindo de minha caminhada. Eu falei sorrindo amarelo e percebi o quão próximo um do outro eles estavam.
--- A essa hora? Não cola soldado Michael. O tenente Ruan falou vindo até mim e me olhando nos olhos.
--- Você não é meu pai para estar me regulando. Eu falei também o encarando nos olhos, éramos da mesma altura praticamente e então eu não tinha medo de enfrentá-lo.
--- Mas sou muito próximo dele, e posso contar que ainda não está na cama. Ele disse debochado e eu me segurei para não dar um tapa na sua cara.
--- Arrisque contar a ele… acha que não o vi agarrado com Lauren? Ele não ficaria nada contente de saber. Eu disse o olhando furioso e só não o bati por causa de Lauren que pediu para que parássemos com aquilo.
Eu o vi bufar e sair da minha frente.
Capítulo 12
Faziam já alguns meses de nossos treinamentos e então hoje nós seríamos levados até onde finalmente trabalharíamos antes de talves irmos para a guerra.
O general nos dava alguns conselhos e regras para aquele nosso “passeio”. Eu quase nem acreditei que o caminho que nós estávamos indo era em direção a minha casa, mas eu nada disse, apenas observei para ver até onde chegaríamos.
O carro no qual nós estávamos parou em frente a enormes portões, os soldados que estavam lá os abriram e assim eu pude ver tudo o que acontecia ali pelos vidros daquele carro.
A imagem que eu tive não foi nada agradável, tinham algumas pessoas que vestiam as mesmas roupas que Agnes, todos tinham aqueles números, porém os números eram um diferente do outro.
Nós descemos do carro e então se posicionamos em fila. Aquelas pessoas nos olhavam assustados e alguns deles nem nos olhavam, estavam sempre de cabeça baixa. Eu vi alguns soldados dos que já estavam lá a soprar o apito e assim vi todos aqueles prisioneiros se posicionar também em fila e começar a marchar.
Eu não estava entendendo nada o motivo daquelas coisas. Aqueles poloneses eram tão magros e tinham uma cor tão estranha. Agora eu notava o porquê de Agnes sempre comer aquela comida depressa e também temer quando ficávamos juntos conversando.
Eu senti meus olhos encherem de lágrimas e eu queria chorar, queria chorar por não entender o motivo daquele povo estar ali. O porque de todos ter que ser aprisionados e trabalhar a força sem receber nada em troca. Era mesmo aquela vida suja que meu pai levava? Era nisso que eu estava me metendo?
--- O que há soldado Michael? Está demonstrando fraqueza? Se coloque em seu lugar homem! O general me chamou atenção ao ver que eu estava prestes a derramar minhas lágrimas na frente de todos.
Eu me coloquei em meu lugar, segurei minhas lágrimas naquela hora, mas eu sabia que a primeira oportunidade que eu teria sozinho eu choraria.
Do lugar onde eu estava eu pude avistar aquela janela de meu quarto, me surpreendi por não ter percebido o que acontecia do outro lado do muro.
…
--- Então, o que fizeram hoje no treinamento? Agnes perguntou dando uma mordida no sanduíche que eu a tinha levado.
Eu não queria dizer a ela que vi o lugar e as coisas que ela presenciava todo dia. Eu não tive coragem.
--- Fizemos alguns exercícios básicos e mais algumas aulas práticas pilotando nossos aviões. Eu falei a vendo agora dar um gole no seu suco.
Enquanto ela comia seu lanche eu fiquei observando a estrutura daquela cerca. Eu queria poder um dia viver momentos como ela vivi com Hazel. Se eu achasse um jeito dela sair dali poderíamos conversar um do lado do outro, poderíamos nos tocar e sentir o abraço um do outro.
--- O que tanto olha? Ela perguntou me vendo analisar aquela cerca de perto ali quase deitado no chão.
--- Sabe… estava pensando que talvez teria um jeito para você sair dai. Eu falei notando o pouco espaço que havia entre o chão e o arame.
--- Não há, não adianta quebrar sua cabeça com isso. Por que acha que ainda estamos aqui? É impossível sair daqui sem que alguém veja. Esse lugar onde ficamos é o único lugar onde não há soldados, mas como pode ver é muito estreito os espaços entre cada arame. Ela falou dando uma risada forçada.
Eu não desistiria.
--- Como podemos saber se não tentamos? Eu falei a olhando com um sorriso largo nos lábios e ela franziu o cenho.
--- O que está pensando em fazer? Ela perguntou vindo mais perto da cerca me olhando sorrir como um bobo.
--- Você disse que fazem construções ai, não é mesmo? Perguntei levantando minha cabeça e procurando por uma daquelas ferramentas de construções.
--- Sim, fazemos muitas. Já perdi até a conta de quantas. Ela falou seguindo meu olhar e viu para onde eu olhava.
--- Você sabe me dizer se por ai tem alguma pá? Sabe aquelas grandes de cavar? Perguntei apontando para um monte de pedras e concretos quebrados e jogados naquele lugar.
--- Acho que tem… deve ter. Eles usam aqui. O que quer que eu faça? Ela perguntou voltando seu olhar para o meu.
--- Amanhã se você achar traga sem ninguém ver. Faremos um buraco aqui embaixo da cerca e assim você poderá passar para o meu lado. Eu falei sorrindo completamente euforico na sua frente e também a vi aceitar minha ideia maluca.
Nós planejamos exatamente como faríamos aquilo sem ninguém ver. Eu queria mostrar a ela que poderíamos ser felizes não importava nossa origem ou patría.
Capítulo 13
Eu passei o dia inteiro pensando em como seria a primeira vez que eu veria Agnes fora daquela cerca maldita. O general chamou várias vezes minha atenção durante as marchas, mas eu não estava nem aí. Eu estava doido para que aquele treinamento acabasse de uma vez, para que eu pudésse ir até Agnes.
--- Agnes! Eu disse alto sorrindo a vendo vir correndo em direção a cerca com aquela pá.
--- Michael, eu consegui! Ela disse também sorrindo e eu tive vontade de abraçá-la.
Aquela vontade que estava comigo o dia inteiro.
--- Me dê isto. Eu falei pedindo a pá para que pudesse cavar o buraco embaixo da cerca.
Ela me entregou a pá e eu comecei a cavar, fiquei cerca de dez minutos cavando aquele buraco. Agnes sorria e estava tão agitada quanto eu, sempre dizia “você consegue Michael!”.
--- Acho que você passa agora não é mesmo? Falei olhando o buraco que tinha ficado por debaixo da cerca.
Ela assentiu sorrindo e logo se abaixou e passou por ali. Me encantei quando ela se levantou e sacudiu sua roupa. Seus olhos brilhavam para mim e a primeira reação que eu tive foi abraçá-la, a abracei tão forte que a tirei do chão.
--- Conseguimos! Eu disse olhando para sua face tão próxima a minha agora.
--- Sim. Ela falou ficando sem graça e então eu a coloquei de volta no chão.
Olhamos para o buraco ali embaixo da cerca e sorrimos um para o outro timidamente.
--- Bom, já que você está livre, venha. Quero lhe mostrar algo. Eu falei pegando em sua mão tão pequena e comecei a correr.
--- Para onde vamos? Ela perguntou sendo arrastada por mim no meio daquela mata que ficava atrás de meu quintal.
--- Quero lhe mostrar algo. Eu falei continuando a correr e segurando sempre firme em sua mão.
Enfim chegamos próximo a minha casa, eu notei ela ficar de boca aberta ao notar o tamanho da casa.
--- E você acha essa casa pequena? Ela perguntou quando entramos no pequeno sótão que havia ali.
--- Digamos que a casa em Berlim era mil vezes maior que essa. Eu disse ligando a luz e fechando a porta atrás de nós.
--- Michael é perigoso demais aqui para mim. Alguém pode me descobrir e aí estarei morta. Ela falou olhando meio assustada para as coisas que tinham ali.
--- Relaxa, meu pai está trabalhando. Mamãe e Lauren estão para a cidade e os empregados são todos poloneses. Eu disse a vendo olhar assustada para a janela quebrada.
--- O que foi isso? Ela perguntou apontando para a janela e eu sorri.
--- Estava voltando da cerca e minha irmã estava com o tenente Ruan aqui próximo. Então, não tive escolha a não ser quebrar a janela com minhas mãos. Eu falei rindo enquanto me lembrava daquele dia e mostrei para ela algumas cicatrizes ainda que estavam em minha mão.
--- Ah sim, então foi essa janela que você quebrou? Lembro que perguntei para você naquela tarde que chegou com a mão enfaixada. Ela disse tocando minha mão com delicadeza e eu pude sentir a suavidade de suas mãos.
--- Já ia me esquecendo de algo. Eu falei a olhando nos olhos e ambos ficamos sem graça perante o outro, então mostrei a mochila.
--- O que é? Ela perguntou não entendendo.
Eu apontei algumas caixas velhas de madeira ali e então sentamos.
--- Seu lanche. Disse dando a mochila para ela e ela sorriu.
Naquela tarde nós comemos juntos. Nós brincávamos pegando os pedaços do bolo e colocávamos na boca do outro. Era um momento doce e raro que eu vivia agora, e com certeza aquelas lembranças ficariam para sempre em minha memória.
Capítulo 14
Agora eu estava ali, olhando para ela e notando o quão linda, delicada e sensível ela era. Seus lábios rosados pareciam me convidar a um beijo, estava tão preso a ela agora.Toquei sua face e ela também me olhava com ternura.
Passei meu polegar em seus lábios e ela sorriu. Eu não consegui me segurar naquele momento. Aproximei minha face da sua meus lábios tocaram os seus, então eu lhe dei um longo beijo.
Após aquele beijo terminar nós continuamos a nos olhar, sem parecer entender o que acontecia ali.
--- Me desculpe… é eu não sei o que deu em mim. Eu disse olhando para baixo, mas ela me surpreendeu com sua resposta.
--- Não há problemas, eu gostei de seu beijo. Olhe para mim. Ela disse tocando em meu queixo e erguendo minha cabeça.
Assim que eu voltei meu olhar para o seu eu vi o desejo que a possuia. Sem que eu esperasse novamente ela colou seus lábios nos meus e então outro beijo foi dado. Dessa vez nós não parecíamos ter medo um do outro.
Ela pegou em minha nuca tocando meus cabelos e eu a puxei para meus braços, colando nossos corpos.
Eu já estava começando a me sentir excitado e Agnes pressionava cada vez mais seu corpo ao meu. Ela sorriu entre nossos lábios e foi com sua mão até meu membro. Eu não sabia o que realmente acontecia ali, só sabia que agora nós precisávamos um do outro para satisfazer aquele desejo que brotava de nossos corpos.
--- Eu a quero, Agnes. Eu a quero em meus braços. Eu gemi entre nossos beijos prensando meu membro em seu ventre.
--- Me faça sua, Michael. Ela sussurrou em meu ouvido e senti meu membro pulsar com aquilo.
Eu a desejava e eu a teria ali. Comecei a tirar aquela roupa que ela usava e mordi meu lábio ao ver o quão perfeita ela era, seu corpo era magro, mas tinham curvas e céus seus seios me chamavam para colocá-los em minha boca.
Eu a deitei em cima daquelas caixas colocando sua roupa por debaixo de suas costas para não machucá-la. Ela foi com suas mãos até minha camisa e começou a abrir os botões. Ela acariciou meu peitoral com suas mãos e tirou minha camisa a jogando longe.
Agnes me puxou para cima de seu corpo me dando beijos loucamente. Eu estava meio enrolado ali, seria a primeira vez que eu faria aquele tipo de coisa, por mais que eu namorasse com Hazel nós nunca tínhamos feito aquele tipo de coisa, estávamos nos guardando para nosso casamento.
Ela gemeu quando rocei meu membro em sua vagina, ainda ambos os sexos por dentro das calças. Nós terminamos de nos livrar daquelas roupas e estávamos prontos para um satisfazer o outro. Beijei a barriga de Agnes e quando cheguei em sua vagina eu a toquei levemente com meus dedos.
--- Você é…? Perguntei a ela ao perceber que também nunca havia feito aquilo com outro homem.
--- Sim… Ela sorriu tímida e eu não sabia o que fazer.
--- Tem certeza de que quer que eu continue? Eu também sou… mas lhe entenderei se quiser parar. Eu falei olhando para ela meio preocupado, mas ela continuou sorrindo.
--- Quero que me faça sua. Eu tenho certeza do que eu estou lhe pedindo Michael. Por favor, me faça sua. Ela disse mais como um gemido e eu atendi ao seus pedidos.
Eu abri suas pernas com cuidado, eu sabia que o ato seria meio doloroso para ela no começo, então comecei apenas a acariciar sua intimidade com meus dedos. A penetrei com um dedo e ela mordia os lábios. Coloquei mais outro dedo e ela franzia o cenho rebolando em meus dedos. Assim que eu coloquei o terceiro dedo ela rebolava e agora gemia coisas que eu não podia entender.
Aumentando a velocidade que eu brincava com meus dedos nela, Agnes começou a tremer, suar e a dizer coisas sem sentido. Logo veio a resposta daquilo, seu orgasmo.
Eu a puxei para um beijo e rocei meu pênis na entrada da sua vagina. Ela já estava começando a se acostumar com aquela sensação. Agnes chupou meus dedos que tinham ficado com seu sabor e novamente eu a beijei.
--- Está pronta? Eu perguntei entre nossos beijos e ela sorriu segurando minha face.
--- Estou. Ela disse sorrindo e abriu mais suas pernas para que eu pudesse adentrá-la.
Eu tirei seu boné, pois queria ver melhor sua face e vi que ela se incomodou um pouco.
--- Michael, eu prefiro ficar com ele. Ela disse meio triste.
--- Eu não ligo para isso, Agnes. Você é linda para mim de qualquer jeito ok? Eu quero ver sua face, não me incomodo com esse fato. Eu disse a confortando e um pequeno sorriso se formou em seus lábios.
Novamente nós nos concentramos ali e então eu comecei a penetrá-la devagar. Por mais que eu tivesse feito ela gozar com meus dedos ela ainda não tinha se acostumado realmente. Agnes acabou gemendo alto enquanto eu empurrava meu membro para dentro dela.
--- Oh Michael, dói demais. Ela falou mordendo meu lábio inferior.
--- Está quase, falta pouco. Você vai ver. Eu falei em seu ouvido a confortando.
Logo meu membro já estava completamente dentro dela. Eu a beijei e comecei a me movimentar lentamente dentro dela. Nem eu tinha me acostumado ainda em sentir aquela sensação, sua vagina molhando e apertando meu membro era tão gostoso que eu sentia como se fosse gozar a qualquer instante.
--- Assim Michael. Mais depressa! Ela gemeu cravando suas unhas em minhas costas e eu comecei a me movimentar cada vez mais rápido dentro dela.
Não demorou para que nós estivéssemos totalmente descontrolados ao ponto de dizer palavrões e afins, e assim nós nos entregamos na nossa primeira vez.
Depois de recuperarmos nosso fôlego, eu acabei voltando para minha vida real. A noite se aproximava e Agnes teria que voltar.
--- Michael, eu devo voltar. Está anoitecendo. Agnes falou tocando meu peito e se levantou.
Nós nos vestimos e sorrimos sem acreditar no que tínhamos acabado de fazer.
--- Eu irei lhe acompanhar. Eu falei pegando em sua mão e a beijei, ela sorriu tímida.
Nós seguimos em silêncio aquele longo caminho. Assim que chegamos perto da cerca, Agnes me abraçou e beijou novamente meus lábios.
--- Obrigado, Michael. Obrigado por essa tarde que fez meu dia ficar maravilhoso. Ela falou rente ao meu ouvido e eu sorri.
Ela passou por baixo do arame com minha ajuda e assim que ficou do outro lado acenou para mim e seguiu sem caminho, assim como eu tive que seguir o meu.
Capítulo 15
Assim que cheguei em casa notei que minha família já se preparava para a janta, então decidi não passar pela sala de jantar. Subi as escadas e fui para meu quarto, troquei minhas roupas e pentiei bem meus cabelos.
--- Você vem jantar, querido? Minha mãe falou abrindo a porta do meu quarto e me viu a se olhar em frente ao espelho.
--- Já descerei mamãe. Eu disse sorrindo para ela.
Ela sorriu para mim também e avisou que estaria me esperando.
Eu estava tão feliz aquela noite que eu podia sentir meu coração pular em meu peito e querer sair. Eu jamais teria chegado a pensar em minha vida de que eu encontraria o meu amor no meio de uma guerra histórica.
Podia sentir meu sorriso chegar quase a minhas orelhas e eu ficava imaginando se Agnes também estaria assim. Eu tinha certeza que nada agora podia tirar aquela felicidade de mim. Eu desci para jantar e todos notaram minha alegria naquela noite. Eu tive que pensar em uma desculpa boba, não poderia contar a verdade a eles. Pelo menos não agora.
Assim que eu terminei de jantar eu voltei para meu quarto. Fechei a porta, coloquei meu pijama, desliguei a luz e fui até minha janela.
Onde ali eu agradeci a Deus por todos os momentos bons e ruins que tive naquele dia. Agradeci por ele ter me mostrado que eu poderia ser feliz mesmo estando tão longe de Agnes agora. Eu fiz aquela pequena prece olhando para a lua e sua imensidão que podia me transportar até Agnes de certa forma.
Meus treinamentos agora começaram a ficar cada vez mais cansativos e eu estava começando acorda para a vida. Realmente o que Agnes me falava estava começando a fazer sentido. Não era raiva que ela tinha por estar ali, era o que eles realmente faziam com seu povo.
Durante todas aquelas semanas não havia um dia em que deixava de ir visitá-la. Agora nossa amizade parecia tão real e comum quanto as outras. Agnes vinha para o meu lado e assim conversávamos um perto do outro. Haviam dias que eu levava livros para lermos, as vezes levava aquela bola de basquete mesmo Agnes não sendo muito chega a esportes. As vezes até levava cadernos e nós criávamos nossas histórias juntos. Ficávamos planejando nossas vidas longe dali.
--- O que você estaria fazendo agora se não tivesse vindo para cá? Agnes perguntou brincando com meus cabelos enquanto eu estava com minha cabeça deitada em suas pernas.
--- Eu não sei, talvez eu estivesse estudando. Lendo… eu não sei. É difícil de falar. Com certeza estaria fazendo coisas bem mais importantes para mim do que ue faço aqui. Mas veja, se eu não tivesse vindo obrigado por uma ordem de meu país eu obviamente não a teria conhecido. Prefiro estar aqui. Eu falei sorrindo e a puxei para um beijo.
Não sei que tipo de amizade era a nossa, nós éramos tanto amigos quanto amantes um do outro.
--- E você? Perguntei pegando em sua mão e brinquei com seus dedos nos meus.
--- Eu também não sei, mas bem provável que estaria estudando ou fugindo dos soldados. Ela falou soltando uma risada alta e eu ri junto.
--- Você é tão linda Agnes. Eu disse me sentando agora em sua frente e acariciei sua face.
Sua pele acinzentada e sensível, aqueles olhos azuis que pareciam um pedacinho do céu guardado nela, seu lábios rosados. Suas mãos pequenas e meio calejadas por seu trabalho, tudo o que havia nela não deixava de ser encantador e perfeito para mim. Eu a amava do jeito que ela era. Com roupa listrada ou não, com cabelos negros e longos ou agora que estava careca. Sendo magra demais, mas mesmo assim meu amor por Agnes sempre continuaria o mesmo, e eu queria que aquele amor durasse para o resto de nossas vidas.
Agnes sorriu tímida para mim olhando para o chão e como sempre eu toquei seu queixo a fazendo me olhar. Serrei meus lábios nos seus e sua boca já me pedia um beijo.
Não demorou para estarmos abraçado um no outro, nos beijando e acariciando o corpo do outro, mostrando o quão grande era a paixão que tínhamos.
Eu fui me deitando naquela grama e puxei Agnes para cima de mim. Tomava seus lábios e o desejo de possuí-la só crescia dentro de mim. Começamos a nos despir sem nos preocupar no que poderia acontecer. Ela abriu minha camisa com força fazendo que alguns botões voassem longe, e rimos com sua audácia.
--- Desculpe Michael, terei que rasgar essa também. Ela falou vendo que eu usava uma camiseta de algoodão branca por baixo daquela.
Ela rasgou a minha camiseta de baixo e eu já me sentia mais que excitado quando ela arranhou meu peito.
--- Agora você tem minhas marcas. Ela disse rindo e eu fiz cara sedutora para ela abrindo sua camisa também.
Cerca de segundos depois, nus em meio aquela mata cheios de vontades, Agnes cavalgada sobre meu pênis. Nós tínhamos que nos conter nos gemidos que dávamos ali.
--- Assim… oh God. Eu gemi segurando em sua cintura mordendo meu lábio inferior.
Como era bom estar com ela ali. Eu me sentei com ela de frente para mim e continuamos nossos movimentos. Seus seios roçavam em meu peito. Sua boca mordi meu ombro e eu sussurrava coisas em seu ouvido a fazendo se entregar cada vez mais a mim.
As últimas estocadas foram dadas e sinto ela se derramar em mim, e eu me derramo dentro dela também. Continuei a me movimentar dentro dela lentamente até por fim para. Se encontrávamos agora suados e ofegantes. Me deitei de volta no chão e a puxei para cima de mim ainda com meu membro dentro dela.
Capítulo 16
Naquela manhã assim que me arrumei e desci as escadas para tomar café eu notei que algo estranho acontecia naquela casa.
Vi alguns soldados, tenentes e até o general que nos dava o treino sair do escritório de meu pai com uma expressão triste no rosto, todos seguravam suas boinas nas mãos. Eu apenas cumprimentei a todos e segui para a sala. Encontrei Lauren aos prantos no sofá, eu já estava temendo o que poderia estar acontecendo ali.
--- Mamãe? Mamãe! Eu gritei indo para a cozinha e a vi lá parecendo falar algo para os empregados.
--- Querido, bom dia. Ela disse sorrindo para mim, mas eu sabia que ela escondia algo.
--- Mamãe o que há aqui? Por que estão todos aqui? Por que Lauren está chorando no sofá? Perguntei a olhando sério e ela fechou seu sorriso para mim.
--- Michael, teremos que voltar a cidade. Ela falou me levando até o sofá onde Lauren estava e lá sentamos.
--- Por quê? E meu treinamento? Eu falei aquilo, mas na verdade eu estava pensando em Agnes.
--- Vamos hoje, mas já voltaremos amanhã. Não irá demorar muito. Seu pai falou já com o general. Ela continuou falando, mas esquecendo de me dizer o porquê de termos que ir.
--- Mas por que temos que ir, mamãe? Eu perguntei novamente e ela olhou para o alto parecendo não saber como me dizer aquilo.
--- Sua avó, Michael. Sua avó faleceu noite passada, recebemos hoje de manhã uma carta de seu avô. Nós precisamos ir, é o último momento para vê-la. E… e se despedir. Ela falou com a voz embargada segurando em minhas mãos, até que suas lágrimas pingaram nelas e eu também não pude me segurar.
Minha avó sempre tinha sido a pessoa com quem eu sempre fui mais próximo. Ela gostava de arte e música me ensinando então a ser como ela. Ambos passávamos tardes e tardes pintando telas e as vezes escrevendo poemas. Eu amava aquilo, e eu sabia que era uma coisa que eu herdava dela.
Me lembro de muitas noites quando meu pai chegava em casa nós estávamos lá, na sala da casa de Berlim, sentados no chão a fazer arte como ela dizia. Papai chegava de seu trabalho, sempre com aquele uniforme bem passado e bem arrumado. Sempre dizendo “Mamãe, já disse para não transformar nosso futuro soldado em um louco por arte. Isso não fará bem a Michael.” Eu me lembrava até hoje de suas palavras. E ela sempre costumava responder “Michael, não me dará esse desgosto. Assim que tiver a idade certa eu o colocarei em uma escola de arte e música, onde lá ele vai se tornar um verdadeiro profissional e trará de volta a alegria ao mundo.”
Só hoje eu conseguia entender suas palavras. Minha avó nunca gostou da profissão que meu pai levava. Ela dizia que ele tinha uma vida suja, uma vida que dependia das desgraças dos outros para ter seu dinheiro e sua família feliz.
Já meu avô era completamente diferente. Acredito que ele que tenha levado meu pai a ter essa carreira. Nas ultimas festas de família que tivemos, nenhuma delas acabou como esperado. Minha avó foi embora aos prantos ao saber que meu pai estaria indo para a Pôlonia cuidar dos prisioneiros no próximo ano. Meu avô já estava tão orgulhoso que chorou de tanto orgulho que tinha de meu pai. Eu era muito jovem e cabeça dura para entender aquilo.
--- Agnes! Ainda bem que está aqui. Eu falei chegando perto da cerca e vi Agnes ali sentada no chão como sempre.
Não era o horário que nós custmávamos a nos encontrar, mas ela estava ali.
--- Não deveria estar no seu treinamento, Michael? Ela perguntou se levantando e logo notou o que tinha em meus olhos.
Aquela tristeza era tanta que transbordava por meus olhos e fazia da minha aura apenas tristeza.
--- Tenho que voltar a cidade. Voltarei para Berlim hoje após o almoço. Eu falei sentindo aquelas lágrimas molharem meus olhos e quererem molhar minha face também.
--- Como assim, Michael? Não voltará mais? Ela perguntou assustada e logo decidiu passar por debaixo da cerca.
--- Eu voltarei sim. Mas preciso ir hoje. Eu estarei aqui logo logo, acredito que em dois dias, ou um pouco menos. Eu disse a abraçando e ela encostou sua cabeça em meu peito.
--- O que aconteceu? Vejo que algo não está bem. Ela falou olhando para mim e viu eu me derramar em lágrimas ali.
--- Minha avó… ela se foi. Ela se foi por desgosto, Agnes. Eu disse chorando e ela acariciou minha face, vi que lágrimas também brotavam de seus olhos agora.
--- Eu sei como deve estar se sentindo. Meu pai… faz dias que nós não o achamos mais. Sairam para uma obra e nunca mais voltaram. Eu temo, Michael. Temo que eles o tenham… que eles o tenham… matado. Ela falou também chorando em meus braços.
--- Eu tenho medo de ir, Agnes. Tenho medo de ir e depois nunca mais achá-la. Eu falei a abraçando com forma e beijando sua testa.
--- Você precisa ir. Tem que se despedir de sua avó. Eu irei ficar bem. Eu estarei bem aqui todos os dias esperando por você.
Eu a beijei demoradamente e me recompus enquanto voltava meu caminho. Doía em meu coração saber que minha avó tinha se ido e doía também saber que talvez eu poderia nunca mais encontrar Agnes ali. Eu estava começando a abrir meus olhos.
Já prontos para a viagem nós entramos todos no carro, olhei para meu pai e em nenhum momento ele se demonstrava abatido ou coisa do tipo. Como ele poderia ser tão duro? Tinha coração de pedra?
Ali eu estava começando a sentir uma ponta de raiva e magoa a surgir em meu coração. Uma raiva e magoa de meu pai. Por que as coisas tinham que ser assim?
Capítulo 17
Eu segui aquela viagem inteira sem dizer algo. Não havia nem falado com meu pai ainda. Ele nem sequer parecia se sentir culpado do que tinha acontecido.
Quando chegamos ao velório notamos o quão querida minha vó era para muitos. O quanto ela faria a falta, e o quanto todos gostavam dela. Eu fui até seu caixão, e eu chorei em silêncio. Me lembrando ali de todos os momentos que nós tínhamos passados juntos. Aquelas tardes que ficávamos juntos debatendo e trocando ideias sobre nossas artes e artistas favoritos, enquanto Lauren nos olhava de lado e emburrada.
Eu sorri ao lembrar das peças que eu e Lauren fazíamos quando criança. Pequenas peças que nós costumávamos a apresentar no natal, festas de ano novo ou até mesmo festas de aniversários. Quando estávamos desanimados para apresentar ela nos chamava no cantinho e dizia “vá até lá e faça aquele povo sorrir para você e o aplaudirem no final!”
Fui até meu avô e eu o abracei.
--- Michael, oh meu neto Michael, faça do sonho de sua avó uma realidade. Ele disse abraçado a mim com sua voz fraquinha.
--- Eu farei vovô, eu farei. Eu disse em seu ouvido e ele beijou minha testa.
Meu pai mantia uma face abatida, não tinha chorado, mas parecia abatido e até mesmo aflito agora. Levamos o caixão até a sepultura, eu estava me segurando ali para não chorar tanto, mas agora parecia que meu coração estava quebrado.
Me lembrei de Agnes, e pedia a Deus para que cuidasse dela. Pedi para que ela me esperasse, eu já estava com saudades dela.
Nós voltamos no dia seguinte para Pôlonia. Tínhamos viajado o dia inteiro e então chegamos naquele lugar já no fim da tarde, e eu sabia que Agnes estaria me esperando.
--- Senhor Michael, sua mãe perguntou se quer algo para comer. Maria falou batendo na porta de meu quarto e a abriu.
--- Gostaria muito, já descerei até a cozinha. Eu falei me arrumando, estava doido de saudades de Agnes.
Eu peguei minha mochila e desci para a cozinha. Como só Maria e mais uns outros empregados estavam ali eu não tinha medo de encher aquela mochila.
--- Parece com fome. Lauren falou me vendo fazer um sanduíche com queijo e presuntos, Agnes amava.
--- Estou. Eu disse colocando o sanduíche num pequeno saco plástico e Lauren, para minha “sorte”, não tirava os olhos de mim.
--- O que vai fazer com isso? Ela perguntou me olhando intrigada ao ver que eu colocava o sanduíche na mochila.
--- Vou comer mais tarde. Já comi demais. Eu disse pegando a mochila e a coloquei nas costas, mas Lauren não me deixaria em paz tão cedo.
--- Para onde vai? Ela perguntou me seguindo e eu fui até o espelho na sala fingindo que estava me arrumando para ver se ela me deixava em paz.
--- Você quer parar de perguntas? Eu disse olhando para ela e a vi analisar minha roupa.
--- Está bem senhor crescidinho. Agora venha até aqui e me diga o que é isso? Ela falou me puxando para a cozinha novamente e eu estava já agoniado.
Ela me mostrou o pedaço de bolo que Maria havia guardado para ela, e ficou brava ao saber que alguém tinha comido toda a calda.
--- Confesso que não fui eu. Não! E por favor se me deixar em paz, eu já devia ter ido, Agnes não gosta muito de esperar. Eu falei olhando para o relógio pendurado a parede e logo conferindo o meu também, só então me dei conta de que disse algo que eu não deveria ter falado.
--- Quem está esperando por você? Ela falou me olhando curiosa e parecia estranhar minhas atitudes naquele momento.
--- É… er… Eu gaguejei e para minha sorte o tenente Ruan chegou a cozinha e tirou toda a atenção de Lauren a fazendo se esquecer do que eu tinha falado.
--- Fui eu quem comi a cobertura de seu bolo. Me desculpe. Ele disse a abraçando e eu me irritava com aquilo, aproveitei a oportunidade que tive e segui meu caminho até Agnes.
Capítulo 18
Algumas semanas após a morte de minha avó eu estava começando a superar aquela perda. Agnes me fazia lembrar os doces e maravilhosos momentos que eu tive com ela, e aquilo me fazia sorrir.
--- E esse é o quarto de Van Gogh. O que acha? Eu falei encostado em uma árvore com Agnes no meio de minhas pernas a admirar aquela obra.
--- Muito bom… e esse aqui? Ela perguntou apontando para outro desenho que eu mesmo tinha pintado, porém a arte era de Van Gogh.
--- É conhecido como “O Grito”, minha avó que desenhou e eu pintei. Lindo, não? Eu falei sorrindo para ela.
--- O que posso dizer? Tudo que você faz é maravilhoso. Ela disse me beijando e acariciando minha face.
Eu sabia que aquele beijo não pararia por ali. Sempre que começávamos daquela forma só parávamos quando estávamos ambos satisfeitos.
Agnes começou a se livrar de minha roupa e a me acariciar de tal forma que eu estava ficando louco. Suas mãos pequenas envolta de meu pênis ainda dentro de minha cueca estavam me arrancando gemidos. Ela se levantou e tirou sua calça e sua camisa, ficando nua na minha frente e eu babei com a visão que tive de seu corpo.
Eu coloquei minha camisa no chão para que ela pudesse ficar ali sem se machucar. Ela se deitou ali e abriu as pernas me chamando. Não consegui me livrar de minha calça, pois o desejo por ela não deixava. Apenas puxei meu membro para fora e a penetrei forte e de uma vez só.
--- Oh Michael! Ela gemeu me puxando para um beijo enquanto eu começava a penetrá-la devagar.
Com suas pernas abertas e sobre meus ombros eu podia ver exatamente meu pênis entrando e saindo de sua vagina rapidamente, cada vez mais me deixando louco.
--- Isso amor, assim Agnes… oh… Eu gemia com minhas mãos no chão a estocando cada vez mais rápido.
Meu suor começava a se misturar com o seu e na onda daquele imenso prazer nós gozamos juntos.
Deitei meu corpo sobre o de Agnes, sai de dentro dela e juntos nós procurávamos pelo ar que se fazia escasso.
--- Eu te amo Agnes. Sussurrei ainda ofegante em seu ouvido.
--- Eu te amo mais, Michael. Ela falou sorrindo beijando meus lábios.
Minutos depois de recuperarmos o fôlego eu me vesti e ajudei Agnes a se vestir.
--- Eu preciso ir. Mamãe está notando meus atrasos. Eu falei olhando para meu relógio e para o céu, vendo o sol se por.
--- Está bem. Amanhã estarei esperando por você novamente. Ela disse sorrindo colocando seu boné, ainda tinha vergonha daquilo.
Eu a beijei lentamente sentindo o gosto de seus lábios e acariciei sua face. A ajudei passar por debaixo da cerca e nos despedimos um do outro.
…
Eu chegava aquele começo de tarde de meu treinamento junto com meu pai. Ele entrou e eu fiquei ali no pátio de casa.
Comecei a sentir um cheiro diferente naquele lugar. Parecia algo queimado. Estava procurando olhando para os lados vendo se achava algo que estivesse errado ali no jardim de casa.
--- Eles cheiram ainda pior quando queimam, não? Tenente Ruan falou trazendo bolsas para o porta malas do carro.
--- O que disse? Eu falei sem entender.
Como assim? “Eles cheiram ainda pior quando queimam”. Aquelas palavras soaram várias vezes em minha mente. Eu olhei para o céu e vi a fumaça preta que se formava e eu não podia acreditar, vinha do outro lado do muro.
Eu entrei depressa para dentro de casa, subi as escadas e entrei em meu quarto indo direto para a janela. E de lá eu pude ver a realidade que estava bem na frente dos meus olhos e eu não enxergava.
Capítulo 19
Quer dizer que Agnes tinha razão quando dizia que estavam ali para trabalharem e depois morrerem? Lágrimas preencheram meus olhos, meu coração não queria acreditar no que o meu cérebro sempre soube.
Eu desci aquelas escadas mais que depressa, sem pedir licença pela primeira vez eu entrei no escritório de meu pai. Ele se assustou por me ver daquele jeito. Podia ver a raiva que estava dentro de mim.
Eu não podia acreditar que ele era capaz de trabalhar com uma coisa daquelas. Minha avó sempre teve razão. Ele estava destruindo milhões de vidas para poder viver a sua.
--- O que você pensa que está fazendo?! Pode me dizer o que é essa barbaridade que você vem escondendo a anos de mim? Eu falei chorando e gritando perante ele, os empregados que passavam a porta nem olhavam para nós.
--- Você pode por favor se acalmar e me explicar direito o que está havendo? Ele disse sério, mas agora eu não tinha medo dele como quando criança.
--- Por que você faz isso? Por que está destruindo essa nação? Eles são pessoas como nós! Eu disse sentindo minha cabeça querer explodir por causa daquela raiva imensa que eu sentia.
--- Ah Michael, não se faça de trouxa. Onde está meu filho apaixonado por história? Ele falou debochado e eu me irritei.
--- Apaixonado por história e conquistas, não por destruição de povos! Por que você está nessa vida suja, hein? Eu berrei cuspindo as palavras em sua face, e ele nem acreditava que depois de tantos anos eu estaria na sua frente brigando com ela pela primeira vez.
--- Você não vê? Se nós não acabarmos com eles, eles que estariam acabando com nós! Esses imundos não merecem ser chamado de gente! São animais! Uma raça podre. Ele falou também se alterando na voz.
--- O que? Quer dizer que a pessoa tem o seu valor dependendo da sua pátria? O sangue deles é da mesma cor que o nosso! Eles foram criados pelo mesmo Criador que nós! Eles são capazes de raciocinarem e também ter sentimentos. Você não vê o que está fazendo aqui? Eu disse o encarando frente a frente.
--- Eu estou fazendo história! É isso que eu estou fazendo! E não é nenhum filhinho meu que vai me fazer parar! Você está me ouvindo? Ele falou batendo em sua mesa, mas eu não desistiria.
--- Eu tenho nojo de você. Tenho nojo de ser alemão. Tenho nojo desse seu trabalho que esconde as coisas. Enquanto vocês vivem nessa vida suja escondendo tudo da sociedade, tendo sua carreira completa de dinheiro e riquezas, uma nação desfalece. Você estava tentando esconder isso de mim não é mesmo? Sabia o quão desprezível você se tornaria para mim. Você matou minha avó! Você a matou de desgosto! Eu não darei essa infelicidade para minha mãe. Farei do sonho de minha avó uma realidade! Tenho nojo de sua cara, nojo de tudo em você! Eu disse apontando para sua face e ele estava paralisado em minha frente.
Eu sai de seu escritório batendo a porta e subi para meu quarto. Me tranquei e me deitei na cama chorando. Eu não queria ter aquela vida, não queria viver tendo o bom e do melhor sabendo que do outro lado do muro da minha casa, haviam pessoas trabalhando forçados, sem comida e sem uma vida digna. E morrendo queimados.
Eu só tinha uma coisa agora em mente, eu precisava tirar Agnes de lá o mais rápido possível. Eu a tiraria dali e nós fugiríamos para a América. Casaríamos e eu não deixaria mais ninguém tocar nela.
Eu queria poder ter forças e coragem o bastante para livrar todo aquele povo daquele lugar, mas infelizmente eu não tinha esse poder. Eu não queria ver a os homens um tirando a vida do outro para sua sobrevivência.
No final da tarde eu sai correndo até Agnes. Eu contaria a ela tudo o que tinha acontecido, e eu não deixaria aquilo assim.
--- O que há com você Michael? Ela falou me vendo com os olhos inchados de tanto chorar.
--- Agnes, eu não posso acreditar. Eu falei caindo ajoelhado sobre o chão cobrindo minha face com minhas mãos.
--- Me conte, o que aconteceu com você. Ela falou depois de segundos que teve que passar por debaixo da cerca.
Ela tirou minhas mãos de minha face e viu o quanto eu estava em desespero.
--- Eu preciso tirar você daqui Agnes. Eu não quero deixar você mais nesse lugar. Eu falei a abraçando e escondendo minha face em seu peito.
--- Eu só tenho um destino, Michael. Eu não posso sair daqui. Mesmo que eu tentasse, eles iriam atrás de mim. Ela falou me encarando triste e acariciou minha face.
--- Eu não vou deixar você morrer aqui. Eu a amo, Agnes. Não posso deixar que continue nesse lugar. Eu tenho nojo daquele cara o qual eu chamei de pai e admirei a tantos anos. Eu tenho vergonha dele! Me perdoe Agnes, por favor. Eu falava com a voz cada vez mais fraca e chorava em seus braços feito criança.
--- Shh… fique quietinho. Eu não tenho nada para perdoá-lo. Você é maravilhoso. Eu te amo do jeito que você é. Ela falou em meu ouvido me acalmando.
--- Eu te amo mais Agnes, prometa para mim que não vai me deixar só aqui. Prometa que vai esperar para vivermos juntos longe desse lugar. Eu continuava a falar e a chorar, minha alma estava perturbada dentro de meu corpo.
--- Eu prometo. Eu prometo meu amor. Nós vamos nos livrar dessa. Ela falou beijando minha testa e me abraçou forte.
Tudo o que eu estava precisando naquele momento era dela. Eu precisava de seu sorriso todos os dias para sustentar meu ser. Eu precisava dos seus braços em torno de meu corpo para me esquentar, assim como eu fazia com ela. Eu precisava de seus lábios para me beijarem e de seus olhos para me encantarem todos os dias. Só de pensar em ter que um dia viver sem ela minha alma parecia perder um pedaço.
Capítulo 20
Eu estava passando pelos fundos da minha casa e algo me chamou atenção naquele sótão. Era minha bicicleta, a analisei vendo se estava tudo no seu devido lugar. Toquei os pneus para ver se estavam cheios, e sorri ao perceber que estavam. Hoje eu teria uma surpresa para Agnes.
Subi na bicicleta com cuidado e comecei a seguir o longo caminho, de certo chegaria mais rápido hoje.
Eu toquei a buzina da bicicleta fazendo Agnes se assustar, e olhar para os lados preocupada e eu cai na risada.
--- Seu bobo, onde arrumou isso? Ela falou sorrindo ao ver que era eu ali na sua frente com um sorriso de orelha a orelha.
--- Veio com nossa mudança, nem me lembrava mais dela. O que achou? Perguntei a vendo se levantar e vir observar mais de perto.
--- É linda, eu andava muito quando morava na cidade. Ela falou sorrindo e colocando suas mãos com cuidado na cerca para não espetá-las.
--- O que achar de passearmos um pouco? Eu disse deixando a bicicleta ali encostada em uma árvore e vi seus brilharem.
Assim que ela veio para meu lado, eu a beijei e a apertei em meus braços.
A ajudei a subir na bicicleta e ficando em minha frente no meio de minhas pernas, nós começamos a andar. Comecei a andar mais rápido e mais rápido e Agnes começava a ficar com medo.
--- Michael! Nós vamos cair. Ela falava alto enquanto eu desviava das árvores em nosso caminho.
--- Você confia em mim, não confia? Eu falei olhando para ela e ai que ela se desesperou.
--- Mas é claro que confio seu bobo. MICHAEEEEL! Olhe para frente. Ela gritou e eu achei engraçado o jeito como ela se alarmava ali.
Eu estava rindo dela e continuava a pedalar o mais rápido possível. Eu estava tão distraido com as árvores e seus galhos acima de nossas cabeças, que nem me dei conta do tronco que estava no chão. Eu tentei frear, mas já era tarde, nosso destino era aquele. Nós caimos, eu cai primeiro e logo Agnes cai em cima de mim e eu sorri, e fechei meus olhos.
--- Ai minha cabeça. Ela disse se levantando de cima de mim.
Eu fiquei ali imóvel queria ver o que ela iria fazer.
--- Michael? Amor, você está bem? Ela disse tocando minha face, mas eu nada fazia.
Ela se levantou, pegou minha bicicleta e colocou ali próximo de mim. Ela voltou a me olhar e parecia aflita.
--- Michael? Por favor. Acorde! Ela falou dando tapinhas em minha face e eu continuava do mesmo jeito.
Ela parou de me bater e eu sabia que observava minha face. Parecia ter notado o que acontecia ali. Aproximou seus lábios dos meus e começou a me beijar e eu a corresponder a puxando para mim.
--- Você é danado, não é mesmo senhor Michael? Ela falou mordendo meu lábio inferior.
--- Você nem tem ideia do quanto. Eu falei a puxando novamente para aquele beijo.
Ela caiu em cima de mim e sorriu. Se apertou contra meu corpo e notou o quão preparado eu já estava. Eu faria algo diferente hoje, então eu me levantei a deixando sentada no chão sem entender completamente nada.
--- Vamos fazer diferente hoje. Eu falei pegando em sua mão a ajudando a se levantar.
Ela se levantou e nem esperei para que sacudisse sua roupa e logo já fui invadindo seus lábios. Eu mordíscava sua língua e ia a levando para perto de alguma árvore ali. Suas costas encostaram na árvore enfim e nós gemíamos em meio aos nossos beijos.
--- Você me deixa louco, Agnes. Eu falei tocando em seus seios por debaixo daquela camisa dela.
--- Oh meu amor, me mostre. Isso. Ela gemía enquanto eu roçava minha ereção ainda por baixo da calça em seu corpo.
Eu me livrei de suas calças, acariciei sua vagina e logo trouxe meu membro para fora. Agnes gemeu ao vê-lo completamente duro e apontado para ela. Eu a peguei em meus braços fazendo suas pernas ficarem em volta de minha cintura. A encostei na árvore e comecei a penetrar loucamente.
Mordia seu pescoço e a penetrava como um louco, nossos gemidos estavam sendo abafados com os beijos que trocávamos, mas mesmo assim gemíamos entre eles.
Ela estava apertando sua vagina em torno do meu pênis e eu estava morrendo com aquela maneira dela. Agnes não demorou para ter seu orgasmo sobre mim, e eu também não esperei para me satisfazer ali.
Capítulo 21
Estava me arrumando aquela tarde para minha “caminhada”, quando minha mãe bateu na porta.
--- Olá, querido. Como foi o treinamento hoje? Ela perguntou entrando e se sentando na beirada de minha cama.
--- Olá, mamãe. Foi ótimo. Daqui uns dias estaremos realmente fazendo o que viemos para fazer. Eu falei olhando para ela com uma certa tristeza e ela notou ao que eu me referia.
--- Hoje teremos um jantar especial. Tenente Rua e o general virão jantar com nós. Se arrume cedo, está bem? Ela falou mudando o assunto.
--- Ok. Eu disse sorrindo sem animo.
--- Irei a cidade com Lauren, deseja algo? Ela perguntou indo até a porta.
--- Não. Eu falei sorrindo e terminando de arrumar meus calçados.
Ela saiu e assim que a vi sair de carro pelo portão com Lauren, eu peguei minha mochila e fui em direção a cozinha.
Me surpreendi quando cheguei lá. Dessa vez Agnes que vinha até mim, ela estava sozinha na cozinha e eu aproveitei para ir até ela.
--- O que faz aqui? Perguntei a abraçando por trás.
--- Precisavam de alguém com os dedos finos para limpar essas taças. Vai a algum lugar. Ela perguntei depois que lhe dei um leve selinho.
--- Ia pegar seu lanche para ir até a cerca, mas acho que não precisarei ir hoje. Eu falei pegando uma maçã e sentando de frente para ela.
--- Terão visitas hoje, não é? Ela perguntou olhando para baixo enquanto lavava aquelas taças.
--- Sim… infelizmente. Eu sorri sem graça olhando para ela.
Eu vi que tinha bolo de milho ali sobre a mesa.
--- Está com fome? Quer um pedaço? Eu perguntei rindo e ela assentiu com a cabeça sorrindo também.
Eu cortei um pedaço do bolo e dei para ela. Voltei a me sentar ali a observando enquanto eu comia aquela maçã.
Estávamos conversando quando o tal tenente Ruan invadiu a cozinha e eu me irritei com sua atitude.
--- Posso saber o que se passa aqui, senhor Michael? E você sua verme? Está roubando comida? Você não veio aqui para comer sua imunda! Você veio para trabalhar! Entendeu?! Ele gritou no ouvido de Agnes a segurando pela gola de sua camisa por trás, e a fazendo parar de mastigar e encarar o chão assustada.
Eu não aguentei aquilo. Para mim já bastava, quem ele achava que era? O sangue subiu fervendo.
--- Quem você pensa que é? Hein? Acha que tenho medo de você? Você acha que só por ser tenente tem direito de humilhá-la desse jeito? Eu falei me levantando e jogando a maçã fora.
--- Então, você não tem medo de mim? Não tem medo de seu pai também? Vai ficar até quando protegendo essa raça de… como era mesmo? De vermes! Hein? Quer saber o que eu faço com sua amiguinha? Ele falou me encarando com desdém assim como olhava para Agnes.
--- Se você encostar um dedo nela eu o mato! Eu o mato seu… miserável! Eu falei indo para cima dele e ela pegou Agnes e a agarrou na sua frente para que eu não lutasse contra ele.
--- Está com medo tenente Ruan? Eu perguntei debochando de sua cara e ele fez algo que acredito que se arrepende até hoje.
Jogou Agnes no chão com força testanto minha paciência. Ele se veria comigo agora.
Capítulo 22
Eu olhei embasbacado para ele, e com raiva ao memo tempo. Lancei um olhar fulminante e ele também me olhava da mesma forma.
--- E então? Não vai vir aqui me bater por causa de sua garota? Eu o vi conversando com essa patife. Tenho nojo de você, parece um deles. Ele falou me olhando cada vez mais com raiva e desdém.
--- Você é desprezível, cara. Eu disse baixo, mas ele me testou outra vez quando chutou Agnes.
Aquilo já era demais pra mim.
Eu o agarrei pelo colarinho e o encostei no armário fazendo com que suas costas batessem com força. Ele me empurrou e eu bati minhas costas na mesa.
--- Você não passa de um fracote. Nem músculos tem. Seu pirralho. Ele gritou apontando para mim.
Dei um murro em sua cara que o fez virar para o lado. Enquanto ele segurava sua face eu ajudei Agnes a se levantar, ela chorava apavorada.
Sem que eu esperasse, ele acabou me dando um murro no estômago que me fez cair no chão segurando meu ventre. Me deu um soco na boca que chegou a cortá-la, mas eu não me dei por vencido. Eu me levantei e o chutei no meio de suas pernas e ele caiu no chão.
--- Isso é por ter gritado com ela! Eu falei indo para cima dele e esfreguei sua cara no chão.
Ele estava me olhando agora assustado, sua roupa que antes era bem passada e lavada agora estava toda amassada e suja. Minha camisa social estava suja por causa do sangue que pingava de minha boca, mas eu não sentia aquilo no momento. Eu queria fazê-lo pagar por o que tinha feito.
--- Isso é por ter a agarrado! Eu gritei com ele dando um soco no seu olho, ele gemeu de dor.
--- Michael, por favor, já chega. Agnes gritou segurando sua face para não ver o que eu fazia com Ruan.
--- Isso é por ter a jogado no chão e a chutado. Falei me levantando ainda sentindo meu estômago e o chutando.
--- Michael, por favor. Agnes falava chorando, eu não queria fazer aquilo na frente dela, mas eu fui obrigado a fazer.
--- Nunca mais encoste um dedo nela está bem? Nunca mais! Se você falar em alto tom com ela novamente eu o mato, eu juro que eu o mato! Eu falei cuspindo as palavras na cara dele que ainda estava no chão.
Agnes tocou minhas costas e pediu para que eu parasse. Eu me sentei no banquinho que tinha ali na cozinha e Agnes pegou uma maleta com kits primeiros socorros. Ele se levantou do chão com a cara toda quebrada, me olhou com raiva e saiu dali.
--- Ai, amor. Isso dói. Eu falei como uma criança pequena enquanto Agnes colocava gelo em meus lábios que pareciam estar inchados agora.
--- Precisa estancar o sangue. Ela falou passando o gelo com cuidado.
--- Ele mereceu. Eu falei enquanto ela limpava agora meus lábios.
--- Veja suas mãos, cheias de sangue. Ela disse também limpando minhas mãos e elas ardiam.
Ela fez curativos em mim e beijou minha bochecha, já que minha boca estava inchada. Logo teve que voltar a limpar as taças e eu tive que me despedir quando minha mãe havia chegado. Precisava ainda me arrumar para aquele jantar.
Capítulo 23
Depois do jantar arruinado que tivemos, pois tenente Ruan e eu tínhamos inventado a mesma desculpa para estarmos com a cara toda quebrada. Eu esperava agora aquela chuva passar.
Faziam três dias que estava chovendo direto. Eu não tinha ido ver Agnes, pois sabia que pegaria um resfriado se tentasse sair em meio aquela chuva e vento fortes. Não deu certo ficar esperando, a chuva não passava. Decidi esperar para o dia seguinte, talvez melhorasse. Me deitei cedo aquela noite, li um dos meus livros e peguei logo no sono.
Assim que voltei do meu treinamento aquela tarde, tomei meu banho e me arrumei. Peguei o lanche de Agnes e fui até a porta de casa. O sol se escondia entre as nuvens, mas não havia nenhum sinal de chuva para minha sorte. Mesmo assim eu decidi colocar minha capa de chuvas e fui.
Fui cantarolando, pois a saudade que eu tinha de Agnes estava começando a não caber mais em meu peito. Passava o dia pensando nela e doido para vê-la, e hoje mataria minha saudade.
--- Agnes? Meu amor? Eu falei chegando até nosso local de encontro e notei que ela iria se atrasar um pouco.
Me sentei no chão e peguei a pequena garrafa que eu costumava a levar com água para beber.
Eu comecei a olhar para o céu, olhava para a direção que Agnes sempre vinha, olhei para as suas casinhas, mas não tinha nenhum sinal dela em lugar algum. Estava ficando impaciente, olhei para meu relógio e já se fazia mais de meia hora que eu estava ali.
O céu começou a ficar escuro, trovoadas estavam começando a dar sinal de que a chuva não demoraria para vir. Ela deve estar com medo da chuva, eu pensei me levantando e seguindo meu caminho de volta.
--- Michael meu filho, o que faz na rua? Minha mãe perguntou me vendo chegar ao mesmo tempo que ela em casa.
--- Fui procurar algo no sótão, mamãe. Eu falei sorrindo e a vi me puxar pelo braço para sairmos da chuva fria que chegava.
Nós entramos e eu fui direto para o chuveiro, eu não gostava do inverno por causa de suas chuvas. Sempre nos atrapalhava em algo.
Os dias começavam a se passar, faziam duas semanas já que eu não havia visto Agnes. Todas as vezes que eu ia até a cerca ela não estava lá. Comecei a ficar preocupado. Todas as noites eu olhava de minha janela para as casinhas com a esperança de encontrá-la ali perto, mas nunca a via.
Eu me ajoelhava perto de minha cama antes de dormir e depois de acordar, pedindo a Deus para que guardasse sua vida. Pedindo para que me desse a oportunidade de vê-la pelo menos mais uma vez na minha vida. Ela não poderia simplesmente sumir assim. Eu queria ter ao menos uma chance de me despedir dela, por mais que fosse doloroso.
Assim que eu cheguei aquela tarde em casa eu olhei para o céu e vi aquela fumaça preta, eu agora sabia o que acontecia quando aquela fumaça preta preenchia o céu. Eram as pessoas, os prisioneiros que estavam morrendo naquela terrível câmara. Eu estava ali observando quando eu me desesperei.
--- Não! Não, por favor, Deus! Não! Eu gritei chorando e vi o tenente Ruan me olhar de lado.
Eu olhei para ele e fui até ele, queria uma resposta dele. Acabei me lembrando do dia do ocorrido na cozinha e olhei para ele com raiva.
--- Foi você? Me diga! Você, o que você fez com ela? Hein! Eu falei apavorado batendo em seu peito e ele parecia não entender.
--- Eu não sei do que você está falando seu maluco! Ele disse arrumando sua camisa que eu tinha puxado e me olhou como se eu fosse a pessoa mais estranha que ele já tinha visto.
Eu corri para meu quarto e me tranquei. Chorei até a noite ali. Por que ela tinha se ido? No dia seguinte eu iria para me despedir no lugar onde passamos maravilhosos momentos juntos.
Capítulo 24
Eu não tinha me levantado aquela manhã para ir ao treinamento, tamanha a tristeza que eu sentia dentro de mim agora. Sai de meu quarto apenas na hora que eu e Agnes costumávamos nos encontrar.
Como de costume eu peguei minha mochila e coloquei seu lanche dentro. Eu ainda tinha uma pequena chama de esperança dentro de mim. Segui meu caminho e eu notei uma pequena e bela flor ali e a peguei, levaria para Agnes.
Meu coração doía ao saber que eu poderia chegar lá e ela não estar. Eu não queria estar me iludindo levando aquilo, mas eu seguia. Seguia para minha derrota.
Em minha cabeça mil pensamentos e em meu coração uma faca que o cortava bem no meio. Eu continuei andando sabendo que todo meu sonho podia estar acabando ali. A cada passo que eu dava meu coração se apertava, parecia a última vez que eu viveria na terra.
Eu me surpreendi quando vi uma mancha meio branca, eu fui correndo e sua direção e chorei ao ver Agnes novamente ali sentada no chão.
--- Oh meu amor, você veio. Eu falei me agachando e sorri ao saber que ela estava bem.
Ela levantou sua cabeça e notei seu semblante triste, nada disse. Apenas me olhou e voltou a fitar o chão.
--- Eu pensei que você tinha se ido. Não sabe como fiquei preocupado. Eu falei entregando a mochila para ela, mas dessa vez ela não pegou.
--- Eu não posso, Michael. Eu não deveria estar mais aqui com você. Ela falou me olhando com lágrimas nos olhos e eu não entendi.
--- Como assim? É Ruan? Eu dou um jeito nele se quiser. Eu disse ainda insistindo para que pegasse a mochila.
--- Não, Michael. É o mundo. São as regras. Você sabe que não poderia estar aqui. Ela falou me olhando nos olhos agora e eu sabia que algo a preocupava.
--- Sabe que faço isso porque eu a amo de verdade. Você sabe que é. Por favor, Agnes, esqueça essa barreira que tem entre nós e pegue o seu lanche. Eu falei balançando a mochila e ela rejeitou outra vez.
--- Michael, você não entende. Você é tão puro e inocente. Michael, eu estou grávida! Eu estou grávida de você! Ela falou com a voz rouca e logo se derramou em lágrimas.
Eu nem podia acreditar no que ela falava.
--- Bom… eu confesso que eu não esperava por essa. Está grávida a quanto tempo? Perguntei meio assustado, nunca pensei que fosse ouvir aquilo tão cedo.
--- Eu não sei. Talvez um mês. Eu não sei. Como ficaremos agora? Uma hora essa criança vai nascer Michael, e sabe para onde ela vai? Para a câmara de gás! Morrer por causa de sua raça. Eu não quero trazer essa criança ao mundo para sofrer, Michael. Ela falou chorando e cobrindo sua face com as mãos.
O buraco que tínhamos feito de baixo da cerca tinha sido tampado por causa das chuvas. Eu queria abraçá-la e dizer a ela que tudo ficaria bem, mas eu não podia fazer aquilo agora. E eu temia também.
--- Nós vamos dar um jeito nisso, Agnes. Eu irei tirar você daqui. Vou fazer de tudo para tirar você daqui antes dessa criança nascer. Você vai ver, nós vamos conseguir. Eu só preciso de tempo para fazer isso direito. Confesso que estou preocupado, temo com sua segurança. Mas eu estou tão feliz. Eu vou ser pai, Agnes. Eu falei chorando na sua frente e ela me olhou sem compreender.
--- Eu não vejo no que se alegrar com a existência dessa criança. Ela vai sofrer Michael. Essa criança não merece vir ao mundo para sofrer. Ela dizia ainda preocupada e nervosa.
A ideia de ser pai também me assustava, ainda mais sabendo que meu filho podia nascer ali. No meio do campo de concentração. Mas eu faria de tudo para trazer essa criança bem ao mundo, e eu tiraria ela e Agnes dali. Custe o que me custar.
Capítulo 25
Tudo aquilo que Agnes tinha me dito aquela tarde ainda estava em minha mente. Eu fechava meus olhos e vinha na minha mente suas palavras e a sua face aterrorizada.
--- Eu vou fazer de tudor por vocês, meu amor. Eu falei observando pela janela de meu quarto e senti a brisa entrar e me tomar em um arrepio.
Minha vida continuava seguindo da mesma forma. Eu estava confortando Agnes de que eu a tiraria dali antes mesmo de nosso filho nascer e ela parecia estar mais convencida daquilo. Eu saía todas as manhãs para o treinamento e chegava em casa no meio da tarde. Visitava Agnes todos os dias e observava que sua barriga crescia a cada dia que passava.
Agnes já não estava mais conseguindo passar por debaixo da cerca e aquilo era um problema para nós.
--- Vai sair para algum lugar? Minha mãe perguntou me vendo entrar no carro.
--- Irei sair um pouco, não demorarei para voltar. Eu falei sorrindo para ela e dando a partida.
Eu iria a cidade, precisava comprar roupas diferentes para Agnes, ela não poderia sair dali com aquelas roupas listradas. E também meu filho chegava e eu precisava comprar roupas para aquela criança.
Eu passei o dia comprando coisas. Coloquei tudo no porta mala do carro e estava decidido a chegar em casa depois que todos estivessem dormindo. Eu esconderia aquelas coisas no sótão onde eu sabia que ninguém iria até lá.
…
Eu cheguei aquela tarde próximo a cerca e Agnes não estava lá. Eu me sentei no chão, como sempre com a mochila. Eu andava meio preocupado com ela ultimamente. Sabia que não demoraria para ganhar o bebê e temia o que podia acontecer na hora do parto.
--- Você é Michael? Um menino perguntou chegando ali cansado parecia ter vindo correndo.
--- Sim… so… sou. Gaguejei e o olhei preocupado.
--- Agnes mandou lhe avisar. Ela está bem. Disse que o bebê nasceu bem e com saúde. É uma menina. Ele falou meio tímido e sorrindo.
--- Obrigado. Eu falei sorrindo para ele e coloquei minha mão entre os arames para cumprimentá-lo e ele a apertou.
Ele foi embora me deixando ali curioso e cheio de alegria. Eu voltei para casa agradecendo a Deus por tudo ter dado certo.
Eu não consegui dormir aqueles dias que não vi Agnes. Eu estava ansioso para ver o rosto de nossa pequenina. Nossa pequena guerreira. Eu chorava todas as noites antes de dormir, pedindo a Deus que as guardasse.
Se faziam 16 dias que ela tinha nascido. E hoje eu a veria pela primeira vez. Agnes havia mandado o menino outra vez me mandar aquele recado. Seria meio arriscado para nós termos que fujir logo depois de seu parto, Agnes podia sofrer depressão pós parto com o que teríamos que fazer, mas era melhor do que ter que esperar. Não sabíamos o que podia acontecer.
--- Michael, meu filho. Desejo falar com você. Meu pai falou me chamando enquanto eu ia em direção a porta.
--- Sim. Falei entrando seu escritório e me sentei a sua frente.
--- Arrume suas coisas. Sei que estar aqui não é o que você queria, sendo assim você, sua irmã e sua mãe voltarão amanhã para Berlim. Ele falou baixinho e eu assenti.
Estava pensando, “não se preocupe senhor, nunca mais me verá na sua frente, nunca mais”. Eu sai de sua sala pensativo, mas eu não faria o que ele me disse, eu mesmo tomaria a providência no meu momento, que era hoje.
Capítulo 26
Eu peguei a mala com as coisas de Agnes e de nossa filha. Segui o caminho pensando na face das duas. Queria matar a saudade que eu tinha dela.
--- Michael. Agnes acenou enquanto eu ainda caminhava meio longe.
Eu acenei para ela e fui correndo. Ela estava com nossa pequena escondida dentro de sua roupa e eu chorei ao ver a face de minha filha.
--- Oh Agnes, ela é tão linda. Eu falei tocando sua face com cuidado.
--- Ela puxou ao pai. Agnes disse boba e eu ri.
--- Nós não podemos demorar meu amor. Você vai ter que passar ela entre os arames para mim. Eu falei colocando a mala no chão e a abri iria pegar o pequeno cobertor que tinha comprado para ela.
--- Michael, está frio demais para passá-la por aqui. Ela ainda está nua. Ela falou meio triste mas sorriu logo que me viu abrir aquela enorme mala e mostrar as roupinhas que eu tinha comprado.
--- Segure o cobertor. Eu seguro e você enrola o cobertor nela. Eu falei entregando o cobertor a ela.
Passei minhas mãos entre os arames a segurei meio sem jeito quando Agnes me entregou. Ela a enrolou no cobertor e com cuidado a passamos entre a cerca.
--- Eu também trouxe roupas para você. Passe por debaixo da cerca e as troque. Eu falei apontando para a mala.
Ela passou com uma certa dificuldade, pois sua barriga ainda se encontrava meio inchada. Agnes trocou suas roupas e pegou nossa mala.
--- Estamos prontos? Perguntei a notando quão bela ficava naquelas roupas.
--- Estamos. Ela falou sorrindo e colocou suas mãos nos bolsos do casaco.
--- Você gostou das roupas? Perguntei dando um selinho nos seus lábios e ela sorriu.
--- São tão lindas e chiques que… Ela não terminou de dizer, quando ela ia completar sua frase escutamos barulho de tiros.
Quando eu me dei conta Agnes se encontrava no chão. Uma das balas havia a atingindo e eu me desesperei.
--- Agnes! Meu amor! Fala comigo! Eu gritei tocando sua face e segurando minha filha com força em meus braços.
Eu tentava esconder aquela criança, não poderia deixar se ir.
--- Michael… meu amor… vá. Vá embora. Fuja! Fuja com nossa filha. Não deixem a pegarem. Por favor. Ela falou chorando sem forças ali naquele chão.
--- Eu não posso deixar você aqui. De jeito nenhum. Por favor, fale comigo. Eu chorava desesperado, o que seria de mim agora? E daquela criança indefesa?
Ela fechou seus olhos lentamente e disse tão franquinho que eu quase nem escutei “eu te amo”. Eu desabei ali sobre seus braços chorando como uma criança pequena.
--- Estamos kits agora meu amigo. Aquela voz veio de longe, eu ergui minha cabeça e notei de quem se tratava.
Era o maldito tenente Ruan.
--- Não o mate Ruan. O deixe ir! Meu pai falou vindo atrás dele e eu me surpreendi ao vê-los ali.
Eu peguei a mala e com cuidado eu escondi minha filha dentro de meu paletó. Agora eu a protegeria. Eu seria sua mãe e seu pai. Eu cheguei na estação de trem no meio da madrugada e peguei o primeiro trem e depois a primeira embarcação que ia direto para a América. Eu estava livre de tudo e de todos agora.
Capítulo 27
Eu comecei minha nova nos Estados Unidos da América. Registrei minha filha como uma cidadã americana. Eu não poderia registrá-la como polonesa, por mais que eu quisesse, seria muito arriscado para uma criança da idade dela.
Quando cheguei na América e a levei para sua primeira consulta, acabei descobrindo que minha filha tinha pneumonia. Eu acabei ficando meio preocupado e assustado com isso. O médico havia me falado que ela tinha desde muito pequena, e eu acabei acreditando que ela teria pego enquanto estava com Agnes. Não que Agnes não tivesse cuidado direito de nossa filha, mas sim que aqueles lugares onde ficavam não tinha limpeza e nem organização.
Eu cuidei dela e tratava de levá-la todas as semanas no médico para fazer exames, e depois que estava curada de sua pneumonia eu apenas a consultava mensalmente.
A batizei com o nome de sua mãe e a criei da forma que eu queria. A ensinei gostar de artes e música. Ela crescia em um mundo longe de guerras e brigas. Nós vivíamos em nosso mundo, eu mesmo a ensinei a ler, a fazer seus cálculos de matemática e até a falar um pouco de alemã.
Agnes tinha muitos traços de sua mãe. Sua pele clara, sua voz calma e sua paciência para aprender as coisas.
Eu tinha arrumado um trabalho para ficar nas horas em que Agnes estava na escola. Assim que eu saía de meu serviço eu a buscava.
Costumávamos ir a praia todos os finais de semana e observar o belo pôr-do-sol juntos. Ela gostava de cantar e ouvir as histórias que eu a contava todas as noites. Nós orávamos sempre que acordávamos e antes de dormímos. Sempre pedindo para que Deus guardasse todas as crianças ao redor do mundo.
Ela dificilmente perguntava por sua mãe, as vezes chegava chateada da escola por ver que todos seus colegas eram acompanhados de suas mães, mas eu sempre a mostrava que eu estaria ali para ela sempre que desejasse.
Sem parentes para nos visitar ao até mesmo alguém para nós visitarmos, levávamos uma vida de que um sempre ia precisar do outro. Ela cuidava de mim e eu cuidava dela e a mantia segura.
--- Papai! Agnes gritou de longe quando me viu parar o carro na frente do parque de sua escola.
--- Oh minha pequena. Eu disse saindo depressa do carro e a recebi de braços abertos a peguei em meus braços a tirando do chão.
--- Papai, está meio atrasado hoje. O que teremos hoje para o jantar? Ela perguntou já entrando dentro do carro e se sentando no banco de trás.
--- Eu não sei… que tal macarrão com pedacinhos de salsicha? Eu perguntei dando a partida, eu sabia que ela amava aquilo, tão quanto sua mãe.
--- Parece ótimo. Ela falou sorrindo me observando pelo espelho do carro e eu contribui seu sorriso.
Era aniversário dela, mas eu ainda não a tinha contado. Queria fazer uma surpresa para ela.
Nós chegamos em casa e eu disse para ela colocar as mãos na frente dos olhos, e assim ela fez.
--- Quero ver se você consegue adivinhar o que é apenas sentindo com o toque, ok? Eu falei em seu ouvido colocando minha mão também na frente de meus olhos e ela sorriu.
A guiei até nossa área de lavar e fui até a pequena caixa de papelão que se encontrava no chão.
--- Você pode sentir. Eu falei passando sua mãozinha e ela sorriu.
--- É fofinho, e faz cócegas! Eu sei o que é! É um cachorrinho! Ela sorriu enquanto ele lambia sua mãozinha e eu tirei minhas mãos de seus olhos.
--- O que me diz? Eu falei tirando o filhote da caixa de papelão e colocando em seus braços com cuidado.
--- É lindo papai. É para mim? Ela perguntou sorrindo enquanto o acariciava.
Seus olhinhos azuis brilhavam tanto que eu me emocionei ao ver a alegria que brotava de ambos.
--- Sim, minha princesa. Será nosso novo companheiro e membro da família. Feliz aniversário. Eu disse sorrindo e ela nem acreditou que era seu aniversário.
--- Obrigado papai. Eu te amo, papai, muito! Obrigado. Ela falou em meu ouvido me abraçando.
--- Eu te amo mais minha pequena. Eu falei sentindo lágrimas em meus olhos.
Agnes estava fazendo seus sete anos de idade naquele dia, e eu me lembrava da sua mãe naquele momento a exatos sete anos atrás sorrindo para mim.
Ela ficou como uma lembraça de sua mãe, seu sorriso que eu fazia de tudo para que nunca saisse de sua face. Eu odiava vê-la chorar ao dizer que não tinha sua família completa, porém mais tarde ela entenderia tudo o que aconteceu.
Nós fomos mais um final de semana para a praia, enquanto eu descansava na areia depois de ter corrido com Agnes e seu mais novo amigo, eu chorava emocionado ao ver minha filha tão feliz. Aquela felicidade que eu não pude dar a Agnes, eu estava me esforçando para dar à ela.
Eu sabia que sua mãe tinha se tornado seu anjo da guarda, e estaria orgulhosa de nós onde quer que ela esteja.
--- Obrigado, Agnes. Obrigado por ter me ensinado a importância da vida. Obrigado por tudo Agnes. Eu falei olhando para o sol.
Minha pequena princesa veio correndo até mim com seu cachorrinho e eu a abracei, naquele momento eu agradeci a Deus pela vida de minha filha. E juntos nós assistimos o sol se ir aquele final de tarde.
Quem disse que a vida seria fácil? Nunca desista de seus sonhos! Lute por aqueles que você ama.
Escrito por Michael Joe Jackson, escritor e compositor.
FIM
Ah Leh... Alguém morre? D: odeio fic q alguém morre... mais posta logo muié!
ResponderExcluirBom Dia, pelo que a autora me falou, essa só vai começar a postar quando a finalizar, me falou que falta mt pouco, em breve ela irá começar a postar aqui, esta fic é novinha mesmo, não foi postada em nenhum lado ainda :)
ExcluirMt obg por escolher o nosso blog| :D I Love u and God bless u <3
Meninas começarei a postar na segunda feira ><
ResponderExcluirBem a leh já começou a postar, boa leitura :D
ResponderExcluirconttinuaa ta demais
ResponderExcluirMarida...Continua!!!!
ResponderExcluirPara quem não viu a leh postou mais 2 capítulos 3 e o 4 , boa Leitura :D
ResponderExcluireh baseado no filme do menino do pijama listrado neh??
ResponderExcluirbem eu já avisei a autora, assim que ela poder te irá responder o mais rápido possível :) bjs :*
ExcluirÉ sim meninas, grande parte da história é bem baseado no filme... espero que gostem *---*
ExcluirCapítulos 5 e 6 já postados , Boa Leitura :)
ResponderExcluirmas não vai ser todo igual né ? tipo na hora que os dois morrem juntos , por favor não faça iso sou muito sensivel :(
ResponderExcluirCapítulos 7 e 8 já postados , Boa Leitura :)
ResponderExcluirPostando mais caps meninas, espero que estejam gostando *---*
ResponderExcluirBoa leituras meninas :D e obg Leh por posta suas fics aqui , é um prazer ter vc cá :) MT OBG
ExcluirCapítulos 9,10,11 e 12 já postados , Boa Leitura :)
ResponderExcluirOwnnn continua amore isso ta maravilhoso
ResponderExcluirEssa fic é baseada no nazismo no poder de hitler e espero q não seja triste o final
ResponderExcluirquestão de esperar até que termine e logo irá ver o como é o final :) enquanto isso irão morrer de curiosidade heehee , não são só vcs, eu tb morro de curiosidade ;)
ExcluirMeu Deus nao aguento mais kk vcs tm twitter? Passa?
ResponderExcluirEstá perguntando para mim a Dona ou para a autora desta fic?
ExcluirPra vc kk sera q pode me passar pra mim t seguir? O meu è @ColeguinhadoMj segue la bjs
ResponderExcluiro meu é @MikaelaSofiaJ o novo, eu tinha um que era @RealMikaSofia , mas vou apagar esse, já não utilizo, me segue no novo
ExcluirOks amoree
ExcluirPosya nao aguentoais pliiss
ResponderExcluirContinuaaa Leh :v
ResponderExcluirNão o que se passa, já faz um bom tempo que ela não actualiza a fic aqui nem no forum :( é que esta eu não tenho, pois tem autoras quem me passam a fic completa, e quando estão bastante tempo sem postar eu pego e posto eu, já com a Tamires está acontecendo o mesmo com a FanFic: A Pianista, já fazia tempo que não actualizava, então eu peguei e actualizei eu.
ExcluirEntendo, na verdade eu falei ontem com a Leh e ela anda meio ocupada, deve ser isso.
ExcluirPois é capaz :\
ExcluirDesculpem a demora meninas, mas a fanfic está atualizada e já finaliza espero que gostem... boa leitura ♥
ResponderExcluirNossa seriio desculpe mas nao gosteii do fina l pensei q eles se reencontrariam e tals muiito trist :/
ResponderExcluirBem eu ainda não li mas pelo que estou vendo o final é triste :(
ExcluirLeh estou chorando, é muito doloroso perder um grande amor eu sei muito bem como é, e tenho um fruto desse amor que é uma menina que fara 20 anos. Vinte anos sem seu pai, vinte anos sem meu amor.
ResponderExcluirLeh eu vou te matar!!! Me fez chorar sua bad!!! Rum kkkkkk
ResponderExcluirBem eu ainda não li mas pelo que estou vendo o final é triste :( o michael morreu é?
ExcluirLeh você sempre me faz chorar , caramba kkkkkk naum faça mais içu.....
ResponderExcluirBem eu ainda não li mas pelo que estou vendo o final é triste :( mas e assim muito triste?
Excluir"Porque as coisas tem que ser assim ? poque vc feez isso com meu coração ? cara , chorei aqui , de verdade .. :'( mas é muito boa, amei a historia ,continuem fazendo isso , se serve de inspiração pra vcs escritoras ,vcs alegram meus dias com as historias daqui e se eu to aqui hoje , vcs são um dos motivos , continuem a escrever , amo vcs por me trazerem alegria, bjs a todas
ResponderExcluirObg por ter lido :)
ExcluirSou na verdade uma garota podem me chamar de Miillyh Jackson e eu estou chorando até agora
ResponderExcluirAdorei a fic Michael sendo um homem alemão kkkkkkkkk massa ...parabéns emocionante história 😀😉
ResponderExcluirAmei a fic do Michael so to triste e chorei por causa do final não queria que Agnes tivesse morrido
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